segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Aurora.

O castiçal das tuas trevas
Me incendeia
Com o amanhecer
De mil promessas vãs.
Teu cabelo não me toca
E tua fala não se importa
De ceder alguns ferrões.
A Cinderela atrasou
O meu relógio
E não há mais tempo
Para o cronograma.
Minha sede já passou
Com tuas lágrimas cuspidas
No lençol sujo da cama.
Da enfermidade
De estar cansado
Surge o fardo
De manter a mente sã.
A esperança não escorre
Por entre os cacos
Do espelho em pedaços
Do amanhã.
"Talvez um dia
Volte o peito a sambar
A valsa estranha
Do suor da minha mão."
E a palavra se desfaz
No mar da calma
Que se instala
Nas paredes do pulmão.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Lábios.

Tua pele inunda meus pensamentos fracos.
Imaginação chula, mortal, imperfeita...
Fiapo da verdade, não reproduz a falta!
E de quem vem esse bater-bater no peito?
E qual sorriso faz minha mão chorar?
Que deixa meu estômago constrangido
Por tantas borboletas...
"Aí vem ela outra vez!"
Quem dera, quem dera, quem dera!
Queria eu poder sonhar
Com cada detalhe vibrante da tua voz,
Cada rima que faz as ondas do teu corpo,
Cada exagero da Criação...
Aí não precisava acordar, comer, dormir, era só tu.
Eu e tu em meus sonhos.
Tu e nossos lábios vermelhos...

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A Pena.

Ah! O Coração...
Envenenado, morreu.
Pobre coração meu!
Só de raiva, condena
Culpados à mais dura pena:
Morte súbita.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Escrito, feito.

Tem coisa que não faz sentido. Escrever, por exemplo. O que é? Documentar o que penso, mas o que é pensar? Como posso dizer que penso, sem pensar sobre isso? Sendo assim, pensar é tudo? Pensar é pedra, chão, terra, ar... O que existe sem mim? Não sei, pois vai além de mim saber. Tudo que vejo e sinto é fruto do que sei - ou penso que sei - e todo o meu mundo é fruto de mim mesmo. E eu mesmo, sou fruto de que? Se eu existo e pensar é tudo, sou Deus. Mas sendo Deus, os outros são o que? São fruto da minha mente, eu suponho? Não. São fruto do que a minha mente vê. Mas e o que não vê? Se não vejo, pra minha mente não existe, e pra mim também não. E aí eu volto para o problema da escrita: que palavras realmente existem? Posso dizer verdades e não verdades que conectam o imaginário ao mundo real, os confundem. Posso criar vidas e destruí-la com simples letras, mas só se forem compreendidas. Mas e se não forem? Se só eu vejo o sentido das palavras, e mais ninguém vê, o sentido ainda existe? E se outro escreve, mas eu não entendo, ainda sou Deus?
Talvez seja Deus apenas de mim e do que é meu, nada mais além disso.
Será que ser deus de tudo é tão bom quanto ser deus de um pouquinho só?
Gostaria de saber, mas fico feliz que não sei.

Último Adeus.

O que acontece depois de mim? O que será do mundo sem meu conjunto de pensamentos, ideias e frustrações? Um lugar melhor, eu espero. Não sei o que é mais egoísta: querer que todos sintam minha falta ou almejar o sofrimento da morte como sendo só meu. De qualquer modo, irei sem muito estardalhaço ou drama. Sentarei no meu sofá, fumarei do meu cachimbo e amaciarei a culpa pelo fim com um pouco do velho Nietzsche.
Toda a minha vida me levou a isso.
"A escolha é apenas uma ilusão."
Adeus.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Bons Motivos Para Não Usar Drogas.

1- Cigarro:
- Mau hálito.
2- Bebidas alcoólicas:
- Transformação lenta e dolorosa em uma pessoa chata e carente por atenção.
3- Maconha:
4- LSD:
- Dá gases.
5- Cocaína:
- Mal humor.
6- Crack:
- Diarréia.
7- Ecstasy:
- Algum dia você vai ter que ir dormir.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Resto.

Eu estou existindo dentro de um canudo de plástico, pois sou resto do que sobrou da bebida de alguém. Não é nem Coca-Cola, por sinal: é Pepsi. Como se não bastasse ser resto, sou resto de "pode ser". Mas se não eu, que outro resto seria? Que outra parte de alguém seria capaz de pensar tudo que penso e sentir tudo que sinto? Há algum outro capaz de exercer tal função como eu? E se há, onde está? Não posso sair e gritar para o mundo, denunciar minha presença. Não tenho boca, fala, voz. A que isso me leva? O que é a vida pra mim, senão um canudo de plástico? Sou parte de algo que não criei, não pedi pra estar aqui e ainda assim sei muito pouco de onde estou: Quem era esse alguém? Qual é a história dessa pessoa? O que há do lado de fora desse lugar? Sou uma gota, mísero pedaço de qualquer coisa, me perguntando porquês e poréns de uma existência sem sentido. E o pior? Estou em casa, sem nenhuma previsão de futuro ou esperança, ocupado sendo resto de outra pessoa.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Fuga.

Me encontro atordoado por essa correnteza de emoções. Caminho pelas ruas do desgosto, danço por entre as mentiras e ilusões de mais uma garrafa de vinho. Não tenho direção ou porquê, não guardo qualidades ou lembranças, somente vou.
E indo, eu fujo daqui.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Todos Vocês.

Vou me expressar da seguinte forma:

Não é trauma ou pavor,
Nem fobia ou horror,
Mas odeio todos vocês.

Não é por faltas cometidas
Ou juras nunca cumpridas
Que odeio todos vocês.

Não é por vícios e manhas,
Artifícios ou artimanhas,
Que odeio todos vocês.

Não é por coração quebrado.
Na vida, não fui mal amado,
Mas odeio todos vocês.

Não tenho consideração,
Não admiro perdão
E odeio todos vocês.

Não sofro de alma sensível
E isso torna indizível
O quanto eu odeio vocês.

Não por pura decepção,
Agonia ou frustração,
Que odeio todos vocês.

Mas isso
Com certeza
Ajuda.

Falta.

Falta de mim a vida
Alma pro corpo andar
Falta, da morte, o sal
O gosto me tira o ar
Teus beijos me afogaram
E o cheiro teve fim
No travesseiro.

Mar.

Você é o mar que me tira a calma, é a falta que o último cigarro faz. Você é lembrança, esperança e desilusão, filha da perdição. Você é o bem que mata, a justiça que condena os malfeitores. É gosto do meu próprio veneno injetado no coração. Você é tudo que falta pro mundo perder toda a razão, pois me tira o ar e me tira a vontade de respirar. Sua graça tira a cor do mundo e rouba a luz das estrelas, escraviza meus pesadelos e reescreve minha razão.
Se isso é paixão, temo que o amor seja bem pior do que eu imagino.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ah não!

Trancado numa cela,
Aí vem ela!
Nela que está meu cheiro.
Beiro à morte por seu gosto,
Um oposto de liberdade.
Enfermidade, entretanto,
De tanto enlouqueci
Esqueci o medo.
Tão cedo que fui liberto,
De céu aberto, fiz prisão.
Ah não! Ah não! Ah não!
Aí vem ela.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Não tente, não venha.

Não mostre-me feitos seus que não pedi pra ver, não seja patética! Não se submeta a tratamento tão absurdo por reconhecer minha capacidade intelectual. Aliás, não finja que reconhece. Você, com todos os risos toscos e agonias fingidas, me provoca repulsa. Não venha enviar-me charmes, pois não me tentará ao desespero. Eu quero sua juventude, não seu caráter.
Por sinal, minha querida, é exatamente caráter que lhe falta.