sábado, 15 de julho de 2017
Compostura.
Comecei a vida fazendo, mas meu sonho er'escrever. Arrisquei a sorte nos contos, errei e desisti. Comecei a escrever eventos, detalhes e acréscimos, entalhes de revista e lacunas de jornal, cansei. Cantei a nova bossa na manhã serena, aplaudiram e choraram sem querer, viram que eu podia oferecer alguma coisa nova além do MPB. Mas se eu falhar, o que há de vir a ser nessa pintura? Perco a pose e a compostura só de pensar, mas aí eu vou pedir. Vou chorar com meu pedir, mas vou pedir. Jamais vou desistir, mas e se for? É direito meu ser vendedor de flor numa cidade que proíbe poesia. É de encargo meu a nostalgia pr'essa burguesia triste e sem sal. E mesmo salgada a vida, engulo a verdade compriiida que me obriga a desandar. E pra ajudar a vencer a fadiga, eu compro bebida pra sala de estar. Agora eu vou poder cantar até o sol raiar, mas não mais que isso. Me enterro no colchão de pedra e torço pra não levantar. A exceção me dita a regra e logo eu volto pro lugar. Vou trabalhar, vou trabalhar, vou trabalhar.
quinta-feira, 13 de julho de 2017
Espelhos.
Tenho-me em muitos lapsos e em memórias de histórias que me contam sobre mim. Aliás, foi em uma dessas minhas desventuras que eu perdi meus sapatos, atordoado pela ketamina e ludibriado pelo não-contar das horas, por que não? Na época me recordo de estar fugindo da noção espacial e convencional do tempo — em segundos, minutos, dias, etc. — e recordo-me de ter conseguido chegar a me perder nos meses. Não era delirante, senão em seu âmbito acadêmico, uma pesquisa que visava justamente a desinformação. Raras foram as vezes em que voltei a passar tanto tempo sem olhar para manchetes de jornais e sem saber o que acontecia ao meu redor. Mas foi nessa época que eu percebi que não fazia a menor diferença. Fora os entorpecimentos usuais, passava bastante tempo em casa, à deriva social. Levei a sério o experimento. Pedi para os meus companheiros de bar que me contassem apenas o que fosse estritamente necessário para a minha vivência, salvo calamidades públicas de ordem superior. Meu cotidiano não mudou e eu não me senti mais deslocado do que nos lugares aos quais eu me realoco. O tempo livre, por ouro lado, esticou-se. Sem que eu precisasse desgastar-me aprendendo sobre um universo que, com ou sem mim, permanecia em processo lento — imperceptível, eu diria — de transformação, minha barba crescia e apara-la tornou-se um hábito agradável. Eu pude dar atenção total a mim, à minha aparência e ao meu psicológico agora que o tempo não me convinha. Fui ficando mais bonito, acredito eu, mas pode ser ilusão da minha cabeça. No geral, comi melhor, me exercitei mais e me entorpeci menos. Ainda assim, mais do que o suficiente.
Quando voltei ao presente, haviam passado-se cinco meses e meio. Nada mau. Alguns relacionamentos próximos haviam sido deixados pra lá, outros nem mesmo me vieram à memória senão muito depois da minha recobrada de medida. Percebi que, bem ou mal, estamos mais sozinhos do que pensamos e apenas fazemos o suficiente para fugir dessa realidade pouco tragável. Não estamos assim por obrigação, por assim dizer: gostamos de estar. Duvida? Pois lhe dou o exemplo dos ônibus, onde sentamos cuidadosamente distantes um do outro para evitar um contato maior com alguém "que, até onde sei, pode ser um maníaco ou coisa pior". A verdade é que precisamos de espaço. Preservamos lugares relativamente arejados, embora passemos a maior parte da vida em cubículos. Mas gostamos dos cubículos também, talvez justamente por essa mesma causa.
É engraçado o que se percebe quando se olha pro lado contrário ao da percepção: não existe lado contrário. Em todo lugar, a todo momento, existe algo novo a ser descoberto ou transformado. Hoje escrevo sob um diferente ângulo à respeito da imortalidade: a considero sábia, porém perigosa. Ontem era só perigosa e amanhã poderá ser alguma coisa a mais. Ou a menos, por que não? Para todos os efeitos, porém, é preciso fazer duas considerações. A primeira é um tanto óbvia, mas ainda de suma importância: o homem faz o relógio, não o contrário. A última, que a realidade é uma amiga da qual nenhum de nós deve perder total contato por muito tempo.
Duvida?
Quando voltei ao presente, haviam passado-se cinco meses e meio. Nada mau. Alguns relacionamentos próximos haviam sido deixados pra lá, outros nem mesmo me vieram à memória senão muito depois da minha recobrada de medida. Percebi que, bem ou mal, estamos mais sozinhos do que pensamos e apenas fazemos o suficiente para fugir dessa realidade pouco tragável. Não estamos assim por obrigação, por assim dizer: gostamos de estar. Duvida? Pois lhe dou o exemplo dos ônibus, onde sentamos cuidadosamente distantes um do outro para evitar um contato maior com alguém "que, até onde sei, pode ser um maníaco ou coisa pior". A verdade é que precisamos de espaço. Preservamos lugares relativamente arejados, embora passemos a maior parte da vida em cubículos. Mas gostamos dos cubículos também, talvez justamente por essa mesma causa.
É engraçado o que se percebe quando se olha pro lado contrário ao da percepção: não existe lado contrário. Em todo lugar, a todo momento, existe algo novo a ser descoberto ou transformado. Hoje escrevo sob um diferente ângulo à respeito da imortalidade: a considero sábia, porém perigosa. Ontem era só perigosa e amanhã poderá ser alguma coisa a mais. Ou a menos, por que não? Para todos os efeitos, porém, é preciso fazer duas considerações. A primeira é um tanto óbvia, mas ainda de suma importância: o homem faz o relógio, não o contrário. A última, que a realidade é uma amiga da qual nenhum de nós deve perder total contato por muito tempo.
Duvida?
Roma.
Como encontrar resposta para o sentimento? Quando vem, chega rasgando por dentro, incontrolável e imprevisível: como uma rachadura no gélido raciocínio. Amar e sofrer partem do mesmo princípio: metamorfosear. São opostos da mesma prima causa, eu suponho. Apenas posso supor, nada me é tangível desse ângulo. Sinto frio, mas não vem da pele. Sinto solidão mesmo próximo aos meus mais queridos entes e sinto fadiga em plena saúde física. E irônico que, depois de todas as conclusões e teorias, minhas palavras extinguam-se por um instinto que me é além-lógico, resumidas sempre em quatro inexoráveis letras. Pergunto-me, no auge do meu delírio, se esse borbulhar me torna mais ou menos animalesco. Afinal de contas, não sei o rumo da evolução humana. Por maior que seja a minha capacidade de pensamento, meu ínfimo conhecimento à respeito do que antecede a minha existência nunca me será suficiente sem um relance do que seria a eternidade. Sendo assim, é impossível determinar se estou dando um passo pra frente ou dois pra trás — segundo minha definição de impossibilidade.
Do jeito que vejo lá fora, não sobreviveremos por muito tempo. É uma pena, entretanto, que todas as minhas considerações até hoje tenham sido vazias ante à complexidade do amor. Sem ele, temo que, ao final de meus humildes dias, terei sido resumido a alguns gigabytes de memória num imenso oceano de palavras esquecidas. Minha real essência será sucumbida à incompreensão e nem mesmo terei tido o luxo de saber se minha inconsistência possui, de fato, alguma consistência em inconsistir. Isso se, claro, considerarmos que existe qualquer diferença que seja entre os loucos e os incompreendidos.
Por essa razão talvez que, a meu ver, o inentendimento me é mais desesperador que o oblivion. Afinal, lembrar-me futuramente não me deixará menos morto — futuramente. É irresponsabilidade ignorar que de nada vos será útil a lembrança da minha carne, salvo por uma possível proeminência desse meu já protuberante ego — que se esvairá antes mesmo dos meus órgãos e tecidos. Em suma, quem eu sou nem mesmo representa o que eu escrevo, uma vez que minha mente é apenas um tradutor das circunstâncias às quais eu fui submetido até aqui.
A ideia que é propagada, por outro lado, independe do seu primigesto uma vez que é absorvida parcial ou integralmente por seus futuros hospedeiros. Isso significa dizer que, uma vez que eu fosse decifrado, a vida do meu raciocínio não mais estaria atrelada à minha própria e se elevaria à condição de imortalidade momentânea. Mas nada disso acontecerá — ou não terá valor senão semântico — se não for considerado o sentir na minha pele ante o quadro de palavras. De nada terá valido a pena o meu doer.
Essas, claro, são apenas considerações. Ninguém é capaz de prever o futuro e, caso possível fosse, duvido que seria eu — visto o meu total desjeito com o presente atual. Sorrio enquanto me enredo nesse labirinto lógico. Delírio é uma boa palavra ante à inconstância tamborilante no meu peito. Bem-me-quer, mal-me-quero?
Do jeito que vejo lá fora, não sobreviveremos por muito tempo. É uma pena, entretanto, que todas as minhas considerações até hoje tenham sido vazias ante à complexidade do amor. Sem ele, temo que, ao final de meus humildes dias, terei sido resumido a alguns gigabytes de memória num imenso oceano de palavras esquecidas. Minha real essência será sucumbida à incompreensão e nem mesmo terei tido o luxo de saber se minha inconsistência possui, de fato, alguma consistência em inconsistir. Isso se, claro, considerarmos que existe qualquer diferença que seja entre os loucos e os incompreendidos.
Por essa razão talvez que, a meu ver, o inentendimento me é mais desesperador que o oblivion. Afinal, lembrar-me futuramente não me deixará menos morto — futuramente. É irresponsabilidade ignorar que de nada vos será útil a lembrança da minha carne, salvo por uma possível proeminência desse meu já protuberante ego — que se esvairá antes mesmo dos meus órgãos e tecidos. Em suma, quem eu sou nem mesmo representa o que eu escrevo, uma vez que minha mente é apenas um tradutor das circunstâncias às quais eu fui submetido até aqui.
A ideia que é propagada, por outro lado, independe do seu primigesto uma vez que é absorvida parcial ou integralmente por seus futuros hospedeiros. Isso significa dizer que, uma vez que eu fosse decifrado, a vida do meu raciocínio não mais estaria atrelada à minha própria e se elevaria à condição de imortalidade momentânea. Mas nada disso acontecerá — ou não terá valor senão semântico — se não for considerado o sentir na minha pele ante o quadro de palavras. De nada terá valido a pena o meu doer.
Essas, claro, são apenas considerações. Ninguém é capaz de prever o futuro e, caso possível fosse, duvido que seria eu — visto o meu total desjeito com o presente atual. Sorrio enquanto me enredo nesse labirinto lógico. Delírio é uma boa palavra ante à inconstância tamborilante no meu peito. Bem-me-quer, mal-me-quero?
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