quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Anna

Minhas palavras
Rebelaram-se na língua
E silenciaram-me:
Que, de sujo sou,
Não é direito meu
Falar-te
Mas desejo,
De trás pra frente
Sublinhado e
De todos os jeitos possíveis,
Tentar.

Amigo Imaginário

Eu sou a constante de rejeição humana
Vagando por entre medos e outros nós.
Sou o cigarro fumado sem vontade,
Sou os agudos das notas da verdade,
Sou todo motivo de dor, sou todo dó.
Eu sou um interminável vazio existencial,
Sou as entranhas derramadas de Deus.
Eu sou litros de uma humanidade podre,
Sou o grunhido da morte, sou cativo,
Sou ativo e sou passivo, sou permissivo
Não permitido por lei, por bem ou por mal,
Ilegal, vicioso, tendencioso e imoral;
Eu sou tudo que a sociedade apoia.
Sou um sem teto, sem medo nem vontade,
Eu sou a cortina que esconde a claridade,
Sou o cativeiro, sou a doença, sou a morte.
Sou os loucos que perderam-se na sorte,
Eu sou o ontem, o hoje e o amanhã.
No sufoco, quando atravessa a epiderme
Eu sou a vaga noção que me restou.
Não tente fugir de mim, criança,
Eu sou aquilo que você criou.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Cores de um quadro cinza.

E então, às sete e meia da manhã de uma segunda-feira abafada, seu peito se abriu — sem mais nem menos — de dentro para fora, espalhando emoções por todas as paredes do quarto. José já não era o porteiro, o trocador, o taxista ou o poeta. José era a própria vida, espirrando cores e lágrimas por cada canto daquele quarto cinza. Talvez fosse tarde demais, alguns diriam, talvez agora, depois de tudo, de nada mais valha a morte — ou a vida — desse pobre josé-sem-nome, mas não pra ele. José deitou, tentou ajeitar-se, de peito aberto, e desabou em lágrimas. José agora era livre para chorar, então sorriu. José agora era livre para viver, então morreu.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Abóbora

Então descobre
o rosto encoberto de
mágoas, afaga meu
peito e me fere em
rancor, quem deu teu
direito de não mais
estar entre o abismo
e a dor que o pouco me
traz quando a falta que
faz engole o meu sentir?
Não vou mais ficar nesse
teu ir e vir de palavras
e sonhos, sou todo teu,
torto, sou todo teu,
morto e sem rima,
triste e perdido,
quebrado,
sentido,
alegre,
deprê.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Nua e crua.

Essa é a parte onde eu defeco sobre as suas aspirações, sonhos, ideias e leis morais para que a sociedade possa progredir ao enxergar que esse modo é puramente animal e ilógico, impróprio e inadequado para todos aqueles que ainda habitam o nosso ambiente. Piso com meu calcanhar da verdade e da ciência, da filosofia e do entendimento, sobre os tantos que não conseguiram progredir em escala aritmética, tendo permanecido iguais ou praticamente iguais ao longo dos anos passados.
Eu não admiro vocês.
Eu não suporto vocês.
Eu quero que vocês se fodam.

Outono

Tuas folhas acariciam minha pele
E batem na calçada, secas,
Amargas e sem cor, não é
Outono, amor, teu verão é gelado
E o desespero arrepia a nuca
Enquanto o calor que exalo
Apenas seca as tuas folhas.
Sara desse cinza que te guia,
Lê minhas palavras de apelo,
Agonia-te por tristeza ser sentir
E sentir ser tudo que eu te peço.