segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
Temor:
(ad indefinitum)
domingo, 28 de dezembro de 2014
Cópia.
Por sorte, esse é só o meu falso eu.
Peito vazio.
de sangue gelado
e facas sem fio,
homens mal-amados
de peito vazio
que já não conhecem
o sabor do sol.
Lágrimas
não derramadas
aquecem o frio
e vidas tiradas
por homens vazios
de mãos não tocadas
pela luz do sol.
sábado, 27 de dezembro de 2014
Guerra.
Estou flutuando no mar morto. Nada me impele, nada me comanda. Estou nu, mas não tem ninguém por perto. Está tudo muito escuro. Acende uma luz no teto e estou no meu banheiro. Minhas pernas estão mergulhadas na privada e tenho uma escova de dentes cravada no peito. Aperto a descarga e acordo.
Água.
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
Negrume.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Espetáculo de um Amanhecer (Peça)
Fezes humanas escorrem pelas paredes enquanto o sangue grita 'ESTUPRO ESTUPRO' e o padre reza e o descrente ri querendo chorar, o negro clama pelos seus direitos e o machado corta 'chopchop' as moscas voam e tudo fede: as moscas e o negro e o padre e o descrente o sangue e as fezes. 'PAI NOSSO QUE ESTÁS NO CÉU' e o chopchop que o machado faz na moça continua até o sol raiar.
Todos sorriem para a câmera.
Fim da cena 1.
Creedmoor.
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Somente.
Solidifica
O solitário.
Só-lhe-deixa
E só-lhe-faz.
Ser sozinho
Fode a gente
Deixa mente
Alie(nada).
Tão somente
Sem razão,
Pura e
Indefinida
Mente
Só.
Espetáculo de um Amanhecer (Peça)
O homem se masturba enquanto todos da sala se espalham pelos cantos. Uma idosa bate a cabeça na parede TOC TOC e o sangue vermelho vermelho desce e escorre. 'Os bombeiros estão a caminho!', grita o homem que se masturba. Um gato morto descansa em um pote redondo de madeira que descansa sobre a mesa que descansa sobre o chão. A freira reza enquanto segura o pênis mutilado do negro CHOPCHOP e todos estão usando coleiras menos o gato. O gato está morto e o quarto fede. O homem que se masturba tenta acender um cigarro com a mão que não está cortando o negro e tudo pega fogo.
CHOPCHOP
Fim da cena 2
domingo, 14 de dezembro de 2014
Se te me quer...
te me terás.
Mas se tu tens
tênue me ter,
Teme querer
(me)ter-me;
Meros temores
que não me têm!
Quer-me meter?
Me meterás.
Quer-me temer?
Me temerás.
Se me te quer
te me terás.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
pra vocês seus nojentos
domingo, 7 de dezembro de 2014
Segredos.
dos sábios sabiosos
segredos segregosos.
Não viste, porém,
horror tão horrorosos!
Seguiste,
com olhos curiosos,
caminhos tortuosos.
Sumiste
das vistas dos vistosos,
sorriste
pra homem veludoso.
"Aviste
casebre tenebroso
que lá está seu gozo."
Mediste
perigo perigoso.
"Desistes?
Me achas duvidoso?"
Caíste
em falas tão sedosas,
entraste
no escuro tão negroso
com o homem oleoso
que diz-te:
"Sumiste
dos olhos dos vistosos
e em meus braços pegajosos
caíste."
Tão tristes
teus olhos curiosos
azuis depreciosos!
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
Invisíveis.
Nas praças abandonadas, nos bueiros
Ratos rateiam as ruas enratoadas
Baratas nascem de profundezas impensáveis
Distantes de olhares repulsivos
Monstros nascem da escuridão
Animais são criados da fome
Visíveis e risíveis aos olhos de Deus.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Diálogos (I)
Como um objeto de valor perdido em uma rua de subúrbio, você é uma pessoa de valor, perdida nesse mundo fétido.
- E você é um doce poeta incompreendido.
- Mais incompreendido do que doce poeta, querida.
sentir (II)
O que? Agora? Eu não faço a menor ideia. Acredito que seja mais fácil descrever o fim do mundo do que o fim de nós. Toda a cor desapareceria, com certeza, como uma foto antiga. Os dias sem ela ficariam mais cinzas, mais arrastados, mais monótonos. Eu ficaria mais cinza. Não é a toa que as pessoas não param pra pensar sobre isso, a ideia já me dá lágrimas aos olhos, então eu vou voltar à comparação com o fim do mundo. Um escritor uma vez disse "Assim expira o mundo: não com uma explosão, mas com um suspiro." Eu nunca entendi o que ele quis dizer com isso, mas não é um suspiro que eu queira ouvir.
(a)
Alou
Existe mesmo algum sinal de vida do outro lado desta tela? Se existe, por que não veio ao meu encontro? Se me vê, por que não me cumprimenta? Eu não sou um jornal velho, eu sou real. Eu EXISTO, então MANIFESTE-SE. Eu sinto sombras ao meu redor, sombras sem identidade - como as minhas. Elas são as suas? Elas vem com a sua presença? Eu sinto, mas eu não consigo ver. Por que tudo está tão frio? Por que as coisas perderam a cor? As coisas aí do outro lado estão muito diferentes? O que você entende de solidão?
Sabe como curá-la?
sentir (I)
Num instante antes, é como se tudo estivesse pulsando... Como se tudo fosse absolutamente VIVO; as calçadas, os carros, os prédios. Como se todos eles tivessem ouvidos, como se estivessem me olhando, assistindo, esperando por uma reação minha. Então acontece. Os lábios dela tocam os meus e o resto se cala. A multidão de pessoas que eu conheço magicamente desaparece do meu subconsciente, minhas mãos sentem os cabelos dela e todos os pêlos do meu corpo se arrepiam ao mesmo tempo. Até o relógio para pra ver o que está acontecendo, e os pássaros param de cantar. O sol só brilha pra nós dois, e o resto do mundo permanece - nesse instante - em breu, esperando para ser descoberto. Eu imagino que, para os outros, haja uma sensação de falta enquanto eu a beijo, discreta e inexplicável. Como se eles pudessem SENTIR o que estão deixando pra lá. Eu imagino que, se pudessem, sairiam se beijando pela rua, só pra fugir dessa monotonia que os persegue. "Se eles soubessem que estão tão vazios, amor, eu sei que o fariam."
(a)
sobre as calotas polares
sábado, 29 de novembro de 2014
Conversas de Ônibus (I)
Obrigado, eu não fumo.
Eu não acordo com pesadelos no meio da madrugada, não sorrio de volta pra estranhos, não pego ônibus lotado. Não possuo desejo algum de conhecer gente nova, não sinto atração pelo sexo oposto e muito menos pelo meu. Não construo metas, não alimento sonhos, não me prendo a lembranças, não almejo chegar a lugar algum.
Não urino em banheiros públicos.
Não dou dinheiro aos pobres.
Não confio na sorte, não acredito em superstições, não sou dotado de manias, cacoetes ou cismas. Não expresso minhas opiniões de nenhuma forma, chegando a me perguntar se as possuo.
Não faço esportes, não tenho um time, não vou para bares e não torço pro Brasil na copa.
Não possuo nenhuma doença terminal ou crônica.
Não possuo maus hábitos à mesa.
Não fumo, não bebo, não escrevo.
Em suma, não vivo.
Paus e pedras.
Minha presença é atraída pela dela como a desgraça é atraída pelo caos. Nossas mentes são meros instrumentos da perversidade que nos rodeia, nossos corpos são os objetos de desejo um do outro. Meu hálito fede a álcool e o dela fede a cigarro. Meu olhar é de desprezo e o dela é de amargura. Fomos feitos um pro outro, unha e carne, almas gêmeas, com um único porém:
Não nos suportamos.
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Agosto.
que nos outros não se substancia!
Tu entendes bem o que eu falo
pois, perante tua verdade, me calo
e dou voz ao teu grosso canto.
De tanto cinismo, me encanto:
de tanta lenda que tua boca diz,
a vericidade já não te condiz
e ficas a balbuciar novela
(lisuras pintadas em aquarela)
lamentando na cachaça amarga
os segredos que o passado guarda.
Presente.
(Tu és minha única certeza,
és a última luz
para toda escuridão que guardo
- A.B.)
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
cada pouco
Voltando da madrugada
Do fumo, do pó, do nada
Procurando um encosto
Um desgosto pra dormir
Tentando esquecer seu rosto
Cochilando em cada pouco
Quando cada porco que aparece
Acusa-me de ser louco
Mas de rouco que sou
(Do louco, nada sei)
eu rio:
Do fumo
Do pó
Do nada.
aluga-se
-tipo aqueles caras de filme?
-tipo aqueles caras de filme.
-legal.
-você ainda daria pra mim se descobrisse que eu sou assassino de aluguel?
-eu vou continuar dando pra você enquanto você continuar me pagando.
-você vai continuar sendo puta pra sempre?
-não,daqui a uns anos eu paro.
-quantos anos?
-dois.
-só dois?
-é.
-e depois, o que você vai fazer?
-ainda não decidi, quero fazer alguma coisa com moda.
-você podia ser modelo com esse corpo, baby.
-ã-ahn.
-por que não?
-você ja viu como são os corpos das modelos de hoje em dia? parecem esqueletos!
-você moraria comigo?
-agora?
-daqui a dois anos.
-com você sendo assassino de aluguel?
-é.
-aí eu acho que você foi longe demais.
-é?
-é. to indo embora.
-mas já? ainda nem começamos a beber...
-é, mas eu não trepo tão bem quando eu bebo.
-e daí?
-tchau, Zé.
-até mais, Rita.
domingo, 23 de novembro de 2014
facas.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
cu
eu sento meu cu doído
de tanto fodido
que levei
dos mais fiéis
companheiros.
Nesse banco indigesto
eu sento minha bunda dura
de tanto chute
que levei
das minhas mais "fiéis"
meretrizes.
Nesse miserável trono
eu sento meu cu sem dono
e espero pelo inevitável:
uma merda ainda maior
que ainda está por vir.
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
acabado.
Não sujeite a alma
à sua pequinês.
Não corra o mundo,
fique em casa
até melhorar desse mim
que te aflige.
Não me espere acordada
quando eu disser que
"eu não volto dessa vez",
que "não quero te ver
te viver, cheirar, sentir
ouvir ou comer."
Não briga nem chora
pelas manhãs chuvosas
que não vimos,
pelas canções chorosas
que não ouvimos
enquanto você me acabava.
Só me acaba de vez, amor
porque eu já acabei você.
Leito.
Não mais existe bem nessa carne
Não me melhore ou alimente
E não terá razão para alarme
Não ouça meus prantos e lamentos
Não pense que eu estou morrendo sozinho
Eu o recuso e aos seus alentos
Eu só preciso de mais vinho
Socorre meus entes queridos
Que de queridos não se substanciam
E diga aos meus bons amigos:
Fizeram tudo o que podiam
Não encerro-me sem me lembrar
Da mais formosa das criaturas míticas
Sereia por quem tardei a amar
Merece lugar nessas páginas fatídicas:
Se teus olhares não houvessem fitado
Tal monstro que a ti se dirige
Eu teria vivido exilado
Do amor que hoje me aflige
Aos outros, ao resto, obrigado
Todos meus anseios foram satisfeitos
Minha estadia não teria significado
Se não me ouvessem colocado defeitos
E àquela que me vem na calma
Aquela por quem tanto anseio
Tão mansa quanto pede a alma:
Minha inspiração mamou em teu seio.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
senti.
senti a água esquentar minha alma.
Senti as lágrimas secando no rosto
e o cansaço que vem depois do choro.
Deitei-me na água e a água me cobriu.
Sorrimos.
Senti o meu cabelo se afogando.
Quis fechar os olhos, mas não fechei.
Encarei o teto à minha frente.
Encarei o teto que me aguardava
e o futuro que era aguardado por mim.
Ouvi o som da água e tudo se silenciou.
Eu sou a água.
Ouvi o mundo,
acordei.
Vesti-me de vidro e azulejo,
deixei-me entrar dentro de mim.
Me mergulhei.
Parei de chorar e gargalhei.
Chorei de novo e enlouqueci.
Vivi.
horas
Enquanto espero, ligo o notebook na cozinha, respondo meus emails e comento redes sociais.
Apago o fogo, espero mais alguns minutos até a água esfriar. O café perfeito deve ser feito à temperatura de 90 graus. 100 graus faz com que os grãos queimem e percam um pouco do sabor. Enquanto coloco a água, gosto de imaginar que estou num processo quase cirúrgico de não molhar a ponta do filtro. Esse pensanento me distrai.
Tomo uma xícara de café, jogo o filtro fora, lavo o funil, a xícara e a cafeteira e volto pro computador.
Levo o computador até a sala (11 passos em média) e trabalho até ir dormir, às 4:15 da manhã. Minhas pausas são meramente simbólicas, como para pedir comida, ir ao banheiro e fumar.
Desligo o computador às 3:45, ando até a cozinha para deixa-lo sobre a mesa (doze passos em média). Ando até a escada (7 passos) e subo doze degraus. Chegando lá, dou 13 passos até o banheiro e escovo os dentes. Conto as escovadas que dou em cada lado (quarenta). Caminho até minha cama (quatro passos), deito às 4:15 e penso nas horas de sono que ainda terei.
lixo lixoso
sábado, 15 de novembro de 2014
Poema de rua.
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
Tout.
éclaire l'âmé égarée
pour un demain
qui ne viendra jamais.
La pluie
nettoie les rues
oubliées
et efface les précieux
mémoires.
Le feu
fait peur le froid,
assèche la pluie,
brûlant et consume
Tout.
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Femme.
(Sinceros Agradecimentos
à melhor pior "pessoa"
Que um vira-lata pode ter
- Um Amigo)
T.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Pequeno.
Abri os olhos e já era dia, a dor de cabeça já chegara e o enjôo também. Levantei para perceber que o quarto inteiro estava vomitado. A cama e o chão e o armário e até O MEU PAU estavam todos vomitados e eu olhei para a anã e ela não era tão bonita e suas nádegas não eram tão perfeitas. Sua boca havia se transformado em uma boca de anã e o resto era anão também. Os pequenos bracinhos eram de uma desproporcionalidade ilógica e também estavam cobertos de vômito. Que merda, pensei. Então eu olhei aquele cuzinho e não estava tão ruim assim. Limpei meu pinto e vesti a anã por trás, socando e urrando e latejando enquanto podia. Ela acordou e eu continuei e ela entendeu mas não podia fazer nada porque ela era muito PEQUENA e eu era ENORME. Eu ia urrando e socando e ela chorando. Novamente não podia ver seu rosto mas Senti ela chorar. Gozei naquele cuzinho e acabei. Botei as calças, peguei minhas coisas e saí. O quarto continuava vomitado e a anã continuava bébada e eu não estava nem aí. Ainda tinha mais uma semana paga no motel, mas não me importei. Acendi um cigarro e andei até encontrar o mercado mais próximo. Precisava de mais vinho.
terça-feira, 11 de novembro de 2014
boca seca
Acordei morto num dia qualquer da minha vida e vim parar aqui.
Mas minha boca já está começando a secar.
Despedida.
sábado, 8 de novembro de 2014
simpatia
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
rotina
a noite
Bicho.
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Crú.
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Vagalumes.
Enjoo.
amor
Eu queria comer essa mulher casada e ela não cedia. A conheci num café da minha rua e o marido era um desses figurões que vive trabalhando pra encher o cu da grana, então eu não incomodei quando ela falou dele, só sorri e continuei conversando até ela sugerir que a gente fosse pra casa dela. Cheguei na casa dela e comecei a pegar nas suas gorduras e ela disse 'Não podemos fazer isso' e eu disse 'foda-se' e ela disse 'e se meu marido chegar?' e eu falei 'aí ele vai aprender o que é sexo de verdade' e eu comi. Comi direito, mas aí tive que ir embora porque o marido já estava chegando. Já estava tarde e um homem como eu tem mais coisas pra fazer e mais bocetas para comer quando escurece e o marido chega e o bar enche de bocetas novas.
No dia seguinte eu voltei pra come-la de novo e ela disse 'não' e eu disse 'por que' e acabei enrolando de outra forma e comendo mais uma vez aquela boceta gorda e rica e estúpida que não queria dar pra mim, mas aí o marido chegou. 'Que porra é essa' ele disse, e eu retruquei 'que porra é essa digo eu ao senhor!'. A essa altura eu já estava bêbado como de costume e ele me respondeu 'essa é minha mulher!' como de costume. 'O que?' disse eu, 'não, essa é a minha mulher, eu vi primeiro' e começamos a discutir sobre isso, desequilibrados, ele e eu: mental e fisicamente, nessa ordem. Foi aí que eu levei um soco na cara e tudo ficou preto.
Acordei no dia seguinte bêbado e roxo na frente de um bar. Já passava de meio dia, então pude me dar ao luxo de entrar pra beber alguma coisa, mas eu queria tentar entender o que tinha acontecido, então eu tomei umas doses e fui pra casa da ricaça.
Chegando lá, eu encontrei um monte de policial colocando faixa amarela em volta da casa e não entendi porra nenhuma, perguntei pra um cara de terno 'que porra que aconteceu aqui?' e o homem me respondeu 'o marido encontrou o amante da mulher e matou os dois a tiro' e aí eu gelei. 'Será que eu to morto?' pensei. Aí eu pensei que talvez eu estivesse só bêbado demais e fiquei ali parado mais um tempo enquanto pensava na ideia. Fui perguntar pro policial o nome do amante que morreu. 'Amarildo da Silva'. Não era eu. Porra, ainda bem que não era eu, NÉ? Mas isso queria dizer que eu não era o único amante da vagabunda, e chamo de vagabunda justamente porque eu não era o único amante dela. Sacana.
Voltei pro bar que eu tava e estou bebendo e escrevendo nele até hoje. Não lembro por que comecei essa história, mas vou sentir saudade daquela boceta gorda e rica e esnobe que me traiu com outro pé rapado. Luciana era o nome dela.
'Um brinde à Luciana'.
O barman me ignorou e eu voltei a beber.
terça-feira, 4 de novembro de 2014
ácidos voadores cagantes
- depende, quem é você?
- meu nome é jonas, mas isso não importa muito.
- você é capricorniano?
- eu nasci em porto alegre.
- e seu signo?
- sei la, acho que é virgem.
- ha ha, sabia!
- porra nenhuma.
- sabia sim, só precisava ter certeza.
- e os discos voadores, você viu mesmo?
- aham.
- como eles eram?
- eram assim, e tinham umas luzes piscando desse jeito, sabe? Tudo colorido e rápido demais.
- você usa ácido?
- não, por que?
- é que eu tenho um aqui sobrando.
- tem mesmo?
- não.
- por que disse que tinha?
- eu queria saber se você usava.
- mas eu disse que não uso.
- sei...
- por que veio perguntar dos discos voadores?
- porque eu vi também.
- viu nada.
- eles tinham umas luzes coloridas do jeito que você falou.
- acho que você ta caçoando de mim.
- não estou não, eu vi mesmo e achei que tava maluco.
- ainda acha que ta maluco?
- acho, mas pelo menos não estou sozinho.
- não?
- não.
- quer sair e beber uma cerveja?
- e conversar sobre discos voadores?
- talvez.
- talvez.
Eles sabem.
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Terminar.
Sufocar seus pensamentos,
Afogar minhas feridas em água morna
E comer sua melhor amiga.
Quero enfiar-me entre as suas costelas,
Penetrar no profundo do seu peito,
Corroer sua alma podre
E viver dentro dos seus restos
Quero construir uma cabana,
Com tudo que sobrou de nós,
Encher tudo de gasolina
E atear fogo
Eu estou melhor agora, meu bem.
Me sinto mais saudável,
Mais livre!
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Appétit.
um tanto de saudade entre meus dedos
e esperança entupindo meus ouvidos
Meus sonhos têm uma pitada de açúcar
e uma onda de amargura me assola
asfixiando-me de azeda dúvida
Serei eu mais um bocado de frutas podres?
Faltaria em mim uma pitada de tempero?
Aceitaria-me então em teu paladar?
Ser ou fazer de ti juíz?
Provar do teu âmago joliz
ou servir-me à tua insaciável gula?
Imune.
- quero tomar fluoxetina, ela disse.
- que que é isso?
- é um remédio que a pessoa toma pra ficar feliz, mas só mulher pode tomar.
- por que homem não pode?
- porque não, poxa.
- Anda, fala.
- Falar o que?
- Por que que eu não posso tomar essa merda?
- porque fica broxa.
- mentira sua.
- verdade.
- mentira.
- então toma, ué. vai ficar broxa e a culpa não vai ser minha.
- nenhum remédio pode me deixar boxa, essa coisa não é de nada.
- toma então.
tomei o remédio e esperei.
- E aí, ta broxa?
- ainda não.
- ta feliz?
- também não.
- ué, como assim? você tomou?
- tomei, porra. eu avisei que nenhum remédio ia me deixar broxa.
- talvez ainda não tenha tido efeito, faz quanto tempo que você tomou?
- duas horas.
- e conseguiu ficar de pau duro?
- como não ficar de pau duro olhando pra essas suas coxas?
- você deve ter tomado de um jeito errado... não ta nem um pouquinho feliz?
- to um pouquinho.
- aí! viu?
- ah, foi só impressão.
- então você deve ser imune.
- imune a ficar broxa ou a ficar feliz?
- os dois.
- é, talvez eu seja imune aos dois mesmo.
Ônibus.
eu estava ali há um bom tempo, já até havia passado da central. o ônibus já tinha esvaziado e a viagem tinha sido tranquila. foi quando esse desgraçado sentou do meu lado. já não gosto de quem senta do meu lado, mas ele não tem culpa, pensei. ele não faz por querer. mas acho que faz. será? suava como um porco, parecia que tava fazendo de propósito. quando sentou, abriu um sorriso pra mim assim, como quem sorri pra qualquer um. EU não sou qualquer um, meu chapa. Com aquelas nádegas borbulhantes e aquela cara de senil, não pude nem sentir pena quando seus inúmeros braços - camadas e mais camadas de gordura - encostaram em mim, lambuzando meu assento: pele, suor, sujeira, meleca, pobre, nojento, gordo. depois de três pontos, o desgraçado levanta com aquela cara de retardo só pra deixar um pouco mais de líquido cair em mim. filho da puta, pensei, ele fez de propósito.
Sobre nós...
Não é sobre a sua voz.
Não se trata do seu perfume.
Nem do seu cabelo.
Nem da sua boca.
Não é mais sobre os tantos cacos de vidro que pisei para chegar aqui, ou sobre as lágrimas que derramei.
Também não é sobre o futuro
(Pois não mais existe um).
Nem sobre o pretérito imperfeito e singular
De nós.
Não tem a ver com as estrelas.
Não se trata dos planetas.
Isso é sobre mim agora.
Só eu e mais ninguém.
podre
Nesse lar de puta
Em fim de carnaval
Fica aqui nesses lençóis rasgados
No colchão manchado
Nessa podridão
Fica aqui comigo
Nesse coitus uninterruptus
Nesse bacanal
Sendo meu voyeur
Fica nessa sujeira assim
Lambendo tudo aqui
Fica e não sai mais
Você me pertence
Você é o lixo que me cerca
É a imundice que me afoga
Te quero-me.
Tão alegres, tão ativas
Te jogo-me na cama vil
Tão sincero, tão senil
Te bebo-me como veneno
Tão mortal e tão ameno
Te guardo-me com desdém
Tão carinho não faz bem
Te acabo-me em mais bebida
Tão querida quanto a vida
Te afogo-me de me amar
Tão quanto teu me desejar
Te mato-me pois te preciso
Tão quanto precisou Narciso.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Notas.
domingo, 26 de outubro de 2014
Sob a pele.
sob minha inútil pele
sob meu domínio frustrado
sob meus medos
meus desejos
habita um ser.
E sob o efeito do mundo
ele chora.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
sem título
Ainda tem alguém aí? Sobrou alguém pra me ajudar?
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Família.
- Roberto...
- Estou fora, Dolores. Fora! Cuide desses dois você, eu me demito.
- Você não pode deixar de ser pai!
- Mas posso escolher não ser avô!
Lhe (me) partir.
- T.
Us.
I am the sun, I am the heat.
I am the lifeless part of nature,
The useless part of production.
I am the emptiness,
The solitude,
Buried alive by superfluity.
I am a part of you
And everything about you.
Don't come near me.
Don't get close.
But don't get too far.
While I am dimly lit,
You are all the brightness.
While I am filled with void,
You are everything, everywhere.
I can be the past
Because you are every future.
Because you are every "us"
And I am all the lonely people.
domingo, 12 de outubro de 2014
Mosca.
Minha falta de inspiração se deve à ressaca de hoje ou à bebedeira de ontem.
Como já tenho muitos textos sobre não conseguir escrever, dedicarei este enredo aos sapos.
Comam-o.
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Café derramado.
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
Pão dormido.
Eu já não xingo mais no trânsito,
Não cuspo catarro na rua
E já não mijo fora do vaso.
Eu não tiro mais meleca em público,
Nem olho pras mulheres que passam.
Eu não arroto depois que como,
Não durmo mais em conversas chatas.
Na verdade, não durmo hora nenhuma.
Eu não compro mais briga em bar,
Não como mais puta sem pagar,
Não peido em ônibus lotado.
A coisa ta tão preta pra mim
Que eu não faço mais piada racista
Com medo de me sentir ofendido.
(Essa foi a última delas)
Eu até parei com os jogos de azar
E parei de apostar em cavalos.
Também parei de esmigalhar insetos
E de atirar pedra em passarinho.
Já não como mais coisa do chão
E nem vejo mais pornografia.
A falta de vontade é tanta
Que até parei de comer pão dormido.
O que foi que você fez comigo?
domingo, 5 de outubro de 2014
Soberano.
Tuas inseguranças apontam para mim.
Teus medos, teus desejos e teus segredos são meus.
Teu passado é meu escravo.
Tua dúvida é alimento das minhas certezas.
Tuas obscenidades fazem o meu silêncio.
Tua leviandade teve fim em meu discernimento.
Tuas mentiras me assimilam plausível.
Eu sou mestre de mim mesmo.
Tu és servo da perdição.
sábado, 4 de outubro de 2014
Eu temo.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Lapso.
Não sei quem você é ou o que você tem nas mãos.
Eu não sei o que fomos, se fomos alguma coisa.
Será que existe um nós? Estou tão confuso...
Me desculpe, eu não consigo me lembrar do seu rosto.
No bar? Que bar? Na Brasil?
Não, nunca fui lá.
Não, espera. Talvez eu tenha ido.
O que é isso na sua mão? Parece afiado.
Não lembro de ter dito essas coisas.
Por que está chegando tão perto? Eu vou gritar!
Eu me lembro de você agora, por favor não faça isso.
Por favor! Não chegue mais perto!
Eu sei, eu lemb...
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Pode levar.
As plantas, os rios,
Todos os animais são pra você.
(menos os mosquitos)
E todas as flores,
Todas as cores,
São indiscutivelmente suas.
Os meus segredos são seus,
Minhas verdades óbvias também;
Como não saber lidar com o amor,
E não saber esperar.
Os meus medos são os seus,
(Meu maior medo é por você)
E minha casa não é minha mais,
Além das árvores em volta dela,
Que também são suas.
Minha cama, especialmente,
Além do meu rádio velho
E dos raios do sol pela manhã.
Também é seu o meu coração,
Mas não sejamos clichés,
Pois é seu o resto do corpo.
Os hematomas
E os futuros hematomas.
Minhas lembranças são suas,
Além da coleção de discos do Chico
E das outras coleções.
Minhas risadas, minhas lágrimas,
Elas não me pertencem mais.
Meu futuro é seu,
O resto todo também.
É tudo seu, sem exceção.
Menos você.
(Porque você ainda é minha)
Espírito livre.
Repugnantemente triste
Inquieto
Vil
Toda a minha vida se supôs
incomodamente infértil
Inapta
Oca
Tudo que sei
Se baseia em pontos cegos
Na inexorável moral dos homens
Sou analogamente chato
Invariavelmente cru
Sentimentalmente débil
Intelectualmente inadequado
Insuficientemente piedoso
Paradoxalmente, talvez,
Sou demasiadamente humano.
domingo, 21 de setembro de 2014
.
É como se eu estivesse perdendo o oxigênio, me afogando em ausência
Como se toda a minha existência desaparecesse diante de mim
Passado, presente, futuro
Sonhos, metas, aspirações
Eu sinto o vazio como se não tivesse conhecido a vida
Me sinto inútil e incômodo
Como uma cadeira quebrada
Como um poema sem fim
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
AVISO
O autor não pôde ser encontrado
E a imaginação se aposentou.
Este corpo foi esquecido, deixado de lado.
Esta alma foi vendida ou trocada.
Este universo não está mais disponível.
Esta casa foi hipotecada.
Cada grão foi recolhido
Cada lembrança foi eliminada
Cada coração, partido.
(berenice)
tanto faz
berenice não ama fábio
tanto faz
berenice ama o padeiro, o pedreiro, o porteiro
tanto faz
fábio não sabe de nada
tanto faz
o padeiro também ama berenice
e falou de berenice pra fábio
tanto faz isso
tanto faz aquilo
fábio foi tirar satisfação
berenice disse que não
que não tem nada disso
tanto faz
tanto faz
tanto faz
fábio não ama mais berenice
tanto faz:
o padeiro
o pedreiro
o porteiro
berenice ama fábio agora
mas o padeiro ainda ama berenice
(tanto faz)
domingo, 7 de setembro de 2014
Amarga.
Vi a foto que me restou
Bebi da água amarga que me sobrou
Bebi todo amargo de nós
Sofri
Vi o loucura seca de dois
Deixei a lembrança lúgubre pra depois
Desatei o resto dos nós
Menti
Fingi não sentir o que me regeu
Tentei esquecer o que não bebi
Reduzi a lembrança a pó
Bebi
Acordei a foto que me esqueceu
Sofri os nós que não desatei
Menti o gosto triste da lembrança
Senti
sábado, 6 de setembro de 2014
(...)
Pupilas dilatadas.
Batimento cardíaco acelerado.
Vontade de cuspir toda verdade de uma vez só.
Vontade de cuspir toda vontade na tua cara.
Quero sair, correr, pular.
Viver.
Transar.
Mãos suando.
Pés batendo.
Andando para todos os lados.
Ardendo.
Dormente para a vida.
Andando sem sair do lugar.
Andando sem querer andar.
Não, não é amor.
É cocaína.
Jogo-te.
Eu poderia deixar passar. Eu poderia deixar pra lá, sei lá. "Ela não importa", ele diz - Ou sou eu que digo? Será que a peça chegou à casa final do meu jogo, e ocupou meu lugar como rainha? Não, não poderia ser. Tu não és tão astuto, verme. A partida não termina até o meu xeque-mate. E que xeque-mate será! A conquista, por mais prazerosa que seja, de nada significaria sem o gosto da tua ruína.
E com isso não te preocupas, pois ainda tenho todas as peças na posição que desejo. No próximo movimento, te coloco fora.
Mas te quero fora? Estaria eu disposto a desistir da tortura, da perversão de te ver tentando ganhar? Seria eu maduro ou irresponsável o suficiente para aposentar meu vício no tabuleiro? Embora tua estadia me irrite, não me irritaria mais se não a tivesse para me distrair?
Por bem ou por mal, tolo, tu ainda vives em mim. Por bem ou por mal, eu ainda vivo nele. O tempo que essa dualidade vive não é mais eloquente do que seu epílogo.
Mas isso eu posso antepor na próxima jogada.
Jogue.
É a tua vez.
domingo, 31 de agosto de 2014
Parte de mim.
Bato as janelas, cubro os espelhos.
Despenteio os cabelos e me escondo no canto.
Pego algum objeto afiado e apago a luz.
Meus membros tremem com a escuridão que se segue.
Diminuo a respiração, tento não ouvir os sons.
Tento não gritar com tanta agonia presa à garganta.
Ouço passos, mas tento não ouvir.
Desacelero o coração e finjo que não existo.
Os móveis fingem que nunca me viram existir.
Acalmo os nervos e tento me mover.
Os outros já se foram, ainda ouço os ruídos.
Sou parte dessa casa agora.
Os medos são parte de mim.
Dormir.
Vem com uma boca triste, com olhos caídos e chorar.
"Eu vi o que você fazer."
O que? Nada fiz, não sei do que está a falar.
"Você não vai mais me comer."
Ela pega o celular. Joga verdades na cama e me acusar.
"Olha, verme, e diz se nada tens a dizer."
Eu imploro, amor, não há nada aqui, olhar!
"A conversa diz que sinto falta, que te quero e te amar."
Penso, confuso, se me pode ser.
"Quem é essa a te querer?"
Vejo de novo. Amor, você se confundir.
"Não quero mais saber."
É o seu celular que estamos a ver.
"O que? Não! deixe-me explicar..."
Viro de lado e volto a dormir.
domingo, 24 de agosto de 2014
Silenciosamente.
Os pássaros já não cantam nas árvores da minha casa.
As árvores, por sua vez, já não balançam com o vento.
Foi o vento que parou de assobiar nas janelas.
E a porta da frente que parou de ranger.
A madeira parou de estalar de noite.
E eu não ouço mais os ratos correndo.
Meu cachorro já não late quando a campainha toca.
E eu nunca mais ouvi a campainha tocar.
Até a voz na minha cabeça parou de conversar comigo.
Estou tão sozinho...
sábado, 23 de agosto de 2014
Hipnofrenose.
Reflexão sobre moral e ignorância.
Eu não sou como os demais. A diferença, até certo ponto, é atrativa para os humanos. Depois que se passa desse ponto, ela é vista como um empecilho. De tudo que eu tinha a comentar sobre isso, só me sobrou a solidão. Pior do que ela em si, só mesmo seu reconhecimento como algo real. Eles não perceberiam. Eu não os culpo por serem estúpidos. Inclusive, eu os admiro.
Deixe-me introduzir um pequeno prefácio sobre minha história. Durante toda a minha vida, tentei ser um perfeito imbecil, adequar-me às normas que não me significam nada, encontrar-me em um grupo de pessoas que compartilham a mesma singularidade repetitiva que se vê em cada grupo "diferente" de pessoas. Eu não nasci pra isso. Eu nasci para pensar, estudar, entender. Eu nasci para viver além das estrelas, além do bem e do mal. Infelizmente, eu não nasci para esse planeta.
O motivo para esta carta confusa e esnobe é que finalmente me sinto livre para dizer tudo que eu quero. Nem você, nem outros, abastecerão a demanda de sentimento de que necessito para continuar assim. Disseram-me que vocês sentem com o coração, e deve ser por isso que vocês são tão burros. Não existe batalha entre sentir e raciocinar, pois fazem parte do mesmo princípio: viver. É por isso que magoam, chutam, quebram tudo que amam, e idolatram tudo que odeiam. Vocês não sabem amar, só pensam que sabem. São como crianças brincando de cozinhar. Este é o primeiro motivo pelo qual nunca nos entendemos muito bem.
O mais triste, porém, é amar aquilo que não pode ser amado. Desse pecado eu tomo parte, por ter me apaixonado por você. A mais bonita e formosa de todas as criaturas, sua inocente moral me cativou e me arrastou para onde sempre desejei ir: às profundezas da ignorância e da burrice. Você, tão convencida sobre o bem que faz, já havia deixado de se perguntar o que é certo antes mesmo que eu pudesse pôr meus olhos em você. Mas como eu poderia saber? Cansado e desleixado como me tornei, qualquer esperança de melhora se tornava melhora, visto que o estado anterior não possuía essa esperança. Com isso, me deixei levar por uma corrente que me destruiria - para pouco depois se tornar motivo de meu renascimento.
De sábio, me tornei um bobo. De louco desleixado, me tornei um escravo da opinião alheia. De sem-cultura (como os índios de Cabral nada sabiam dos homens brancos, e também foram denominados assim), eu me tornei um intelectual, antenado e formado no saber de conhecimentos fúteis. De tudo que não sabia, pouco sobrou. Daquilo que sabia, menos ainda. Eu cavei minha própria cova mental, e a prova disso é a desorganização destas palavras que lhe dirigem. Acredite, pois se lacrimeja agora (e eu sei que sim), morreria antes de tanto chorar, se fosse o mesmo texto escrito por uma parte de mim completamente diferente.
Tendo deixado claro tudo aquilo que você já sabia, venho aqui a dizer aquilo que você não sabe, querida, e não teria como saber. Sua moral não passa de conceitos deturpados de uma mente doentia. Seu bem destrói aos poucos aqueles que por ele são cativados, mas se tornam burros demais para perceberem isso, mesmo no final. Não, não foi por ter escolhido o certo que lhe agrido verbalmente. É pela sua definição do certo e por priorizar o fútil, é pelo seu condenar baseado na opinião pública. Sua inteligência é meramente superficial, sua beleza é de fato muito comum. Seus valores e sentimentos são exatamente iguais aos daqueles que me refiro como dispensáveis, e sua capacidade de raciocinar sobre isso vai somente até o ponto que lhe favorece. Eu lhe odeio para retribuir o ódio que causara de mim mesmo, mas lhe adoro, à medida que suas boas intenções revelaram a triste verdade do mundo: Os homens só amam quando lhes convém amar.
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Lotados.
Vejo tristeza em olhos cansados,
Humor na multidão sem graça.
Vejo graça em pouca gente, poucas vezes.
Vejo gente em poucos lugares,
Em poucas ocasiões.
Vejo a gente em cada detalhe.
A todo instante,
Vejo o céu caindo em água,
O mundo virando chuva.
Vejo a chuva de ontem caindo,
Tamborilando nas nossas costas, braços,
Mãos, corpo e alma.
Vejo calçadas cinzas molhadas,
Vejo seus olhos molhados de calçadas cinzas,
Colorindo o preto e branco das ruas.
Lotando o mundo com nós dois,
Desbotando a solidão.
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Cria.
Eu sou fruto de ti.
E que fruto sou!
Obrigado.
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
(A)ma-te-me.
Pois repudio-te por teres me amado.
sábado, 9 de agosto de 2014
Omni.
Vou até a banca de jornal, compro um maço de cigarro e acendo um. Rio. Só o que me resta é zombar da mortalidade. Não importa, nada importa. Renegaram a voz da razão e se matam com vícios fúteis. Cigarro... Há! O mundo está perdido. "Deus que me livre!" Eu não vou livrar vocês de merda alguma.
domingo, 3 de agosto de 2014
Sou; seu; sei.
Seus braços me escondem,
Sua pele me disfarça,
Suas roupas me esquentam,
Suas palavras me alegram,
Sua voz me acaricia,
Seu sorriso me acalma,
Seu corpo me denuncia.
Pois sou tudo aquilo que sei,
Eu sou toda a maldade do mundo.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Só nós dois.
Qualquer proteção, dispenso,
Seguro de final precoce.
Toda gota, toda tosse
Aceito, abraço, confio
Me ponho nos braços macios
Da morte, que me curou.
Deixe o calor para outros.
Deixe viver para poucos.
Que o frio me acaricie
Antes que a solidão esfrie.
Somos só eu e a febre agora,
À espera desse fim célebre.
Só nós dois e a chuva.
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Júri Popular.
Por que escolhi ser escritor, afinal? Poderia ter sido diabético, deficiente físico ou hipocondríaco, anêmico, hemofílico ou bulímico. Escritor é o pior enfermo. Vive em seu próprio mundo, escreve como dá, quando dá e quando pode. Os únicos poetas decentes que sobrevivem a isso, à fome, à miséria e às críticas, vivem como prisioneiros da própria criação. Afinal, a escrita controla o escritor, e não o contrário.
E quando não escreve?, eu lhe pergunto. O que sobra para o escritor? Nada além de palavras de outros. Ah! E que outros vocês são... De quê adianta grafar minha dor, se já existem psicanalistas de plantão para me diagnosticarem com suas críticas fúteis? De que adianta uma opinião, se já me foi dito e repetido o que está certo e o que não está? De que lhes serve conhecer-me, se já leram minha sinopse?
Um bando de abutres, é o que são. Por não valorizarem a palavra, desperdiçam-na em tolos como eu.
O que farão, aos malignos, aqueles que julgam maligno tudo aquilo que os contraria?
O que será dos bons, se não sobrar o que os descreva?
Pra onde foi tudo que eu sou?
sexta-feira, 25 de julho de 2014
Seco.
seco,
correndo
no eco
perdido
do fim.
Bêbado de
memória,
trôpego de
esperança,
eu abro meu
caminho
Nas ruas do
passado,
vomitando
as esquinas,
preenchendo
as lacunas
Com o gosto
de nós dois
e com pouco
do que fui
eu refaço
a solidão.
Vou beber.
que nem um condenado
que nem um desesperado
que nem um filho da puta.
Vou beber
até minhas tripas saírem
e meu cu se encher de terra
a terra que vai me engolir.
Até o mundo desabar
e até eu fazê-lo acabar
eu vou beber
e não vou lembrar de você.
E eu vou beber
até você esquecer de mim
esse bêbado que te deixou.
vou beber
até encontrar alguém
menos gostosa do que você
mas não vai fazer diferença
porque eu já vou ter bebido
o suficiente pra não saber.
Vou beber
o suficiente pra não ligar
pra sua casa quando acabar
toda a bebida do mundo.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Muito bom dia.
Terça-feira.
Sonho que estou acordado, que tudo está bem e que estou novamente em casa. É Natal e todos estão reunidos para celebrar e comer. Me oferecem um copo de bebida, mas eu não aceito. Não preciso disso, repito, eu estou bem. De repente, a atendente do bar sobe no palco e começa um discurso. Ela começa a falar e todos aplaudem. Não consigo ouvir o que ela diz. Chego mais perto, ela me olha e fala:
"Mais uma, gostoso?"
Acordo vomitando na esquina da minha rua.
Humano.
sossego
Não admiro
coragem
Não perdôo
verdades
ditas
em tom de
silêncio.
Não tolero
pessoas
Não reflito
passado
Não admito
maldades
feitas
em nome do
bem.
Não sou
Não fui
Não serei
Humano.
quarta-feira, 23 de julho de 2014
Apego.
Cativo.
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Tenta, vai.
corre mais, vai
não adianta
não vai fugir
nunca vai de mim
não mais
nunca
desiste
eu não estou
nem aí
cala a boca
não
volta aqui
eu te amo
nos amamos
ah não tente
não tente mesmo
tudo bem, vai
não pense
sim, pode pensar
tudo bem
aqui estou eu
de novo
eu avisei.
Enfraquecer.
terça-feira, 1 de julho de 2014
Mémoire.
Nunca fui, em juventude, tão ignorado quanto gostaria. Sempre estive rodeado (ou ao menos me sentia assim) por pessoas que admiravam minha falta de interesse, e consequentemente tato, para articular com desconhecidos. Devo ressaltar aqui a incrível capacidade da humanidade de ser contingente com os mais fracos. Fosse em outra época, eu seria apedrejado, queimado, violentado e até castrado, mas aqui eu fui acolhido como mascote. O problema, como saberia dizer Rochefoucauld, foi permanecer assim. "Quelque bien qu'on nous dise de nous, on ne nous apprend rien de nouveau".
Cresci, como os tolos que me veneravam, bronco, inepto e arrogante, para o azar dos que me cercavam. Os piores arrogantes são os de família rica, e eu, como mencionei antes (será que o fiz?), eu era só mais um deles. Nenhum agrado que me era dado satisfazia meus mimos, nenhum desvelo supria minha carência, nenhum afago sufocava minha dor. E como todo melodrama de novela, minha história se sucedeu em catástrofe: Aos nove, longe de entender o significado de Fim, meus pais faleceram em um acidente de carro.
Não cheguei a desenvolver as personalidades de meus criadores, pois não vejo como faze-lo. Como muitos progenitores ricos, me deixaram praticamente ao cuidado das empregadas, que mudavam de rosto antes que eu pudesse gravar-lhes os nomes. O falecimento deles, apesar da ausência, causou-me um choque tão grande quanto se estivessem sempre ao meu lado; foi aí que comecei a cultuar o isolamento.
O que aconteceu com a minha tutela até atingir a maioridade, eu não saberia dizer. Os anos passaram como meses, os meses passaram como dias, e os dias passaram como vultos. Por vidas decaí em livros; por décadas definhei, perante o sopro do vento nas cortinas, perante o barulho do relógio, perante o leve bater de asas de insetos nas paredes. Entre crises e abstinências, tranquei-me do sol e das estrelas, das árvores e das não-árvores. Meu cabelo cresceu, minha barba surgiu, minha roupa encolheu e continuei aqui, nas lembranças entorpecidas do meu passado, nesta casa amaldiçoada, nos papéis que sujo de lágrimas.
Tentei em mente, mas nunca pude - não antes de hoje - confessar a dor. As perguntas que fiz, ainda faço, agora mesmo, enquanto escrevo. Será que alguém encontrará minhas anotações ao lado de meu putrefato corpo, daqui a décadas ou mais além? Quando o fizer, estarei eu livre de minha maldição? Por quanto tempo vagarei por entre as paredes de minha mansão, chorando por dias não continuados, como hoje faço? Até lá, tais dúvidas já terão sucumbido, e junto a outras que ainda não me brotaram, mas as escrevo ainda assim, para que não me atormentem como uma confissão não dita, como fazem com os bons católicos. "La foi eté le premier péché de l'humanité, doute était la première vertu."
Se parte disso, porém, puder ser lido em alto e bom tom, e se os ventos não se encarregarem sozinhos de me levar, peço um único favor, para os que me leem: Queime qualquer evidência de mim que os anos não apagaram, lave meus prantos desse chão imundo e leve esta carta embora. Esqueça-me, e faça-me esquecido. Mate-me, não por carinho, mas por piedade. Se não o fizer, serei lembrado como o covarde que falhou em desaparecer.
E já paguei esse pecado em vida.
domingo, 29 de junho de 2014
Ode ao Ódio.
Decoro.
Ironicamente perguntei, como se não soubesse a resposta, sobre nosso suposto interesse em comum (eu), sem obter uma resposta satisfatória. Gosto do modo como as coisas se resolvem com mentiras bem contadas; ultimamente, porém, esse tipo de conduta tem me irritado profundamente.
Pois bem, aqui estou eu, me curvando perante toda a sua ignorância, me rendendo perante a sua prepotência, ao dizer um tão sonoro "foda-se" - tão inevitável em situações tão críticas, tão afável para cérebros imaculados. Gostaria de ter tido mais oportunidade para desenhar meu orgulho no seu corpo, mas minha paciência, auxiliada pela sua falta de sensibilidade, se tornou excepcionalmente curta.
Quanto aos nossos encontros, não espero deixar de ver seu rosto para o resto da minha vida, mas pretendo fazê-lo aleatoriamente, entre tropeços e esbarrões, como dois desconhecidos que porfiam em encontrar-se em um elevador de prédio comercial.
sábado, 28 de junho de 2014
Queime.
Arranquem-os de suas casas, poltronas e televisores, o novo mundo já começou.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Vicioso.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Verbos.
em verbos que
não pronunciei
em vão
e maltratei
na boca
até engolir.
Te engoli
em goles que
eu nem tomei
tão só
tentei errar
a boca e
não sufocar.
terça-feira, 24 de junho de 2014
Mon coeur qui bat.
Sabe por que estou contando isso? Porque eu quero que você sinta nojo de mim, como eu sinto nojo de quem eu me tornei. Não, não foi tudo culpa sua (depois conserto o começo). Acho que parte de mim já nasceu direcionada pro fracasso, para a desistência. Foi por isso que eu não parei de correr atrás de você enquanto era atirado junto aos desprezados, todos vítimas de vossa majestade. Eu nunca tive orgulho próprio de verdade, acho até que isso é besteira. Você percebeu isso, né? Percebeu que eu faria tudo que você quisesse, e por isso casou comigo. A sua existência é podre, mais podre do que eu. Eu tinha um futuro, mas você simplesmente suga o presente de quem te cerca, limitando-o à penumbra da sua perversidade. Talvez um dia eu entenda como isso tudo funciona, como seu corpo fino e frágil esconde tanta podridão e fedor, mas prefiro ficar sem entender do que ver isso como normal. Entendimento é aceitação, e eu não vou aceitar porra nenhuma do que você tem pra me oferecer.
domingo, 22 de junho de 2014
Inocente.
Culpe a pressão do cotidiano, culpe a sociedade.
Culpe os outros.
Culpe o passado, o inevitável, o desperdício.
Culpe os filmes, as músicas, as novelas da Globo.
Culpe a alienação.
Culpe o descaso, os hospitais públicos, a escola, o Estado.
Culpe o destino, o Diabo, a razão divina.
Culpe tudo.
Menos você.
Nunca assuma a culpa.
(Não vale a pena.)
sábado, 21 de junho de 2014
Ilusório.
Ninguém existe como tu, pois tu não existes de forma alguma.
Agora suma da minha frente.
Tenho outros a subjugar.
domingo, 8 de junho de 2014
O Silêncio.
pudesse cobrir meus olhos
para a crueldade do mundo.
queria que tua perfeição
me bastasse para viver em paz.
(...)
Minhas mãos
calam o choro
enquanto teu perfume
se desvai
na solidão da calma.
Penso, sinto,
dói.
Tua ausência dói,
e dói de novo!
Pois toda raiva,
e angústia
não conteve
uma única gota
de ti.
Toda ganância,
toda crueldade
não resistiu
perante tua bondade.
Perto desta,
nada sou,
de nada sou
digno.
Mas longe dela
a dignidade
perde a cor.
E perto de nós,
Ah, amor...
O mundo me deixa
e deixa de importar
e viver ao teu lado
se torna
excepcionalmente
digno.
(...)
Tua beleza
não reside na pele,
Tua melodia
não reside na voz
Tua saúde
não reside na carne,
Tua grandeza
não reside em ti.
(Ela reside em mim.)
(...)
O silêncio é a única melodia
que reside em minh'alma
Quando a boca fala,
Quando o coração palpita.
(Quando não o faz para ti.)
É o que me governa
quando a luz me falha
e a esperança queima.
(...)
Estou me perdendo
para mim mesmo,
(Salve-me!)
lutando
contra a própria sombra
que me mantém ileso
enquanto tento
ferir-me em teus braços.
Sou vítima
do próprio medo,
que me priva de tanto sofrimento,
que me protege de tanta alegria.
(...)
Chegou a hora.
Somente algo
tão estupidamente bom
poderia resistir
a tanta desordem.
Somente alguém
suficientemente humano
poderia amar
algo como eu.
Somente eu
para poder negá-la.
(Adeus.)
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Passagem.
Depois do divórcio, parei de transar como um coelho e sosseguei um pouco. Não é como se as mulheres tivessem acabado, mas perdi um pouco da animação para toda aquela atuação necessária antes do sexo. Todo esse fingimento sempre me enojou, mas ultimamente tem ficado pior. O que me leva exatamente onde eu queria chegar, claro! Penso que descobri o motivo para essa mudança de hábitos sexuais. Não acho que as mulheres, com suas silhuetas e outras artimanhas do corpo, me incentivaram a cometer o adultério. É a emoção do pecado - Essa sim! - que me incentivou a comer cada uma delas, e nada mais do que isso.
O pecado é a melodia que rege a minha vida.
Perdoe-me!
Colecionador.
Levo as almas que comprei, as vidas que roubei e as mulheres que amei.
Pois dou deus de meus próprios pecados.
Sou um colecionador de lembranças.
Excelentíssimo Pablo,
sexta-feira, 30 de maio de 2014
Disforme.
Tu, pai e destruidor de sonhos, és o verdadeiro monstro por detrás das cortinas.
- Quasímodo.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Curado.
Mas esses tempos já se foram, e as coisas agora são diferentes. Descobri a origem do meu sofrimento,e hoje sou um novo homem.
Agora eu só espanco mulheres.
sábado, 17 de maio de 2014
Fedor.
Vai além do fedor
Que teu cabelo mal lavado
Exala
Minha repulsa
Vai além da oleosidade
Da tua pele
E das cavidades
Da tua alma
Povoadas
Pelo odor da morte
Tua infelicidade
Excedeu o limite da razão
E teu conforto inexiste
No arrastar da tua voz rouca
Saia!
Imploro-te, pelo bem de todos
Vá recostar-te
Em outros cantos
Com outros ratos
Com os que te pertencem, querida...
Teu lugar não é em nós, poetas
Pois não enfeitamos loucura
Com crueldade
E sim com amor.
Mas em ti
Nenhum enfeite funciona.