segunda-feira, 25 de março de 2013

Acorde.

Teus braços me envolvem, e o céu me dá asas para sair do chão. Te transformo em uma música que não consigo dançar, e te tiro da minha lista de reprodução. Jogo fora os balões que me seguram no ar e rasgo nuvens pelos teus olhos. Me quebro em mil pássaros e o acorde certo me faz acordar. Ando e me transformo, mudo de estado e cresço. Choro a chuva que te faz amar e me perco de vista ao anoitecer.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Aos Fãs.

A maior parte das pessoas que vêm parar aqui se encontrou em minhas palavras, ou procura encontrar uma resposta para tudo de ruim que existe na vida delas, e sinto muito em ter que informar a essa parcela que não encontrarão nada além de textos que dão vida aos problemas dos quais vocês estão tentando escapar.
A esses leitores, podem parar de ler por aqui.
Se você chegou a essa parte do texto, é porque faz parte do grupo que está aqui pelo interesse na minha escrita ou por simples curiosidade. Lamento muito por não sentirem a dor que sinto ao arrancar estas palavras de minha carne, pois é uma sensação esplêndida.
E por último, àqueles que, tanto quanto eu, aspiram, respiram e transpiram a escrita, desejo o mais sarcástico "Boa Sorte", com toda a falsidade que posso colocar em oito letras.

-T.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Terapia.

Eu estou bem.
Não estou muito bem, mas bem o suficiente para levantar da cama.
Talvez não esteja muito simpático, mas esse é o meu jeito.
Ultimamente ando mais amargo do que meu café, com todas essas reclamações silenciosas sobre a vida e sobre a ausência de café.
Não, eu não estou bem.
Há dois anos parasito a casa de parentes por falta de opção, fumo meio maço por dia e quase não vejo a luz do sol.
O problema é que sou um escritor, como deve ter reparado.
Não tenho a vida que muitos anseiam, porque na verdade eu não anseio por muita coisa. Durmo pensando em acordar, e acordo pensando em dormir, e passo a maior parte dos dias assim.
Infelizmente, tanto para mim quanto para meus leitores, o tema que "escolhi" - ainda que prefira dizer que ele me escolheu - não é um dos mais agradáveis.
Vida.
Um dos menos polêmicos e mais monótonos temas que toda a humanidade já enfrentou, mas que engloba, de forma compreensível, todas as maravilhosas aventuras do cotidiano.
Talvez eu tenha desaprendido a viver, mas é mais provável que eu tenha aprendido de uma vez por todas.
Digo àqueles que se encontram no áspero caminho do aprendizado que o fim não é nada além do fim. Todas as coisas se tornam simples, e o cotidiano se torna tão relaxante quanto uma boa noite de sono. As dores se tornam menores uma vez que já as compreende, e aos poucos tudo é considerado fútil - inclusive você - pois já terá sentido toda a complexidade do emocional humano.
Foda-se, eu já me esqueci por que resolvi começar a escrever este texto.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sempre Eu.

Sou teus medos, sou teu perdão. Sou tua cólica, tua solidão, sou o eco que vem de todos os lugares, e de lugar algum. Sou a incoerência do resultado, sou a irrelevância da questão. Sou o nada, e ao mesmo tempo tudo. Sou o próton, sou o elétron. Eu sou um átomo, e sou um universo. Sou um homem, uma mulher, um feto. Sou o catarro cuspido no chão, e a cor que escolheram para a parede. Sou a luz da Lua, eu sou a Lua. Eu sou você, e ao mesmo tempo aquele que você procura. Eu sou só um velho deprimido com a idade, ou um jovem feliz de ignorância. Sou um mero escritor, como todo o resto. E mais do que tudo, sou eu mesmo, de um jeito que nenhum outro eu jamais foi.

terça-feira, 12 de março de 2013

Bocejo.

Não sei mais o que faço aqui.
Por meses, escrevi o que não senti, e derramei lágrimas secas... Não sou feliz, nem certo, nem adequado. Eu tenho a mesma sombra que tinha quando comecei a escrever, mas esqueci que tinha. Hoje, já crescido, percebo o quão idiota fui, por esquecer de quem sou eu.
Quem eu sou?
Volto a minha atenção para o café, que não parece estar de muito bom humor hoje.
Talvez eu tenha perdido mesmo a cabeça.

Ponto Final.

Talvez hoje, ciente de meus atos e de meus não-atos, esteja pronto para a morte.
Mas o que é morte, afinal?
O apodrecimento da carne por seres decompositores, e fim de qualquer possível manifestação da alma sobre o corpo... De acordo com o dicionário, "Interrupção definitiva da vida".
Minha razão já não movimenta meus braços, e minha consciência já não move minhas pernas. Estou preso a palavras que não são minhas, e a uma vida que homem nenhum jamais teve. Suporto todos os dias ásperos com a mesma tranquilidade que encaro o fim, e passo noites ensolaradas esperando-o.
Mas o que eu encaro não é mais o fim.
Até vocês, leitores, poderiam dizer que isso faz parte da rotina, ou que se trata de um problema psicológico... Mas por que não dizer a verdade? Por que não admitir que nada queima como queimava, que nada dói como doía? Por que não admitem?
No fim, já estamos todos mortos.
E sabe qual é a pior parte?
Nunca chegamos a viver.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Carlos.

Carlos é um bom menino.
Levanta de manhã cedo e ajuda Seu João da padaria.
Com os trocados que ganha de Seu João, Carlos vai até o morro mais próximo e compra vinte reais em maconha.
Carlos prepara a maconha e vende por sessenta reais na praça.
Com o dinheiro que ganha na praça, Carlos compra tequila pra vender na porta de boate.
Carlos lucra, em um dia, quase cem reais, que usa para ajudar a sua mãe nas contas.
"Carlos é um bom menino."

quarta-feira, 6 de março de 2013

Bom Dia.

Faço tudo o que faço pelo simples prazer de não estar fazendo algo pior.
Trato todo o descaso com a mesma consideração que trato o amor.
Rasgo-me sempre em desgaste pelo corroer que o ócio me dá, e volto a fazer o que quero até a vontade me cansar.
Durmo sempre que mato toda a felicidade de estar acordado.
E acordo sempre que lembro que sou um prisioneiro do amanhecer.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Mais Só.

Teu lábio escurece a tarde, e o calor dos dois corpos morre. Minha mente vai além das cores que podes ver, e peco por querer. Tu não és minha, nunca foi, e nunca será. Subo em teus braços para alcançar meu próprio eu, mas tropeço em desespero. Teu travesseiro me sufoca, e caio no lenço negro e infinito da verdade. Acordo, e tua voz me arranha o ouvido. Tua pele tira pedaços da minha, e teus lábios me secam por dentro. Tu és a mesma, mas eu mudei. Meu eu é mais só do que é teu.
Eu sinto muito.

- T.