domingo, 28 de outubro de 2012

Dúvidas de um Desespero Pessoal.

Se eu disser que te amo,
Tu me abandonas?
Me deixas sair calado
E fechar o meu coração?
E se eu disser que te bebo,
Te sinto?
Me deixas viver trancado
Aprisionado de solidão?
Se eu vier com versos chulos
Roubados de um coração perdido?
Me acusas de alienado
Por não saber como não perder?
E se eu vier com flores,
Murchas por tanto hesitar?
As joga fora?
Ou finge não perceber?

E se eu disser que é mentira?
Aí tu me amas de volta?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Estrelas.

Vocês seriam bem mais poéticos
Se fossem muito mais poéticos
Mas não são.

Poderiam ser muito mais simpáticos
Se começassem sendo só simpáticos
Mas não conseguem.

Conseguiriam ser bem melhores
Se já fossem no mínimo bons
Mas não tentam.

E também tentariam suicídio
Se vissem quem realmente são
Mas nunca viram.

Meu conselho?

Estudem as estrelas
Pois sabendo o quão grandes são
Verão que vocês
Não são nada, mas nada mesmo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sintomas.

7º dia.
Minha necessidade pelo contato humano não melhorou.
Da minha pele, algumas escamas nasceram, e agora acredito que a parte branca dos meus olhos está se amarelando.
Nota: Pode ser só paranóia.
Ontem matei mais um ser humano, um homem dessa vez.
Devia estar na casa dos setenta, pois nem conseguiu reagir ao perceber o ataque.
Enterrei o corpo na praia. Espero que ninguém descubra.
Com esse já são cinco.
Da primeira vez que liguei o laboratório me disse que os sintomas iriam passar dentro de algumas horas.
Passaram-se três dias, e o laboratório parou de atender às minhas ligações.
Já pensei em ir lá, mas não tem como sair desse jeito.
O que me resta é sentar e esperar.

domingo, 21 de outubro de 2012

Planos, Planos...

Fazer planos pro Ano-Novo,
Pro Dia dos Namorados,
Pra Páscoa,
Pro verão,
Fazer planos pro futuro
De casar
E de ter filhos,
Fazer planos
Detalhados
Pra tudo,
E hoje
A gente só vive.

Sol.

É engraçado ver o mundo acordar
Enquanto vem esse meu sono...
Ah! Menina boba que me faz amar
Até a vida raiar pros outros...
É que pra nós a vida já raiou, menina.
Raiou e se pôs, aí o sol resolveu nascer.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pessoas.

Pessoas erradas.
São sempre pessoas erradas.
Até as pessoas certas são pessoas erradas.
Erradas, erradas, erradas.
E nada mais.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Inferno.

As cinzas da lareira já se apagaram, e a harmonia já preencheu o ar. O sentimento de conformidade entra na mente como a fumaça do cigarro entra em meus pulmões: obstruindo a esperança sobre tudo que vier antes da morte.
De repente a vontade de vida me dá um choque.
Talvez o ar de melancolia tenha fritado a minha sanidade e me deixado finalmente apto para realizar todas as tarefas sem sentido que a vida me propõe. Talvez eu deva mesmo arrumar um emprego, uma nova mulher com quem terei dois lindos filhos...
Mas hoje não.
[...]
Nos becos escuros em que vagueio, a sensação de isolamento segue as poucas luzes que ali se encontram, tão fracas quanto a vontade minha de deixar aquele lugar sombrio. Já deixei pra lá a lareira, já deixei pra lá a vontade de trabalhar.
Deixei pra lá a vontade para o resto das coisas também.
Por que a vida que construí é tão próxima à minha definição de inferno?
Talvez o inferno esteja em nós no final.
As poças d'água se formam conforme a chuva ganha a aprovação de Deus, que a essa hora está lá em cima se certificando de que tudo vai correr exatamente como eu não planejei.
Me lembro da condição mortal na qual estou submetido e acendo outro cigarro.

Em breve nos encontraremos, Pai.
Minha alma anseia por Ti.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Só pode.

Me diz o que vai ser de mim, se cada sorriso bobo me lembra o teu?
E se cada palavra dita, por mais pura que seja, me dá raiva por não vir da tua boca?
E se, em cada voz, ouço a tua voz? E se cada segundo tem a tua presença?
E por que serei eu quem tem que queimar esse tempo procurando rascunho de ti, se já sei que não existe?
Não sabes do meu coração pois és tola, e queres ser.
Pois tudo que chega na tua ausência me dá vontade de morrer.
Vontade essa que só pode ser amor.

Retrato.

Teu sorriso me encanta
E me espanta por pensar.
Imaginar o infinito
Tentando te alcançar.

Vou te tomar,
Do teu lugar,
Ao meu olhar.

E por olhar,
Eu peco,
E peco por querer:
Entender

E descobrir,
Desvendar

E desistir.
Por corar

Ao colorir
Meu rosto com a paixão, 

E me salvar de vez
Da eterna escuridão
Com tua luz,
que me amanhece a compaixão,

Obrigado.

Anjo da Noite.


Virei das sombras ao teu encontro, e amanhecerei a esperança. Acabarei com a ilusão que te aprisiona, e te mostrarei o que existe embaixo da cama enquanto o resto dorme. Te encantarei com meus truques, mas serão sempre só truques: o grand finale ainda estará por vir. Eu te mostrarei o amor da forma mais viril, e te mostrarei a paixão da forma mais gentil.
Porém, farei de ti uma memória, e farei de mim um mal presságio.
Pois quando o dia raiar, e não encontrares mais teu coração, saberás então quem sou:
Um homem sem alma, sem futuro e sem razão.

Aquele que veio da escuridão.

domingo, 14 de outubro de 2012

Correspondente.


Sentido, calado, revisado e esquecido.
Colocado sobre uma pilha de memórias e deixado lá.
Achado, remendado, corrigido e enviado.
Atrasado.
Parte de um passado virgem.
Preso em um futuro vendido.

sábado, 13 de outubro de 2012

Sofás, Móveis e Estática.

Respingo pinceladas sobre a tela, apesar dos resmungos silenciosos da tinta. A tela se sente refrescada, e o pincel sente que devia estar trabalhando em outro lugar, com um salário melhor e com uma carga horária maior, em vez de ficar parado quase o dia inteiro sem fazer nada.
A parede acha que toda essa "arte" é encantadora, mas ela é só uma parede, e ninguém a leva a sério.
O sofá discute com a parede diariamente sobre a filosofia da pintura, e sobre o simbolismo das cores.
O sofá também tem opiniões fortes sobre a revolução da classe operária, mas ninguém ouve suas idéias.
Talvez por ele ser amigo da parede.
Uma das lâmpadas está tendo uma crise existencial, e as outras realmente não estão nem aí pra nada.
O armário é um cleptomaníaco, e começou a esconder as coisas que ele considera mais legais no final das gavetas.
Paro por um instante, tomo o café.
O café não parece gostar muito disso.
Aos poucos eu vou entendendo que passei a vida toda vendo esse mundo do jeito errado.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Todo o ódio contido em uma pequena gota de insatisfação.

Eu vou comer quem eu quiser
Matar quem eu quiser
Roubar quem eu quiser
E gritar com quem eu quiser.

Vou reclamar de quem eu quiser
Chegar na hora que eu quiser
Pagar a quantia que eu quiser
E comer quem eu quiser de novo.

Porque o pau é meu, e a vida é minha também.
Passar bem.

Manual pra Vida.

Pegue um papel.
Risque.
Amasse o papel.
Tente desamassar o papel.
Apague o risco.
Rasgue o papel em dois pedaços.
Desenhe algo bom no primeiro pedaço.
Desenhe algo ruim no segundo pedaço.
Cole os dois pedaços com fita adesiva.
Risque o papel.
Apague o desenho e os rabiscos.
Desenhe tudo que importa de verdade no papel.
Jogue o papel no lixo.
Vá Trabalhar.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Paciência.

Estou farto de normas, excessos e dúvidas.
Cansado de vida, espelhos e não-espelhos.
Eu cansei.
Deito no chão e deixo o vento brincar com o meu cabelo, fecho os olhos para mais um amanhã.
Abro-os, e vejo que o tempo não trouxe mais do que uma dor nas costas.

Caminho até o parapeito e subo.
Caio.

Faço um café forte, tomo um gole e jogo tudo na pia.
Ainda odeio café.
Relaxo.

Indiscutíveis pedaços de pedaços de amor repousam.
Nada vem, nada vai, está mais pro restinho de
Ócio.
Sentido, surrado, sofrido e calado.
Palavras em vão,
Inquietas,
Tranquilas,
Observadas e medidas.

E um novo dia começa.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um Texto Meio Doce.

A decepção
Deu esse friozinho na barriga,
Essa vontade de escrever um romance,
De ir a um restaurante
E comer só um pedaço de torta.

Deu essa saudade doida
Do meu travesseiro velho
Pra enxugar as lágrimas,
E da mãe, pra dizer que passa.

Vontade de infância, de pureza, de colo...
Isso não volta mais.
Há!
Não volta mesmo...

Tóxico.

És o farfalhar de asas do corvo acalorado pelo definhamento da carne. Não és a causa da tragédia, mas também não vens como consolo. Vens para assistir o espetáculo e rir da própria existência. Se alimentar da escuridão que assola as almas mais puras, e deixar os ossos à mostra...
Mas quem seria eu para julgar-te? Se não fosse existência tua, o papel da crueldade caberia a mim; alimentando outros com a mentira melancólica e a veracidade cruel dos fatos mais banais... Criando ideias fictícias, levando à perda de tempo e, consequentemente, ao atraso dessa raça imbecil.
Mas não sou eu.
És tu aqui.
E és tu que comes, respiras e vives a vida de algum outro miserável, dos tantos que não consegui contar e, por esse fato, te darei o julgamento que mereces, meretriz.
Pois não passas de uma víbora, e são teus os olhos hipnotizantes que me impedem de desviar o olhar.
É tua a boca que me paralisa.
É teu o veneno que me apodrece.

Irrelevante.

- O estranho é poder perceber, mas não querer saber... Bizarro é saber, mas fingir que não faz ideia...
Suspeitos são os olhares desviados... E mãos suadas! Ter o coração dando palpites o tempo inteiro...
- Então vem pra cá...
Deixa essas perguntas pra essa coisa misteriosa que é a vida...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Charme.

Eu caminho, Ela caminha,
Nós caminhamos.
Eu me aproximo, Ela se afasta.
Ela vem, Eu fico longe.
Eu vou, Ela vai.
Nós vamos - Brigamos.
Ela chora.
Eu não.
Eu peço perdão.
Ela não.
Eu escrevo, canto, danço,
Ela dança.
Nós dançamos.
Ela sorri.
Nós caminhamos.