sábado, 29 de novembro de 2014
Conversas de Ônibus (I)
Obrigado, eu não fumo.
Eu não acordo com pesadelos no meio da madrugada, não sorrio de volta pra estranhos, não pego ônibus lotado. Não possuo desejo algum de conhecer gente nova, não sinto atração pelo sexo oposto e muito menos pelo meu. Não construo metas, não alimento sonhos, não me prendo a lembranças, não almejo chegar a lugar algum.
Não urino em banheiros públicos.
Não dou dinheiro aos pobres.
Não confio na sorte, não acredito em superstições, não sou dotado de manias, cacoetes ou cismas. Não expresso minhas opiniões de nenhuma forma, chegando a me perguntar se as possuo.
Não faço esportes, não tenho um time, não vou para bares e não torço pro Brasil na copa.
Não possuo nenhuma doença terminal ou crônica.
Não possuo maus hábitos à mesa.
Não fumo, não bebo, não escrevo.
Em suma, não vivo.
Paus e pedras.
Minha presença é atraída pela dela como a desgraça é atraída pelo caos. Nossas mentes são meros instrumentos da perversidade que nos rodeia, nossos corpos são os objetos de desejo um do outro. Meu hálito fede a álcool e o dela fede a cigarro. Meu olhar é de desprezo e o dela é de amargura. Fomos feitos um pro outro, unha e carne, almas gêmeas, com um único porém:
Não nos suportamos.
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Agosto.
que nos outros não se substancia!
Tu entendes bem o que eu falo
pois, perante tua verdade, me calo
e dou voz ao teu grosso canto.
De tanto cinismo, me encanto:
de tanta lenda que tua boca diz,
a vericidade já não te condiz
e ficas a balbuciar novela
(lisuras pintadas em aquarela)
lamentando na cachaça amarga
os segredos que o passado guarda.
Presente.
(Tu és minha única certeza,
és a última luz
para toda escuridão que guardo
- A.B.)
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
cada pouco
Voltando da madrugada
Do fumo, do pó, do nada
Procurando um encosto
Um desgosto pra dormir
Tentando esquecer seu rosto
Cochilando em cada pouco
Quando cada porco que aparece
Acusa-me de ser louco
Mas de rouco que sou
(Do louco, nada sei)
eu rio:
Do fumo
Do pó
Do nada.
aluga-se
-tipo aqueles caras de filme?
-tipo aqueles caras de filme.
-legal.
-você ainda daria pra mim se descobrisse que eu sou assassino de aluguel?
-eu vou continuar dando pra você enquanto você continuar me pagando.
-você vai continuar sendo puta pra sempre?
-não,daqui a uns anos eu paro.
-quantos anos?
-dois.
-só dois?
-é.
-e depois, o que você vai fazer?
-ainda não decidi, quero fazer alguma coisa com moda.
-você podia ser modelo com esse corpo, baby.
-ã-ahn.
-por que não?
-você ja viu como são os corpos das modelos de hoje em dia? parecem esqueletos!
-você moraria comigo?
-agora?
-daqui a dois anos.
-com você sendo assassino de aluguel?
-é.
-aí eu acho que você foi longe demais.
-é?
-é. to indo embora.
-mas já? ainda nem começamos a beber...
-é, mas eu não trepo tão bem quando eu bebo.
-e daí?
-tchau, Zé.
-até mais, Rita.
domingo, 23 de novembro de 2014
facas.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
cu
eu sento meu cu doído
de tanto fodido
que levei
dos mais fiéis
companheiros.
Nesse banco indigesto
eu sento minha bunda dura
de tanto chute
que levei
das minhas mais "fiéis"
meretrizes.
Nesse miserável trono
eu sento meu cu sem dono
e espero pelo inevitável:
uma merda ainda maior
que ainda está por vir.
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
acabado.
Não sujeite a alma
à sua pequinês.
Não corra o mundo,
fique em casa
até melhorar desse mim
que te aflige.
Não me espere acordada
quando eu disser que
"eu não volto dessa vez",
que "não quero te ver
te viver, cheirar, sentir
ouvir ou comer."
Não briga nem chora
pelas manhãs chuvosas
que não vimos,
pelas canções chorosas
que não ouvimos
enquanto você me acabava.
Só me acaba de vez, amor
porque eu já acabei você.
Leito.
Não mais existe bem nessa carne
Não me melhore ou alimente
E não terá razão para alarme
Não ouça meus prantos e lamentos
Não pense que eu estou morrendo sozinho
Eu o recuso e aos seus alentos
Eu só preciso de mais vinho
Socorre meus entes queridos
Que de queridos não se substanciam
E diga aos meus bons amigos:
Fizeram tudo o que podiam
Não encerro-me sem me lembrar
Da mais formosa das criaturas míticas
Sereia por quem tardei a amar
Merece lugar nessas páginas fatídicas:
Se teus olhares não houvessem fitado
Tal monstro que a ti se dirige
Eu teria vivido exilado
Do amor que hoje me aflige
Aos outros, ao resto, obrigado
Todos meus anseios foram satisfeitos
Minha estadia não teria significado
Se não me ouvessem colocado defeitos
E àquela que me vem na calma
Aquela por quem tanto anseio
Tão mansa quanto pede a alma:
Minha inspiração mamou em teu seio.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
senti.
senti a água esquentar minha alma.
Senti as lágrimas secando no rosto
e o cansaço que vem depois do choro.
Deitei-me na água e a água me cobriu.
Sorrimos.
Senti o meu cabelo se afogando.
Quis fechar os olhos, mas não fechei.
Encarei o teto à minha frente.
Encarei o teto que me aguardava
e o futuro que era aguardado por mim.
Ouvi o som da água e tudo se silenciou.
Eu sou a água.
Ouvi o mundo,
acordei.
Vesti-me de vidro e azulejo,
deixei-me entrar dentro de mim.
Me mergulhei.
Parei de chorar e gargalhei.
Chorei de novo e enlouqueci.
Vivi.
horas
Enquanto espero, ligo o notebook na cozinha, respondo meus emails e comento redes sociais.
Apago o fogo, espero mais alguns minutos até a água esfriar. O café perfeito deve ser feito à temperatura de 90 graus. 100 graus faz com que os grãos queimem e percam um pouco do sabor. Enquanto coloco a água, gosto de imaginar que estou num processo quase cirúrgico de não molhar a ponta do filtro. Esse pensanento me distrai.
Tomo uma xícara de café, jogo o filtro fora, lavo o funil, a xícara e a cafeteira e volto pro computador.
Levo o computador até a sala (11 passos em média) e trabalho até ir dormir, às 4:15 da manhã. Minhas pausas são meramente simbólicas, como para pedir comida, ir ao banheiro e fumar.
Desligo o computador às 3:45, ando até a cozinha para deixa-lo sobre a mesa (doze passos em média). Ando até a escada (7 passos) e subo doze degraus. Chegando lá, dou 13 passos até o banheiro e escovo os dentes. Conto as escovadas que dou em cada lado (quarenta). Caminho até minha cama (quatro passos), deito às 4:15 e penso nas horas de sono que ainda terei.
lixo lixoso
sábado, 15 de novembro de 2014
Poema de rua.
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
Tout.
éclaire l'âmé égarée
pour un demain
qui ne viendra jamais.
La pluie
nettoie les rues
oubliées
et efface les précieux
mémoires.
Le feu
fait peur le froid,
assèche la pluie,
brûlant et consume
Tout.
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Femme.
(Sinceros Agradecimentos
à melhor pior "pessoa"
Que um vira-lata pode ter
- Um Amigo)
T.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Pequeno.
Abri os olhos e já era dia, a dor de cabeça já chegara e o enjôo também. Levantei para perceber que o quarto inteiro estava vomitado. A cama e o chão e o armário e até O MEU PAU estavam todos vomitados e eu olhei para a anã e ela não era tão bonita e suas nádegas não eram tão perfeitas. Sua boca havia se transformado em uma boca de anã e o resto era anão também. Os pequenos bracinhos eram de uma desproporcionalidade ilógica e também estavam cobertos de vômito. Que merda, pensei. Então eu olhei aquele cuzinho e não estava tão ruim assim. Limpei meu pinto e vesti a anã por trás, socando e urrando e latejando enquanto podia. Ela acordou e eu continuei e ela entendeu mas não podia fazer nada porque ela era muito PEQUENA e eu era ENORME. Eu ia urrando e socando e ela chorando. Novamente não podia ver seu rosto mas Senti ela chorar. Gozei naquele cuzinho e acabei. Botei as calças, peguei minhas coisas e saí. O quarto continuava vomitado e a anã continuava bébada e eu não estava nem aí. Ainda tinha mais uma semana paga no motel, mas não me importei. Acendi um cigarro e andei até encontrar o mercado mais próximo. Precisava de mais vinho.
terça-feira, 11 de novembro de 2014
boca seca
Acordei morto num dia qualquer da minha vida e vim parar aqui.
Mas minha boca já está começando a secar.
Despedida.
sábado, 8 de novembro de 2014
simpatia
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
rotina
a noite
Bicho.
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Crú.
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Vagalumes.
Enjoo.
amor
Eu queria comer essa mulher casada e ela não cedia. A conheci num café da minha rua e o marido era um desses figurões que vive trabalhando pra encher o cu da grana, então eu não incomodei quando ela falou dele, só sorri e continuei conversando até ela sugerir que a gente fosse pra casa dela. Cheguei na casa dela e comecei a pegar nas suas gorduras e ela disse 'Não podemos fazer isso' e eu disse 'foda-se' e ela disse 'e se meu marido chegar?' e eu falei 'aí ele vai aprender o que é sexo de verdade' e eu comi. Comi direito, mas aí tive que ir embora porque o marido já estava chegando. Já estava tarde e um homem como eu tem mais coisas pra fazer e mais bocetas para comer quando escurece e o marido chega e o bar enche de bocetas novas.
No dia seguinte eu voltei pra come-la de novo e ela disse 'não' e eu disse 'por que' e acabei enrolando de outra forma e comendo mais uma vez aquela boceta gorda e rica e estúpida que não queria dar pra mim, mas aí o marido chegou. 'Que porra é essa' ele disse, e eu retruquei 'que porra é essa digo eu ao senhor!'. A essa altura eu já estava bêbado como de costume e ele me respondeu 'essa é minha mulher!' como de costume. 'O que?' disse eu, 'não, essa é a minha mulher, eu vi primeiro' e começamos a discutir sobre isso, desequilibrados, ele e eu: mental e fisicamente, nessa ordem. Foi aí que eu levei um soco na cara e tudo ficou preto.
Acordei no dia seguinte bêbado e roxo na frente de um bar. Já passava de meio dia, então pude me dar ao luxo de entrar pra beber alguma coisa, mas eu queria tentar entender o que tinha acontecido, então eu tomei umas doses e fui pra casa da ricaça.
Chegando lá, eu encontrei um monte de policial colocando faixa amarela em volta da casa e não entendi porra nenhuma, perguntei pra um cara de terno 'que porra que aconteceu aqui?' e o homem me respondeu 'o marido encontrou o amante da mulher e matou os dois a tiro' e aí eu gelei. 'Será que eu to morto?' pensei. Aí eu pensei que talvez eu estivesse só bêbado demais e fiquei ali parado mais um tempo enquanto pensava na ideia. Fui perguntar pro policial o nome do amante que morreu. 'Amarildo da Silva'. Não era eu. Porra, ainda bem que não era eu, NÉ? Mas isso queria dizer que eu não era o único amante da vagabunda, e chamo de vagabunda justamente porque eu não era o único amante dela. Sacana.
Voltei pro bar que eu tava e estou bebendo e escrevendo nele até hoje. Não lembro por que comecei essa história, mas vou sentir saudade daquela boceta gorda e rica e esnobe que me traiu com outro pé rapado. Luciana era o nome dela.
'Um brinde à Luciana'.
O barman me ignorou e eu voltei a beber.
terça-feira, 4 de novembro de 2014
ácidos voadores cagantes
- depende, quem é você?
- meu nome é jonas, mas isso não importa muito.
- você é capricorniano?
- eu nasci em porto alegre.
- e seu signo?
- sei la, acho que é virgem.
- ha ha, sabia!
- porra nenhuma.
- sabia sim, só precisava ter certeza.
- e os discos voadores, você viu mesmo?
- aham.
- como eles eram?
- eram assim, e tinham umas luzes piscando desse jeito, sabe? Tudo colorido e rápido demais.
- você usa ácido?
- não, por que?
- é que eu tenho um aqui sobrando.
- tem mesmo?
- não.
- por que disse que tinha?
- eu queria saber se você usava.
- mas eu disse que não uso.
- sei...
- por que veio perguntar dos discos voadores?
- porque eu vi também.
- viu nada.
- eles tinham umas luzes coloridas do jeito que você falou.
- acho que você ta caçoando de mim.
- não estou não, eu vi mesmo e achei que tava maluco.
- ainda acha que ta maluco?
- acho, mas pelo menos não estou sozinho.
- não?
- não.
- quer sair e beber uma cerveja?
- e conversar sobre discos voadores?
- talvez.
- talvez.
Eles sabem.
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Terminar.
Sufocar seus pensamentos,
Afogar minhas feridas em água morna
E comer sua melhor amiga.
Quero enfiar-me entre as suas costelas,
Penetrar no profundo do seu peito,
Corroer sua alma podre
E viver dentro dos seus restos
Quero construir uma cabana,
Com tudo que sobrou de nós,
Encher tudo de gasolina
E atear fogo
Eu estou melhor agora, meu bem.
Me sinto mais saudável,
Mais livre!