domingo, 22 de novembro de 2015

Gordo.

Um homem gordo está em pé na minha frente no ônibus, me olhando com uma feição melada de suor e desespero por estar levantado em um ônibus sem ar condicionado.
Mas ele tem uma mochila.
Eu poderia me oferecer para segurar a mochila desse indivíduo que não acrescenta nada à minha existência e então, discretamente, eu furtaria seu dinheiro e seus documentos e pensaria depois no que fazer com eles.
Mas eu não ligo.
Talvez esse seja o meu problema afinal com todas essas pessoas. Parece que cada bípede nu que eu vejo é menos perspicaz do que qualquer animal mostrado no Animal Planet ou National Geographic Channel. Evoluímos? Sim, alguns. Como fruto da evolução, temos o potencial para levar essa raça imunda à paz e aos avanços tecnológicos e filosóficos.
Mas não conseguimos.
E não o fazemos por uma ideia gerada desde cedo no inconsciente humano. Uma ideia que nos impede de deixar outro de nós cair, superpopulando o mundo e deixando seres-humanos como aquele gordo em pé no ônibus lotado: essa ideia é a pena e o senso de responsabilidade moral que temos por esse mesmo gordo.

[Eu não tive tempo nem paciência para escrever mais do que isso porque o meu ponto estava chegando. Outra hora eu termino esse texto - ou não.]

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Não me atrai.

Teu físico não importa para mim
A menos que teu corpo morra
E apodreça
Enfiado a sete palmos da
Minha boca (sedenta por mais)
Já que esse teu gelo
Já me satisfaz
Vindo da tua fala e não
Da tua pele sem fluxo
(Sedenta pela vontade
Predominante)
Que falta pr'esse coração bater.
Em termos gerais, tua aparência
Tua intolerância e tua astúcia
Não são, nem de longe
Tão importantes quanto
O teu caráter
(Ou a falta dele).
Teu desprezo
Não me vicia,
Tua frieza
Não me atrai,
Tua essência
Não me interessa.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Peso.

Esse teu olhar me amedronta
eu fico triste e puto, bebo até
não querendo aceitar tua essência
pena: mesquinho, vil e irracional
temperamental, cego, tempestuoso
sofrimento: tudo meu, tudo aquilo
relacionado a ela (passado, presente)
futuro? ainda há quem acredite
em alguma estupidez assim, mas
somos porcos sádicos - Você e eu -
e já estamos de saco cheio
de contos de fadas.

Uma xícara e meia de inverdades.

Desculpa te abraçar em leito
E te negar na doença
E te puxar pra mim
Sem te querer tão seca
E tão morta, eu não quero ver
A gente apodrecendo
E não quero me decompor
Sozinho ao teu lado
Tentando sorrir enquanto
Tu foges do peito.
Quero abraçar teu corpo
E fingir que é pra sempre
E beijar tuas coxas
E lamber tuas partes
E fingir que é pra sempre.
Quero alguém pra rir
Quando eu perder a graça
E tentar por mim
Quando eu perder as forças.
Será que é demais pedir
Um pouco mais de ilusão?

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Porcos brancos azedos.

Os porcos sádicos e intolerantes
Mimados por corporações gigantes
Bancados por tolos ignorantes
Jamais terão de pagar.

O mau que tomou-lhes as crenças
Criou e espalhou suas doenças
Plantando e cultivando ofensas
Por todo e qualquer lugar.

Então quero ouvir o teu medo
Contar tuas bondades a dedo
Olhar esse teu branco azedo
Tirar ar do peito e falar:

Teu peito não é de cimento
Teu choro não é de lamento
Eu nunca conheci tormento
Que a bala não possa parar.

domingo, 8 de novembro de 2015

Antes e depois do fim.

Deixa-me plantar em ti as palavras repetidas
E colher amores impossíveis dos corações incrédulos
Os sábios farão poemas das notas desafinadas que cantamos
Enquanto os tolos riem de nós e a noite avança
Deixa-me dormir ao teu lado sem pregar os olhos
E te infestar os pensamentos como erva daninha
Trocaremos passos enquanto eu te encontro
Nos olhares devastadores do tempo
E nas rugas da memória
Os livros de história falarão sobre nós à sombra das árvores
E o planeta dará seu último suspiro de esperança
Lágrimas serão derramadas entre sorrisos
Com o céu se desvaindo em cores
E a humanidade sucumbindo ao fim
Deixa-me afogando nos teus eternos lábios
Cantados por eternas vozes como lenda
Enquanto o mundo acaba.
O universo desaparecerá, amor
Todas as galáxias serão sugadas pelo negro das tuas pupilas
Mas nós permaneceremos.

Um poema dentro do outro.

Eu quero a eternidade de um poema mal escrito borrado no vidro de uma janela qualquer. Quero ouvir os estalos que o cigarro faz no trago e sentir as vibrações do orgasmo. Quero ouvir o barulho das solas dos sapatos raspando na folha de outono ou na poça do inverno.

Quero o chão seco de trabalho, pulsante e constante nas calçadas dessa metrópole decadente que nos tornamos. Respiro fumaça e me alimento de dinheiro, eu me tornei a máquina. Sou governado por um sistema que não representa a diversidade de ideias que eu mesmo possuo, mas fui educado o suficiente para não questionar.
Pronto para mais, senhor.
De nada, senhor.
Volte sempre.

Quero ouvir as vozes e me acostumar a elas. Quero beber um café no fim da tarde e aproveitar o orvalho de manhã. Quero pensar antes de abrir os olhos e ainda ter motivo para tomar a decisão de acordar, porque a vida é boa.
E as pessoas são ruins.
E os lugares são ruins
(Mas a vida é boa).

terça-feira, 3 de novembro de 2015

botar pra fora

Abro meus olhos nessa cama
E os lençóis me engolem, dói
Acordar, meus músculos
Rasgam enquanto eu respiro
Minha garganta incha e fecha
Meu rosto contrai e muda
O chão me chama, tento gorfar
Mas eu não tenho nada pra
Colocar pra fora, nada físico
Seguro firme nos colchões da cama
Isso é só um pesadelo, penso
Fecho os olhos e abro:
Não é a mesma cama
Não são os mesmos olhos
Não é o mesmo chão.

Rachaduras.

Eu não te quero entre as minhas rachaduras.
Não te quero pisando nos meus cacos
e furando o pé.
Não quero te ver em mim como te vi nos outros:
incompleta, passageira.
Eu não quero te fazer rir enquanto eu choro
nem te fazer chorar enquanto eu rio.
Não quero sentir a juventude da tua pele
e não mais estar contigo
quando a velhice bater a porta
e não mais sorrir contigo
quando a depressão voltar.
Não quero dividir a cama que já é pequena
e nem comprar uma nova pra depois trocar.
Não quero o teu cafuné e tua bossa nova,
não quero tua roupa nova no chão do meu quarto.
Não te quero ter
antes de varrer os cacos do meu outro amor
e não quero um outro amor
que não o nosso.