sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O que?

O que você tem feito? E por onde tem andado?
Por que não te vejo? E tudo aquilo que nunca tivemos?
Achei que eu fosse especial pra você, achei que você fosse só mais uma pra mim.
Estava errado, não estava?
Estava tudo errado, e nós só estávamos ali juntos por um motivo idiota.
Tudo foi idiotice.
Tudo é sempre idiotice.

Auto-crítica

 - Eu não gosto de você. Você é medroso, infiel, escroto, babaca, gosta de destruir a vida das pessoas e se diverte quando percebe que consegue. Na verdade o que você mais queria era que todos te dissessem quando você destruisse um pouco mais o dia deles, mas os que não estão ocupados demais pra perceber que foi sua culpa são orgulhosos demais para te dizer isso. Ninguém te ama, ninguém nunca vai te amar, e você faz de tudo para que isso não aconteça. Você é vingativo e diz que esquece, mas à noite dorme pensando em tudo aquilo que te fizeram, planejando devolver tudo dez vezes mais forte. Talvez algumas pessoas mereçam isso, mas nenhuma nunca te fez um mal tão grande a ponto de arrancar sozinha uma única lágrima sincera de você como você faz diariamente com os fracos. Você é desprezível. Não tem auto-estima nenhuma e está sempre com uma pessoa diferente porque tem medo de estar sozinho e de confrontar a si mesmo. Tem medo de si mesmo e medo do que você é. Você não suporta críticas, e não suporta a ideia de não ser melhor do que aqueles que você tanto despreza. Você é de longe a criatura mais insuportável que tive o desprazer de conhecer.
 - Acabou?
 - Sim.
 - Tudo bem então.

O Pingo.

Procuro guardar esse que me restou. Não é uma poça, ou um copo, é só um pingo sozinho. Eu não necessito de mais nada. Esse pingo aqui existe por meio do que restou, o que sobrou. Não há mais nada a ser aproveitado e esse pingo nunca deixará de ser um pingo. Não há como ele crescer e se desenvolver porque ele já fez isso. O pingo não é o começo de uma grande tempestade, e sim o que sobrou dos restos de um grande rio. Ele é só uma lembrança - porque um pingo apenas não pode fazer nada. O seu único objetivo agora é me deixar aqui, vivo, com a esperança de que ele não se vá como todo o resto. Com a esperança de encontrar uma única pessoa em que eu possa confiar que não destrua completamente tudo o que restou de mim, de dentro pra fora.  O problema é, se encontrar mesmo essa pessoa, como poderei ter certeza, se a esperança de que isso é realmente possível está toda guardada em um único pingo?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

(Apaga)

Não sei o que está acontecendo.
(Apaga)
Tenho me sentido ausente.
Eu percebi que sempre começo qualquer texto assim. Eu começo desse jeito e explico o que está acontecendo, mas dessa vez vai ser diferente.
Dessa vez eu não vou explicar porra nenhuma.
(Apaga)
Estou no meu quarto. A bancada bagunçada da qual eu me lembro muito bem de terem passado por ela todas as coisas que existem nessa casa. Meu gorro, meu cinto, meu pente, minhas lágrimas, a chave.
Pego a chave, abro a gaveta trancada.
Memórias. É. Algumas a serem lidas, outras a serem esquecidas, mas esse não é o ponto.
O ponto é: eu sou uma criatura tão simplória que guardo minhas memórias dentro de uma gaveta. O quão patético é isso?
Algumas moedas, talvez do troco de algum presente. Anéis. Procuro entre os anéis e o encontro. Dou uma boa olhada na parte de dentro dele, onde posso ver seu nome escrito, e onde procuro ouvir o sussurro da nostalgia. Não consigo.
É, são só lembranças.
(Apaga)
Fecho os olhos, me viro para dentro de mim e me pergunto se existe alguma coisa ali dentro.
Vejo a escuridão, e ouço uma risada.
Tento encontrar o dono dela, mas os ecos vêm de todos os lados.
Eu sinto a tristeza. Talvez ela esteja escondida, mas eu acho mais provável que esteja sendo mantida escrava da risada. Abro os olhos, estou bem.
Não sei o que está acontecendo comigo, mas acho que tenho passado por algumas mudanças.
Eu não sou capaz de amar, eu nunca fui, mas agora eu tenho certeza. Mas constantemente acredito estar gostando de alguém, e isso é o que me deixa fraco. Fecho os olhos.
Ele me repudia.
Abro os olhos.
(Apaga)
Estou tendo uma certa dificuldade para escrever textos hoje.
(Apaga)
Estou no meu quarto, tomando café. Não gosto de café.
Estou tomando para me manter acordado, não me incomodo de tomar algo que eu não gosto. Não vai fazer porra de diferença nenhuma.
Os únicos sons que posso ouvir são os das teclas batendo e o barulho da cortina balançando pelo vento leve. Acho que as cortinas gostam quando o vento as toca.
(Apaga)
Hoje é um dia comum. Posso sentir o calor, e posso sentir o frio. Posso sentir sono, fome, mas não o sinto. Não posso sentir aquilo que me faz humano, aquilo que chora, ri. Não posso encontrá-lo em lugar nenhum.
Giro a cadeira e me deparo comigo mesmo sentado na cama.
Talvez este não seja só mais um dia comum.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Perdão.

Era uma tarde nublada, sabia que logo ia começar a chover. A chuva é boa, ela leva as coisas embora.
Chuva é tudo que preciso para um momento como esse.
Olhava pela janela observando os carros, as pessoas, era tudo tão desorganizado, mas, no entanto, tão padronizado.
Levou um tempo para você chegar.
O telefone tocou. Atendi, sem pressa.
 - É a Srta. Laura.
 - Pode mandar subir.
Você tocou a campainha. Abri a porta, com meu melhor sorriso.
 - Acho que temos algumas coisas a resolver. - Disse, já sentado no sofá.
 - Eu sei. - O som de sua voz ecoou por entre minhas memórias, quebrando em mim a linha entre passado e presente, fazendo meu coração bater de novo.
 - Já se passaram 5 meses, Laura. Eu não te esqueci, eu não vou te esquecer.
 - Mas eu menti, e menti muito.
 - Eu sei, e eu não ligo. Nós dois mentimos.
Você se levantou. Respondi fazendo o mesmo.
 - Não é mais uma brincadeira de criança, você sabe. O tempo passa. - Me distraia o doce som de seus argumentos inúteis, que não fariam a menor diferença para o final dessa história.
 - Mas nós continuamos iguais, Laura, sempre iguais. - Respondi.
Você tentou me responder antes de desviar o olhar e calou-se por um segundo. Pude sentir que dentro de ti ainda existia o mesmo sentimento por mim. Dei dois passos na sua direção.
 - Eu te amo, Laura.
Talvez você tenha tentado responder, mas meus lábios foram mais rápidos que os seus.
A beijei com a intensidade que estava guardando dentro de mim por todo esse tempo, toda a paixão que há muito havia sido esquecida, e você me respondeu, com a mesma doçura e pureza de sempre.
Comecei a senti-la, tocá-la, desejá-la, os beijos foram ficando mais intensos e não conseguia mais me controlar. Comecei a beijar-lhe a nuca e passar minha mão em seu corpo, enquanto retirava da minha calça com a outra mão o que estava causando o volume extra. Virei você de costas, encostei seu corpo no meu e sussurrei no seu ouvido com a mesma paixão de quando nos conhecemos:
- Eu menti.
E, em um movimento rápido da faca, cortei sua garganta e vi seu sangue jorrar por todo o quarto de hotel.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

1, 2, 3

1, 2, 3 bilhões
Já contou seu dinheiro hoje?
Tome cuidado ao passar na rua
Eles podem querer o salário de volta

1, 2, 3 cabeças
Quantas pessoas valem seu segredo?
É só mais uma bala, só mais uma vida
Não fique assim, a culpa não foi sua

1, 2, 3 vezes
Não existe limite para a corrupção
Não seja filmado e não terá problemas
E embora todos já saibam
A verdade nunca dirão
Relaxe

Morte Ao Público

Verdades já contestadas
Morrem quietas, sufocadas
Cobertas por imensuráveis
Calúnias sem nenhum louvor

Em seu tempo de destruição sem pena
De toda a vida que surgiu amena
Em um mundo de morte contínua
O homem ainda se dá ao valor

Por mais que tente, não vale o esforço
E o planeta agora é só um esboço
Do que era antes da humanidade
De todo caos e insanidade

Pois nesse mundo tudo o que tenta
Morre tentando, e não mais se aguenta
Em seu caminhar o homem se lamenta
Ao perceber que não devia existir

Honestamente, eu não sei mais ser honesto
Por todo o tempo que vivi, se é que vivi
Não mais que sofri, e o sofrimento que vi
Por si viveu, e não mais se foi.

Eu quero...

Eu quero implodir e explodir, quero me virar do avesso, andar no abismo, me desmontar. Me remontar, me transformar, me deformar, quero morrer e nascer de novo. Quero o inferno, quero o vazio, quero criar raízes, crescer, quero ser derrubado, quero cair, cair pra sempre. Quero viajar, sonhar, acabar, quero dormir para nunca mais acordar. Eu quero tudo.

Ovos

Folheio o livro que desisti de ler há um tempo.
Procuro entre as páginas alguma da empolgação que se perdeu na época em que o lia.
Não encontro.
Me deito no chão e olho pro teto.
"Faz muito tempo que não olho pro teto" Reflito.
Não sei onde foi parar aquilo, aquilo que me fazia ler.
Era aquilo que me fazia rir de verdade também; sair, respirar. A vida era mais bonita.
Não era, mas pelo menos sua parte trágica estava escondida embaixo de algum tapete.
Ou entre as páginas desse livro.
Me levanto, cansado. Vou até a geladeira, abro a porta e fecho, duas vezes.
Percebo que o que quero não está na geladeira. Eu quero respostas, e isso não é o tipo de coisa que se coloca em uma geladeira.
Ou será que é?
Abro a porta da geladeira mais uma vez, procurando respostas.
Encontro ovos.
[...]
Enquanto como meus ovos mexidos, leio uma notícia de jornal.
"As 10 Profissões Mais Estressantes"
Talvez eles não considerem viver como uma opção, muito menos amar.
"Talvez fosse mais fácil se eu amasse a vida."
Balanço a cabeça, procurando me desviar desse pensamento idiota. "Não tem como amar a vida."
A vida não é algo para ser amado, ela não foi feita pra isso.
Acho que amar a vida seria o mesmo que amar esses ovos mexidos.
Sabe, eles podem ser até bons, mas não posso amá-los, eles são somente... ovos.
Não são tão relevantes assim para que façam alguma diferença significativa para alguém.
E, como a vida, eles também vão acabar.
A diferença é que esses vão acabar em questão de segundos, enquanto a minha vida talvez dure mais alguns anos.
Talvez não, mas penso nisso depois.
Agora só quero terminar meus ovos e procurar um bom livro pra ler.

Café

Não quero responder às suas chamadas, não quero acordar de manhã e ver que é um novo dia, não quero mais viver, mas não quero realmente morrer no final. Não acho que eu poderia fazer qualquer coisa para me sentir melhor, e é por isso que não faço absolutamente nada. Eu sou tão miserável quanto o meu futuro. Eu odeio a ideia de ser tão sozinho, e eu odeio a ideia de ter alguém comigo. Eu odeio as ideias que não se tornam realidade, e eu odeio as que o fazem, pois essas nunca acontecem como deveriam acontecer. Toda noite eu acordo e o vejo, o reflexo da pessoa que mais odeio.
- Outro café, por favor. Tenho que me manter quente por dentro e alimentar esse vazio com minha depressão.

Tudo.

Eu desejo do fundo do meu coração que um dia acabe.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Desfigurado

Arranho meu rosto, arranco minha pele, minhas unhas incansáveis não param de trabalhar até destruir completamente minha face, para tentar esquecer o que se esconde por trás dessa máscara, que faz de mim esse ser sem piedade para com qualquer outro ser humano e para comigo mesmo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Inevitável Existência

Estou passando por uma crise existencial.
Não que eu ache que isso o preocupa, leitor, muito pelo contrário. Eu acho que minhas crises existenciais são essenciais para escrever o que eu escrevo. Sem elas você, que está sentado na frente do seu computador com absolutamente nenhuma obrigação tão importante assim, não estaria lendo esse texto.
Pois bem, se está tão desocupado, quero que faça uma coisa para mim, sim?
Eu quero que vá para a sua cozinha e pegue um copo d'água.
Foi?

Não, não foi. E sabe por que não?
Porque você não tem motivo aparente para isso.
Mas se parar para pensar, você também não tem motivo aparente para estar lendo esse texto agora.
E também, se parar pra pensar, vai descobrir que não tem motivo para fazer a maioria das coisas que faz, as pessoas com quem fala, os seus hábitos diários. Eles só lhe são ensinados, e você os repete, como sempre fez.
E quando você para pra pensar em todas as coisas inúteis que acabam fazendo da vida o que ela é em vez de algo muito melhor, você não consegue mais olhar o mundo da mesma forma.
E esse é o motivo da minha crise existencial.
Não estou deprimido, de verdade. Eu não penso em suicídio mais do que o de costume, talvez esteja pensando até menos do que antes. Acho que minha vida finalmente está tomando o rumo inevitável que todas as vidas tomam, e é exatamente isso que está me deixando desse jeito: o inevitável.
Mas não, deprimido eu não estou.
Para falar a verdade esse é um dos momentos mais importantes da minha crise existencial.
Essa é a hora em que eu me viro para a vida e olho no fundo de seus olhos antes de dizer:
"Eu não ligo para você."
E saio andando na direção oposta.

Laranjas

Laranjas podem ser mesmo laranjas, assim como o fim pode ser mesmo o fim. Mas isso não significa que laranjas sejam só laranjas, e que o fim seja só o fim.

Nada.

Nada.
É isso, eu espero que você esteja feliz.
Ando sobre as paredes da realidade e, desdenhando de toda e qualquer certeza, escrevo meu próprio mundo em uma folha de papel.
Eu gosto da morbidez
Eu gosto da morte, eu gosto do fim
Eu estou no fim, e sempre estive
Mesmo no inicio, o fim sempre esteve comigo.
Perdi tudo que possuia, mas depois de me dar conta de que nada era tudo que sempre tive, percebo que o que perdi foi na verdade o que nunca lutei para conseguir.

O Último Adeus

Esse vazio...
Está se aprofundando, preciso fazer algo sobre isso
Escrever não parece estar ajudando
Ele ultrapassou minhas costelas, está quase alcançando o coração
Eu posso sentir
Ele pode alcançar o que quiser, mas em vez disso, fica perto
Ali perto, esperando, talvez seja só eu ou
Minha agonia, é isso que ele quer
É isso que o mundo quer
Corações vazios, é o que ele cria:
Mentes inquietas, inquietantes por seus perfumes
De pensamentos, essa euforia
De corações palpitantes tentando encontrar uns aos outros
Para poder dizer mais uma vez "eu sabia desde o inicio"
E continuar nessa caminhada sem volta
Na estrada da solidão eterna
Na companhia invisível de alguém
Que pode ir embora a qualquer momento
Que dá várias vezes o seu último adeus.

São eles

Olhos verdes, os seus
Que me fitam sem nenhuma vergonha de me admirar
Pelos meus defeitos, olhos cegos, porém perfeitos
Pois não enxergam o pior de mim, que seria o mais óbvio
E sim meu lado bom, o que muitos não acreditam que exista
E outros que já deixou de existir
São esses defeitos que desaparecem neles
Os que me fitam, esses seus olhos verdes

Foto

Decidi arrumar o meu quarto
Me deparei com sua foto
Ignorei
Me deparei com uma carta sua
Ignorei
Tirei do chão a caixa de um dos filmes que costumávamos ver aos sábados
E comer pipoca
Ignorei
Reparei no copo rachado em cima da minha bancada
Você rachou meu copo
Ignorei
Você me rachou
Peguei a sua camisa do chão
Peguei a minha camisa do chão
Levei o lixo para fora
Joguei no lixo todo o seu lixo
Olhei para algumas das suas coisas velhas e quebradas na lixeira
Eram as nossas coisas velhas e quebradas
Joguei no lixo todo o meu lixo
Deitei na cama e tentei dormir
Levantei
Tirei a minha camisa do armário, aquela que você costumava usar
Joguei no chão
Joguei no chão o frasco de perfume que você me deu
Joguei o resto das minhas camisas no chão
Rasguei sua foto
Rasguei sua carta
Chutei o pé da cama de propósito
Gritei de dor, de propósito
Tirei todos os seus livros da minha estante, joguei no chão
Quebrei o copo
Pisei no caco de vidro
Ignorei
Tirei todos os lençóis do lugar
Joguei-os em cima das minhas camisas
Quebrei a bancada
Escorreguei no frasco de perfume caído

Caí
Quebrei o braço
Chorei
Deitei
Dormi.
Junto pedaços de coisas e pessoas diferentes formando algo único, porém nada original. Engano de longe como algo diferente e inovador, quando na verdade estou mais próximo de me tornar uma aberração.

O Nada

Sinto o nada.
Não sinto o vazio, não sinto o cheio, não sinto frio e não sinto o calor.
Estou indiferente, mas também não sinto a indiferença.
Sinto esse monte enorme de absolutamente nada crescendo dentro de mim,
Prestes a se tornar algo maior do que eu sou capaz de entender.
Me tornarei uma parte disso, e quando isso acontecer...
O nada irá me sentir.

Verde

Minha alma está fora do alcance do seu olhar, que desvenda cada mentira, cada falsidade e cada ironia. Esses são os olhos que fitam os meus em uma expressão de predador descobrindo cada face do meu ser, cada indivíduo dentro de mim. Esses olhos, os mais verdadeiros possíveis, não poderiam ser outros senão aqueles cuja alma por trás dos mesmos é incompleta e defeituosa, mas se encaixa perfeitamente com aquela alma dos olhos escuros e vazios. Aquela que habita o ser com mais dificuldade de falar do que de escrever, mais dificuldade de impedir do que de se juntar à causa, mais dificuldade de se afastar do que permanecer ali para sempre.
Em seus olhos.
Perco minha alma no espaço entre as tábuas do chão, onde lá ela encontra seu lugar, junto à sujeira e a tudo que já foi há muito tempo esquecido.
Encontro um pouco mais de mim antes de me deixar cair no chão junto com papéis e objetos sem importância que carregava para algum lugar cuja relevância já não é tão considerável.