quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Macro.

Sou uma caricatura, sou um palhaço, sou um mímico, um crítico, um conjunto das coisas que você menos gosta no mundo, uma frase, um terno, um vestido, um contrato, um minuto de silêncio quebrado por um idiota. Sou o outro lado da moeda, a sombra de todo político corrupto, sou o dinheiro, sou as mãos daqueles que matam, estupram, roubam. Sou um safado, um sem vergonha, um paradoxo, uma metonímia.
Eu sou um pedaço de todos vocês.
E vim a negócios.

Oh, vida...

Eu pensava em virar escritor.
Mas pra ser escritor, teria que passar o tempo inteiro na frente de um computador.
Teria que ignorar meus filhos.
Mas como escritor, eu não teria tempo pra fazer filhos, então eu teria que começar a ignorar as pessoas boas, como o padeiro, o porteiro, a empregada...
Isso me faria um velho chato.
Sendo um velho chato, minha mulher me abandonaria e fugiria com meu filho.
Mas como eu não teria filhos, ela fugiria com o padeiro, com o porteiro ou com a empregada.
E eu teria que escrever sobre morte.
E quando eu estivesse perto da morte, teria que começar a escrever sobre a minha vida.
E aí perceberia que escrevi demais.

Conto Cotidiano.

Era uma vez João, de 35 anos, que nunca tirava férias.

Certa vez, João pegou uma gripe, e teve que ficar de repouso por três dias.

Nesses três dias:
 - João descobriu cada cantinho de sua própria casa.
 - Se apaixonou pela vizinha de cabelos claros.
 - Aprendeu a fazer arroz.

João nunca mais voltou a trabalhar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Puta.

Ela beija como uma puta.
Ela transa e geme como uma.
Aquela vagabunda vai ver só!
Ela age como uma puta, e se veste como se fosse rodar bolsinha!
Maldita meretriz!
Deve estar dando pra outro a essa hora...
Lá está ela, voltando com aquela roupa curta.
Será que ela me viu?
Ela está vindo.
MERDA!
Não dá mais pra fingir que  não a vi e sair andando.
Merda...
Ela sorri como um anjo...

domingo, 26 de agosto de 2012

Uma Tarde.

Hoje comi um bolinho que tinha o cheiro da Maria.
Enquanto mordia, lembrava dos seus cabelos, e do jeito como eles estão agora.
Lembrei do sorriso de hortelã que ela carregava pra lá e pra cá.
Preferia quando você só era feia por dentro, Maria.
Depois da segunda mordida, parei de pensar nas memórias boas.
Comecei a lembrar das brigas.
Depois lembrei dos recentes dentes amarelos sabor cigarro, que não tinham nem três meses.
Talvez se ela tivesse me levado mais a sério, eu não sentisse tanto nojo de mim mesmo.
Terminei de comer o bolinho e dei um gole no café.
O cheiro do café me lembrava a Júlia...

Fica aqui.

Vamos contar moedas,
Colecionar as brilhantes
E passar tardes
Fazendo panquecas queimadas.
Vamos caminhar na praia,
E pisar só no preto.
Vamos colocar
Chocolate na boca
E esperar derreter.
Engolir balas e
Fingir que são comprimidos.
Vamos ficar gripados,
Esquentar uma sopa.
Vamos tomar um chá ruim,
Discutir sobre tudo,
Dormir de tarde.
Vamos adormecer
Enquanto olhamos
Um pro outro
E acordar mais cedo
Com um beijo do sol
Ofuscando a visão,
E contar mais moedas.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O Homem de Sete Vidas.

Ele nasceu,  enjoou do mundo e se matou.

Comeu, comeu, botou tudo pra fora e escreveu um livro.

Amou, se decepcionou e desistiu.

Bebeu, fumou, tossiu e ficou doente.

Casou, fez cinco filhos e enjoou.

Morreu de novo, e não conseguiu mais escrever.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Prólogo.

Muito prazer.
Eu ainda não nasci.
Não sei meu nome
Nem meu endereço.
Não posso te dizer
De onde vim,
Porque nunca vim
De lugar algum.
Não sei diferenciar
O claro do escuro,
Nem o bom do mau.
Tenho minhas ideias,
Ou algo do gênero,
Mas prefiro não dizer
E esperar pra ver.
Do pouco que vivi
Ainda não sei se penso.
E do pouco que acho
Que penso,
Não sei se faço sentido.
Mas deve levar em consideração que:
Eu nunca vi ninguém pensar.
É horrível considerar
Por um breve momento
A possibilidade,
Mas eu tenho
Uma pergunta pra te fazer:
E se eu te dissesse que
Você também não nasceu?

Talvez.

Talvez se o galo parasse de cantar, o sol não mais nascesse no horizonte.
E se o vento não soprasse, talvez as gaivotas nunca tivessem aprendido a voar.
Talvez se o corpo não sangrasse, não saberíamos como é perder.
E sem os filmes ruins de romance, não teríamos aprendido a amar.
Talvez com um pouco mais de prática possamos tentar não errar mais.
Porque talvez - só talvez - se não viesse me fazer cócegas com teus lábios, eu nunca mais sorrisse como sorri.

Puella.

Falei o que não podia,
Comi o que não aguentava,
Usei dinheiro que não tinha
E escrevi sobre o que não devia.

Me aproveitei de quem eu mais amava,
Amei quem eu menos esperava,
Corri atrás, mas já não adiantava
E chorei de dor por tudo que me magoava.

Sorri sem humor por quem não importava,
Ganhei o jogo de quem não ligava,
E agora lembro do que eu não vivia
Por medo de ser o que eu não aguentava.


Medo de admitir o que eu sentia,
Medo de querer o que eu já queria.
Ah... E como queria!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Vivo-Morto-Vivo.

As palavras são como vermes, se alimentando da carne morta por baixo da minha pele. Estou preso no buraco em que guardei todas as minhas mágoas, e matei qualquer um que podia me tirar daqui. Me afoguei em tudo que senti, e aquela por quem sofri nunca me deu nada de volta. Culpado fui eu, cego e bobo.
Abro meus olhos.
Revivo meu orgulho, e levanto dos mortos.
Tudo que vai, volta.

domingo, 19 de agosto de 2012

Canção de Amor.

A memória se desfaz, e o destino se combina. O amor é uma linha fina que se corta em solidão. Caminha, e anda torto, esperando uma satisfação; motivo que Deus tiver pra não querer mais felicidade, e ficar brincando de tirar tudo que dá tranquilidade. Porque vida não é o que dá, que tira e que deixa. É o que move e o que é movido, que conta e que é contado. É o chorinho que fecha toda manifestação artística, poético como uma lembrança antiga.
A batida que ecoa.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Medíocre.

Esse texto não está querendo sair.
Me sento, levanto, me ajeito de novo na cadeira e finalmente deito.
Penso, sonho acordado e durmo.
"Não tente ser o que não é, não busque inspiração onde não existe."
Talvez eu precise de mais uma paixão para reacender as chamas do meu sofrimento.
Porque não dá pra ser triste com tantas pessoas medíocres à minha volta.
Gente como você.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Crepúsculo.

É desesperador atar minhas mãos e aproveitar o teu silêncio. O vazio me corrói, e mais do que um pouco dele me desintegra. Aprendi a não insistir, mas não deixei de esperar coisa alguma que me acalme. O aperto fica maior e a esperança pula do peito. O desespero de não saber é quase pior do que não ter aprendido a sentar ao teu lado, e sussurrar palavras doces que queres ouvir... Ou que não queres, isso pouco me importa! As direi, e te farei sorrir - por bem ou por mal - até o sol raiar. Porque tu és minha insônia, e eu serei teu despertar. Por ti, de ti e pra ti, até o crepúsculo da eternidade.

Pra Nós.

- Vou escrever meus textos foscos, esperar a tarde para ouvir a tua voz e seguir teu olhar com um sorriso bobo.

- Vou te encontrar em pensamento e te desejar até ficar com raiva de mim mesma por isso, num universo paralelo a gente se vê de verdade.

- Num presente bom que ainda não veio, e num passado vazio e cheio! com lembranças e xícaras de café... Ah! Se o tempo ensinasse a vontade a falar, você sentiria meu coração em teu passo trôpego. Não desista ainda, o dia quase amanheceu...

B.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Eternidade.

Nossos olhos se encontrarão, e a batida do teu coração encerrará o silêncio. Tua pele tocará meus calos, e teus lábios me farão sarar. Teus dentes me farão sangrar, e tua ausência me fará tremer. Teu sorriso será parte meu, e meus minutos antes de dormir serão inteiramente seus; Sempre e Para Sempre, até o fim do mundo.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Lembrança Gélida.

Não conseguia pegar o trem e ir. Porque antes de mim mesmo, era dela de quem tentava fugir. Não do indivíduo em si - antes fosse - e sim de sua imagem; A perfeição me perseguia e, com essa, trazia uma velha amiga: A morte. É crível que Deus, em sua ganância, pegue de volta antes do tempo os presentes mais valiosos, e mesmo assim ainda tão cruel...
Não procurava mais um rosto, e sim lembranças. O uso de entorpecentes veio logo depois, principalmente de alucinógenos. Queria qualquer ilusão relacionada a ela, boa ou ruim, pois até as mais terríveis visões que aqueles remédios poderiam me causar não seriam piores do que acordar dos sonhos em que aquela mulher ainda vivia para me amar.
Chegou a hora de embarcar: fechei os olhos e olhei para todas as coisas que deixaria para trás. Não conseguiria correr do fantasma com isso, e - por mais que me doesse admitir - eu já sabia, mas precisava fugir de todo o resto que me envenenava. Porque todo aquele lugar me trazia sua memória mais do que me era necessário - ou saudável.
Entrei no vagão e disse adeus a todas as coisas que já me fizeram bem alguma vez na vida, e jurei a mim mesmo nunca mais retornar. Decidi então que a felicidade não me era mais útil, pois toda vez que ela se escondesse, eu voltaria a passar dias em prantos, pelas prateleiras da biblioteca. Resolvi que só me recordaria dela outra vez no meu leito de morte, para poder passar do prazo antes da melancolia sorrir pra mim.
Nos meus próximos anos de vida, eu percebi que a felicidade também se esquecera de mim.