domingo, 20 de dezembro de 2015

Dolores

Silencio-me
Perante a dor:
De mim, nada mais terá
Senão a consciência da sua presença
Ou nem isso
Senão os meus cuidados para evitá-la
Ou nem isso
Pois a dor tem nome
Não é mesmo, amor?

Não sei o que e coisa e tal.

Um poema necessita de
Estrutura, pausas e
Ritmos que eu não consigo alcançar
Agora, amor, perdoa-me, pois
Tu és minha principal e única
Ouvinte crítica, teus olhos
Refletem tudo que dizes, mas eu
Acabo na teia de outras. Como saberei
Se Amanda é pura ou se Alice é cura
Pra todo mal que existe em mim, eu sei
Que em minha fé o medo cresce, mas
Da minha dúvida surgiram tais verdades
Que tornaram este texto sem sentido.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Melódico.

Por que tua música não sai de mim
Sempre que escuto o silêncio de Beethoven
Reverberando entre as notas do meu peito?
E enquanto perco-me num Ré sem jeito,
Teu olhar me prende em Dó menor
E teu Sol se põe no Lá que que me murchou.
Qual canto eu visto pra te ver revir
Se foi teu hino que me despertou
Ao ecoar nos cantos da minha mente?
Estou quase esvaecendo agora, amor,
Me falta tempo pra te ver cansar
dos dedos frios e minha voz em Fá.
Queria eu poder te abafar
Quão fiz em tantas outras melodias,
Subir meu tom ou te poder levar
E encher de som tuas noites vazias.

Antimatéria.

Enquanto minhas palavras fragmentam-se na dúvida de um futuro vazio, tuas certezas me concretizam como fracasso. Por antercipar-me, quebrei-me como um espelho - em um milhão de rachaduras derivadas de um só ponto: teu olhar. Meu sentimento foi uma criança que decidiu brincar com o perigo antes de saber lidar com a dor, mas o óbvio se concretizou e, do meu universo pessoal, criou-se a antimatéria. Dividi-me em dois lados - o sentir-me e o não sentir - que rasgaram a minha essência e deixaram a sanidade à deriva enquanto meu sentimental seguia a única verdadeira razão de mim: nós. Hoje, no espaço entre as minhas frases mal expressas, vaga, atemporal, o medo de ter sido eterno aquilo que terminou sem fim. Atormenta-me, em sonho, a imensidão da nossa realidade perdida.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Desconstrução do Contrato Social

É perceptível o modo como o universo segue padrões. Sempre que uma célula se sobressai, ela se une a outra célula sobressalente e forma um sistema, que cresce até ser destruído por uma força maior. A natureza funciona dessa forma: os mais fortes unem-se contra os mais fracos e assim se conquista o ecossistema, garantindo a sobrevivência da espécie. A força maior quase nunca é algo já antes previsto pelo grupo, sendo, quase sempre, percebido tarde demais. Não que, a essa altura, eles tenham algum motivo pra pensar nisso (isso fica para conhecimento geral), mas a vida pode ser prevista, medida e ajustada de acordo com a vontade de seu interlocutor - contanto que cada variável seja analizada, que o gráfico tridimensional de possibilidades seja feito, que cada incerteza seja medida e descartada, estudada e catalogada como de maior ou menor probabilidade - que, nesse caso, é sinônimo de relevância. Sendo assim, é muito simples, para um sistema de maior intelecto - seja ele formado por uma ou mais mentes(1) - antecipar as ações de uma determinada parte do ambiente ou de um determinado grupo da sociedade, podendo prever o que os lesione, inclusive, armar-se dos meios mais efetivos para defender-se ou atacar de volta. Não existe paz. O mundo é uma eterna guerra, cada vida tenta respirar o máximo possível, mesmo que isso signifique outra respirando menos. Essa regra não se aplica, no entanto, quando não existe um conflito de interesses entre dois sistemas. Inclusive socialmente, dois sistemas - igualmente brilhantes, ou um se beneficiaria em cima do outro, como já foi discutido - podem se unir para a existência de um maior que trará vantagem a ambos. Nesse caso, esse conjunto se torna competidor de outro que defende interesses contrários e assim sucessivamente. Desde a década de 70, tem existido um grupo de indivíduos que procura se desvincular desse processo, optando por formas de sociedade primitivas (autossuficiência feudal), mas vê-se a impossibilidade da evolução desse movimento enquanto o próprio capital não é desvalorizado, chegando assim em um empasse: é preciso terreno, comida e novas regras sociais, mas é necessário utilizar do modelo vigente para a construção de algo novo - coisa que o próprio sistema, como um organismo pensante, jamais permitirá, pois implica na destruição daquilo que ele acredita.
(1) eu ainda vou chegar lá.


I - Sobre sistemas auto-destrutivos
Como dito antes, a destruição de um sistema só pode ser causada por algo de maior potência que interfira em seu equilíbrio. Essa força pode se apresentar de duas maneiras, sendo elas:
Intelectualmente:
Isso acontece quando ocorre uma desconstrução das ideias que ligam as células formadoras do sistema uma à a outra. Esse tipo de situação ocorre quando há uma divergência entre pontos de vista, que pode ser causada por diversos fatores - tanto internos quanto externos -, começando a se espalhar, a partir do seu ponto de origem, de forma progressiva,  até corromper o organismo como um todo; ou
Fisicamente:
Quando o sistema enfrenta perdas reais de membros (ou chance de).
(continua)

domingo, 6 de dezembro de 2015

você e o resto.

Eu quero-te pelo calor das tuas coxas
e das tuas palavras de solidão
pelo teu olhar de curiosidade serena
pelo teu carisma, eu gosto das tuas bochechas
e não ligo de não fazer poemas, eu só
preciso encontrar as palavras certas e as erradas
e tirar as certas de nós dois,
jogar tudo no papel e ver o que acontece.
Quero te ver e comer todo o teu chocolate
morder todas as partes do teu corpo
tocar teu coração
e o resto.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Fio vermelho ou azul.

Desculpa a ausência, querida
Não tenho estado muito bem.
Tenho andado pelos vales
Da sombra e da morte
Mas não posso sair agora;
Eu sou o medo que me prende
Eu sou o fungo que me apodrece.
Não te iludas no calor que irradio
Eu sou o mal que temerás à noite
Sou os pesadelos que te acordam.
Não vou mentir, eu te desejo;
Quero-te em meus intermináveis espaços
Entre um trago e outro de vinho
Mas não posso te pedir mais nada.
Só quero que não permaneças, por favor
Ou permaneças e lute, comigo
Contra mim.
Que me rasgue desse ceticismo
Que me arranque uma lágrima ou duas
E resgate minha humanidade
Como num filme de ação:
Eu sou uma bomba relógio
Desarma-me
Ou fuja.