Estamos no começo do século 21, mas não parece século algum.
De alguma forma, quase ninguém pensa sobre o que está fazendo, é tudo muito
rápido o tempo todo. Essa semana lançou um novo Iphone e novas dez trending
topics no twitter, não dá pra acompanhar tudo. Mais do que antes, acredito,
temos hoje noção da nossa ignorância. As crianças, aos dez anos de idade, já
sabem mexer mais no celular do que nós, adultos, que, aos poucos vamos ficando
pra trás. Mas o que fizemos, afinal de contas, para melhorar? Será que
reavaliamos nossas ideias como deveríamos e conseguimos mudar nossos
julgamentos antes de sermos levados pela maré do cotidiano? Estamos cansados
sim, lutamos pelas nossas próprias causas. Ganhamos algumas, perdemos todo o
resto. Não somos muito bons, não fomos muito marcantes, talvez? Somos aqueles
que viveram dois séculos afinal de contas, não deveria existir algo que nos
marcasse pra história? Não tivemos nenhuma Guerra Mundial, mas também não
tivemos nenhum grande profeta. Acostumamo-nos a pensar menos, a fazer menos, a
aceitar mais. Será que todos os outros antes de nós foram assim? O que
deveríamos estar fazendo de diferente? Fomos ensinados e ensinamos de volta o
que não se podia fazer, mas o que não se pode mais fazer hoje em dia? Como agir
se de repente o mundo diz “esquerda” quando ha cinco minutos atrás dizia “siga
reto”? Imagino eu que não seja nossa culpa, também, que os mares estejam
poluídos com o nosso lixo, que o ar esteja poluído com os nossos carros, que os
nossos pulmões estejam poluídos com o nosso Marlboro vermelho. Fomos colocados
no mundo cedo demais, eu diria – caso a própria frase também pudesse ter algum
sentido de lamentação por si própria. A verdade é que tivemos a chance,
poderíamos ter mudado. Olhando bem, poderíamos ter feito muita coisa e “amado
ao próximo.” Terminamos relacionamentos, não é mesmo? Inclusive eu posso ter
terminado com alguém que um dia estiver-me lendo, então aproveito a ocasião pra
perguntar: por que deixamos de nos falar? Fomos crianças também como eles, mas
por que nunca termos tido a coragem de encarar o outro e dizer “Ei, como vai
você? Éramos bem loucos, não é mesmo?”. Acho que a culpa também não é nossa por
isso, fomos ensinados a esquecer porque era mais fácil. Acho que essa é a palavra, é por ela que estamos todos aqui
vendo as crianças cometerem os mesmos erros que nós cometemos com a televisão à
cores. Não temos coragem de olha-los nos olhos e dize-los “Eu errei e isso dói,
eu não quero que você seja eu. Por favor me ouça.” porque isso seria admitir o
problema e talvez precisar concerta-lo. Mas como encarar um problema que você
tem ignorado pelos últimos vinte anos e esperar que ele seja mais fácil de
resolver do que na época em que você desistiu dele? Eu não sei, mas preciso de
uma resposta.
Talvez escrever ajude nisso. É o que o meu psicólogo me diz,
mas ele tem grandes chances de ser um adulto estúpido igual ao resto de nós.
Espero que, na faculdade de humanas, eles pelo menos tenham fritado mais seus
cérebros com LSD e anfetaminas pra descobrirem algumas das coisas que nós não
tivemos coragem de tentar. Talvez aí o mundo tenha jeito. Meu psicólogo fala
que toda geração tem o mesmo problema e brinca que isso é um dos porquês de
existirem psicólogos. Eu rio com ele, mas não acho graça. Afinal de contas, eu
estou pagando pra resolver um problema que eu não queria precisar encarar, mas
encaro. Aí ele me receita “remédios pra alma”, como meditação e leituras leves.
Eu acho que o pessoal de humanas fritou mesmo seus cérebros.