segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Esse Bem Que Mal Me Tem...

Se mal estou, que mal faz?
O que estou, que mal estou, mas estou tão mal?
E se estou bem, bem como mal, o que estou, afinal?
Que paradoxo forma o bem-estar, no lamentar do não-lamentar?
E o meu bem, que mal faz meu mal parar?
Meu mal fazer ora de bem, ora de mal, mal me faz mal, quanto mais bem.
E no bem-mal eu vou vivendo...

Que Mal Faz?

Estou mal com ela.
Pior sem ela.
Bem com ela, até acabar.
Mal sem ela, até ela voltar.
Mal com ela, por saber que tem um fim.
Bem com ela, por não saber viver sem mim.
Mas sem ela, eu não vivo sem.
E comigo, ela não vive bem.
Queria eu que existisse alguém,
Com um sorriso como o que ela tem,
Pra me encantar, como ela já cansou,
Roubar-me a calma como ela roubou.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Consciência.

Vasta, sábia e vívida, o tumor do coração; o medo que assola alguns dos mais temidos e destemidos homens. O que atormenta os inocentes por dar a certeza de culpa. Culpa esta que só quem tem é quem não a percebe. Está nos ventos que uivam na alma do natal passado, a dor que dá pensar que está pensando no impensável.
Eu digo o que devo fazer ou não. Eu faço meu destino, minhas sinas e meus pecados. Consciência? É só alucinação de tolos, um peso que atrapalha o caminho fora das linhas tortas da lei.
Eu faço minhas próprias regras.
Eu faço meu próprio Eu.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Molhados.

Teu olhar sossegou meus lábios, e o silêncio se fez sereno. Tirei tuas vestes, estas já não me serviam mais. Beijei-te o pescoço e senti teu suspiro em meu ouvido. Me despi também, minhas roupas já não tinham utilidade. O ato não poderia ter outro nome: Amor. Puro, sincero e violento, exatamente como o sentimento. Talvez esse fosse o motivo por ter vivido o que vivi, sofrido o que sofri. O passado já não aparecia, e as mágoas se fecharam em um som vindo da tua boca. Molhados, nós sabíamos que não seria outro lugar, ou outro alguém. Éramos só nós dois, além da vida e da morte.
E então, sem mais nem menos, me tornei eternamente teu.

Cotidiano.

Teus olhos me consomem o sono, e tuas lágrimas limpam o sorriso da minha cara. Tuas palavras, embora curtas e raras, quebram meu peito em agonia conforme a música vai acabando. Tua respiração me tira o fôlego, e tua voz me tira o som. "Para", e meu mundo cai. Essa é a hora certa para fazer tudo errado dessa vez. Esse é o momento de sair pela tua porta, subir até a cobertura do prédio, e ser reconhecido pelo resto por ser um tolo. Na minha opinião, sou só mais um apaixonado, dentre os tantos que pulam prédios todos os dias para matar a infelicidade do meu amanhecer.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Necro-Papo.

Termino de brincar com o senhor Arlindo e passo para o próximo corpo.
- "Causas Naturais", diz aqui. Veremos isso agora...
O nome da infeliz era Amanda Ferrari. Amanda... Eu nunca gostei muito desse nome, mas essa daí parecia ser boazinha. Tinha 15 anos, 3 meses e 16 dias.
- Você até que era bem gostosa, Amanda.
Olho para o corpo e começo meu trabalho. Sem dificuldade, começo a cortar o peitoral. Por mais que eu tente, não consigo ignorar seus seios, fartos demais para uma adolescente, e seus mamilos pequenos. Sua pele é branca como a neve, pálida como a morte. Minha mão desce para as suas coxas e me sinto desviado de meu objetivo inicial.
Volto meu cuidado à lâmina e paro de imaginar coisas.
Meu olhar ainda escorrega uma, duas, três vezes enquanto meu bisturi penetra em sua pele, mas o líquido vermelho que sai de dentro dela finalmente me faz voltar à realidade e terminar o meu trabalho.
Ao abrir o peitoral e ver o coração da moça, me lembro do tempo em que eu chorava. Chorava por não ter sentimento correspondido... Com o tempo, parei de amar... ou de sofrer por amor. Honestamente, nunca soube a diferença. Fui um menino romântico, acho eu.
- Isso não vai fazer falta.
Arranco seu coração e guardo para experimentos futuros.
Nunca gostei muito de vivos. Até nessa mesma época, me apaixonava ao ver uma menina dormindo... Acho que foi por isso que acabei parando em um necrotério. Sou apaixonado pela morte e por todos os seus agentes. Da doença à podridão da carne, tudo ali me fascina.
- Sabe por que gosto dos mortos, Srta. Ferrari?
Ela não responde.
Me abaixo um pouco e fico na altura de seus ouvidos.
Ela continua sem responder.
- Não vai nem tentar?
Por um instante, ela parece prestar atenção. Por um instante, o olhar fixo para o teto parece mover-se milímetros, e sua cabeça parece querer virar um pouco mais para ouvir o que tenho a dizer. Por um instante, a vida parece percorrer o coração da virgem.
Então sussurro:
- Pois os mortos não falam.
E esse instante acaba.