sábado, 29 de dezembro de 2012

Pecado.

Tua cor abre os olhos do desejo, e teu calor escorre pelas minhas mãos. Teus sons ecoam em meu ouvido, e todo o meu corpo treme em sincronia com o teu. Meus lábios silenciam teus gritos de libido, tua mão segura o coração e pulsa o sangue. Tua dança se torna mais intensa, e os batimentos entram em sincronia. Caio em tentação, mas me seguro no teu cabelo. Me agarro com unhas e dentes na única certeza que tenho, e me explode o peito. Empurro-te contra o chão, e deixo o mundo ouvir teu último uivar. Implodo em ti, e nasço de novo em mim.
Somos um só agora.
Dois em um, banhados no prazer da tentação.

domingo, 23 de dezembro de 2012

A Causa.

Se teu amanhecer
Não chegar mais,
E teus olhos
Não brilharem como brilhavam,
Se a sensação de
Estar sendo observada
For mais do que uma sensação,
Se tuas sombras
Forem maiores do que a tua luz,
Eu estarei lá
Pois eu serei a causa.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Estrada.

A noite veio, e a escuridão devorou a alma. A estrada devorou a calma, e as cores se perderam no caminho. Estou em um lugar distante, onde os gráficos são ruins... Alguma falha do Criador, que não terminou o programa. Talvez aqui eu encontre o significado pra vida. Por que morremos? Por que vivemos? Ando um pouco mais, e encontro um espaço vazio. É a resposta: O mais puro nada, enfeitado com escuridão.

Víbora.

Oh, víbora imunda, indiscreta! Não tens vergonha de me tirar o fôlego? Não sentes culpa por me fazer pensar no quanto vida é vasta e burra, sem a beleza de teu caminhar? Se pedires "casa-me", eu caso, se pedires "pula", eu pulo, mas se pedires "vai", eu fico. Fico e morro, seja o que for! Pois o acaso não é tão gentil de te trazer de novo, víbora, e não sou capaz de procurar sozinho. És tua a culpa da minha insônia, do meu perder de cabelos. E de minhas lágrimas! Em ti depositei minha calma, e agora enlouqueço quando não estás perto. Pois eu te amo! Amo, e amo por amar! Como podes ser tão boa e tão ruim, que me fez nascer de vida sem sentir, mas me fez morrer ao encarar o teu olhar? Tu não és desse mundo, víbora. Tu és mais um truque de Deus para me tirar a sanidade.
E esse funciona.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Discos Velhos.

Eu estou sozinho.
Você pode estar aqui agora, mas daqui a pouco vai embora. Vai se embebedar em algum canto, fumar um campo inteiro... Você vai abraçar um outro cara, dar uma volta na praia, ver um filme. Tomar um banho, tirar uma soneca... Aí eu fico sozinho. Vou ficar jogando coisas na parede, deitado na cama tocando meu violão, brigando com gente insignificante no telefone, brigando com meu pai. Vou ouvir uns discos velhos e não gostar mais deles, vou lavar a cabeça pra sujar ela com besteiras.
Vou ver vídeos impróprios, e vídeos que deveriam ser impróprios. Vou lembrar de você e dos outros que foram embora, e aí eu vou falar "não disse?", mas ninguém vai responder.
Porque não vai ter ninguém pra responder mesmo, aí eu vou jogar mais coisas na parede.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Oração.

Senhor...
Não importa o tempo que for, o tempo sem ela não passa.
Vejo os olhos dela nos meus olhos, vejo a voz  dela na minha voz, vejo o carinho dela nos meus atos, e vejo a compaixão dela nas minhas palavras. Sou só um pouco do que ela foi, mas sou o pouco que sobrou. Sou a cópia deformada de um anjo, banhada com o rancor dos homens. Dela, sou a lágrima, o suor... Sou um filho, um servo. Troco minh'alma por chance de acompanhar essa mulher em morte, pois vida sem ela já não é vida.
E se não puder tê-la de volta, vou me rebelar; vou trabalhar dia e noite e pra construir uma escada que vai até o céu, e o que eu quero eu vou buscar! Pouco importa se me punir por sentir saudade, e desafiar vontade divina de me ver com dor! Mas se for me matar, que me conceda um favor: Na hora de minha morte, me dê um pouco de insanidade, para olhar para os céus e vê-la; vê-la me abraçando e me tirando a solidão, pois só ela que consegue. Só ela pode ver, ouvir e sentir o que eu vejo, ouço e sinto. Só ela pode curar coração, tão incurável que só Deus sabe... Só o senhor sabe, né? Então me faz isso, mas faz logo... Não sei se guento tanto tempo com coração quebrado, Senhor...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

É.

O ruim do bom do ruim é ruim.
O bom do ruim do bom é bom.
O ruim do ruim do bom do ruim
É melhor do que o ruim do bom do ruim do ruim.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Efeito.

A escuridão me engole, e me sinto pisado por animais. Imensos humanos sem cérebro, comandados por um deus qualquer. Eu vejo o futuro, mas não sei fazer valer a pena.
Sou só mais um imbecil tentando fazer frases bonitas, sob o efeito de drogas que não fazem mais efeito.

Pó.

As palavras já não afetam, as letras se escrevem sozinhas. A estadia no cotidiano deixou o nariz dormente na primeira escapada e a mente doente na segunda. A vida existe, mas parou: posso ser tudo, fazer tudo e viver tudo, mas estou só. Preciso de companheiros, agentes do pó. Preciso voltar ao mundo para ter alguém agora, mesmo sabendo que só fugi dele por almejar a solidão.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Nota Final.

Não importa o que o outro fez, importa o que você faz.
Só você é responsável pelos seus atos; você cria seu próprio veneno, seus próprios medos... Cria suas próprias mentiras e as alimenta; alimenta com as lágrimas que você deixou serem derramadas, muitas vezes até fez questão que fossem. Você sacrificou sua pureza no momento que mentiu pela primeira vez, e virou vítima de si mesmo a partir de então, pois nunca mais parou de mentir.
Você criou todos os monstros que existem em você, e só você pode destruí-los.
Nunca é tarde para mudar.

- T.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Desejo.

Tua pele já não me encanta, tuas palavras não me preenchem mais. Tu és a mais pura mentira, vivida na mais triste realidade. Disfarça-te de verdade, e corre pelo coração de outros, querida, pois já vi tua alma de cinzas. Já vi teus tons de breu e tuas lágrimas de segredo. Já vi teu corpo de desejo; O que te falta por dentro, cabe ao prazer terreno preencher.
Mas não há tanto prazer no mundo, meu amor.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pássaro.

Abre as asas e volta a dormir.
Prisão cruel que não o deixa ir.
Culpa do homem que o aprisionou?
Culpa dele, que não quis fugir?
Reclama por ser cuidado, reclama de reclamar.
Reclama por não morrer de fome, por ter onde ficar.
Canta, canta. Canta por querer voar.
Então voe, pássaro infeliz.
Voe e me deixe viver em paz.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Pobre Maria.

Era uma vez Maria, uma invejosa.
Se falava mal é porque queria ter, mas não podia.
Se falava bem é porque não ligava.
Um dia Maria parou para ouvir o que estava dizendo.
Ficou tão horrorizada que não dormiu.
No dia seguinte perguntaram à Maria o que ela achava de um vestido, mas Maria não respondeu.
Ela não aguentava mais ouvir a própria voz, então se calou pra sempre.
Ninguém nunca mais ouviu Maria falar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Vir, Ver, Viver.

Falta de chá, de chão,
De paixão.
Vida doida, doída.
Vida dormida.
Vir, ver, viver,
Dormir.

domingo, 25 de novembro de 2012

Segredos.

Tu és a escuridão, e eu sou a Lua.
És a doença, e eu sou a cura.
Tu és, por maior que sejas, menor que tudo.
E maior que nada.
Tu és o frio, e eu sou o fogo.
Tu és a vida, e eu sou o caos.
Tu me completas, e eu te destruo.
Até o fim, querida.
Pois teu fim sou eu.

Câncer.

Sofro pela morte da música que movia meu corpo para um novo dia.
Sofro pelo toque da sua pele, que não me toca mais.
Sofro pelo desejo, que me deprime por não desejar.
Sofro por ela, que me viu em outros mais do que em mim mesmo.
E sofro por mim mesmo, que viu nela mais do que ela foi.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Silêncio.

Sentado no quarto, em agonia, fujo de mim mesmo pelas frestas na minha mente; infinitas rachaduras, denunciando seu estado deplorável.
Atravesso teu perfume e encontro o nada.
Estou em um espaço branco, olho pra trás e não vejo coisa alguma além da fresta que me trouxe até aqui. Fugi de meu único refúgio, fugi da minha única prisão.
Fecho os olhos e me imagino, abro-os e lá estou eu.
Sou o Deus de meu próprio mundo agora.
Fecho os olhos mais uma vez, e dessa vez imagino tudo ao meu redor.
Faço prédios, ruas, bairros e cidades, e aos poucos a Terra se molda à minha imagem e semelhança.
Abro os olhos e estou no meu quarto, de novo.
Ainda falta alguma coisa...
Fecho os olhos, e me imagino segurando uma faca.
Abro-os e me apunhalo no coração.
Acabou.
Está tudo em seu devido lugar agora.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Geladeira.

A solidão me devora a alma, e me quebra a respiração.
Valorizo demais a dor que o vazio me causa...
Deve ser fome.
Abro a geladeira, mas ela não tem o que preciso.
Eu preciso de amor.
Preciso de uma piada.
Como se coloca um elefante dentro da geladeira?
Desisto de procurar e fecho a porta.
Termino um pacote de biscoito e vou dormir.
Como será que se coloca amor dentro da geladeira?

Caverna.

O Sol ofuscante me cega, e entro em uma caverna para me proteger.
Está tudo escuro.
A caverna é habitada por algumas outras pequenas criaturas que deduzo serem venenosas.
Por um tempo, faço fogo para enxergar, mas aos poucos meus olhos se acostumam com o breu.
Aprendo a me alimentar dos animais peçonhentos, meu corpo se acostuma com o veneno.
Aos poucos minha pele vai ficando mais grossa, e meus olhos vão ficando maiores. Capto sons que antes não conseguia, e caço cada dia melhor.
Esqueço da luz.
Esqueço do mundo lá fora.
Um certo dia uma de minhas caças foge para a luz.
Tento sair da caverna e alcança-la, mas não consigo de primeira.
Acho estranho.
Tento de novo.
Não sei se saberia viver no mundo lá fora.
De repente uma pergunta me vêm à cabeça:
Deveria eu passar meu tempo tentando voltar a ser quem era antes ou voltar para a escuridão e me acostumar com o monstro que sou agora?

domingo, 18 de novembro de 2012

Sentido.

Teus olhos me fitam como o vento fita o mar, me jogam e me puxam como a correnteza, e destróem meus castelos de areia.
Minha vida não faz mais sentido.
Tua boca me rasga, teu coração me bate e me aprisiona.
"És o farfalhar de asas do corvo..."
Calo-te perante meu silêncio, roubo tuas palavras.
O que deixei pra trás era muito mais do que só passado.
Quem é o culpado?
Eu.
Como assim?
Somente eu.
Ah...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Devaneios.

A madrugada me devora e eu me perco em meus devaneios; relembrando a juventude que nunca vivi, e chorando dores que ainda não sofri, me perco na ideia de vida, que insiste em fazer de mim uma ideia.
Queria eu poder te ver; pegar um trem, metrô, carro ou avião. Fumar teus cigarros, discutir o amanhã, matar o amanhã em protesto.
Fazer tudo às escuras, em um beco qualquer, aquecido pela solidão.

domingo, 11 de novembro de 2012

Já Fomos Melhores.

Vivemos de fraldas,
De carrinhos de bebê....
Vivemos de chupeta,
Vivemos de triciclos,
De brigadeiro....
Depois vivemos de algodão doce,
De parquinho,
De bicicleta,
Salsichão,
Vivemos dos pais,
Dos jogos de tabuleiro,
Das caças a tesouros,
De faz-de-conta.
Vivemos de imaginação,
E depois....
Nós deixamos de viver.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

De Mim, Pra Mim, Por Mim.

Confesso ser um romântico incorrigível,
Pois vivo perdidamente apaixonado
Por essa pessoa muito especial.
Só me interesso por alguém
Ao ver que esse alguém
Tem essa obsessão
Em comum
Comigo:
Eu.

Espelho, Espelho Meu...

Oh! Menina dos olhos negros,
Por que duvidas de meu coração?
Condenas minha embriaguez,
Mas não percebes a contradição

Pois é o amor que tanto admiras
Que me embebeda e me enlouquece,
Me acusas de idolatrar mentiras
Mas do bem que te fiz, esqueces

Já aleguei tua insanidade,
De louca, chamei pra não veres
A mancha negra da maldade
Que existe em todos os seres

Pois meu sentimento não veio
Para olhos humanos - sem cor
Tu és só mais um ser alheio;
Platéia para o meu amor

Eu disse, e digo de novo:
Te amo, e amo, Narciso!
Que venham as palmas do povo
Por ser só de mim que preciso!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Exílio.

A solidão me devora, e o vazio me expõe. Meu eu-lírico vira pó diante da ilusão, que faz simbiose à ocasião. Desejo o infinito, e ganho a mortalidade. Consumo o esquisito, e expiro normalidade. Vivo a escuridão diante da luz que emito.
Exito, e palpito em mim mesmo, mas o exílio me amanhece, e me deixa perecer.
Mas não me faz esquecer das sombras que imito, e se deixa padecerem os acertos aos que me limito.

Nem sei.

Eu não sei
Se falta interesse
Ou segurança,
Se é amor
Ou se é lembrança,
Se é verdade
Ou esperança,
Mas se soubesse
Como é
Não ouvir sua voz
Atenderia minhas ligações
Nas primeiras vinte vezes.

Amor.

O coração salta sobre o corpo que tenta salvar.
Descansa sob a pele que o aprisiona, e insiste mais um pouco antes de parar de vez.
A causa, como a autópsia revelaria, foi o amor.
Às vezes é interessante perceber o número de mortes causado por tal palavra.

domingo, 28 de outubro de 2012

Dúvidas de um Desespero Pessoal.

Se eu disser que te amo,
Tu me abandonas?
Me deixas sair calado
E fechar o meu coração?
E se eu disser que te bebo,
Te sinto?
Me deixas viver trancado
Aprisionado de solidão?
Se eu vier com versos chulos
Roubados de um coração perdido?
Me acusas de alienado
Por não saber como não perder?
E se eu vier com flores,
Murchas por tanto hesitar?
As joga fora?
Ou finge não perceber?

E se eu disser que é mentira?
Aí tu me amas de volta?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Estrelas.

Vocês seriam bem mais poéticos
Se fossem muito mais poéticos
Mas não são.

Poderiam ser muito mais simpáticos
Se começassem sendo só simpáticos
Mas não conseguem.

Conseguiriam ser bem melhores
Se já fossem no mínimo bons
Mas não tentam.

E também tentariam suicídio
Se vissem quem realmente são
Mas nunca viram.

Meu conselho?

Estudem as estrelas
Pois sabendo o quão grandes são
Verão que vocês
Não são nada, mas nada mesmo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sintomas.

7º dia.
Minha necessidade pelo contato humano não melhorou.
Da minha pele, algumas escamas nasceram, e agora acredito que a parte branca dos meus olhos está se amarelando.
Nota: Pode ser só paranóia.
Ontem matei mais um ser humano, um homem dessa vez.
Devia estar na casa dos setenta, pois nem conseguiu reagir ao perceber o ataque.
Enterrei o corpo na praia. Espero que ninguém descubra.
Com esse já são cinco.
Da primeira vez que liguei o laboratório me disse que os sintomas iriam passar dentro de algumas horas.
Passaram-se três dias, e o laboratório parou de atender às minhas ligações.
Já pensei em ir lá, mas não tem como sair desse jeito.
O que me resta é sentar e esperar.

domingo, 21 de outubro de 2012

Planos, Planos...

Fazer planos pro Ano-Novo,
Pro Dia dos Namorados,
Pra Páscoa,
Pro verão,
Fazer planos pro futuro
De casar
E de ter filhos,
Fazer planos
Detalhados
Pra tudo,
E hoje
A gente só vive.

Sol.

É engraçado ver o mundo acordar
Enquanto vem esse meu sono...
Ah! Menina boba que me faz amar
Até a vida raiar pros outros...
É que pra nós a vida já raiou, menina.
Raiou e se pôs, aí o sol resolveu nascer.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pessoas.

Pessoas erradas.
São sempre pessoas erradas.
Até as pessoas certas são pessoas erradas.
Erradas, erradas, erradas.
E nada mais.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Inferno.

As cinzas da lareira já se apagaram, e a harmonia já preencheu o ar. O sentimento de conformidade entra na mente como a fumaça do cigarro entra em meus pulmões: obstruindo a esperança sobre tudo que vier antes da morte.
De repente a vontade de vida me dá um choque.
Talvez o ar de melancolia tenha fritado a minha sanidade e me deixado finalmente apto para realizar todas as tarefas sem sentido que a vida me propõe. Talvez eu deva mesmo arrumar um emprego, uma nova mulher com quem terei dois lindos filhos...
Mas hoje não.
[...]
Nos becos escuros em que vagueio, a sensação de isolamento segue as poucas luzes que ali se encontram, tão fracas quanto a vontade minha de deixar aquele lugar sombrio. Já deixei pra lá a lareira, já deixei pra lá a vontade de trabalhar.
Deixei pra lá a vontade para o resto das coisas também.
Por que a vida que construí é tão próxima à minha definição de inferno?
Talvez o inferno esteja em nós no final.
As poças d'água se formam conforme a chuva ganha a aprovação de Deus, que a essa hora está lá em cima se certificando de que tudo vai correr exatamente como eu não planejei.
Me lembro da condição mortal na qual estou submetido e acendo outro cigarro.

Em breve nos encontraremos, Pai.
Minha alma anseia por Ti.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Só pode.

Me diz o que vai ser de mim, se cada sorriso bobo me lembra o teu?
E se cada palavra dita, por mais pura que seja, me dá raiva por não vir da tua boca?
E se, em cada voz, ouço a tua voz? E se cada segundo tem a tua presença?
E por que serei eu quem tem que queimar esse tempo procurando rascunho de ti, se já sei que não existe?
Não sabes do meu coração pois és tola, e queres ser.
Pois tudo que chega na tua ausência me dá vontade de morrer.
Vontade essa que só pode ser amor.

Retrato.

Teu sorriso me encanta
E me espanta por pensar.
Imaginar o infinito
Tentando te alcançar.

Vou te tomar,
Do teu lugar,
Ao meu olhar.

E por olhar,
Eu peco,
E peco por querer:
Entender

E descobrir,
Desvendar

E desistir.
Por corar

Ao colorir
Meu rosto com a paixão, 

E me salvar de vez
Da eterna escuridão
Com tua luz,
que me amanhece a compaixão,

Obrigado.

Anjo da Noite.


Virei das sombras ao teu encontro, e amanhecerei a esperança. Acabarei com a ilusão que te aprisiona, e te mostrarei o que existe embaixo da cama enquanto o resto dorme. Te encantarei com meus truques, mas serão sempre só truques: o grand finale ainda estará por vir. Eu te mostrarei o amor da forma mais viril, e te mostrarei a paixão da forma mais gentil.
Porém, farei de ti uma memória, e farei de mim um mal presságio.
Pois quando o dia raiar, e não encontrares mais teu coração, saberás então quem sou:
Um homem sem alma, sem futuro e sem razão.

Aquele que veio da escuridão.

domingo, 14 de outubro de 2012

Correspondente.


Sentido, calado, revisado e esquecido.
Colocado sobre uma pilha de memórias e deixado lá.
Achado, remendado, corrigido e enviado.
Atrasado.
Parte de um passado virgem.
Preso em um futuro vendido.

sábado, 13 de outubro de 2012

Sofás, Móveis e Estática.

Respingo pinceladas sobre a tela, apesar dos resmungos silenciosos da tinta. A tela se sente refrescada, e o pincel sente que devia estar trabalhando em outro lugar, com um salário melhor e com uma carga horária maior, em vez de ficar parado quase o dia inteiro sem fazer nada.
A parede acha que toda essa "arte" é encantadora, mas ela é só uma parede, e ninguém a leva a sério.
O sofá discute com a parede diariamente sobre a filosofia da pintura, e sobre o simbolismo das cores.
O sofá também tem opiniões fortes sobre a revolução da classe operária, mas ninguém ouve suas idéias.
Talvez por ele ser amigo da parede.
Uma das lâmpadas está tendo uma crise existencial, e as outras realmente não estão nem aí pra nada.
O armário é um cleptomaníaco, e começou a esconder as coisas que ele considera mais legais no final das gavetas.
Paro por um instante, tomo o café.
O café não parece gostar muito disso.
Aos poucos eu vou entendendo que passei a vida toda vendo esse mundo do jeito errado.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Todo o ódio contido em uma pequena gota de insatisfação.

Eu vou comer quem eu quiser
Matar quem eu quiser
Roubar quem eu quiser
E gritar com quem eu quiser.

Vou reclamar de quem eu quiser
Chegar na hora que eu quiser
Pagar a quantia que eu quiser
E comer quem eu quiser de novo.

Porque o pau é meu, e a vida é minha também.
Passar bem.

Manual pra Vida.

Pegue um papel.
Risque.
Amasse o papel.
Tente desamassar o papel.
Apague o risco.
Rasgue o papel em dois pedaços.
Desenhe algo bom no primeiro pedaço.
Desenhe algo ruim no segundo pedaço.
Cole os dois pedaços com fita adesiva.
Risque o papel.
Apague o desenho e os rabiscos.
Desenhe tudo que importa de verdade no papel.
Jogue o papel no lixo.
Vá Trabalhar.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Paciência.

Estou farto de normas, excessos e dúvidas.
Cansado de vida, espelhos e não-espelhos.
Eu cansei.
Deito no chão e deixo o vento brincar com o meu cabelo, fecho os olhos para mais um amanhã.
Abro-os, e vejo que o tempo não trouxe mais do que uma dor nas costas.

Caminho até o parapeito e subo.
Caio.

Faço um café forte, tomo um gole e jogo tudo na pia.
Ainda odeio café.
Relaxo.

Indiscutíveis pedaços de pedaços de amor repousam.
Nada vem, nada vai, está mais pro restinho de
Ócio.
Sentido, surrado, sofrido e calado.
Palavras em vão,
Inquietas,
Tranquilas,
Observadas e medidas.

E um novo dia começa.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um Texto Meio Doce.

A decepção
Deu esse friozinho na barriga,
Essa vontade de escrever um romance,
De ir a um restaurante
E comer só um pedaço de torta.

Deu essa saudade doida
Do meu travesseiro velho
Pra enxugar as lágrimas,
E da mãe, pra dizer que passa.

Vontade de infância, de pureza, de colo...
Isso não volta mais.
Há!
Não volta mesmo...

Tóxico.

És o farfalhar de asas do corvo acalorado pelo definhamento da carne. Não és a causa da tragédia, mas também não vens como consolo. Vens para assistir o espetáculo e rir da própria existência. Se alimentar da escuridão que assola as almas mais puras, e deixar os ossos à mostra...
Mas quem seria eu para julgar-te? Se não fosse existência tua, o papel da crueldade caberia a mim; alimentando outros com a mentira melancólica e a veracidade cruel dos fatos mais banais... Criando ideias fictícias, levando à perda de tempo e, consequentemente, ao atraso dessa raça imbecil.
Mas não sou eu.
És tu aqui.
E és tu que comes, respiras e vives a vida de algum outro miserável, dos tantos que não consegui contar e, por esse fato, te darei o julgamento que mereces, meretriz.
Pois não passas de uma víbora, e são teus os olhos hipnotizantes que me impedem de desviar o olhar.
É tua a boca que me paralisa.
É teu o veneno que me apodrece.

Irrelevante.

- O estranho é poder perceber, mas não querer saber... Bizarro é saber, mas fingir que não faz ideia...
Suspeitos são os olhares desviados... E mãos suadas! Ter o coração dando palpites o tempo inteiro...
- Então vem pra cá...
Deixa essas perguntas pra essa coisa misteriosa que é a vida...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Charme.

Eu caminho, Ela caminha,
Nós caminhamos.
Eu me aproximo, Ela se afasta.
Ela vem, Eu fico longe.
Eu vou, Ela vai.
Nós vamos - Brigamos.
Ela chora.
Eu não.
Eu peço perdão.
Ela não.
Eu escrevo, canto, danço,
Ela dança.
Nós dançamos.
Ela sorri.
Nós caminhamos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Loucura!


Uma vez encontrei um amor.
Fomos ao cinema, comemos pipoca e pegamos um taxi até sua casa.
Chegando lá, nos sentamos no sofá da sala.
Vimos outro filme.
Beijei-a, abri suas pernas e comecei a chupa-la.
Voltei a beijar sua boca.
Ela foi pro quarto, chorando.
Perguntei o que tinha de errado, mas ela não disse.
Pensei que ela pudesse estar louca, então olhei em seus olhos e sorri.
Abracei-a e cantei em sussurro.
"Quer namorar comigo?"
Ela aceitou.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fetiche.


Por que, de todas as ideias que eu tenho enquanto o resto dorme, a morte é sempre a mais tentadora?
Acho que é mais um dos meus fetiches, se não o principal.
Por que não me chama para a dança, com um beijo terno e puro ao final?
Talvez deva me buscar em casa, me dizer o quanto estou bonito e me levar pra passear.
Me levar flores secas.
No final, posso te convidar pra entrar e tomar minha última taça de vinho.
Mas não envolva meus amigos ou família nisso de novo, minha querida.
Dessa vez, seremos só eu e você.

Reflexões de Amargura.

Que difícil é, pra ti, saber
Que te amo e, pra mim, não sofrer
Assim, por você não querer
Um velho chato como eu.

Sem sentido é, pra mim, tentar
Descobrir o que te fez voltar
A ter vida tua sem amar
Um velho chato como eu

Quão incrível o crível pode ser?
Afinal, por que não posso escolher
O amor por conta do prazer
De um velho chato como eu?

Não foi a meta principal
Mas faz sentido, afinal
Cometer erro tão banal
Prum velho chato como eu

E sempre foi segunda opção
A moça simples que me tem na mão
Que nunca viu toda a solidão
De um velho chato como eu

Como primeira, não tem lugar
Estou aqui a aguardar
Alguém que possa suportar
Um velho chato como eu.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Porta.

Me pergunto como anda o mundo lá fora.
Todos aqueles carros velhos e sem utilidade, com metade do tanque cheio, corroídos pelo tempo...
E todas aquelas vitrines de lojas, com manequins vestidos para festas ou seminus? todos aqueles aparelhos eletrônicos de última geração, prontos para serem comprados...
E um sol infernal.
Talvez eu devesse abrir a porta...
Não, provavelmente não.
A vida aqui é tão tranquila, interessante... Cheia de segredos, configurações de privacidade, contas múltiplas, falsos perfis, perfis abandonados, esquecidos, roubados... Amigos de diversas partes do planeta, namoradas e amantes de webcam, jogos de simulação da vida real... Quem precisa de outra coisa?
Talvez eu precise.
Quem sabe criar um perfil nessa vida imaginária, uma "identidade"... Ver os restos mortais de uma sociedade que costumava pensar, caminhar na luz do sol enquanto todos permanecem em seus quartos escuros...
Talvez devesse ir lá fora e tirar proveito da solidão.
É... Talvez não.
Mas ainda existe uma pequena voz dentro de mim me dizendo "Abra a porta."
Também consegue ouvi-la?

Todas as Coisas Más.

Até onde sei, não sei de nada, e do pouco que penso saber não me faz servir pra ti. Me diz onde buscou a confiança, e coloca de volta no lugar. Ligue pra minha casa, mas não pro meu celular. Bata a porta, mas não toque a campainha. Chore, mas não sofra... Tudo menos sofrer.
Pelo amor que tens por mim, e por todas as outras coisas más.

domingo, 16 de setembro de 2012

Chá.

Não encontra a solução, espera pelo resultado do problema. É a equação final que vai dar no último fio de esperança, esquecido há anos pela humanidade de merda. Espera! Come um pouco dessa geléia, mistura com essa gororoba aqui e senta. Não tem necessidade de ir agora, a vida é muito longa... Sim, é muito longa! Eu falei aquilo pra eles antes de irem, falei mesmo. Foi assim: "Se vocês querem viver mais, pensem um pouco menos." E o que deu? Merda! Não poderia acabar diferente, né? Ah, ainda bem que você está aqui, ainda temos tempo para mais um pouco de chá.

Teto Preto.

Minha garganta chora o medo do silêncio, e as pontas de meus dedos procuram tua pele. Derrubo as pálpebras e ouço teu choro, corro cego e tropeço na realidade. Não poderia querer, imaginar ou sofrer, a consequência é sempre igual. Minha mão consegue sentir as batidas do relógio da tua esperança, mas sou incapaz de levantar. O amor não sabe, mas a mente já desistiu antes mesmo de começar a andar.
Eu sinto muito.

sábado, 15 de setembro de 2012

Diário (I)

15/10/1999

A ressaca me acorda, e o frio parece vir de dentro da espinha. Olho a hora, ainda não passou de meio dia.
Tento voltar a dormir e não consigo.
A lembrança dos pecados de ontem ainda lateja na minha cabeça.
Levanto da cama, cheiro um restinho do pó branco em cima da bancada e me sinto mais disposto a trabalhar.
Pego uma folha e começo a escrever esse conto.
Ainda não terminei.

P.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Erro de Equação.

Existe um vírus na humanidade.
É algo bem grande e bem significativo, mas ninguém parece notar.
É tudo aquilo que dá errado, que desmotiva, que nos impede de pensar... A razão pela qual seguimos uma massa, que seguiu uma massa anterior, e assim vai. Não evoluindo, mas entrando em um processo de "desevolução". Um ponto em que não há nada a ser feito, senão esperar até voltarmos às árvores.
Parece que não vai demorar muito...

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Teatro.

A apresentação começa, e a tristeza se esconde entre as máscaras do entretenimento. O câncer se espalha enquanto todo mundo bebe, e ninguém percebe que o que fede é você. Dança no ritmo da multidão e separa o certo de tudo que você não quer saber. Come na mão da platéia e sorri com algo entre os dentes.
Bebe, passa mal e coloca tudo pra fora.
O resto aplaude.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Fim da História.

    Então,
 sem
    mais,
        sem
menos,
  sem
    nada,
     Ele
   se
 foi
   pra
 sempre,
  deixando
apenas
  algumas
 lembranças
            e
     uma
escova
   de
    dentes.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Queima Aqui.

Vive do medo, e morre dele também.
Se esconde sob a terra, e tropeça nas suas incertezas, que sempre parecem estar fora do lugar.
Como você convive consigo mesmo?
Come o necessário, exercita-se o necessário, aprende o necessário e vive a necessidade.
Abandona o prazer, e escraviza a liberdade. Mata a solidão com consolos de conhecidos, mas vive tão longe de si que se queima com a luz do sol.
"Ele nunca vai se tornar ninguém." - Disseram.
"Ele já foi alguém, mas a covardia o matou."

Nada Não.

Pega na mão do amor, e dança ao som da desilusão.
Chora em sinal de negação, e o infeliz deixa cair o anel.
A confiança não quer, e a confiança não consegue.
Se acha no mundo que segue, em um barquinho de papel.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Paradoxo.

Tuas bochechas cabem na minha mão, e meu sonho encaixa no teu olhar. Tua história me faz rir, e teu sorriso me faz chorar. Nada do que vem faz parte do que eu tinha, e todo o nada que existia parece significar. Queria não te ver, não te ouvir, não te ler e não te ter. Quero sua existência bem longe de mim, pra não poluí-la com os meus pecados. Quero teu corpo no meu, e estar longe antes disso acontecer, pois não suportarei te desgrudar de mim, ou ficar acordado pra matar a insônia... Beber pra ficar sóbrio e comer para me sentir vazio.
Quero o querer, desejo o desejar, pulo para cima e caio para os lados. Sou maior por dentro do que por fora, menos por dentro do que por completo.
Sou um grão de areia, abraçado pelo sal das lágrimas que escorrem de volta para os meus olhos.
Te espero no passado.

Tente não demorar.

Gira-Gira.

A terra gira, os peixes nadam e tudo permanece em perfeita sintonia.
A vida vive, e a morte morre, a verdade vira mentira e a mentira vira passado.
O amor acaba mal e o ódio acaba bem, o mundo vira de cabeça pra baixo.
E continua a girar.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Macro.

Sou uma caricatura, sou um palhaço, sou um mímico, um crítico, um conjunto das coisas que você menos gosta no mundo, uma frase, um terno, um vestido, um contrato, um minuto de silêncio quebrado por um idiota. Sou o outro lado da moeda, a sombra de todo político corrupto, sou o dinheiro, sou as mãos daqueles que matam, estupram, roubam. Sou um safado, um sem vergonha, um paradoxo, uma metonímia.
Eu sou um pedaço de todos vocês.
E vim a negócios.

Oh, vida...

Eu pensava em virar escritor.
Mas pra ser escritor, teria que passar o tempo inteiro na frente de um computador.
Teria que ignorar meus filhos.
Mas como escritor, eu não teria tempo pra fazer filhos, então eu teria que começar a ignorar as pessoas boas, como o padeiro, o porteiro, a empregada...
Isso me faria um velho chato.
Sendo um velho chato, minha mulher me abandonaria e fugiria com meu filho.
Mas como eu não teria filhos, ela fugiria com o padeiro, com o porteiro ou com a empregada.
E eu teria que escrever sobre morte.
E quando eu estivesse perto da morte, teria que começar a escrever sobre a minha vida.
E aí perceberia que escrevi demais.

Conto Cotidiano.

Era uma vez João, de 35 anos, que nunca tirava férias.

Certa vez, João pegou uma gripe, e teve que ficar de repouso por três dias.

Nesses três dias:
 - João descobriu cada cantinho de sua própria casa.
 - Se apaixonou pela vizinha de cabelos claros.
 - Aprendeu a fazer arroz.

João nunca mais voltou a trabalhar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Puta.

Ela beija como uma puta.
Ela transa e geme como uma.
Aquela vagabunda vai ver só!
Ela age como uma puta, e se veste como se fosse rodar bolsinha!
Maldita meretriz!
Deve estar dando pra outro a essa hora...
Lá está ela, voltando com aquela roupa curta.
Será que ela me viu?
Ela está vindo.
MERDA!
Não dá mais pra fingir que  não a vi e sair andando.
Merda...
Ela sorri como um anjo...

domingo, 26 de agosto de 2012

Uma Tarde.

Hoje comi um bolinho que tinha o cheiro da Maria.
Enquanto mordia, lembrava dos seus cabelos, e do jeito como eles estão agora.
Lembrei do sorriso de hortelã que ela carregava pra lá e pra cá.
Preferia quando você só era feia por dentro, Maria.
Depois da segunda mordida, parei de pensar nas memórias boas.
Comecei a lembrar das brigas.
Depois lembrei dos recentes dentes amarelos sabor cigarro, que não tinham nem três meses.
Talvez se ela tivesse me levado mais a sério, eu não sentisse tanto nojo de mim mesmo.
Terminei de comer o bolinho e dei um gole no café.
O cheiro do café me lembrava a Júlia...

Fica aqui.

Vamos contar moedas,
Colecionar as brilhantes
E passar tardes
Fazendo panquecas queimadas.
Vamos caminhar na praia,
E pisar só no preto.
Vamos colocar
Chocolate na boca
E esperar derreter.
Engolir balas e
Fingir que são comprimidos.
Vamos ficar gripados,
Esquentar uma sopa.
Vamos tomar um chá ruim,
Discutir sobre tudo,
Dormir de tarde.
Vamos adormecer
Enquanto olhamos
Um pro outro
E acordar mais cedo
Com um beijo do sol
Ofuscando a visão,
E contar mais moedas.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O Homem de Sete Vidas.

Ele nasceu,  enjoou do mundo e se matou.

Comeu, comeu, botou tudo pra fora e escreveu um livro.

Amou, se decepcionou e desistiu.

Bebeu, fumou, tossiu e ficou doente.

Casou, fez cinco filhos e enjoou.

Morreu de novo, e não conseguiu mais escrever.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Prólogo.

Muito prazer.
Eu ainda não nasci.
Não sei meu nome
Nem meu endereço.
Não posso te dizer
De onde vim,
Porque nunca vim
De lugar algum.
Não sei diferenciar
O claro do escuro,
Nem o bom do mau.
Tenho minhas ideias,
Ou algo do gênero,
Mas prefiro não dizer
E esperar pra ver.
Do pouco que vivi
Ainda não sei se penso.
E do pouco que acho
Que penso,
Não sei se faço sentido.
Mas deve levar em consideração que:
Eu nunca vi ninguém pensar.
É horrível considerar
Por um breve momento
A possibilidade,
Mas eu tenho
Uma pergunta pra te fazer:
E se eu te dissesse que
Você também não nasceu?

Talvez.

Talvez se o galo parasse de cantar, o sol não mais nascesse no horizonte.
E se o vento não soprasse, talvez as gaivotas nunca tivessem aprendido a voar.
Talvez se o corpo não sangrasse, não saberíamos como é perder.
E sem os filmes ruins de romance, não teríamos aprendido a amar.
Talvez com um pouco mais de prática possamos tentar não errar mais.
Porque talvez - só talvez - se não viesse me fazer cócegas com teus lábios, eu nunca mais sorrisse como sorri.

Puella.

Falei o que não podia,
Comi o que não aguentava,
Usei dinheiro que não tinha
E escrevi sobre o que não devia.

Me aproveitei de quem eu mais amava,
Amei quem eu menos esperava,
Corri atrás, mas já não adiantava
E chorei de dor por tudo que me magoava.

Sorri sem humor por quem não importava,
Ganhei o jogo de quem não ligava,
E agora lembro do que eu não vivia
Por medo de ser o que eu não aguentava.


Medo de admitir o que eu sentia,
Medo de querer o que eu já queria.
Ah... E como queria!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Vivo-Morto-Vivo.

As palavras são como vermes, se alimentando da carne morta por baixo da minha pele. Estou preso no buraco em que guardei todas as minhas mágoas, e matei qualquer um que podia me tirar daqui. Me afoguei em tudo que senti, e aquela por quem sofri nunca me deu nada de volta. Culpado fui eu, cego e bobo.
Abro meus olhos.
Revivo meu orgulho, e levanto dos mortos.
Tudo que vai, volta.

domingo, 19 de agosto de 2012

Canção de Amor.

A memória se desfaz, e o destino se combina. O amor é uma linha fina que se corta em solidão. Caminha, e anda torto, esperando uma satisfação; motivo que Deus tiver pra não querer mais felicidade, e ficar brincando de tirar tudo que dá tranquilidade. Porque vida não é o que dá, que tira e que deixa. É o que move e o que é movido, que conta e que é contado. É o chorinho que fecha toda manifestação artística, poético como uma lembrança antiga.
A batida que ecoa.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Medíocre.

Esse texto não está querendo sair.
Me sento, levanto, me ajeito de novo na cadeira e finalmente deito.
Penso, sonho acordado e durmo.
"Não tente ser o que não é, não busque inspiração onde não existe."
Talvez eu precise de mais uma paixão para reacender as chamas do meu sofrimento.
Porque não dá pra ser triste com tantas pessoas medíocres à minha volta.
Gente como você.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Crepúsculo.

É desesperador atar minhas mãos e aproveitar o teu silêncio. O vazio me corrói, e mais do que um pouco dele me desintegra. Aprendi a não insistir, mas não deixei de esperar coisa alguma que me acalme. O aperto fica maior e a esperança pula do peito. O desespero de não saber é quase pior do que não ter aprendido a sentar ao teu lado, e sussurrar palavras doces que queres ouvir... Ou que não queres, isso pouco me importa! As direi, e te farei sorrir - por bem ou por mal - até o sol raiar. Porque tu és minha insônia, e eu serei teu despertar. Por ti, de ti e pra ti, até o crepúsculo da eternidade.

Pra Nós.

- Vou escrever meus textos foscos, esperar a tarde para ouvir a tua voz e seguir teu olhar com um sorriso bobo.

- Vou te encontrar em pensamento e te desejar até ficar com raiva de mim mesma por isso, num universo paralelo a gente se vê de verdade.

- Num presente bom que ainda não veio, e num passado vazio e cheio! com lembranças e xícaras de café... Ah! Se o tempo ensinasse a vontade a falar, você sentiria meu coração em teu passo trôpego. Não desista ainda, o dia quase amanheceu...

B.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Eternidade.

Nossos olhos se encontrarão, e a batida do teu coração encerrará o silêncio. Tua pele tocará meus calos, e teus lábios me farão sarar. Teus dentes me farão sangrar, e tua ausência me fará tremer. Teu sorriso será parte meu, e meus minutos antes de dormir serão inteiramente seus; Sempre e Para Sempre, até o fim do mundo.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Lembrança Gélida.

Não conseguia pegar o trem e ir. Porque antes de mim mesmo, era dela de quem tentava fugir. Não do indivíduo em si - antes fosse - e sim de sua imagem; A perfeição me perseguia e, com essa, trazia uma velha amiga: A morte. É crível que Deus, em sua ganância, pegue de volta antes do tempo os presentes mais valiosos, e mesmo assim ainda tão cruel...
Não procurava mais um rosto, e sim lembranças. O uso de entorpecentes veio logo depois, principalmente de alucinógenos. Queria qualquer ilusão relacionada a ela, boa ou ruim, pois até as mais terríveis visões que aqueles remédios poderiam me causar não seriam piores do que acordar dos sonhos em que aquela mulher ainda vivia para me amar.
Chegou a hora de embarcar: fechei os olhos e olhei para todas as coisas que deixaria para trás. Não conseguiria correr do fantasma com isso, e - por mais que me doesse admitir - eu já sabia, mas precisava fugir de todo o resto que me envenenava. Porque todo aquele lugar me trazia sua memória mais do que me era necessário - ou saudável.
Entrei no vagão e disse adeus a todas as coisas que já me fizeram bem alguma vez na vida, e jurei a mim mesmo nunca mais retornar. Decidi então que a felicidade não me era mais útil, pois toda vez que ela se escondesse, eu voltaria a passar dias em prantos, pelas prateleiras da biblioteca. Resolvi que só me recordaria dela outra vez no meu leito de morte, para poder passar do prazo antes da melancolia sorrir pra mim.
Nos meus próximos anos de vida, eu percebi que a felicidade também se esquecera de mim.

domingo, 29 de julho de 2012

Perdido.

Não vou descrever aqui minhas dores, desenhar meus amores ou procurar problemas. Não quero me desfazer em lágrimas narrando, ou sorrir lembrando. Quero que tudo não passe de um simples sonho, e talvez eu ainda a queira. Talvez queira um modo de refaze-la, ou um modo de me refazer para que não sinta sua falta... Juntar as peças na minha mente e perceber que é tudo horrível, e correr atrás de coisas bobas e comestíveis só pra variar. Quero correr atrás de mim mesmo, relembrar dos problemas e enfrenta-los de modo menos burro. Quero pensar em algo irracional, mas não quero de jeito nenhum dizer o que vou fazer...
Porque se eu colocar em palavras o que estou sentindo, não estará mais dentro de mim, e tudo perderá o sentido antes mesmo de ganhar algum.
Talvez já tenha perdido...

sexta-feira, 27 de julho de 2012

!!1

Vou fazer das tuas certezas as minhas verdades, tornar as tuas lágrimas as minhas tristezas. Vou caminhar sobre os cacos de nós dois e te provar que eles não doem mais do que andar sem ti, vou aguentar teu "não" forçado e teu "adeus" duvidoso, porque sei que em algum amanhã tu voltas... Aí não te deixo mais sair... Não deixo mais pensar e errar de novo, e te seguro aqui enquanto couber.
E enquanto souber que tua voz não é de raiva, e sim preocupação, e que teu choro não é de pena, e sim de falta, e enquanto souber que teu sorriso não foi de graça, eu não vou sair.
Enquanto souber que teu sorriso é de amor, pequena, eu vou continuar cantando sem tom, e sorrindo sem som, como o bobo que sou perto de ti.
E antes de vires protestar por ter-te corado, te farei perceber que tu não sabes o que é ficar sem graça, porque enquanto existes, enquanto andas e enquanto respiras, quem perde a graça é o resto do mundo.
E enquanto me beijas, o resto do mundo deixa de existir.

Mudou.

Ele limpou as lágrimas, se recompôs e colocou limites. Traçou a linha que o separava do mundo e a ultrapassou. Fugiu do amor, e a melancolia o esqueceu. Colocou um terno, arrumou um emprego e viveu pelo resto da vida completamente infeliz.
Fim.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Mata.

Explode, apodrece, aquieta, fecha os punhos e sangra. Cospe a raiva e pensa, acende o fogo que rasga, limpa o sangue da boca, pega a faca e brinca. Ri e se deita na água escura que sai de dentro, arranca o coração e guarda. "Nada mais justo, meu amor." Sua expressão denuncia a insanidade, que por sua vez acha graça disso tudo. Se vê pleno e sereno, por matar tudo que o deixava inquieto.

Confissão.

Se não for divino prazer, posso apertar a mão do diabo.
Se não me for permitido pensar, tente prender a imaginação.
Enquanto é direito sorrir, vou deixar tudo acontecer.
E nada pode me proibir de não lhe dar satisfação.

Até a tristeza me abraçar e provar que nunca foi bom,
Eu vou cantar a felicidade que está a me cantar,
Viverei do meu crime leve, mas espere, e um dia será,
Pois o mesmo calor que aquece ainda está para me queimar.

Fogo.

A alma que um dia pediu pra fazer agora reclama, e a pena se torna mais essencial do que o ato. O remetente se confunde, e a coragem se desfaz. O silêncio o corrói e ele cai. Desiste de chegar ao seu destino e dá a volta. Tenta crescer uma vez mais para o novo dia, e abraça a solidão em pedido de misericórdia. Quase se esqueceu que sua única e verdadeira companhia foi, é e sempre será a morte. Chorou sem som e gritou sem choro. Tentou limpar a alma e não conseguiu; era tarde demais. Se viu sorrindo ao pensar na outra, e aos poucos a memória da meretriz se consumiu nas chamas de um novo amor.

Fim.

Amar.

Te amar.
Fingir que esqueci de você e aparecer, brotar. Tomar um café sem gosto, rir do passado. Comer um biscoito ruim, acender um cigarro e ver televisão. Dividir um chocolate e sorrir do seu olhar. Enfeitar o presente com piadas que só a gente conhece, morder sua boca até você reclamar, ser alegre de um jeito triste e dividir uma cama pequena... e grande. Tomar chocolate quente com pão de queijo feito só pra gente, brincar de escrever. Brincar de brigar e te ligar dois minutos depois e me desculpar por não saber ficar triste com você. Busca-la em lugares aleatórios e reclamar. Fumar, e parar quando você pedir. Trocar o gosto da sua boca pelo arder da bebida, chorar. Rir, esquecer, lembrar. Te ligar e dizer que eu tô certo, e não te obrigar a acreditar. Te fazer feliz de novo e dormir. Acordar e cobrir suas pernas, te beijar e sorrir. Ver seus pensamentos tristes e te abraçar. Te ver sorrindo também e descansar.
Repetir.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Metamorfose.

O toque se vai e os olhos fecham. Corre pela espinha o frio ao caminhar, e a saudade bate dentro do peito a cada passo dado pra trás. Tenta gritar, mas nada sai. Quer chorar, mas de sua garganta vem um riso cínico, quase real demais. Sua mente salta para fora e se demite, e seu futuro borra o papel. As lágrimas, antes transparentes, são agora vermelhas. Seu jardim se torna uma floresta, sua coluna encurva e agora é capaz de andar com as mãos no chão. As orelhas crescem, o coração seca, a íris perde a cor e os caninos ficam maiores. Vira aquilo que resolveu virar; um animal, que agora vive para comer, dormir e trepar.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Drama.

Enquanto vem a solidão, tosca
A cama faz-se amiga exclusiva
O sono pesa o pensamento feito
Que logo deixa de incomodar

Goteira na mente suja, esgoto
Apodrece o bom e suja mais o podre
Começa em cima e faz fim no chão
Sozinho ele volta a chorar

Come na lama e pensa ser feliz
Enquanto poucos outros bons lamentam
Arreda o facho de lugar legal
Sossega tudo que é questionamento

Fecha a mente pra coisa ruim
Forja a força que jamais teve
Vai além do que jamais foi
E volta sem saber onde esteve

Pouco que se faz muito; errado
Muito que se faz pouco; sagaz
Mas pouco que aceita o lugar que tem
Nada mais é do que a obrigação que faz

Urgente.

As botas batem no chão molhado com força e respingam água no morador de rua do lado. Continua a correr. Passa por uma esquina onde há um acidente de carro, atravessa a rua sem olhar e vira no quarteirão seguinte. Percorre mais um pouco do caminho, ignora o assalto que parece acontecer na sua própria rua, avista o seu prédio e diminui a velocidade até parar. Descansa um pouco enquanto encaixa a chave na fechadura, abre o portão e se põe a subir, desajeitado e apressado, os três andares que o separam de seu objetivo. Já com a chave na mão, chega ao seu destino e abre a porta. Tira o chapéu, as botas, corre para o quarto e liga a TV. Pega o controle e muda de canal.
"Finalmente", pensa ele, enquanto senta e relaxa.
É o último episódio.

domingo, 8 de julho de 2012

A Feira.

Balões, pessoas e carroças, o tumulto continua enquanto se ouve o som de promoções no fundo. A feira se move, mas continua parada, Ergue as tendas e derruba, para novas nascerem ali. Cada passageiro compra, e cada vendedor surpreende. A mágica ali é discreta, mas é forte. Nada de truques, nada de coelhos, só alegria de crianças que entendem o que é; parte do outro mundo que se juntou para festejar. A morte convida todos para dançar, e o gato preto vê tudo sem se exaltar. A verdade por trás daquilo não é algo que Deus criou, mas sim o que ele tentou esquecer que tinha; resquício entre a realidade e a fantasia, que não chega a fazer parte de nenhum dos dois. É vida que segue independente da vida em si.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Moça...

Faço, refaço, desando, acalmo, respiro, arquivo, apresso, arrisco, me molho, me fodo, me esqueço, me drogo, me jogo, me limpo, me encanto, me lembro, caminho, tropeço, rastejo, invisto, navego, afundo, sorrio e choro... Tempo não passa enquanto ela diz, enquanto não volta a ser o que era.  E ainda me grita que só acredita quando vê ação, "palavras não movem o meu coração". Ah! Se o destino falasse o que eu senti, se o ouvido soubesse o que eu disse calado... Talvez duvidasse se tudo que fiz é forma de amor, bem pouco pensado, ou visse que só sou capaz de mudar quando eu percebo que pode acabar. É tarde demais, agora sou velho e me ponho a cantar:
- Oh! Moça bonita... Cadê você com seu caminhar, teu beijo molhado e sorriso pra dar?
Me lembro tão bem de faze-la corar, moça bonita...

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Não Retorno.

Tudo vira cinzas, e a verdade se desfaz. A saudade da certeza aparece, e o que tinha de bom se acaba. O lábio deseja a alma, e a alma deseja o corpo. Corre pelas veias a vontade de voltar, mas o medo de fazer sofrer devora a paixão. Sequer consegue se aquietar perante a sua imagem, e percebe que é ela quem o faz sorrir. Fecha a boca antes de emitir som, pois é tarde demais; a espera já sufocou a chance de não acabar, e a amizade brota daquilo que não está mais lá.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Doutor.

Eu espero que você entenda que eu sei exatamente o que está passando na minha cabeça, e está tudo em ordem.
Não é um tumor, é algo mais vivo, e conversa comigo.
Fala sobre como as coisas dariam certo se fossem de outro jeito, e aponta os erros da vida.
Não é uma voz, doutor. É uma linha de pensamento...
Eu não estou maluco. Você sabe disso, não sabe?
Eu não sou igual ao resto, mas isso não me faz de mim um doente mental.
Foi o que pareceu que você disse...
Quem?
Ah, claro!
Se a amo? É óbvio!
A conheço há pouco tempo, mas eu percebi que ela é a única que me faz feliz.
É, eu sei que ela não existe.
Claro, mas o que posso fazer? Ela é doce, e bonita, e é a única que me dá atenção nesse fim de mundo!
O que?
É claro que gosto das nossas conversas, você é o único que me mantém são.
Sim, eu sei que o senhor também não existe, doutor.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sonhador de Rua.

Era uma noite escura, o frio aquecia a solidão e tumultuava os pensamentos. O chão mantinha a dignidade daqueles que se contentavam em pisa-lo somente. Pegou o fiapo de esperança e usou para conseguir dormir, cobriu-se com a fome. Sonhou com o pouco de alegria que, em sono, tinha no coração; era pedaço exposto da ferida antiga, agora suja de terra e satisfação. Acordou chorando, limpou o rosto e logo se fez calar. Não queria desperdiçar a tristeza que guardava, pois era a única coisa que ainda tinha dentro de si toda manhã.

Deus de Si.

Sente um coração surtando, saltando, implorando perdão e lutando contra si mesmo. Sua respiração se torna ofegante enquanto ele percebe que não pode controlar tudo. Logo Ele! Deus de si mesmo e de tudo ao seu redor...
Sente o álcool queimar sua alma, mas nada acaba. Corre a lâmina no próximo corpo, mas não se aquieta. Fecha os olhos e respira, olha para o mundo e percebe sua insignificância. Mede a calma e estica o tempo que aguentaria sem as curvas dela. Comete o pecado de lembrar, e se pune duas vezes.
Sai do necrotério e vai pro bar, foi um dia duro... Nem tudo pode ser medido em vivo e morto. Tem coisas que ficam no meio termo, coisas como ele.  Bebe um gole do fogo e sente seu coração parando. Sorri sem humor, e tudo volta ao lugar de sempre.

Nostalgia.

E quando você acha que nunca vai acabar, ela se vai. A dor se põe do mesmo jeito que nasceu: sem hora e sem aviso. As cores voltam ao seu lugar e o vazio volta a ser preenchido por tudo aquilo que se escondeu perante o sofrimento. Mas até a ausência de um nada deixa um não-preenchido dentro de você. A ausência da dor que te ligava ao passado, aquilo que mantinha deu coração batendo para todo ontem que havia existido, e então, sem mais nem menos, outro triste surge. Surge a nostalgia, que consome o amanhã esperando que de suas cinzas ressurja o ontem.

Estar.

Sinto uma inquietação quase o tempo inteiro, sinto um aperto no peito quando não estou fazendo algo que me distraia. Não consigo mais pensar direito, não consigo mais sentir do mesmo jeito que sentia. Estou cheio de tantos problemas, estou cheio da vida. Sinto esse desejo de sumir, um mal estar só de... respirar. Um mal estar só por estar vivo mais um dia nesse lugar.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Poema Fétido.

Não importa quantos gritos você dê,
Quantas ameaças você faça.
Não importa quantos problemas você tem,
Quantas contas você paga.
Não ligo pra todas as suas palavras
Quando tenta me fazer pena,
Você sempre será pra mim
O mais inútil dos humanos,
Se é que posso classificá-lo como um.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Erro.

Era a hora errada e a pessoa errada, o dia errado e os sapatos errados.
As flores erradas e o cartão errado.
A boca tremia, errando cada palavra; conjugação errada e verbo errado.
Errei seus olhos e errei o coração, errei o jeito e o sujeito.
Caminhei de volta pelo caminho errado e errei o que fazer de novo porque voltei.
Voltei pro lugar errado de onde tinha saído, corri errado e tropecei.
Me sujei de lama e chorei por todas as coisas certas terem dado errado.
Peguei o ônibus errado e fui parar na cidade certa.
Andei pela calçada certa e esbarrei com a pessoa certa.
Consegui falar certo o que queria dizer, e acertei o nome que me fez sorrir.
Era a hora certa e nada podia mudar o que eu sentia.
Era o sentimento certo e durou o tempo certo pra eu perceber que não existe certo ou errado;
É tudo uma questão de momento.
Foi aí que eu parei de errar.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Realidade, Sua.

Queria ter acordado pro mundo, fechado os olhos, sonhado contigo.
O silêncio já não me abraça mais.
As lágrimas ficam mais pesadas a cada passo, e ouço o grito da solidão.
Na minha mão sobrou um espaço, onde ficava a sua.
Não sei mais diferenciar o medo da irritação.
O resto chegou ao fim.

Solidão.

Não quero um sabor amargo, sangue coagulado e corpo danificado. Não quero a morte feita e esperada, o azedo da traição e o mal-estar da palavra triste. Não quero a educação de merda, nem quero a manutenção do que é ruim. Não quero a falsa esperança de que tudo se transforma, nem a mais bem feita mentira. Eu quero a solidão: simples, insegura, sofrida e sincera.

A Dança.

E então ele encontra o que procurava.
Olha pra um lado, olha pro outro, ninguém por perto.
Pega de volta sua força de vontade e sai.
Respira, sente, sorri.
Se vê livre de si mesmo, que agora descansa em paz.
Fecha os olhos, para de reclamar da música e dança.
Vive.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ele

Ele supõe o bom, acorda de manhã triste por não saber, come a monotonia e se deixa não sofrer. Pega o ônibus para a solidão e volta três dias depois. Ele ri das canções infantis, joga pedra no mar sujo e tira foto fazendo careta. Manda o sujeito da padaria pra merda e sempre leva uma coisinha ou outra sem pagar. Finge que não inventa tudo que acha que é, e não admite que sorri por ajudar. É egoísta pelo silencio, e deixa que pensem o que for. Requer atenção de muitos, mas de uma só já tava bom. Sofre por não amar quem devia, e acha que ninguém merece o que ele dá em troca de carinho. Fecha o coração e diz que acha chato, mas é curioso e quer saber. Quer servir de apoio, mas não só isso: quer apoiar. Quer rimar e ser sincero, quer falar que não é ele de quem diz, e quer tirar um pouco de si pra ser lembrado. Quer fotografar a paisagem e compartilhar com alguém. Quer ouvir os pássaros cantarem e acordar pra vida que tem em vez de ficar escrevendo o que mal entende e se entristecer por quem mal conhece. Quem mal sabe de onde ele vem.

Leve...

Hoje eu arranquei mais uma vez a esperança que nascia no meu jardim.
Eu cortei as pontas dos sonhos, que estavam ficando rebeldes.
Lavei todo o passado, que já estava muito sujo de tantas mágoas.
Acabei borrando meu presente, e agora eu não sei mais de que cor ele está.
Antes fosse só mais um sonho...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Faz.

Abre o teu sorriso, que me mata de amor. Bebe esse frio, e me mata de calor. Esquenta-me em vez de me queimar. Vou estar bem longe de qualquer que for teu lar. Esquece o que for te fazer mal, e não perdoa o que já te fez chorar. Martiriza o presente que te deixa desejar, e abandona o futuro que não conseguir te abandonar.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Chão.

Deitei no chão e chorei.
Ri por ter chorado, e comecei a chorar novamente.
Lembrei de ti e falei sozinho, enlouqueci.
Conversei com Napoleão e dormi.
Acordei e não consegui adormecer de novo.
Levantei.
Caí da escada e voltei a cair.
Senti ciúme e tentei morrer.
Falhei.
Comi chocolate e me fiz rir.
Bebi a calma que me fez arder.
Tropecei nos passos que resolvi fazer.
Deitei no chão e consegui tentar.
Tentei, e enfim eu parei de chorar.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Teu.

As cinzas se põem em um pedaço do teu espelho. O chão é coberto pela tristeza queimada que compõe o quarto, e suas lágrimas caem negras na palma da mão vermelha. Seu sorriso tenta se manter escondido no subconsciente enquanto a escuridão devora tudo que restou de bom na sua cabeça, mas a sombra o encontra. Devora a calma com seus olhos, finge a morte. Esbarra olhares com a tua foto, e volta ao trabalho de permanecer parado. Limpa o rosto, fecha a cara. Lava a alma e tranca a porta. Nada entra e nada sai, mas tudo que permanece se desfaz em tempo perdido e poeira. Vasculha o cômodo e junta os pedaços. Se deixa precisar, por uma última vez, da boca que o fez querer, mas o impediu de falar. Aquela que se fez sua, e o culpou por a desejar.

Humano.

Folheio as páginas de um livro tentando encontrar respostas para perguntas que ainda nem fiz. Vasculho os destroços do que sobrou das minhas lembranças para saber onde tudo começou, mas só encontro uma imagem distorcida de quem eles queriam que eu fosse. Meus desenhos dizem muito de mim, e pouco. Não entendo o que as letras querem dizer, e esse vazio de dentro parecia amigável antes de me transformar. Minha pele está perdendo a cor aos poucos, e as palmas de minhas mãos estão descascando. Talvez ser mais "humano" seja só uma fase. Eu consigo sentir meu coração bater e o enjôo que tenho por sorrir. Fico inquieto, andando de um lado para o outro em meu quarto tentando pensar no que é isso, mas sua imagem me vem a cabeça a cada dois minutos. Eu desvio o pensamento para os cantos em que você ainda não alcançou, mas você chega mais rápido cada vez que tento te afastar. De que adianta? Vou acabar como um desses homens pobres e loucos que sempre vejo pelas ruas: Arrumado, comprometido, atrasado e ocupado demais pra pensar nisso.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Parado.

Parei pra pensar em todo o tempo que passamos passeando por aí, pisando de um lado pro outro e sacando dinheiro em bancos. Pagando contas de coisas e não precisando de nada delas, para no final das contas ficarmos devendo o que não temos, para alguém que não conhecemos e nem ligamos de conhecer. Fugimos do sono e ficamos sonolentos o resto do dia, e à noite pensamos em ideias brilhantes que de manhã perdem o brilho que tem... São como estrelas no céu estrelado sem sol. O Sol: só um brilho menor está perto demais de tudo que nos convém. Sentada sozinha, a vida se joga, perdendo a calma. Perdendo a vida que tem nela mesma ao ler o que pensa ser mais um futuro; traçado, correto, contado, esperado, fugindo da responsabilidade de ser completamente irresponsável.

sábado, 9 de junho de 2012

Acidente.

Fitei meus olhos em sua essência, e vi o que não devia. Fechei as portas e caminhei pelo corredor da vida. Fingi acontecer, e mentiram ao acreditar. Sorri da boca pra fora, e o destino me embebedou. O pânico assoprou em meu ouvido e me mudou por dentro. Adivinhei o resultado e acidentei-me, fechando a porta da felicidade. Fugi da realidade, e a realidade se esqueceu de mim. Dormi e acordei, mas nada voltou ao lugar.

Desperdiçado.

A insanidade me deixa, e o normal se faz do impressionante. Caminho pela minha cabeça em círculos e me alimento da alma que ainda me restou. Tudo está acabando e o enjôo toma conta do meu estômago. Vomito a hipocrisia enquanto a ironia ri da minha cara. Marco a pele com o passado, e não me deixo abandonar a esperança de que tudo cai, tudo morre. Reescrevo a história e moldo a felicidade como posso. Trabalho em um estranho conforto de vida, e os objetivos se esfaqueiam, caindo um a um dentro da minha consciência. Imaculado o coração, nasce um câncer, que se espalha até apodrecer todo o resto da poesia.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Naufrágio.

Velejo nas mais inóspitas terras para encontrar o pensamento que me trouxe até você. Procuro a noite para avistar seus olhos, e sua imagem vem até mim na neblina. O navio é velho, um daqueles que já passaram por muita coisa e nunca afundaram. A tripulação, mais experiente ainda, e diante da miragem não se deixa abalar. Continuo navegando em direção ao desconhecido, esperando que o enorme buraco negro a minha frente me engula. Mas antes de perceber, sou jogado para uma outra linha de pensamento, e mergulho em seu sorriso. Tão bonito, esse, que marinheiros tão eficazes ficaram estupefatos. E o navio, velho e ancorado na dor, finalmente aceita o mar como seu único e verdadeiro amigo, e o amor como o causador de seu naufrágio.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sufocar.

Trocar o vício de cigarros pelo vício de pirulitos.
Trocar o vício de pirulitos pelo vício da solidão.
Tomar café à tarde.
Escrever textos em dias de chuva e deitar na cama.
Dormir ao som da inquietude.
Desenhar ao suspiro do silêncio.
Comemorar mais um objetivo destruído, matar a calma.
Correr e permanecer no mesmo lugar.
Sair da normalidade para entrar na monotonia.
Cair em tentação.
Cantar a canção da inutilidade,
Apagar as ideias tolas.
Sorrir ao perceber que ainda sente,
Chorar ao perceber que de nada adianta.
Continuar fugindo da realidade,
Resgatar o que nunca foi essencial.
Tirar teu coração do ócio,
Morrer com a verdade letal.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Saudade.

Quis viver pra ver no que que dá, quis pular e não voltar mais pro chão. Quis nadar em chocolate, me rebelar contra a realidade e comer pipoca doce todo dia. Quis olhar as estrelas e perceber que tenho muito a explorar, mas o sono me abraçou até o céu parar de piscar. Quis roubar pensamentos soltos e fazer uma máquina capaz de entender tudo que se passa, e me dar uma resposta para tudo que ainda virá. Quis perguntas idiotas e quis justificativas enigmáticas. Eu pedi o mistério, mas o óbvio se convidou pra festa. Comi arroz, feijão e cresci. Hoje quero querer o que já quis, e afugentar a rotina, que me tira dessa vontade de passado.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Casca.

Em versos mudos, escrevo minhas últimas palavras.
Corto a corda que me impede de cair no abismo, e suspiro o medo de algo novo.
Meus pés já não sentem mais o chão, e o vento frio acaricia minhas lágrimas.
Minha mente não se encontra mais lá, pois eu sonhei. Eu dormi acordado, e acordei dormindo.
Minhas asas se abrem e o céu me convida para entrar.
Me livro dessa casca e me enterro na eternidade.

O Último.

Não importa o quanto você peça, nada vai mudar.
Ando sem ter direção, só ando para frente, em uma calçada cheia de gente que tropeça em mim e não liga. Meu cigarro vem acompanhado da vontade de continuar, e chegar no meu destino antes que ele acabe parece vital. Passo por pessoas da minha idade, mas não sinto que nenhuma delas pertence a mim, e que eu não pertenço a nenhuma delas. Eu sou um velho de quase setenta anos; infantil, impaciente, inseguro e extremamente irritado com coisas sem importância. Quero parar a cada cinco minutos para descansar, mas se fizer isso o cigarro acaba. É o último.
Atravesso a rua, falta só meio quarteirão.
Continuo andando e perco o caminho. O cigarro chega ao fim.
Pego um maço no meu bolso, acendo outro e começo a andar.
Espero o sinal fechar e atravesso a rua, andando pela calçada sem direção.
Continuo a fumar e me perco nos meus pensamentos.
Espero que não acabe antes de chegar ao meu destino.
É o último cigarro.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Algo.

O amor já me cansou, e a religião já me entediou. A idade me entristeceu, e a morte ainda não veio. Talvez algo me acerte em cheio antes mesmo que eu perceba. Talvez um sentido me apareça antes mesmo de procurar. Não preciso de um sentido. Não preciso de um conforto, não preciso de solução. Eu preciso de uma nova ideia, que me ajude a ter os pés no chão. Eu quero algo a mais da vida, quero um novo caminho, quero uma nova ilusão. Não quero mais inventar, eu quero existir. Quero algo que me deixe sem ar pra depois me devolver todo o ar que me tomou todo esse tempo. Quero algo pra me livrar do vazio, e substitui-lo com uma cor. Quero a cor da felicidade, que ainda não apareceu no meu desenho.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Doce.

Pequei, Padre.
Ela estava sozinha, andando rápido com medo da noite. Eu fui a noite que ela temeu, vagando entre as sombras até o momento.
Ela não percebeu a minha presença a tempo, pobre garota. Andava de vestido pela rua, talvez voltando de uma comemoração. Talvez não tivesse dinheiro para voltar de outro jeito, pois andou mais de três quarteirões de salto sem reclamar ou parar para descansar. Seria melhor se tivesse parado.
Com minha mão direita, calei-a antes que pudesse gritar por socorro. Com a esquerda, segurava a faca que lhe mostraria a verdade sobre quem eu sou. Despi seu olhar, que me olhava com desgosto. Joguei seu corpo no muro e olhei suas bochechas, que ficavam mais rosadas quando começava a chorar. Eu não pude sentir, não pude parar.
Talvez essa fosse uma boa hora para perguntar por que ela se foi, mas eu não quis. A faca indagou sobre o sentido de tudo aquilo antes de chegar ao seu coração. Seus olhos não eram de medo e suas mãos não tremiam. Ela queria que algo acontecesse, então não aconteceu.
Continuei andando pela rua até o quarteirão de sua casa. Me apresentei como alguém velho e tudo mudou. Ela faleceu naquele dia, mas continua andando por aí. Nunca foi a pessoa que pensou que fosse, e eu nunca fui a pessoa que quis ser. Fui forte o suficiente para levantar e ser mais do que uma sombra; eu fui a escuridão em si, e daquele momento em diante a escuridão passou a me temer. Limpei a faca na barra de seu vestido, que já se encontrava sujo. Pobre garota, poderia ter sido alguém.
Corri em direção à praia, pois estava atrasado para a festa. Bebi, comi e gozei, voltei pra casa e dormi.
Sonhei que tinha acabado, mas não acordei decepcionado.
Ainda temos muito o que viver, eu e você.
Doce lâmina, alegre e prestativa.

domingo, 27 de maio de 2012

12 Horas.

Acordo meio desnorteado, sem saber pra onde fui e pra quem voltei. Para quando eu falei, e como eu disse que seria. Acordo sem saber ao menos com o que estou, ou quem me deixou assim. O papel da noite passada é como uma luz ofuscante vindo do passado em direção ao presente. É como se eu estivesse na linha do trem, e este se encontrasse pronto para acabar com a história. Talvez já tenha acabado, mas olhei para a luz o suficiente para não perceber. Talvez tenha sido suficiente o tombo para aquilo que não desejei, talvez não haja volta. Me perdoe, eu não queria. Talvez quisesse. O meu erro foi não querer, ou querer demais. Me queimar e continuar querendo. Você dói. De onde cheguei? Sinto por não sentir menos do que eu deveria. Me disseram apenas que eu poderia ser qualquer coisa, então virei uma coisa qualquer. Sou apenas mais uma ilusão idiota.

sábado, 26 de maio de 2012

Vida.

Uma teia de laços afetivos com o amor sistematizado entrelaçado ao ódio que corrompe cada um conforme os segundos se passam e nada é como lhes é ensinado, a morte se torna cada vez mais presente e todo aquele que duvidou de sua existência passa a se curvar perante o tempo, que se passa rápido demais. A repetição consome o homem, e o homem consome tudo que vê, enquanto a máquina não ocupou seu lugar nessa última tarefa. A industrialização se torna uma reindustrialização, que se torna o não-fazer de qualquer coisa imaginável. O ócio corrompe as idéias, que se concentram em maneiras diferentes de não se fazer o que aquele alguém sempre fez. A insanidade é tamanha que ao fim, todos estarão se alimentando sentados vendo programas estúpidos enquanto o mundo se movimenta sozinho, e a vida ganha engrenagens, que só morrem ao sinal do botão de desligar.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Não Sou Eu.

Sonhei que estava contigo, e estive. A noite devorou a saudade e trouxe a calma. O dia trouxe o medo de não poder mais te ver, alimentado pela luz do sol que invadia meu quarto. Seu corpo, conforme abria os olhos, se transformou no travesseiro, que segurava firme comigo como se fossem tentar arranca-lo de meus braços a qualquer segundo. Meu sorriso se transformou em seriedade, conforme o choque fazia efeito. Você não estava lá. Você já esteve, mas está em outro lugar. Em outro lugar, com outro alguém, acordando decepcionada por não estar ao lado de outra pessoa, que não sou eu.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Sofá.

O dia estava com cheiro de cama vazia, roupa amarrotada e chocolate quente.
A chuva não parava de cair do lado de fora e do lado de dentro o silêncio tomava conta do lugar.
A depressão, ausente, descansava em algum outro cômodo não visitado da casa antiga.
Sua pele estava mais cinza do que de costume e sua barba estava por fazer.
Nenhuma lágrima foi derramada em vão.
Permaneceu no sofá
e de lá saiu.
Andou pro lado de fora, mas no sofá permaneceu.
Pegou o carro e foi dar uma volta, não tinha muito o que fazer.
Chegou a um restaurante e sentou-se. Pediu a comida mais cara de lá.
Não estava preocupado com o preço, nada mais lhe interessava, ele só queria saber do sabor.
O prato chegou e o gosto era esplêndido. Terminou de saborear a janta e voltou para casa.
Cansado, se deitou na cama e pegou o telefone.
De repente, se lembrou do que estava tentando ignorar a tarde inteira e colocou o telefone de lado.
Ela não iria atender.
Levantou da cama, que agora parecia grande demais para uma pessoa só.
Procurou algo na televisão que não o lembrasse do presente, mas o próprio presente fazia isso sozinho.
Desligou a TV, pegou um cigarro. Foi para o lado de fora e observou a chuva.
Ela odiaria vê-lo fumando.
Esperou o cigarro acabar e voltou para dentro.
Procurou as chaves do carro, estava se contendo para não murchar.
Encontrou-as e saiu de casa. Dirigiu até uma estrada de barro e acelerou só depois de ter certeza de que não havia ninguém por perto.
Virou a primeira curva, virou a segunda. Na terceira continuou reto e caiu.
Caiu e continuou caindo.
Fechou os olhos e o tempo parou.
Os momentos mais marcantes de sua vida se passaram diante de seus olhos, até que ela chegou.
Com as lágrimas caindo, sorriu.
Viu seu rosto por uma última vez e caiu.
Mas no sofá permaneceu.

domingo, 6 de maio de 2012

Cansaço.

Estou cansado de não ter voz, estou cansado de não ter mais vez. Estou cansado de não ter mais solução, e cansado de pagar para ver que nada vai acontecer... De novo. Estou cansado das ruas cobertas por gente suja, suja de merda, de cocaína. Estou cansado de ver o amor sendo comercializado como o resto das idéias sem sentido que surgiram de pessoas sem criatividade. Estou cansado do ódio que sinto por não sentir o ódio necessário para fazer algo a respeito. Estou cansado de músicas ruins e de classificar pessoas pelo tipo de roupa que usam. Estou cansado de ser classificado como igual ou como diferente, cansado de ser ridicularizado. Estou cansado de ridicularizar a vida e foder com ela em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Estou cansado de me conter com a norma culta da língua e de escrever redações que não representam nada do que penso. Estou cansado de receber notas de quem eu não conheço, e estou cansado de ser melhor ou pior de quem eu não conheço. Estou cansado de não poder dizer o que sinto por não saber o que sinto, e estou cansado de críticas pelas costas. Estou cansado de críticas no papel, na tela. Estou cansado de tanto estar cansado, mas dormirei. Dormirei, pois amanhã é um novo dia para a decepção de sempre.

Inverno.

Perdi a calma que me abatia, e perdi a vida que me entristecia. Acabei com meus semelhantes, e matei toda a consciência. Roubei a felicidade de outros que não tinham tanto dela a oferecer. Usei a máscara de personagens que tanto me fizeram amadurecer. Fingi para meu coração bater, e fingi que conseguiria fingir, mas nada me restou além do sorriso falso, que tanto lutei para manter. Gargalhei de piadas fúteis para a profundidade não me atingir. Corri do Diabo, e a mão do Diabo me tornei. Estendida, ofereço o mesmo que tive, esperando que minha solidão se acabe ao ter um monstro semelhante a mim. Larguei aqueles que me prendiam ao que era bom desse mundo, e percebi que de bom nunca ele teve nada. Vivi no ócio, que me corroeu até me deixar pálido como a morte. Bati na porta da escuridão, que me convidou para entrar como uma velha amiga. Encontrei abrigo, e deixei-a preencher meu ser. Minhas mãos trêmulas aos poucos tomaram coragem para abrir a porta e deixar mais alguém entrar. Era tarde demais, e aqueles que se faziam presentes não estavam mais lá para me confortar. A porta se fechou, e daquele inverno se fez meu lar.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Interior.

Seus olhos azuis aos poucos se escureceram, e a maldade não se conteve dentro dele. Seu andar ficou cada vez mais sombrio, seu olhar, cada vez mais frio. Sua voz não tinha o som melódico de antes, era agora rouca. Seus ouvidos foram parando de funcionar, de tanto que ouviu o que não devia. Dentro dele cresceu um monstro. Um monstro que quebrou o coração de outros por inveja, por não ter onde apoiar suas dores. Apodreceu a alma, corroeu a consciência. Tudo por dentro parecia um pântano. Olhou-se no espelho, e seu reflexo se fechou. A vida o deixou ainda jovem, e morte não o acompanha como fazia antes. É a ausência de tudo que o deixou assim: vazio. Sozinho, morreu como todo homem de fé: desafiou a si mesmo, e sua existência o destruiu.

domingo, 29 de abril de 2012

Ainda Mais Sozinho.

Só um qualquer pode entender que o que eu sinto por você não passa de um nada misturado ao acaso. E aos poucos quando vir, os pedaços vão se unir, formando a desculpa perfeita que me deixa livre da liberdade. Parto em busca da busca que me fez partir. Sento na cadeira que se fez, esperando algum motivo, e piso no amor que me deixaram, esperando uma recompensa. Ninguém existe mais.

sábado, 28 de abril de 2012

Sorriu.

Abriu a mão, e dela sairam todas as possibilidades.
Jogou o passado na lixeira, recolheu suas memórias e guardou no armário sujo.
Chutou para o canto todas as poesias de sua cabeça, encontrou uma gaveta vazia e lá colocou seu coração.
Abriu a porta e deixou aberta. Saiu.
Começou a andar e sorriu.
Correu, pulou, caiu, jogou, perdeu e ganhou.
Viveu.
Faleceu no dia 2 de setembro de 1994, mas seu coração continua batendo naquela gaveta.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Andarilho.

Ele tropeçou, e com a mochila foi a memória pra longe. O chão passou por cima de sua cabeça fútil e de lá brotou um pensamento.
Meio tonto, o insignificante se levantou e ajeitou sua postura e continuou a andar.
Chegou em casa e dormiu, comeu e arrumou a cama.
Olhou.
Matou-se, pois viu que dali nada mais prestava.

Mais Um Rosto.

Mais um rosto desconhecido que se vai, esperando pelo juízo final. Um piscar de olhos acontece e tudo acaba. Aquilo que mantinha a lágrima presa nos olhos dos familiares e amigos é destruído pela notícia. Marca-se o enterro para o dia seguinte, tudo acontece rápido demais. Talvez ela esperasse que outra pessoa escrevesse esse texto e não eu. Não, com certeza não esse alguém tão frio e distante, que passa a maior parte do tempo longe do mundo real. Era importante pra mim. Poderia ter sido melhor, mais longo. A morte poderia ter reconhecido o quanto ela valia e a deixado mais um pouco. A tristeza vem e vai, como o frio. Não é algo que possa ser descrito em palavras, embora tenha feito isso aqui muitas vezes. Talvez seja a ausência de palavras para descrever algo tão profundo que a defina. Espero o tempo passar sem olhar o relógio. Francamente, estou cansado de olhar o relógio. Estou cansado da mesma ausência de tudo que me aquece, e ao mesmo tempo a presença de tudo que tenta me destruir. Eu quero que tudo acabe, mas o fim já chegou e foi embora e eu ainda não percebi.
Sentirei sua falta.

Momento.

De todos os lugares que queria estar e de todas as pessoas que disse que queria que estivessem na minha presença, você é a que chega mais perto das inúmeras definições de saudade que já escrevi.
E a falta é o que eu tento manter, por medo de que sem ela nada mais sobre além de uma infinidade de assuntos sobre tudo que não volta mais.
A flecha atravessa o ar e fura a pele até chegar o coração. A história se repete com diferentes personagens, que se vêem em um estranho e doentio jogo envolvendo lágrimas, chocolates, roupas íntimas e uma tristeza no fim da tarde de domingos chuvosos.
Se o motivo da sua dor for alguém, esse alguém é muito idiota. Se for alguma coisa, ela não tem tanta importância assim.
Não se deixe levar pelo momento se esse momento não for só seu.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A Palavra.

O pior é perceber que a raiva que sinto vem dos meus atos, e ver que a vida sempre volta a nascer em mim independentemente da minha vontade. Seus olhos me cercam como se vigiassem meu coração para que continue batendo, e meus pensamentos se vêem andando por conta própria a partir do momento em que recuso pronunciar a palavra "amor".

domingo, 15 de abril de 2012

Futuro do Pretérito.

Se o tempo permitir, eterno será.
Se a vida for generosa, perto do início estamos nessa roda gigante.
E se a morte trapacear, daremos nosso próprio jeito.

Cada vez que respirar, estarei te esperando.
Cada tempo que passar será um pequeno segredo.
E enquanto os outros estiverem olhando, seremos só mais duas pessoas.

Coração descansa em paz, alfinetado.
Perde-se em vão a graça, mas é contada como se ainda existisse.
E se ainda vivesse, sorriria.

Foi-se a correção do que não era bom, e não ruim.
Enquanto o resto chorava, a gente ria.
A preocupação nunca foi nossa melhor arma contra o mundo.

Bateu-se o vento, e nada mais estava lá.
A casa se fechou, vazia, e mais tarde o pequeno choro se calaria,
Esperando ouvir o som de mais um amanhã.

sábado, 7 de abril de 2012

Bla Bla Bla

Quero fechar os olhos e desaparecer, abri-los e ser um outro alguém.
Quero que o tempo passe, mas que passe a meu favor. Quero viver a vida em dias.
Sexo e violência é o que esse mundo precisa.
Que a ditadura volte a existir aqui, e que o sofrimento seja sua maior arma.
Álcool para todos, envenenem as bebidas.
Nada mais faz sentido.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Na Sombra dos Ventos.

O hoje é a sombra do amanhã. Uma vida é a escolha da anterior. A morte, a consequência.
Corre por onde os ventos não sopraram, eu não sairei daqui.
Então me enterra nos seus pensamentos, me mata, pois se for para acontecer, que pelas suas mãos aconteça. Eu quero isso.
Eu te amo, mas não  leve em consideração.
Sou vulnerável a ilusões.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Fim do Mundo.

A boca treme, as palavras traem. Coração salta e se insinua, esperando que o corpo reaja da forma mais natural possível: com a loucura. As pupilas dilatam, o vento bate no rosto, tudo fica mais claro. Um beijo. A simplicidade de dois corpos se tocando pelos lábios. O tempo para e os olhos fecham. O mundo acaba.

De novo.

Falta.

E sem você tudo aqui é solidão. A luz do sol queima em vez de aquecer, e o álcool parece ser a única solução. De seu sorriso, não me lembro mais. De sua rouca garganta, saiu a voz que me deu a certeza de que não havia nada mais a ser dito, porém muito...

A fala a faltava, a morte a fitava como se a chamasse para dançar. Chamou. O fechar dos olhos tristes aconteceu antes do esperado.
Seu corpo, pálido, não demonstrava alteração. Sabia que era a última vez, então não havia surpresa. Todo o final já tinha sido contado a ela antes que fosse terminada a história. "Não há chance", ele disse. Alma desabou do corpo. Suas pernas andaram enquanto a essência permaneceu ali parada, chorando, deitada no chão em forma de súplica. Súplica para que fosse um sonho, para que houvesse forma alguma de voltar ao início, para que houvesse alguém ouvindo seus lamentos, gritados sem som. Cuspia em vão palavras ao nada, fingia que não havia acontecido. Bebeu, fumou. Esperava que acabasse, não se importava. O sentido o havia perdido, e a felicidade se despediu antes que notassem sua presença.
O luto cobriu as ruas, as pessoas não repararam. "Luzes demais para perceberem os detalhes". Ele sabia. Ele beijou a face da melancolia. Abraçou seus próprios medos, e seus medos se tornou. Viveu o que podia na hora errada. Desistiu do que valia a pena, caiu. Caiu por medo de cair. Segurou a rosa que foi repousada sobre o nada que restou. De seus olhos, uma única lágrima caiu. Escorreu pelo rosto, foi parar na terra, e daquele lugar não nasceu mais vida.
Apagou-a antes do fim. Fugiu de seu próprio ser, e se separou. Dois de um se formaram: Um deles, amargurado, concluiu-se com as pílulas. O que sobrou foi o resto: Tudo que o primeiro não queria carregar para sua pós-morte. Ele cresceu, e fugiu da memória. Se tornou a criança adulta que nunca desejou não ser. Chorava, mas aquietava-se ao sentir alguém por perto. Não se abriu, com medo de que, quando revelado, viesse o pior de si mesmo. Não havia pior. Não havia si mesmo. O que sobrou foi o esqueleto, deixado no passado. Sentiu falta de sua alma, sentiu falta do calor. Apertou-se o peito, mas nada podia ser feito. Na memória do que se tornou, os passos foram apagados. Tentou voltar, não conseguiu. Insistiu, e chegou ao início. Nada mais havia, e então o rascunho se pôs a esperar. Esperar pelo fim, que escolheu deixa-lo por último.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Espelhos.

A moça se arrasta no chão, andando,
Corre nas veias o veneno do escorpião.
Do telhado, grita pro mundo:
"Enquanto podem, vivam o pecado"

Pulam os ratos, fazem a festa.
Não haviam lá os escritores, pacatos,
Prontos para mais uma história de terror
Não vivenciado, insensato.

E a cor da mão do pecador, feliz,
Continua sendo a mesma daquele
Que não está lá, seria ele?
O responsável pelo pior dos erros?

Aquele que morre gritando, viveu.
Calado, não soube se expressar,
E em um som estridente, calou-se.
E a poesia fez-se do fim.

E o espelho quebra sem medir
Mechas do que foram um todo, agora.
Pedaços de um só inteiro partido,
Várias versões de um só eu fingido.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Sem Cor.

Talvez não exista mais esperança.
Será verdade? Onde está o padre?
Doze badaladas para mais uma oração.
Não acaba a hipocrisia, ela só cresce.
Ela é como um poema, um poema sem rima.
Sem rima e sem cor.

terça-feira, 27 de março de 2012

Só Mais Cinco Minutos.

Fechei os olhos, e de repente minha imaginação se tornou a realidade.
Não sabia diferenciar o real do imaginário, mas aquela que deveria estar lá, não estava.
Eu chorei.
As vozes riram.
E continuaram rindo, depois desapareceram.
Aquele medicamento que tomei não me fez muito bem.
Acordo.
Estou deitado na cama, e apenas cinco minutos se passaram.
Quanto tempo vai durar essa noite insuportável?
Encontro meu celular, coloco uma música calma para tocar.
Ela está diferente.
Perdi o negro dos meus olhos, a escuridão.
Onde está a minha?
Por que não posso fechar os olhos e ver o absoluto nada?
Está tudo acabado.
Talvez não seja mesmo o monstro de antes, talvez tudo tenha mudado.
Eu duvido.
As vozes também.
Aparecem mais vozes, e dessa vez desconhecidas.
Fico com medo e pego minha faca.
Não teria coragem de matar alguém de novo, teria?
Eu mudei, e estou feliz assim.
Sinto a ponta de uma navalha nas minhas costas, viro para atacar seja lá quem for.
Não tem mais ninguém nesse quarto.
Sou só eu e minhas lembranças.
Ou são só elas sem mim finalmente.
Por que não consigo te ver?
Talvez só os vivos possam ser vistos.
Memória.
Me procuro em lágrimas, encontro a solidão das brechas escuras.
Sinto meu estômago contestar o sentido de tudo aquilo.
Corro pro banheiro.
Abro a torneira, lavo o rosto.
Seria tão mais fácil se, ao colocar o dedo na garganta, expelisse tudo de ruim de dentro de mim...
Talvez eu mereça mesmo morrer.

Adoeceu.

Sob meu sorriso, está refletida a face da atuação.
Sob minhas lágrimas, está escondido o ritmo de um coração.
Sob minha pele, está alojada a dor de uma memória.
Sob minhas unhas, estão escritos os rascunhos de uma história.

Sobre meu caráter, está colocada uma máscara.
Sobre minha bondade, está afixada a malícia.
Sobre minha sanidade, está inserida a loucura.
Sobre meu passado, está apoiada a esperança.

Entre os meus dedos, está a falta que fazem os seus.
Entre meus braços, está o resto do que o tempo levou.
Entre meus segundos, está a ausência da vontade de um futuro.
De um futuro que não acontece mais.

Oh futuro, oh Futuro!
Onde está você que me deixou em paz?

domingo, 4 de março de 2012

Felicidade, Minha...

A felicidade é algo engraçado.
De vez em quando a gente se esbarra, não é como se a gente pertencesse a mim, e eu a ela.
Você me completa, e sabe porque eu não sei viver direito.
Tudo que acontece não é culpa de nós dois, mas a gente pode mudar.
Ah, felicidade...
Seu sorriso não me abraça mais.
Deixa a vida levar a gente, deixa o mundo levar as estrelas.
Não temos nada a perder, não é?
Vem comigo, felicidade, eu sei que você também quer.
Não liga mais pra mim, menina, só estou aqui pra te acompanhar.
Só saberei fazer isso olhando nos teus olhos, me desculpe.
Mas enquanto puder encará-los, tudo ainda vai fazer sentido.
Tudo sempre vai fazer sentido enquanto você for a minha felicidade.

Mais Torta.

Eu comi torta, torta é muito bom.
E minha vida está com um cheiro estranho.
Não acho que ela não tenha um cheiro estranho normalmente, mas hoje está mais forte.
Depressão é o que devia estar cheirando nesse momento.
Esqueci-me dela!
Espero que não tenha queimado.
Novamente, não sei o que acontece ao meu redor.
Tudo parece tão confuso novamente, tão... alinhado!
A guitarra continua no lugar, mas se quisesse se tocaria sozinha.
Nada no meu mundo precisa de mim para que aconteça.
Talvez esse seja o motivo da minha infelicidade.
Se pegar o celular agora, tenho certeza de que ele reclamará.
Deve estar falando com meus amigos por mim também.
Acho que criei um universo tão perfeito na minha cabeça que se eu parasse ele continuaria andando.
Eu não dependo mais do tempo para existir.

sábado, 3 de março de 2012

Sem (Ter Algum) Título.

Sou o completo tudo do que for. Ainda ando por aí, inventando pecados capitais. Vejo a história como meu diário pessoal, e o futuro como minha opção de vida. Não creio na velhice, não creio na morte, e a vida já deixou esse quarto há tempo suficiente para deixar a neblina tomar o lugar. Respiro tendências, e ignoro aspirações. Tudo que sou já não passa de tudo que há. Sou o meu próprio Deus, e sou o meu próprio Eu. Sou quem não queriam que o bom fosse, e quem não queriam que o mau se tornasse. Sou o lago de fogo, sou a chama da esperança. A luz é só mais uma ilusão enquanto o corpo toma a escuridão ao redor de mim mesmo. Eu sou o macabro, eu sou a solução. Eu sou o fim.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

(Não) Deixa.

Me deixa mentir pro mundo, me deixa brincar de Deus.
Me deixa zombar de tudo, me deixa brincar de ateu.
Me deixa controlar os passos que dou em sua direção,
Me deixa controlar as batidas que dá meu coração.
Me deixa dormir, Sonho, pois amanhã andarei ocupado.
Me deixa tomar um café pra me sentir mais descansado.
Me deixa sozinho na cama, e me deixa acordar assim.
Me deixa viver sem ela, pois ela se deixou viver sem mim.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Criatura.

Entro em um quarto escuro com minha própria alma.
O monstro olha pra mim de tal forma que chego a me identificar.
Talvez esse seja o verdadeiro eu afinal.
Minha carne ainda não apodreceu, e meus dentes ainda não caíram.
Meu cabelo ainda tem a cor de sempre.
Um monstro é o que me tornei.
Pego o maço do bolso, puxo um cigarro e acendo.
A criatura parece sorrir?
Enquanto respiro a fumaça, a criatura respira também.
É estranho vê-la respirar pela primeira vez desde que entrei no quarto.
Encaro-a.
Parece haver uma expressão de ódio com perturbação.
Ela não entende muito bem o que está acontecendo.
Ela sangra.
Meu próprio monstro sangra.
Não devo ser imortal afinal.
Rio.
Uma lágrima sai dos seus olhos, que começa a sorrir de novo.
É tão estranho assim que tal... coisa, tão cínica, tão vil, sinta algum tipo de emoção?
Ando para o outro lado do quarto e Ele me acompanha com o olhar.
Não fala, pois mal possui boca.
Mal vê senão o necessário.
Unhas quebradas, pele manchada.
De sua garganta, sai um lamento em forma de dor.
Nas suas roupas, um prostíbulo.
No seu caminhar, o passar dos anos.
Na sua voz, a morte.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Podridão.

Fedor.
Está tudo podre sem você.
Entro na casa velha, que quase não tem mais porta.
Assim que piso na madeira, ela range de dor. Quase como se ganhasse vida de novo... Faz tanto tempo que alguém pisou nela pela última vez...
Continuo andando, deixando a marca do meu caminhar no chão. Poeira de tanto tempo.
Olho para o quadro na parede... Lembro-me de observá-lo por tanto tempo sentado naquele sofá, bebendo. Bebendo o suficiente para não me lembrar, e te olhando o suficiente para nunca esquecer.
A cadeira de balanço, onde eu ficava sentado, continuava lá... As coisas foram sendo corroídas aos poucos pela brisa que veio do mar, e os cupins, ao longo dos anos, foram os únicos que continuaram compartilhando as memórias daquela casa.
O pano em cima da mesa, manchado de café. Nunca gostei de café, sabe? Sempre achei amargo demais ou enjoativo demais, mas gostava de tomar café com você, segurando na tua mão.
Segurar na sua mão nunca perdeu a graça ou deixou de fazer meu coração bater mais forte.
Todas as piadas, as brincadeiras, as viagens... tudo se perdeu.
E agora encontro essa casa podre que sou eu.
Posso ter sido lar de muitas coisas boas, minha querida, mas tudo isso se foi.
Subo as escadas até o andar de cima. Vejo o quarto do bebê que nunca tivemos, e a cama de casal nunca usada. Tanta coisa desperdiçada...
Tropeço em um papel e quase caio, antes de me apoiar na pilastra de madeira não tão corroída assim.
Pego o papel.
"Não se esqueça que estarei sempre aqui por você."
De meus olhos, deixo escapar uma lágrima.
Pego uma caneta do bolso e escrevo no verso da folha:
"Eu sei que você acreditava nisso, e obrigado por tentar me fazer acreditar."
Guardo a caneta, dobro o papel e guardo no bolso.
Desço a escada, olho para a sala, desisto de ver o resto da casa.
Bato a porta para nunca mais voltar.

É sempre bom lembrar que tudo acaba.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A Criança Que Perdeu O Sorriso

Não vejo mais a Lua. A escuridão da noite não me assusta mais, e a luz da manhã só me lembra do quão igual tudo é sem você. Perdi tudo que tinha por não dar valor a mim mesmo. Eu choro, mas ninguém me ouve. Eu só queria que você me ouvisse, e me acolhesse no seu abraço. Desabafo com pessoas aleatórias, que não se importam, porque eu tenho medo que se importem comigo. Eu tenho medo de decepcioná-las assim como fiz com você. Eu não sei se sou bom, mas não acredito que tenha tanto de ruim assim em mim para merecer tal punição. Será que eu nasci pra ser assim? Será que meu lado humano se perdeu? Tudo que enxergo agora no espelho é o reflexo de tudo que eu sempre quis me tornar. No entanto, por que isso parece tão errado? Por que tanto esforço para me tornar um monstro, para descobrir que o que eu queria de verdade era só voltar a ser como antes? Em minha memória, não vêm mais lembranças. Será que já estou esquecendo do que foi você? Eu só choro, entristecido da saudade, por segundos, antes de me distrair com alguma outra coisa. Por que não posso simplesmente fazer meu coração bater de novo? Por que não posso simplesmente amar? Por que é tão difícil esquecer o que me faz mal? O que me torna o que eu sou agora, e por que não posso destruir?
Eu quero seu sorriso, suas lágrimas. Eu quero qualquer coisa que venha de você, mas quero que venha. Eu quero a memória no presente, e o presente eu não quero mais. Eu quero que tudo aquilo que fiz e disse seja refeito, e não me importo se isso muda quem eu sou hoje, porque quem sou hoje já não vale nada mais.  Será que, em alguma outra realidade, isso seria diferente? Preferia reclamar sem saber que era feliz, do que perceber que essa felicidade já passou, e não vai mais voltar. Perceber que você não vai mais voltar. E eu me sento aqui na cama, com lágrimas nos olhos, por não saber mais o que fazer. Eu não quero mais ninguém do meu lado, eu não quero mais ninguém perto de mim, porque a única pessoa que eu queria a vida levou. E a raiva que sinto de mim mesmo por desperdiçar o tempo que foi-me dado é quase tão grande quanto a raiva que sinto da morte por não ter me levado no seu lugar.
Hoje eu sou uma criança. Me sinto indefeso, estúpido e completamente ignorante sobre o futuro e a felicidade.
Somos todos imbecis, por passarmos a vida procurando algo que está bem debaixo do nosso nariz, e só percebermos quando isso vai embora.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sou.

Sou só um rascunho do que já fui. Sou aquele resto de comida que sobrou no prato. Sou uma ameba. Sou uma sombra, um verme, um chiclete, um babaca. Sou tudo que sempre quis ser, e tudo que você quis que eu jamais fosse. Eu sou uma barata, perdi a minha essência, minha cor. Perdi o meu brilho, se é que tinha algum. Perdi o eu mesmo, que cavava a superficialidade até encontrar algum tesouro maior. Ando sobre o mundo, e o mundo gira ao meu redor. Domino a vida, mas não o que acontece. Sou completamente independente de tudo e todos, mas não consigo prolongar o bom, ou encurtar o mal. Eu estou ciente de quantos gostariam de estar no meu lugar, e estou ciente de quantos o odiariam. Eu sou só mais uma migalha de pão jogada para os peixes. Sou a chuva de verão. Eu quero a vida, quero o medo. Não encontro. Eu sou o medo. Eu sou o coração que deixa de bater com a ausência dela. Sou um romântico. Sou um sentimental que nunca aprendeu a demonstrar. Sou um escritor, um poeta. Sou nada mais, nada menos do que o nada. Um nada tão completo e tão profundo que nada que passar ao meu redor vai me afetar, me fazer mais do que acho que sou. Acho que sou só um homem andando na contramão, procurando a escuridão enquanto todos andam em direção à luz. São só insetos atraídos por uma felicidade falsa, procurando o sol. Talvez eles saibam que aquilo não é o que procuram, mas tentam se enganar, e quando tentam, acabam se queimando. Eu sou aquilo que me desenharam pra ser. Em linhas tortas faço meus próprios caminhos, e não deixo nada interferir nisso.
Sou o que sou, e nada nem ninguém nunca vai me mudar.

domingo, 15 de janeiro de 2012

A Hora.

Chegou a hora.
Você pode não saber ainda, mas eu sei.
Seus suspiros se tornaram mais fracos ao longo do tempo. Suas dores, mais fortes.
Só agora posso imaginar o que é perder alguém como você na minha vida. Eu ainda não sei o que fazer sem você, e não sei a quem vou mostrar tudo que faço, sabendo que vai ter sempre orgulho de mim como você. Eu não sei me virar sozinho ainda, mas eu vou ter que aprender, e eu quero aprender.
Eu te amo mais do que qualquer um poderia entender, e acho meio fútil usar a palavra amor com outra pessoa que não seja você, e é por isso que eu torço pra que você vá embora logo. Eu torço para não te ver mais sofrer, porque não sei mais quantas despedidas vou aguentar.
A hora está chegando, e tudo que consigo pensar é no quanto você vai fazer falta. Acredite, eu vou sentir bem mais do que sua falta na minha vida. Eu vou sentir sua presença, e eu sei que isso vai me deixar mal porque eu vou sempre lembrar de você. Você me fez quem eu sou hoje, e maior do que o medo de tudo isso desaparecer, é o medo de estar lá sempre presente, sem que eu possa lhe agradecer.
Você não vai me ver casar, como queria. Também não vai ver meus filhos, e ensinar essas coisas de avó. Não vai estar lá pra se preocupar demais com a educação deles, e não vai ter a chance de dizer o quanto a juventude está perdida. Mas eu sei que dentro de mim você nunca vai morrer, e não importa o que você encontre do outro lado, eu sei que é algo muito bom, porque você foi e ainda é uma das melhores pessoas que eu já conheci na minha vida.
As palavras estão acabando, e eu ainda não achei nenhuma pra te descrever. Eu só posso dizer que você foi a melhor mãe do mundo, e eu sei que tudo que você fez foi sempre para o meu bem.
Sempre se preocupou em estar me educando errado, e o que eu queria dizer pra você nesse momento é que você não o fez. Sem você eu não seria metade do que eu sou, e eu prometo que depois que você se for eu vou continuar melhorando, mesmo sentindo sua falta. E mesmo não acreditando em Deus, eu rezo pra que se tiver alguma coisa lá em cima tomando conta de nós, que faça você sofrer o mínimo possível. Eu rezo pra que você saiba o quanto eu te amo, mesmo sabendo que isso é quase impossível, por nunca ter demonstrado tanto.
Eu vou sempre lembrar de você feliz e saudável, rindo, deitada na cama, com alguma piada que contei. Vou sempre lembrar de quando você me cobria, e de como deitava na minha cama e ficava lá até eu dormir. Eu vou sempre lembrar de tudo que você fez pra mim, e espero um dia fazer o mesmo por outra pessoa.
Esse texto está ficando maior do que eu imaginava, mas eu não consigo completá-lo. Eu queria citar todos os nossos momentos juntos, todas as suas mensagens me dizendo que me ama, e queria que soubesse que agora eu olho pra elas e choro. Talvez tenha herdado do meu pai toda a minha frieza pra lidar com situações difíceis, mas não essa.
Bom... Está na hora.

Você sempre vai ser a melhor, e mesmo que a memória do seu abraço se apague ao longo dos anos, a lembrança do seu sorriso continuará comigo pela eternidade.
Eu te amo.