segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Aurora.

O castiçal das tuas trevas
Me incendeia
Com o amanhecer
De mil promessas vãs.
Teu cabelo não me toca
E tua fala não se importa
De ceder alguns ferrões.
A Cinderela atrasou
O meu relógio
E não há mais tempo
Para o cronograma.
Minha sede já passou
Com tuas lágrimas cuspidas
No lençol sujo da cama.
Da enfermidade
De estar cansado
Surge o fardo
De manter a mente sã.
A esperança não escorre
Por entre os cacos
Do espelho em pedaços
Do amanhã.
"Talvez um dia
Volte o peito a sambar
A valsa estranha
Do suor da minha mão."
E a palavra se desfaz
No mar da calma
Que se instala
Nas paredes do pulmão.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Lábios.

Tua pele inunda meus pensamentos fracos.
Imaginação chula, mortal, imperfeita...
Fiapo da verdade, não reproduz a falta!
E de quem vem esse bater-bater no peito?
E qual sorriso faz minha mão chorar?
Que deixa meu estômago constrangido
Por tantas borboletas...
"Aí vem ela outra vez!"
Quem dera, quem dera, quem dera!
Queria eu poder sonhar
Com cada detalhe vibrante da tua voz,
Cada rima que faz as ondas do teu corpo,
Cada exagero da Criação...
Aí não precisava acordar, comer, dormir, era só tu.
Eu e tu em meus sonhos.
Tu e nossos lábios vermelhos...

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A Pena.

Ah! O Coração...
Envenenado, morreu.
Pobre coração meu!
Só de raiva, condena
Culpados à mais dura pena:
Morte súbita.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Escrito, feito.

Tem coisa que não faz sentido. Escrever, por exemplo. O que é? Documentar o que penso, mas o que é pensar? Como posso dizer que penso, sem pensar sobre isso? Sendo assim, pensar é tudo? Pensar é pedra, chão, terra, ar... O que existe sem mim? Não sei, pois vai além de mim saber. Tudo que vejo e sinto é fruto do que sei - ou penso que sei - e todo o meu mundo é fruto de mim mesmo. E eu mesmo, sou fruto de que? Se eu existo e pensar é tudo, sou Deus. Mas sendo Deus, os outros são o que? São fruto da minha mente, eu suponho? Não. São fruto do que a minha mente vê. Mas e o que não vê? Se não vejo, pra minha mente não existe, e pra mim também não. E aí eu volto para o problema da escrita: que palavras realmente existem? Posso dizer verdades e não verdades que conectam o imaginário ao mundo real, os confundem. Posso criar vidas e destruí-la com simples letras, mas só se forem compreendidas. Mas e se não forem? Se só eu vejo o sentido das palavras, e mais ninguém vê, o sentido ainda existe? E se outro escreve, mas eu não entendo, ainda sou Deus?
Talvez seja Deus apenas de mim e do que é meu, nada mais além disso.
Será que ser deus de tudo é tão bom quanto ser deus de um pouquinho só?
Gostaria de saber, mas fico feliz que não sei.

Último Adeus.

O que acontece depois de mim? O que será do mundo sem meu conjunto de pensamentos, ideias e frustrações? Um lugar melhor, eu espero. Não sei o que é mais egoísta: querer que todos sintam minha falta ou almejar o sofrimento da morte como sendo só meu. De qualquer modo, irei sem muito estardalhaço ou drama. Sentarei no meu sofá, fumarei do meu cachimbo e amaciarei a culpa pelo fim com um pouco do velho Nietzsche.
Toda a minha vida me levou a isso.
"A escolha é apenas uma ilusão."
Adeus.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Bons Motivos Para Não Usar Drogas.

1- Cigarro:
- Mau hálito.
2- Bebidas alcoólicas:
- Transformação lenta e dolorosa em uma pessoa chata e carente por atenção.
3- Maconha:
4- LSD:
- Dá gases.
5- Cocaína:
- Mal humor.
6- Crack:
- Diarréia.
7- Ecstasy:
- Algum dia você vai ter que ir dormir.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Resto.

Eu estou existindo dentro de um canudo de plástico, pois sou resto do que sobrou da bebida de alguém. Não é nem Coca-Cola, por sinal: é Pepsi. Como se não bastasse ser resto, sou resto de "pode ser". Mas se não eu, que outro resto seria? Que outra parte de alguém seria capaz de pensar tudo que penso e sentir tudo que sinto? Há algum outro capaz de exercer tal função como eu? E se há, onde está? Não posso sair e gritar para o mundo, denunciar minha presença. Não tenho boca, fala, voz. A que isso me leva? O que é a vida pra mim, senão um canudo de plástico? Sou parte de algo que não criei, não pedi pra estar aqui e ainda assim sei muito pouco de onde estou: Quem era esse alguém? Qual é a história dessa pessoa? O que há do lado de fora desse lugar? Sou uma gota, mísero pedaço de qualquer coisa, me perguntando porquês e poréns de uma existência sem sentido. E o pior? Estou em casa, sem nenhuma previsão de futuro ou esperança, ocupado sendo resto de outra pessoa.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Fuga.

Me encontro atordoado por essa correnteza de emoções. Caminho pelas ruas do desgosto, danço por entre as mentiras e ilusões de mais uma garrafa de vinho. Não tenho direção ou porquê, não guardo qualidades ou lembranças, somente vou.
E indo, eu fujo daqui.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Todos Vocês.

Vou me expressar da seguinte forma:

Não é trauma ou pavor,
Nem fobia ou horror,
Mas odeio todos vocês.

Não é por faltas cometidas
Ou juras nunca cumpridas
Que odeio todos vocês.

Não é por vícios e manhas,
Artifícios ou artimanhas,
Que odeio todos vocês.

Não é por coração quebrado.
Na vida, não fui mal amado,
Mas odeio todos vocês.

Não tenho consideração,
Não admiro perdão
E odeio todos vocês.

Não sofro de alma sensível
E isso torna indizível
O quanto eu odeio vocês.

Não por pura decepção,
Agonia ou frustração,
Que odeio todos vocês.

Mas isso
Com certeza
Ajuda.

Falta.

Falta de mim a vida
Alma pro corpo andar
Falta, da morte, o sal
O gosto me tira o ar
Teus beijos me afogaram
E o cheiro teve fim
No travesseiro.

Mar.

Você é o mar que me tira a calma, é a falta que o último cigarro faz. Você é lembrança, esperança e desilusão, filha da perdição. Você é o bem que mata, a justiça que condena os malfeitores. É gosto do meu próprio veneno injetado no coração. Você é tudo que falta pro mundo perder toda a razão, pois me tira o ar e me tira a vontade de respirar. Sua graça tira a cor do mundo e rouba a luz das estrelas, escraviza meus pesadelos e reescreve minha razão.
Se isso é paixão, temo que o amor seja bem pior do que eu imagino.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ah não!

Trancado numa cela,
Aí vem ela!
Nela que está meu cheiro.
Beiro à morte por seu gosto,
Um oposto de liberdade.
Enfermidade, entretanto,
De tanto enlouqueci
Esqueci o medo.
Tão cedo que fui liberto,
De céu aberto, fiz prisão.
Ah não! Ah não! Ah não!
Aí vem ela.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Não tente, não venha.

Não mostre-me feitos seus que não pedi pra ver, não seja patética! Não se submeta a tratamento tão absurdo por reconhecer minha capacidade intelectual. Aliás, não finja que reconhece. Você, com todos os risos toscos e agonias fingidas, me provoca repulsa. Não venha enviar-me charmes, pois não me tentará ao desespero. Eu quero sua juventude, não seu caráter.
Por sinal, minha querida, é exatamente caráter que lhe falta.

domingo, 24 de novembro de 2013

Teu.

Tua alma se espelha em minha cor, se espelha em meu perdão. Tuas mãos, frias e macias, trazem a dor que guardo de tantos meses, tantas vidas. Toda a presença que não é tua me envenena, toda lembrança que guardo de outros me destrói por me afastar de ti. Aos poucos, deixo o que fui para me tornar o que pareço ser: frio, insípido, oco. Não sei por quanto tempo o coração vai bater, quantas memórias sobrarão antes do fim, mas peço perdão pelo atraso. Saiba que faleci junto a ti, e só nego tua ida para poder adiar a minha.
Pois sou tua sombra e tua continuação.
Para sempre teu.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Resquício.

A cama me desarrumou, me deixou com esse gosto de chuva. O dia me quebrou, a decepção me consumiu. Estou juntando cada pedacinho de gente que encontro pra me reconstruir, cada resquício de alma. Sou um pobre pedindo esmola, mendigo de lembranças, colecionador de sonhos. Sou um pedaço de zé ninguém, lutando pra me levantar em um mundo que me quer caído. A cama é só uma parte de todo esse processo de oxidação interna, me puxando e me tentando ao ócio. Minhas raízes se prenderam a esses lençóis no momento em que encontraram paz, mas acabou.
Não existe paz para alguém como eu.

Natural.

Estou esperando a vida me consumir pra ser um pedacinho de árvore.
Eu não ligo para o que a natureza tem reservado pra mim, eu quero ser uma árvore.
Uma vez me perguntaram se eu queria ser pássaro.
Não.
Eu quero ser árvore.
Árvores não precisam comer, falar ou andar. Árvores não conversam, não brigam, não fazem guerras, não transam.
Mas sentem.
Mas pensam.
Nascido árvore, morrido árvore.
É isso que eu quero ser.
Sempre árvore.
Do início ao fim.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Fraco.

Agradável, mas não essencial.
Memorável, mas não inesquecível.
Alegre, mas não feliz.
Prazeroso, mas não vicioso.
Incomum, mas não único.
Bom, mas não satisfatório.
Bonito, mas não atraente.
Difícil, mas não desafiador.
Intrigante, mas não inquietante.
Paixão, mas não amor.

Para Todos os Gostos.

Ontem eu conheci uma menina chamada Sofia.
Sofia tinha sabor de hortelã.
Semana passada, na praia, conheci a Clara.
Clara tinha sabor de chocolate.
Conheci coisas, pessoas, todas com o mesmo sabor.
Enjoei.
Os sabores diferentes, aos poucos acabaram iguais.
Desisti.
Conheci essa menina sem nome na minha cama hoje.
Essa tem o melhor sabor de todos.
Lembrança.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Mais?

A agulha está no mesmo lugar que a deixei.
Levanto da cama e vou até a cozinha.
Abro a porta da geladeira.
O que vamos comer?
A agulha ainda está ali.
Pego o pedaço de torta que sobrou do aniversário.
Fico feliz de não lembrar de quase nada.
A parte que eu lembro é horrível.
É por isso aquela agulha.
Ainda sobrou um pouco, não sobrou?
A torta acaba e me disponho a lavar a louça.
Será que meu outro eu lavaria a louça?
Tudo dá certo pra ele, mas não pra mim.
Talvez só mais uma vez...
Não.
Se eu fizer isso, não me lembrarei que fiz.
Me olho no espelho, pareço péssimo.
Será que vale a pena ser só eu?
Ainda tem um pouco no meu bolso.
Não me lembro de como é ser outro.
Termino de lavar toda a louça e volto pro quarto.
Mas ele também não se lembra de mim.
Acho que viciei-me em não ser eu.
Será que vale a pena?
Deito na cama e fecho os olhos.
Se não parei até agora, deve valer.
Desisto.
Abro os olhos.
Levanto.
Afinal, a agulha deveria estar ali por alguma razão, né?

domingo, 10 de novembro de 2013

Corpo Vazio.

Minha existência
É copo de café
Que esfria
Com o passar das horas.
Minha coerência
Passou com os anos
E minha decência
Se foi em conhaque.
Me encha em solidão
E abrace a causa:
Me esqueça.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Esse daí.

Quem é esse menino moleque que tanto fala sem dizer nada? É o filho do Zeca, do Paulo e do Simão, é o filho do Mundo. E aquele sorriso largo, está vendo? Acompanha amigos de norte a sul e namoradas de olhos claros, sempre simpáticas. Emblema de vagabundo? Que nada, esse daí sabe como viver a vida! Até que é criticado, mas quem não é? Ele ri, por bobos que são. Não sabem o que perdem, é o que diz. Como é de bem essa rotina despreocupada! Um menino tão educado, livre de vícios e tristezas...
E, no final da noite, quando todos vão embora e ele deita na cama, chora de alegria.
Feliz por não precisar mais sorrir.

Deita.

Segura minha voz que eu levo teu ar, prende meu sono entre as tuas coxas. Me deixa tocar teu peito e sentir teu coração, te deixo vibrar entre meus dedos. Puxa meus cabelos para não cair no chão e tenta não perder-te em meus lábios. Teu desejo escorrerá por entre a sanidade, dissolvendo cada pingo de culpa, limpando cada resquício de dó. Me mostra do que és capaz que te mostro todo o resto. Farei de ti o que quero e o que queres, agora deita.
Ao terminarmos, nunca aconteceu.
Afinal, o silêncio é mais um de meus talentos.

domingo, 3 de novembro de 2013

"Entre."

Nos dias de chuva,
nas tardes de domingo.
Nos finais de festa,
no ponto de ônibus,
na fila do banco.
No sereno da noite,
no orvalho da manhã.
Nos intervalos
entre músicas,
entre moças,
entre cigarros, ressacas,
"Entre."
Nas passadas entre os carros,
pensamentos,
ideias,
lembranças,
Erros.
No futuro,
no passado,
no presente,
consciente
e subconsciente.
Na vida,
na morte.
Só.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Venha.

Teus poemas mudos me cercam, que me percam no universo da paixão, eu imploro! Me deixe para morrer, viver, superviver em um pós-apocalíptico pensamento. Me afunde em minha confusão, nos meus bebes e serves, no meu tabaco, no pacato imbecil. Me encontre uma verdade nula, surrealidade realista, impossibilidades linguísticas e paradoxos matemático-temporais, só a morte será minha prisão. Só o corte da minha condição me virá como fim. Me deixe no vermelho dos teus lábios, na surdina dos teus medos e no foco dos teus desejos, nas carícias da tua voz e nas pontadas dos teus segredos. Entre em um mundo só teu, escreva e reescreva teu modo verbal e faça, de tu, nós.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Mais de Mim.

O pior é abraçar a solidão, a cachaça,
Das muitas faces que sou,
Todas ao mesmo tempo,
Uma de cada vez,
Ninguém nunca quer ver de verdade
E nem aguenta, por que iria?
São várias pessoas em uma
É defeito de poeta
Acreditar em várias verdades
Mas ver tudo de uma vez só.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Deixa pra lá.

Eu tentei ajudar,
Mas toda vez que eu dizia,
Menos eu queria dizer.
E no final,
Só conseguia parecer um bobo,
Tentando me ensinar esperança.

Não existe solução, sabe?
Algumas pessoas tem tudo,
Outras não, fazer o que?
Você pode pagar um pão ou uma água,
Mas não pode mudar o que as outras são.

Talvez meu erro tenha sido acreditar.

Cabô.

Torci pra acabar e acabou.
Sem choro, grito ou drama,
O Pedro teve o que pediu a Deus:
Uma vida sofrida, sem final feliz,
Sem amigos, abandonou a família,
Que pecado que é a ganância, não?
Envenena a alma e machuca tudo ao seu redor
Mas eu rezei pra que parasse, e parou
Não do jeito que eu queria, mas
"Deus escreve certo por linhas tortas"
Bateram na casa dele ontem à noite
Três tiros, dois no peito e um na barriga
Ele segurava o crucifixo que eu dei
Agora ele segura lá do outro lado.

Sombras.

Não existe lado bom sem lado ruim, e se existisse, ele não teria muita importância. Não é nada demais se você olhar por outros pontos de vista. A mesma coisa tem diferentes sombras, e não deixa de ser uma coisa só. Depende de quantas luzes incidem nela, entende? Quanto mais luz, mais sombra, e é assim com tudo que é concreto. A menos que você seja transparente, aí nesse caso não faz diferença. Mas convenhamos, as pessoas raramente notam as coisas transparentes como notam as opacas. Não pode ser só coincidência, não é? A sombra deve ter alguma importância afinal, e ignorá-la talvez seja fatal.

Corra.

O podre vermelho da alma se arrasta no chão gelado. Vísceras mancham os azulejos de sangue e o fedor é insuportável. Aos poucos, a carne ganha forma e aquele emaranhado de nervos e músculos vai se transformando. Se torna um homem, mas não um homem qualquer. É sua alma, afinal. Está lá, pronto para acabar com qualquer esperança que você tenha de mudar, para rasgar qualquer pedaço de bondade que restou em você. Esse o momento, e não tem como escapar.
Corra.

domingo, 20 de outubro de 2013

Mais ou menos.

A vida não é mais do que uma piada ruim, sabe? Todo aquele blues arrastado já descobriu que não tem muito o que fazer dela - mas que, por outro lado, pode-se ganhar um dinheiro com discos ruins se você entender isso de uma vez por todas.
Não vou dizer que tem que ser sempre assim, deprimente. Afinal, cada um vê como quer, não é? O problema é entender que a coisa toda é muito simples e continuar tendo a mesma animação e sendo o mesmo bambambam de antes. É como aprender equações de segundo grau e perceber que você nunca vai usar isso de verdade, entende? É assim que as coisas são, e essa complicação toda é inacreditavelmente chata. Mas tudo bem, você pode dizer que é diferente. Que tem um sentido maior por trás disso tudo e que eu estou terrivelmente errado, mas isso só vai convencer aqueles que tem fé. E fé é o que mais falta nesse lugar esquecido por Deus.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Era Uma Vez.

Tentou.
Não por mal,
Nem proposital,
Que a querida,
Ferida em batalha,
Navalha alegre,
Na febre, sozinha,
Cortou.

Chorou
A vida que teve.
Esteve caída.
Sofrida, doeu,
De tanto perdeu
A merda da sorte,
A morte
Abraçou.

Cheirou
Esperança em pó,
Que dó de destino
Canino, uivando,
Chorando ardor,
O amor não deu alta.
E a falta que fé
Que deu ré na cura,
Voltou.

Mandou.
"Fiz porque fiz"
Quis mais cocaína,
Vacina pra vida,
Querida paixão,
Coração dispara
E pára, com choro
Do coro do vício,
No início do mês,
Era uma vez
Acabou.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Corvo.

O corvo saiu da árvore e começou a cantar rangidos. Seus olhos vociferavam as dores do mundo, suas asas se contorceram contra o vento. Ferrugens lhe saíram da pele, enquanto seu voo fincava os céus. Aos prantos, o corvo urrava pelos galhos que saíam de si, cada pena virando folha, cada osso se ramificando e pesando o ar. Cantou o hino da perseverança até murchar, mas de nada adiantou. Aos poucos, o corvo começou a cair, e caindo ele foi crescendo cada vez mais. Sua estrutura foi sendo deixada para trás, seu sangue foi virando seiva e seus olhos perderam a cor. Ao chegar no chão, do corvo só o bico sobrou: cravou-o na terra e criou raiz, fez o sol refletir o verde das folhas e enrijeceu a base.
Se foi para ali permanecer, para ali pousaem novos corvos.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Pássaro.

Quando eu era menor, morando na casa da minha avó, havia um pássaro.
O pássaro era de um tio louco, e o coitado vivia piando cada vez mais alto por comida, ecoando pela casa velha e gasta.
Infelizmente, para o pobre coitado, minha paciência já estava velha e gasta, apesar da minha idade. Eu era o que passava mais tempo na casa, portanto, o que mais tinha que aturar a terrível criatura suplicando por um punhado de atenção e sementes. Um belo dia, com dor de cabeça, parei bem perto do animal e me perguntei se ele sentia medo. Não havia qualquer reação que me fizesse crer que sim, então decidi fazer uma experiência. Com um objeto pontiagudo - talvez um lápis, não me lembro ao certo - fiquei tentando acertar o animal. Não foi uma atitude nobre, admito, mas o silêncio que se seguiu sufocou qualquer possível protesto da minha consciência. Agora aquele pássaro me temia. Não fazia diferença se ele sentia vontade de piar, contanto que não o fizesse mais na minha frente.
Diferente do amor, o medo não dá brechas para erros ou reclamações. O medo tira a voz, tira a luz. Lá estava eu, com algum simples graveto na mão, silenciando a mais terrível besta que tinha como fraqueza meus tímpanos. Seria tão desumano afinal, se é em legítima defesa?
Os dias seguintes foram a mesma coisa, mas o que é bom dura pouco, e assim foi a minha satisfação. Ele parou de temer o objeto de antes e voltou a piar mesmo depois das minhas ameaças de dor. Não queria machucar o pobre coitado, mas ele não me deixava outra escolha. Era ele ou eu. Não poderia enfrentar seu dono, pois sou para ele o que o pássaro é para mim: um incômodo. Como poderia eu acusar criatura irracional de maldade, se ao fazê-lo estaria me igualando a ela? Não poderia e não o fiz. peguei outro objeto - dessa vez um pedaço de metal que encontrei atrás de um móvel - e o acertei no olho. Não foi minha intenção, mas não pestanejei quando o fiz. O prisioneiro soltou um pequeno grito, mas depois voltou a se calar. Não o deixei cego, se é o que está pensando. Mesmo eu, com minha imaculada consciência, não seria capaz de tal feito - ou seria?
O fato é que o demônio alado voltou a cantar sem tom mais uma vez, e tive que acertá-lo novamente. Não sei se esperava que ele se calasse pra sempre, minha esperança é de que ficasse deprimido e acabasse morrendo, mas continuava a torturá-lo. Afinal, era isso que ele estava fazendo comigo, não Conscientemente ou não, me colocava numa posição de encarcerado dentro da minha própria casa. Me levava à loucura e me fazia duvidar de meus próprios sentidos mesmo que isso prejudicasse a ele. Crueldade? Não, não vejo assim. Não por parte dele e nem pela minha. Sei que se houvesse alguma vantagem em me matar, certamente ele o desejaria, então não vejo por que não ansiar pelo fim do mesmo. É só uma questão de poder. No mundo animal, não é por malícia que o leão caça o javali. Tenho certeza, ainda, que se não fosse pela alimentação, garanto que ambos conviveriam em paz, e assim é a minha relação com o pequeno pássaro: se eu fosse surdo ou ele mudo, nossos caminhos não se cruzariam de maneira menos pacífica do que a de dois vizinhos que se esbarram em um elevador.
Por fim, acabei me mudando daquela casa infeliz antes que meus pequenos delitos pudessem ser notados - para sorte minha e dele - e nunca mais retornei àquele lugar. Quando imagino, porém, quantos gritos mais deve ter dado o antes de finalmente sucumbir à fome e á idade, me arrependo de não tê-lo matado quando tive chance.

Última Vez.

Lá no fundo do poço
Tem uma luz
Da luz, se fez o fundo do poço
Lá na última porta
Tem uma saída
Da saída, se fez a última porta
Lá no último olhar,
No último suspiro,
Na última lágrima,
Tem uma lembrança
E das lembranças se fez o mundo.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Infernal.

Todo pecado, por ser pecado, seduz a vontade.
A escuridão toma o homem como a o algodão absorve a água, induzindo-o à sua vontade primordial: Não obedecer.
E então, ao não obedecer, o homem perece diante à vontade divina.

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É uma tarde nublada, como todas as outras tardes naquele lugarzinho infernal.
Aquela secretária idiota está fazendo o mesmo trabalho de sempre, levando duas vezes mais tempo do que deveria.
Como sempre.
Ela não é particularmente bonita, mas tem um par de coxas grossas e lisas, daquele tipo que seduz a vontade.
Um homem, provavelmente seu chefe, vai de encontro a ela e a faz corar. Sussurra algo no ouvido dela que não é digno de um homem de aliança e paletó. A moça, diante disso, para de escrever por um instante enquanto o patrão caminha de volta para a sua sala.
Com seu olhar de inocente malícia, a secretária passa a escrever mais rápido do que antes enquanto tenta esconder um sorriso que mereceria um prêmio para pessoas especialmente burras, se houvesse um.
De repente, seu olhar atravessa a sala e encontra sua bolsa. A mulher corre em direção a esta, tira de lá um frasco e borrifa em si mesma algumas vezes. Pega alguns papéis e uma pasta e se dirige para a sala do bem apessoado canalha, que a espera enquanto quebra uma bala de menta na boca.
Os dois, por mais distantes que sejam intelectualmente - a primeira, uma estúpida secretária que mal conseguiu completar o ensino médio. O segundo, um bem sucedido filho da puta. - seus corpos se atraem com a rapidez de duas cargas fortes e opostas, que têm como único empecilho as peças de algodão e linho que se desfazem no carpete do chão. As chamas, embora invisíveis, se encontram ali, no calor do momento. Não fazem parte de um mundo material e físico, mas de algo que só existe na mente daquelas pessoas e na sua. O mundo das idéias, dos pecados e do perdão.
Aquilo é o inferno.
O momento, o calor, o segredo.
O paraíso da perdição.

Tudo.

Um escritor senta em sua poltrona com um copo de café na mão, um livro na outra e o mundo inteiro ao seu redor.
Não vê tudo além do livro, mas no livro contém tudo, pois é exatamente o livro que desvia a sua atenção para o mundo.
O mundo olha para o poeta, o poeta toma um gole do café e o café é o mundo.
Nada, em sua totalidade, é menos do que tudo, isso inclui o café e o poeta.
Mas não inclui o mundo.
O mundo não é tudo, pois sempre foi tratado como tal.
E dentro de um já suposto tudo, existem muitos outros tudos para serem considerados.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Coca.

Suas pupilas guardam a escuridão da alma, seu silêncio esconde o ódio por si, por outro, por mundos, pelo tempo. Ela afasta aqueles ao seu redor, se esconde da luz que a cerca, respira a morte. Ela se afoga em mágoas esperando chegar à superfície, desiste de si mesma e desiste de desistir. Vive, mas sem viver. Cultua o mal estar, despreza o futuro e secreta destruição. É paradoxo que espera ser salvo pela razão.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Lamento Materno.

Desanimada maré,
Porém nada é
Eterno em mim.
Que venha o terno então!
Seja de ilusão teu voo, partida,
Assim, não vou reclamar besteiras
Muito menos, sofrida, chorar
Dores de cabeceiras, amores
Triste-magoados.
Mas foi tão pouco por mim
Que viste passados, choraste
Em outros, meus anos dourados!
Me sento e rio
Do rio em que vi-o nadar
Rio que já vira mar.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Fuja.

Os mosquitos não vão parar de morder seu pé, aquela moça bonita acha você insuportável e o dia não vai ser melhor amanhã. Seu alarme não vai tocar, os problemas dos outros não são tão simples assim e você não vai conseguir resolvê-los. Você não é o herói da história e muito menos o vilão. Ninguém vai notar se você não aparecer, encontros perfeitos não existem e você não é tão inteligente quanto pensa. O passado não vai voltar, ninguém liga para suas dores e para os seus dramas. Não vai ser uma mulher que te fará melhor e outras virão pra te provar isso. Não existe gente boa o suficiente que queira alguém assim. O mundo não é bom, você não pode sempre fugir da chuva e todos estão te evitando. A mulher do metrô não vai sorrir pra você, você não vai ganhar na loteria e não vai roubar um banco. Você não pode se culpar pelo estrago que o mundo lhe fez e não pode consertar o estrago que ele fez nos outros. Não existe vida após a morte, não se pode prever o futuro e você vai fracassar em ser extraordinário. Sua opinião não é uma verdade absoluta, seu raciocínio não é perfeito e você não é Deus.
Você não é Deus.
E ela não vai voltar.

domingo, 22 de setembro de 2013

Gota.

É um dia frio com pessoas frias.
Nada de bom acontece, mas o tempo continua a passar.
Em uma rua particularmente comum,
um ar condicionado particularmente comum está ligado.
E então uma gota cai.
Enquanto cai, o homem no sétimo andar do prédio ao lado grita com a mulher.
O filho do padeiro da esquina se queima com o calor do tabuleiro.
A empregada do segundo andar se masturba pensando no primo,
o porteiro da outra rua descansa os olhos e o escritor chora.
A dona do apartamento do segundo andar está,
enquanto a gota cai,
anotando um número de telefone,
um pouco distante dali.
O homem da cobertura está fora,
a criança do nono andar pensa em se tornar artista
e a gota continua a cair.
Por que o escritor chora?
A gota chega ao chão.
E o chão chora com o escritor.

Cegueira.

Estou nas mãos do destino, em um desejo irrefutável, imutável, irresponsável e inacreditável pela falta - da falta da falta - de vida. Suo a vontade de alegria, me recuso a inalar mais alguma coisa que não seja esse cigarro. Meu presente é de cinzas, meu passado de cetim e meu futuro é de ausência. Ausência do próprio futuro, talvez. (De mim?) Certo como a morte de agora, meus olhos não vêem mais a luz - ou a luz já não me vê. Minha alma é vazio infinito - se é que existe qualquer outro vazio - de um universo sem estrelas.
E o que sobra? O que existe, se não pode ser visto?
A escuridão.
A negrura da alma, do mundo.
Estou cego para o amor.
Estou morto.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

- P.

Ele colocou a primeira roupa e saiu de casa. Encontrar aquela mulher, gorda e ignóbil, era uma tarefa semanal entediante, mas necessária. Gostava de pensar nisso como cortar as unhas ou ir à igreja.
Seu incansável monólogo já estava atrapalhando os pensamentos de Paulo, que estavam na calcinha da garçonete, quando a comida chegou. Aproveitou o som do alimento sendo triturado na sua boca para ignorar o que estava sendo dito por aquela infeliz consequência de seu jantar, sentada à sua frente como um saco de estrume.
A menina pagou o jantar, de novo. Mesmo se tivesse dinheiro, Paulo não pagaria tanto por comer tão pouco nem em um milhão de anos. Era pra isso que ela servia afinal, não era? Paulo não tinha mais dinheiro. Ele havia torrado tudo com ressacas anteriores e, já que as bebidas também eram por conta dela, não gastava nenhum dinheiro para conseguir comê-la.
Sua vida não era mais do que comer e dormir. Não era o que ele havia imaginado, era melhor. A única parte que o divertia mais do que ver alguém se importando com ele era ver a cara de decepção que essas pessoas faziam quando percebiam que ele as abominava. Não era uma vida perfeita, mas chegava perto disso.
Paulo era feliz.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Futuro? (Ser eu.)

Acho que não tenho escapatória.
Físicos são prepotentes,
Escritores são depressivos,
Artistas são pobres,
Psicólogos são loucos,
Bons homens morrem cedo
E salafrários vão pra cadeia.
O que será de mim?

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Pia.

Minha pia abre sozinha.
Não é uma coisa recente, nem nada que tenha acontecido de uma hora pra outra. Ela começou pingando um pouco, depois começou a abrir mais e hoje em dia ela molha a minha cozinha inteira.
Fui perguntar pra ela o que ela queria, mas ela sempre muda de assunto e nunca consigo focar nessa questão.
Já tentei de tudo, tudo mesmo, falei inclusive com meu médico. Ele me disse que estou maluco, mas tenho certeza de que a pia é esquizofrênica. O médico não entende por que eu acredito que a minha pia tem problemas mentais, e eu, além de não compreender por que ele duvida de mim, ainda não encontrei algum outro motivo que ela teria pra ela se abrir sozinha. A pia, por outro lado, diz que está tudo bem e que meu médico é quem está maluco, diz que eu sou completamente são.
Infelizmente, talvez ela seja esquizofrênica, então não posso dar muita atenção ao que ela diz.

Querida Moça Bonita...

Não sou quem almejou que eu fosse, mas sou completo e infinito, agora que não corta minhas asas de pecado. Sou aquilo que sempre fui, com um pouco mais de amargura que o mundo me causou.
Vim para dizer-lhe que, apesar de não possuir qualquer traço de nobreza em meus atos e costumes - e isso você observou bem - meu espírito ainda é mais nobre do que seu débil caráter mesquinho.
Não acredito agora que um nobre de alma possa julgar as sombras do outro; não. O mais nobre é aquele que enxerga a nobreza em todos, e foi justamente isso que deixara pra trás: a humildade.
Amo-lhe ainda, mas diferente de como amava. Não de uma maneira egoísta ou exacerbada; amo como a todos os outros, vivos, mortos ou inanimados. Amo por ser fragmento do universo tão significante quanto eu, pois aprendi a amar a vida.
Ainda assim, guardarei o segredo da minha verdadeira natureza; não quero que zombem da visão que tenho de mim mesmo exatamente como zombei da sua própria.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Bom dia.

Você acordou muito bem hoje. Na verdade, acordou tão bem que tudo ao seu redor parece estar conspirando a seu favor. Você quer rir, chorar e viver em um dia de pura e inegável felicidade.
Pra ser sincero, é ela a razão do seu refrão, do seu céu nublado de manhã. É ela quem faz tudo ficar mais tranquilo, como no primeiro dia de primavera, como uma boa chuva de verão.
É uma pena que, justamente nesses dias em que parece que nada de tão ruim pode acontecer e estragar o seu humor, algo de ruim acontece.
E estraga o seu humor.

Boa noite.

Boa noite mesmo.
Isso mesmo, boa noite.
Não está entendendo?
Pois vou repetir:
Boa. Noite.
É isso mesmo que o senhor ouviu.
Quer que eu soletre?
B-o-a espaço n-o-i-t-e
Ponto.
É. Ainda não entendeu?
Não estou com paciência para palavras de baixo calão.
Falo como Eu bem entender, e pode ir me dando licença.
Não ouviu?
Me dê licença, pois vou me retirar.
Me orgulho sim.
O senhor teve o que estava pedindo, avisei para não me provocar.
O que?
Ah é?
Nem precisa fazer essa cara.
Só tenho mais uma coisa a dizer:
Obrigado.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Gripe.

Atordoa minha mente, diz o que ela sente mas não sente. Joga, perde, volta, luta, mata! Isso mesmo, Mata! E quando você vê que não tem mais solução, passa a andar na contramão desviando de melhoras, se afogando em travesseiro e comprimidos. Finge que está bem e vai trabalhar, finge que não fingiu e dorme pelo cansaço que o dia te deu. Pensa que vai passar logo, mas deixar pra lá faz demorar mais. Tudo demora mais agora, e o que você quer é só o fim. Mas não adianta mais chorar, meu amigo! Você colhe o que plantou, e plantou essa rotina.
Essa gripe é mesmo do demônio...

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Nada Mesmo.

Se o que quero
É só querer
E nada mais
Senão Querer
Nada quero.

Se o que preciso
Está em precisar
E nada além
Do Precisar
De nada preciso.

Se nada quero
Senão precisar
E de nada preciso
Senão querer
Nada sou.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Medo.

A loucura de qualquer homem não vem de instinto ou de nobreza. Sem bondade ou sutileza, é o medo que acaba com a mente, que nem sente quanto medo tem pra dar antes do fim. E é do fim que bem vem a loucura de qualquer homem! Acaba com a gente o medo que a gente mente que não tem. Mas se não tiver, não enlouquece, e se não enlouquecer, não vive. É o medo da morte que tem o homem que não quer temer. A certeza do fim, que mete medo quase sem querer.

domingo, 18 de agosto de 2013

Ruína.

Que reparem meu pesar
Meu penar em asas negras
Não me enfeitem de heroísmo

Não deixem de condenar
Meus atos sujos e podres
Pois sou tudo que erro

Que equilibrem na balança
Lamúrias e desfastios
Causadas pelo meu andar

Preparem a minha causa
Avisem aos inimigos
Pois o fim já não me teme

Que as águas desse mundo
Bebam toda a minha falta
De mim, nada mais terão.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Transe.

Me levanto às cinco da manhã.
Estou preso pelas correntes do medo.
Abro a geladeira, respingo o resto da garrafa no copo.
Fecho a geladeira.
Só preciso do amargo do álcool para conseguir engolir o amargo da vida.
Volto a dormir.
Fecho a geladeira.
O sonho é só mais um estado de espírito.
Viro o copo.
Me levanto às cinco da manhã.
Não existe um amanhã.
Ah...

Reis e Rainhas.

Somos reis e rainhas do mundo
Cercados por epifanias
Infestados pela peste
Corroídos pela ganância
Esculpidos pelo Diabo
Socorridos pela esperança
Avisados pela consciência
Banhados pela guerra
Atormentados pelo amanhã
Coloridos pelo caos
Administrados pela dor
Assombrados pelo passado
Maltratados pelo tempo
Abandonados por Deus
E destruídos pela vida.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Pessoal.

 - Está triste? - Perguntou meu parceiro, curioso pelo meu silêncio repentino.
 - Não. - Respondi.
 - Está feliz?
 - Não... Apenas pensando.
 - Pensando no que? - Insistiu ele, curioso.
 - Pensamentos pessoais.
 - Há! - Deu um riso cínico, mostrando sua prepotência. - Todos os pensamentos são pessoais, tolo!
 - Discordo. - Disse eu, tentando voltar à minha linha de raciocínio. - Eles só são pessoais enquanto eu não os divido com mais ninguém.
 - Pessoais e próprios, mas podem ser divididos! - A essa altura parecia persistir só pelo prazer de se mostrar superior.
 - Errado. - Acrescentei. Não gostava daquele jogo, mas me senti na obrigação de corrigí-lo. - Quando os compartilho, deixam de ser somente meus para tornarem-se parte de um coletivo. No caso: você. Além disso, ao escutá-lo, também cria dentro de si a cópia do pensamento, substituindo os termos "próprio" e "único" pelo que se pode chamar de "comum".
Meu parceiro calou-se por alguns segundos e vi que analisava minha afirmativa.
 - Você sofre do mal da juventude - e, ajudado por mais alguns segundos de silêncio, acrescentou: - O mal de querer discordar de tudo.
De primeira instância, considerei que a mudança de foco talvez fosse pelo estado de sono em que se encontrava, pois subiu para o seu quarto logo em seguida. Conhecendo o sujeito, porém, considerei a possibilidade de seus argumentos haverem acabado, mas por orgulho não o admitira.
De qualquer modo, ainda estou absorto demais em meus pensamentos para dar a esse enigma um minuto a mais da minha atenção.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Quisera o coração amar...

Pro inferno todos vocês! Já disse e repito, em alto e bom som: em sã consciência, nenhum anjo ou demônio trocaria minh'alma por um punhado de arroz sequer, e ainda assim rezo todos os dias pra que não nos levem pro mesmo purgatório! Ah não... Que me castiguem oitenta vezes mais, mas que não me ponham de frente aos meus criadores! Estes, por mais tolos que sejam, deviam implorar o mesmo, pois farei questão de os torturar o tanto que tiraram de mim. Oh, minhas doces paixões... De tanta amargura que o mundo me deu, tão amargo fiquei! Se ao menos pudesse voltar atrás e refazer cada uma... Poderia então morrer de amores enfim! Anseio a morte, por pior que seja; nada pode doer mais do que a falta que o coração faz... Ah! doce inocência... Venha me buscar de novo, pr'eu poder fechar os olhos tão secos de choro... Estão tão cansados de amar, inocência...

Beberrão.

Tampouco dispõe de piedade quanto de saúde. O doente só sabe beber, e parece que gosta disso; onde já se viu! Moleque bastardo afogando as mágoas que nem viveu! Ah, mas um dia ele aprende e toma juízo... Caso contrário, vai acabar tomando veneno de rato pensando que é álcool... O coitado já não sabe diferenciar claro do escuro, saindo de madrugada pra passear ao sol... E dorme até o anoitecer, veja só! Gasta dinheiro pecando, e gasta pecados rezando. Que ficasse em casa; ao menos serviria de companhia fúnebre no luto dos que já o amaram. Um dia vai desistir de cobrir o amargo na alma com o amargo na boca, aí ele vai ver! Mas por enquanto continua tentando, e ai de quem tentar pará-lo...

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Saber - Viver - Morrer.

Parte 1: Conhecimento.
Quanto menos ignorante sou, mais desejo que tivesse permanecido ignorante.
Devo acreditar, no entanto - talvez até para maior eficácia de espírito - que o processo inverso ocorre também com os pobres de intelecto, comprovando a teoria de que o ser humano é de eterna insatisfação.

Parte 2: Vida.
Nesse caso, não devo me preocupar em aprender ou não aprender, visto que qualquer caminho que eu tome levará ao mesmo resultado: uma vida quase que inteiramente sofrida, regada por pequenos momentos de felicidade.
Tal sofrimento só será cessado pela consequência natural dessa vida: a morte.

Parte 3: Morte.
A morte, portanto, é outro fato no qual estão submissos todos os seres pensantes - considero estes todos os seres vivos, visto que todos possuem um sistema "lógico", sob maior ou menor complexidade - e a ela não devemos atribuir importância menor do que a vida em si: embora curta e repentina, é a única medida da própria existência.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Poeta.

É romântico incorrigível
O eterno responsável
Por eterno mal estar

Destino e maldição terrível
De todo e qualquer respeitável
Poeta de fundo de bar

Ignóbil ser, insensível
Nega coração afável
Com doses de água do mar

Chora lamento indizível
E vê-se o quão lamentável
É, pro poeta, amar.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Delírio.

Se não for direito meu segurar-te no peito, que a melancolia tome conta do cotidiano. Honrarei com meus princípios última e única vez, pois é agora que o coração sente. E, desse sentimento, ele envelhece e cai, seco como uma pedra, no chão frio do banheiro de Um Bar. Aquele no qual te conheci, se lembra?
Ainda não me acostumei a ouvir trilhas sonoras sem ninguém.
Mas estou no caminho.

P.

Oh! Vida...

Queria não te ter nas dores de segunda-feira.
Queria que teu desejo não fosse eu, e sim a falta de mim.
Queria sofrer sozinho, ficar sozinho.
Queria morrer sozinho no escuro. Queria dizer que tenho medo, queria dizer que te desejo.
Quero querer o que o tempo quer pra mim.
E não mais do que isso.

-T.

Gato.

Às vezes eu queria ser o meu gato.
Talvez os problemas da vida
Pareçam muito menores
Quando se é um gato.
Talvez ele nem goste muito
Desse negócio de pensar
E isso é uma das coisas
Que eu mais gosto no meu gato.
Talvez ele nem queira mais viver
Fazer protestos, coisa e tal
Talvez ele só queira descansar
Com a mulher e filhos,
E isso é uma das coisas
Que eu mais gosto no meu gato.
E se um dia ele mudar
E quiser viver algo diferente
Acho que ele vai fazê-lo
Sem voltar atrás,
Sem lágrimas,
E isso é uma das coisas
Que eu mais gosto no meu gato.
Mas o que eu mais gosto mesmo
É de não gostar de absolutamente nada
E tenho quase certeza
De que meu gato me entende.

Manual de Apreciação de Chá.

Chás são líquidos muito egocêntricos.
Por esse fato, demoram para perceber a presença de qualquer um no ambiente.
Por esse mesmo fato, não obstante do tempo em que notam a presença de um indivíduo, percebem que o mesmo deseja ingerí-los - mesmo quando não deseja.
Chás são, portanto, os líquidos com menor índice de interação social já registrado e, embora haja protestos diários de ingleses e demais criaturas excêntricas, não se chegou a nenhum resultado que se contraponha à pesquisa.
Isso ocorre porque todas as teorias a favor dos chás foram criadas por pessoas incrivelmente chatas, e ninguém nunca se atreveu a lê-las até o final.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Observação.

Talvez amigos não sejam amigos, e talvez a verdade seja só uma questão de sobriedade. Eu me sinto sozinho, perdido no mundo pelos pecados da minha vida. Talvez a vida seja só mais um pecado e sejamos senhores da nossa existência. De qualquer modo, se a vida é uma ilusão e persistência é só uma virtude, estamos todos mortos.

O Louco.

A loucura transpassa a face e desce em forma de lágrima. Singular, guarda com ela toda a vida de um pobre coitado, que se atreve a imaginar e cobiçar o futuro. Rouba o comprar dos mais favorecidos, mas não se satisfaz. Tira vidas, mas nada o detém. Nada dá a ele a certeza de que está bem, nada pode devolver o tempo que perdeu chorando.

sábado, 27 de julho de 2013

Inércia Literária.

Vivemos da física e da metafísica, vivemos da obrigatoriedade penal. Vivemos em cima de pontes, muros, estradas, vivemos em cima dos outros. Somos um paradoxo do infinito, e fabricamos coerências paradoxais. Existe um padrão em cada aleatoriedade, uma regra em cada desordem, uma certeza do imprevisível. É algo que não se entende, não se vê. É a resposta para todas as perguntas que não fizemos.
Vivemos em um mundo de palavras, mas demoramos pra entender:
Palavras não precisam fazer sentido.
Palavras são o portal.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Viúva Negra.

Teus lábios negros me percorrem a espinha, e a escuridão dos teus olhos me adormece a esperança. Tua perseverança envenena meus sentidos e viras platéia para meu sofrer. Pego a lâmina, embebida de outros corações, e começo a trabalhar.
Minha consciência se demite enquanto o público regurgita.
Não pare agora! Não pare agora!
Só faltam mais algumas vértebras!
Me perdoe, mundo.
J'ai fait par amour.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Minha.

Me viciei no primeiro toque e me abri para seus perfumes. Ela fez meu coração parar, fez bater mais forte. Me arrastou para o fundo e me puxou da escuridão, me libertou de meus pecados e desenhou meu perdão em branco. Ela me tornou ausente de qualquer fraqueza, e me enfeitou em alegria. Eu não mais comia ou bebia, e meu único impedimento era sua falta. Me libertava a cada toque, me drogava com suas exigências e, sem mais nem menos, me vi apaixonado.
Então ela acabou.
Acabou a magia, acabaram as luzes.
Mergulhei na escuridão de sempre, cego com a claridade.
Meus sonhos viraram pó, e o pó se tornou meu sonho.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Rapadura.

Comi uma rapadura
No topo do morro
De joão ninguém.

joão ninguém reclamou,
A rapadura reclamou,
A rapadura me comeu.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Moedas.

Acordei para mais um dia de calçada com as roupas mais sujas do que meu passado.
Levantei-me do papelão macio e comecei a estender a mão para os "turistas" de rua.
Hoje o dia não está nada bom.
Duas horas trabalhando e não consegui o suficiente para um almoço.
Alguns vêm me perguntar como cheguei aqui, e a verdade é que eu não sei responder. Só mais uma dose, costumava dizer à minha mulher. Sou amante do álcool, e isso me torna um suicida indireto. Meus órgãos doem pelo seu excesso, então bebo para disfarçar a dor.
De vez em quando me vejo gritando enfurecido para crianças pela sua simples existência. Me pergunto o que me faz tão ruim assim para ser tratado como lixo. Já me indaguei o que faço para ser tratado diferente disso, mas prefiro a primeira pergunta.
Algumas coisas da vida não deveriam ser contadas.
Algumas coisas não deveriam nem mesmo ser vividas, quanto mais contadas.
A verdade é que sempre me achei melhor do que todo o resto, preferindo a morte do que o estado em que me encontro.
Na verdade, eu já estaria morto se a morte se desse ao trabalho de me oferecer uma carona.
Eu espero que o álcool me apague a lembrança de ser humano, pois não suporto ter que lembrar que já fui uma dessas crianças.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Mortal.

Ao enxergar a existência da mortalidade, a mortalidade me enxerga.
Deixa de ser apenas uma ideia abstrata e vem a ser um individual, que me tem tão claramente quanto a tenho. Seus olhos de perversidade, suas religiosas garras, seu bafo de vinho barato. Viva, faz comigo o que executava como ideia: destrói tudo de bom ao meu redor e deixa meu interior por ultimo; penetra em meu peito, dilacerando meus órgãos com a escuridão, deixando o vazio se embebedar de saudade.

Não me lembro da última vez que sorri.
É uma pena que o sorriso também tenha se esquecido de mim.

Desejo.

Por anos, quase desejei não tê-la matado.
Éramos jovens, e a pobre menina ainda não sabia viver. Só chegou a sair de casa sem permissão uma ou duas vezes antes de nos cruzarmos.
Era um parque de dia nublado quando nos encontramos. Ela bateu o olhar no meu e me olhou de cima a baixo. Senti sua hesitação, mas não desviei o rosto. Suas pupilas dilataram meus batimentos cardíacos, que há essa hora cantavam em arritmia. Em seguida, seu sorriso se abriu, revelando dentes feios e tortos, mas que me encantaram por sua sinceridade. Seus cabelos eram ondulados e vermelhos, e suas bochechas eram rosadas - mais tarde eu descobriria que a cor do rosto era consequência da minha presença.
Então, sem dizer adeus, desapareceu entre as plantas tão rápido quanto surgiu.
Foram os dois minutos mais bonitos da minha vida, e criei o hábito de procurá-la naquele mesmo lugar todos os dias.
E, como carinho de Deus, os minutos se repetiram, e continuaram se repetindo.
Nossas idades juntas não dariam mais do que três dezenas, e nossa perspicácia de mundo era a mesma de um pássaro doméstico. Não nos tocávamos e não trocávamos muitas palavras. Descobri que seu nome era Alice, e me lembraria da Alice de Lewis Carroll se não fosse pela cor de fogo de suas incontáveis mechas soltas.
Eu sabia que era um romance de criança, mas era meu primeiro romance de criança, então me deixei levar.
Um dia, com a ajuda de minha mãe, a escrevi um bilhete, que, junto com um mapa, mostrava a localização do que eu chamei de País das Maravilhas - em homenagem a Alice, obviamente. Entreguei o bilhete em mãos e a esperei na hora combinada, no local combinado.
Ela não apareceu.
Ela nunca mais apareceu.
Acho que parte de mim encarou isso como a pior rejeição já sofrida por um homem, e cheguei a acreditar que nunca seria amado de verdade por qualquer outro ser vivo.
Os fantasmas dessa ideia ainda me assombram.
Mais tarde descobriria que uma menina havia sido encontrada morta em um lago, próxima ao local indicado no mapa. De início, me recusei a acreditar que era ela e continuei indo ao parque. Ainda assim, uma ideia martelava na minha cabeça, e uma voz me lembrava do que ela havia dito em um dos dias que nos encontramos:
Eu não sei nadar.
Ao passar dos anos, a verdade ficou evidente demais para ser ignorada, e parei de procurá-la.
Nunca cheguei a confessar meu pequeno crime, mas no fundo eu sempre soube: foi meu o desejo que a matou.
Depois disso, não mais me atrevi a desejar.

domingo, 30 de junho de 2013

Marionetes.

Se pessoas fossem manipuláveis, e o mundo fosse de papel, o que você faria? O que faria se tudo se moldasse conforme a sua vontade? Conseguiria não mudá-lo? Conseguiria parar quando fosse "bom o suficiente"? Conseguiria faze-lo perfeito? E o que é perfeito, afinal? É um termo utópico, então como consertar tudo? Faria tudo do seu jeito, e se tornaria um ditador? Faria tudo do jeito deles, e os tornaria mimados? Deixaria o caos acontecer ignorando o resto?
E se o mundo for assim, e cada um de nós tiver essa capacidade?
Seria bom criar uma maneira para não deixarmos os outros saberem disso, certo?

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Carla.

Joana falou que me amava,
Não me ama mais.
Luiza falou que ficaria aqui pra sempre,
Não está mais.
Mariana disse que eu era o único,
Não sou mais.
Bruna disse que eu era especial,
Agora sou outro qualquer.
Carla disse que me odiava.

Vai tomar no cu, Carla.

Arrepio.

Arrepia em ti?
Arrepia em mim.
Me faz vibrar, vidrar.
Me faz gritar lamúrias.
Me abre as asas, e me faz tremular.
Contra mim,
E a favor,
Me revelou,
Me relevou.
E, quase sem querer,
Me quis.

Paredes.

Eu gosto de falar com as paredes.
Gosto de falar com você, pois me lembra minhas conversas com as paredes.
Não dá pra chamar uma parede pra sair, nem se espera resposta de uma.
Acho que gosto de me confessar para o nada, mesmo que não faça a menor diferença.
"Eu pequei."
Em casa, meus amigos são os cômodos.
Na rua, os cigarros.
Na morte, acredito que continuarei existindo, em eterna solidão.
Sem paredes.
Sem cigarros.
Sem nada.
Então é melhor eu ir treinando.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Shhh!

A hora não importa mais, então deixo pra lá todos os meus tempos.
O coração já não bate, então não adianta mais deixar o fogo aceso.
Não toco mais o chão, não quebro mais segundos, não me vendo mais.
Todo som que ouço é o que tem dentro de mim.
Shhh!
Está ouvindo?

Cansado.

Eu não confio nos meus tatos,
Estou me perdendo em blues e vinho barato.
Talvez o vento me leve embora,
Mas acho mais fácil apodrecer aqui
Junto com meus parasitas pessoais.
Eu não acredito em nenhum deles,
Não acredito em mim mesmo.
Não sou alguém insignificante,
Mas também não sou nada demais.
Acho que sou um buraco,
Esperando outros
Que caiam, que caibam,
Que preencham a escuridão.
Eu sou a arma
Apontada pra minha própria cabeça.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Tarde demais.

Quero dormir
Mas não posso
Quero me animar
Mas estou com sono
Quero cheirar pó
Mas não vou comprar
Quero tocar violão
Mas está longe demais
Quero desenhar
Mas não tem papel
Quero dançar
Mas não tem música
Quero sonhar
Mas agora eu já perdi o sono.

domingo, 23 de junho de 2013

Sem Palavras.

Sou um hipócrita.
Vivo em função das palavras, mas não as compreendo.
Não entendo o motivo delas, e definitivamente não entendo sua importância.
São só um conjunto de letras, mas se tornam mais importantes do que seu criador.
Passo a vida cercado por elas, rodeando-as com meu silêncio, e pra quê?
No final, formo com as palavras uma onipotência relativa.
Posso criar tudo que quero, e a partir da minha criação, elas me criam.
Palavras são, assim, deuses.
Não precisam de mim para existir, e não desaparecem comigo.
E o que sou eu, dominando esses deuses?
Apenas um jogador.
Um adestrador de palavras.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

João.

João manipula pessoas,
João manipula informação.
João decide quem sofre,
João decide quem não.
João chora e faz cena,
João ri e dá sermão.
João vive de máscara,
João anda com a multidão.
João diz que não sente,
João respira paixão.
João representa,
Em todos os casos,
João.

É meu o presente que me consome.

Teus males ternos,
Teu suave sabor.

Teu forte tempero,
Tua breve sutileza,
Tua clareza.

Teu sorriso de criança,
Dona da esperança,
Tua ausência em mim.

Tua indiferença,
Incrível descrença
Em tudo que representa
Aquilo que tento ser.

Viscosos sentimentos,
Vadios infortúnios,
Nada mais a fazer.

Talvez seja o fim,
Já que o fim tarda a chegar.

(Mas não vou dizer nada.)

Afinal,
Existe maior prova de amor do que o silêncio?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Brasil.

Está tudo muito mais ou menos.
O trânsito, as notícias, o mundo acordou assim.
Nublado.
As estações de metrô, os pontos de ônibus, os aeroportos,
Fechados.
Cinemas meio vazios,
Cabeças meio vazias,
Metades em todo lugar.
Essa é a grande revolução
Todos lutando pelo país
Mais mais ou menos que eu já vi.

domingo, 16 de junho de 2013

Foda-se.

Não sinto vontade de escrever, acho todos vocês um verdadeiro lixo.
Não sinto vontade de viver, pois sou parte desse grande lixo que são vocês.
Não quero nem reler esse texto por medo de vomitar minha própria alma.
E sei que ver minha alma vomitada me fará vomitar de novo.
Não sei quem veio com essa ideia estúpida de valorizar a vida.
Existem aproximadamente sete bilhões de pessoas no mundo que me fazem pensar o contrário, e eu sou uma delas.
Eu quero que o mundo exploda.
Está tudo uma merda.

sábado, 15 de junho de 2013

Transtorno de Personalidade Antissocial.

Ilimitados são os que não sentem, pois, por não lhes pesar a pena, desprezam o mal de viver. Talvez sejam os únicos capazes de definir "liberdade", sob a liderança apenas de Deus. E a nós, meros mortais, cabe apenas observar sem compreender as inúmeras artimanhas da carne.
Provocando medo e fascínio, tais seres humanos existem além de qualquer conceito, lei ou religião. Repousam por entre as falhas da sociedade, e se escondem do mundo em pele de gente, para fugirem da condição de monstros.
Mas se tal condição houver cura em comprimidos, ainda hão de extrair veneno; pois existir sem sofrimento gera inveja nos corações mais fracos.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Desejos.

Queria não te ver ou te sentir.
Queria não tremer a cada ausência que desacelera o tempo, ou não as notar.
Queria perder o vislumbre do teu olhar, o toque do teu suor e a mágoa do teu chorar.
Queria nunca ter existido, pra nunca te-la feito sofrer.
Na verdade, queria deixar de existir agora mesmo.

- T.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Pontos e Vírgulas.

Não escreva.
Se for escrever, não diga a verdade.
Se for dizer a verdade, não seja parcial.
Não fale sobre você mesmo.
Nao pense por você mesmo.
Não seja original.
Não aceite ordens.
Não escreva.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sádico.

Rio de novo, enquanto o ouço.
E mais alguns momentos de gargalhadas.
Não é possível...
Esse ar está intragável, mas não consigo sentir cheiro.
(socorro...)
Você vem comigo?
Acendo um cigarro.
Dispenso evidências e fecho a porta.
(socorro...)
Esse ar está perfeito.
(socorro...)
Isso é incrivelmente bom...
Consegue sentir?
Tente mais uma vez.

terça-feira, 4 de junho de 2013

-L.

A principal diferença
Entre mim e você
É que você separa casais
E eu participo deles

Mas não prestamos
Igual(mente).

Escorpiana.

Perdi o gosto pela vida, e preciso que me cubra com a tua paz.
Por que tudo que escrevo parece fútil? Por que todos os problemas parecem não pesar, e não encontro a tua voz pra me dizer o que importa? O que mudou em mim quando você me deixou? Será que tudo que eu tive de bom era teu? Será que estou destinado a ser um nada, caminhando pelas ruas da indiferença?
Os ventos levam minha dor pra longe, e secam as lágrimas que choro em teu nome. Passei a te imitar em coisas toscas, e sorrir para compensar os sorrisos que não vais mais dar. Talvez eu seja louco, afinal, como pensávamos... Já cresci por dentro, e por fora continuo o mesmo; não posso me mudar tanto, ou não vai me reconhecer quando eu for embora também, certo?
Espero poder lembrar do teu rosto ao te ver de novo, e melhorar da febre que me faz esquecer do meu.
Te acordo quando eu chegar em casa.

Lolita.

Seus sussurros incansáveis
Cabelos curtos e longos
Olhar sem olhar de verdade
Me prenda em seu toque,
Pequena...
Me jogue contra meus desejos
Me arranque as carnes da boca
Tire de mim meus farrapos
Tire de mim os olhares
Por que tanto olham pra mim?
Queime a decência
Deixa eu te acender o pavio
E deixa o sono pra lá
Não vai se arrepender,
Pequena...
Suas mãos que me batam com força
Hoje não vou mais chorar
Vou arranhar seus cheiros
Seus perfumes
Vou quebrar sua pele de vidro
E entrar na sua mente
Só paro quando o mundo acabar
Só se você me pedir pra parar,
Pequena...

domingo, 2 de junho de 2013

Luz Sombria.

Tua sombra me parasita
E desaprendo a amar
Teus olhos vis me fitam
Sem culpa e sem pesar

Tuas trevas se escondem
Em teu selo virginal
Afinidade se sobrepõe
À crueldade surreal

Tua boca vermelha em sangue
Teu corpo vestido em mel
Tua pele bebida em neve
Mortífera cascavel

Mas ao remover da maldade
Seus mantos de antipatia
Brota-lhe realidade
Despindo-lhe toda a magia.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Um Dia.

Um dia eu te escrevo.
Pode ser carta, bilhete, mas escrevo.
Espera a poeira baixar, espera o café esfriar.
Espera o coração parar de bater tão forte.
Um dia eu te paro na rua, te digo a verdade.
Digo que senti tua falta, tua ausência.
E aí depois disso eu te escrevo.
Escrevo como foi passar tanto tempo sem ti.
O que foi matar tudo que eu senti.
Te digo o que foi não sorrir ao saber de você.
Por não poder mais te ver.
Não poder mais te escrever.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sonho.

O pretérito perfeito - que de perfeito, nada tem - habita o subconsciente consciente, e o fluxo espaço-tempo dentro da mente ultrapassa a velocidade da luz. O que, pra todos os efeitos, não faz a menor diferença no resultado final. Por não saber que é concreta, a memória se desfaz, deixando rastros nas estrelas.

Manual dos Corações Partidos.

1 - Afogue as mágoas em pequenos vícios.
2 - Procure alento em braços de um amor passado.
3 - Não fique nunca sozinho.
4 - Memorize todos os momentos ruins, e os resgate sempre que necessário.
5 - Arrume um passatempo bobo.
6 - Crie em ti coragem pra deixar o tempo agir.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

De Criança.

Quero cochilar um pouco
Me revirar na cama
Fingir ser invisível

Quero sonhar acordado
Comer doce de leite
E acordar mais tarde

Quero brincar de namorar
Molhar os pés no mar
Pular de um precipício.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Abandonar o Navio.

Os ventos estão mudando, pequena.
As águas estão agitadas, e o mar está com gosto de sangue.
"É hoje, capitão."
A tempestade aumenta acima das nossas cabeças, e o ar corta a alma.
Todos os ladrões, patifes e trapaceiros afundam hoje.
Toda a tripulação abraça pela última vez esse mar filho da puta.
Uma vez me disseram que o mar é como uma mulher...
Acho que não havia entendido isso até agora.
Içar velas.
Preparar canhões.
Abandonem a esperança, homens.
Vamos valsar mais uma vez com a morte.

Só mais uma vez.

Existência Crítica.

De qualquer modo, tenho encontrado uma certa dificuldade em separar sonho de realidade.
Como exatamente eu comecei esse texto?
Esse gato nunca foi de muito carinho, talvez ele esteja tentando me mandar algum sinal.
Talvez, com os movimentos ao redor da minha perna, esteja tentando me dizer que o tempo é relativo.
Talvez seus olhos estejam tentando me explicar algo muito importante.
Talvez a pergunta fundamental não seja "o que", e sim "por que".
Por que sou eu?

Absolutamente Nada.

Eu não sinto amor.
Eu não sinto apego, ou pena.
Não sinto vontade, ou repulsa.
Não sinto frio, ou calor.
Eu sinto ódio.
Eu sinto muito ódio.
Fora isso, tudo é muito indiferente.
Indiferente demais, na minha opinião.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Amar.

Se a única opção é o amor,
E o amor não é opção alguma,
A liberdade é relativa.
Se posso ser tudo que sou,
E ao amar não posso mais,
O sentimento é opressor;
Uma prisão onde escolhi ser trancado.
E escolher o não-amar
Por não ter culhão de sofrer,
É me privar da opressão
Que eu mesmo me permiti.
De que me serve procurar
A ausência do meu amor,
Se mesmo sem estar contigo,
Parte de mim está em ti?

Sonhos.

Meus sonhos não mais aparecem, e os céus se escureceram. O mundo passa em câmera lenta, como um clipe de música brega. Choro meus próprios mares, e me sufoco em paixão; simples e sofrida, paixão que tenho por passado. A esperança se adaptou à inesistência, e as águas se acalmaram. Sei que, se nada mais me alegrar, e o mundo não me engolir a tempo, pensarei no teu sorriso, e a ansiedade se dissipará.
Como todos os sonhos bons se dissiparam na tua ausência.

Cecidit.

Ao anjo que me rodeia
Com o farfalhar de asas negras
Os olhos cor-de-noite
E profundidade do espírito
Troco a luz por escuridão
Troco pecado por perdão
Sacrifico a minha dor
E me curo em solidão
Para enfim poder clamar
Minhas sombras ao teu olhar
E transformar nós dois em um.
Invoco a ti, tenebroso condenado
Agora e para todo o sempre.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Te Acordo Quando Chegar.

E se estivermos errados, e tu'alma não mais pairar sobre mim?
E se minha memória for corroída aos poucos pela tua falta, e me esquecer de como tudo começou?
E se o céu for tão real quanto nossas esperanças?
(Já posso sentir a ausência das tuas mãos.)
Será que tudo que sobrou de mim está em você?
Será que não sou nada?
O que aconteceu?

-T.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Queria Eu Não Ter Quereres....

Queria ser um barco sem rumo, uma bala perdida. Tendo tanto a contar, e passar sem dizer nada. Queria causar um impacto seguido de reflexão, uma epifania. Queria saber tratar o mundo como o mundo me trata, e devolver as mágoas que as ondas trouxeram. Queria ser filho do fogo, e me aquecer sozinho. Queria ser filho das sombras e não ter medo do escuro. Queria encontrar o tesouro perdido, beijar a donzela indefesa e me perder no tempo. Queria ser uma piada boba contada a uma alma triste, uma história de amor que virou filme, um livro velho numa estante velha.
Mas eu queria, mais do que tudo, não querer tudo aquilo que acho que mereço, e aprender a ser feliz com o pouco que tenho.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Ofensivo.

Cheirar cocaína, tomar cafeína, injetar metanfetamina. Transar com a menina, ler um livro chato, comer biscoitos chatos. Ouvir a menina chata, viver a vida chata e cheirar mais pó. Dar um nó na garganta, falar "pra lá de borogodó", se masturbar só pensando nela, ficar só.
Gostosa,  ninfeta, por que não vem até o meu quarto me dizer coisas não pronunciáveis? Soletre pra mim teus desejos, e me enfeite com teu cheiro de suor.
Estupre minha sanidade, e defeque a realidade na minha cara. Cuspa teu sangue na minha boca, e castre os meus sonhos.
Quero acordar para a dor do amanhã, ou nunca mais acordar.

sábado, 4 de maio de 2013

Sem Título.

Tua mentira quase me confunde, mas teus lábios não têm tantas cores assim. Penso nos teus cheiros, que de teus só têm o nome. Ah, menina... Queria ao menos poder sentir teu carinho sem saber dos outros que te sentiram! Sou mera indecisão, paradoxo imperfeito, desejando aquilo que faz com que eu me afaste. E assim permaneço, sem estar de verdade: indo e voltando, sonhando acordado, bebendo da tua água sem matar a minha sede.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Lar.

Guardasses pra mim teu amor
Sussurrasses pra mim os teus medos
Salvaria de todos, a ti
Viraria um de teus segredos

Viveria sem cheiro e sem cor
Pra passear por ti sem notares
Guardaria toda a tua dor
Nos meus invisíveis olhares

Se eu fosse só pensamento
Fruto de mente sombria
Nas noites frias de tormento
Sonhos bons eu te levaria

E se mesmo sem desconfiança
A felicidade não te brotar
Enquanto houver esperança
Eu serei o teu lar.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Cansado do Cansaço.


Cansei de estragar palavras,
Apagar memórias
E sorrir chorando.

Cansei de apagar palavras,
Estragar memórias
E chorar sorrindo.

Cansei de me entregar à sorte,
Confiar no resto,
Me enforcar no amor.

Cansei de me entregar ao resto,
Confiar no amor,
Me enforcar na sorte.

Cansei de passar feriados
Chorando passados,
Matando saudade.

Cansei de passar saudade
Chorando passados,
Matando feriados.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Seja Breve.

Tua presença me entedia
Com teus lábios de monotonia
Vontade de deixar em paz
Cama que não me abraça mais
Paixão nova por silêncio
Solidão que deixa leve
Se for voltar a falar
(Por favor)
Seja breve.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quebre a Perna.


O segredo do teatro
São os olhos de pavor
De não ter comer no prato
Só com pinta de ator

E pra conquistar o povo
É ter voz ao atuar
Fingir que o velho é novo
E não parar de rimar

E por fim, aos homens bons
Que só sabem criticar
Deve ter sempre nas mãos
Algumas notas pra doar

Se você não quer viver
Em um sufoco sem igual
Sempre pode escolher
Fazer um cheque especial

terça-feira, 16 de abril de 2013

Vestir-te.

Quero rasgar tua garganta, dilacerar teus sonhos. Quero arrancar teu coração e aperta-lo, fingir que ainda bate. Quero me banhar em teu sangue, vestir teus órgãos. E quando acabar, quero estar imundo o suficiente para ser confundido com a tua alma.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Manutenção.

Estou em manutenção.
Apertando parafusos, recarregando baterias.
Quero um café.
Não tem texto hoje, desculpem pelo o transtorno.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Jogadores.

Estamos jogando com a morte, brincando com o perigo. Estamos gozando do dinheiro que não nos tem, e afogando as mágoas já afogadas. Meu corpo pede socorro, mas a idade cobre as dores, e o vinho não para de jorrar. Sorrimos felicidades bobas, sem saber do amanhã. Sem querer saber de nada, de futuro ou namorada, nós só queremos nos divertir. Não vamos abusar do pecado, amigos; vamos deixar que ele abuse de nós!

Reclama.

Reclama se eu ligo
Reclama se não
Reclama se eu falo
Reclama se não
Reclama de mim
Reclama da falta de mim
Reclama, reclama, reclama
Só sabe reclamar
Porra

Desculpa.

Desculpa arrogância crescente
Vontade idiota de ser
De Maria, o "Cara Valente"
É só meu jeito de viver

Não sou, nem longe, nem perto
As músicas que, no violão, arranho
Nunca estou no lugar certo
De Los Hermanos, sou o "Cara Estranho"

Se eu quiser beber, eu bebo
Do Silêncio que me machucou
Sozinho, agora percebo
Por que Caetano o cantou.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Rivotril

Teus olhos de tigre
Tua boca vil
Teu singelo vício
Por Rivotril

Tua marca de cor
Cicatriz carnal
Confunde o ódio
Com amor banal

Teus lábios, teus calos
Carrasco infiel
Traição perversa
De paixão cruel

Lágrimas sofridas
Sem ter coração
Palavras sentidas
Em tom de negação

Entregam teu ser
Todos os poréns;
Que a maré te leve
Aos braços de outro alguém.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Segunda.

Tua pele toca o amanhecer, e teu reflexo me queima. O passado ainda deixa marca nos lençóis, e os cigarros não matam mais a mágoa. Um inverso corrompido de um final que era pra ser, a morte que chegou enfim. Trabalho para construir um barco que navegue em teu olhar, e me afogo no vazio. É o fim, e o oposto de um: o princípio do eterno, devorado pela solidão.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Impossível.

Sou inadequado, inacabado.
Inquieto, de irresponsável ingratidão.
Insuportável inquilino, interferência infeliz.
Inerência inegável entre o ignóbil e a ignorância.
Incoerente.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Choro Seco.

Dizem que o amor é sentido pelo olhar.
Obrigado.

Teu olhar congelou o tempo, e me vi rodeado por pessoas que não me queriam lá. O nojo que pude sentir em tua alma foi mais do que suficiente para me lembrar que meu lugar não era aquele, e então me abandonei: guardei minha essência em uma única lágrima, que limpei com o guardanapo. Comi como todo o resto, senti o que todo o resto quis que eu sentisse. Tive medo de quem eu tinha me tornado, e respirei a falsidade com um sorriso. Minha vontade foi de ficar nu, em frente a todas aquelas camisas chiques e carteiras gordas. Tive vontade de gritar, chorar em seco e voltar para a chuva até me tornar parte dela. Naquele momento eu soube que não era o certo, e me lembrei dela. Se tem alguém que me salvaria, esse alguém seria ela - o anjo. Ah! se estivesse lá...
Não, moça bonita. Não sabes o que é amor, e não é por isso que te agradeço.
Agradeço pelos olhos frios, pois estes me lembraram os olhos quentes que me criaram.

E agora sei que sou bem mais do que uma gota em um guardanapo.

-T.

A Alma.

Mergulha as mãos no barro, e lá encontra uma alma.
Perdido, perdida, os dois se vêem sem saída.
Leva as mãos até o peito, e a alma até o corpo.
Sua vida cria cor, e jorra água pelos olhos.
Mostra seus dentes sem intenção de espantar inimigos - ri.
Ama, odeia, vai e volta; vive dez anos em um dia, e chora de novo ao pôr do sol.
Entende todos os "porquês" e "poréns" de todo o universo, e se afoga.
Dá uma chance a outro de encontrar uma alma no barro.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

O Eterno Nem Sempre É Terno.

Essa impaciência me devora, e agora suplico pela ausência dela. Seus hábitos não me interessam, seus sorrisos não melhoram a dor, e suas verdades não são mais críveis. O único conforto é saber que um dia tudo vai mudar, mas o tempo desacelera a cada segundo, e a eternidade tarda a se pôr.

Lista de Afazeres.

1 - Arruinar o casamento.
2 - Começar com um vício não muito prejudicial (como paixões juvenis ou metanfetamina).
3 - Escrever um livro.
4 - Conseguir um bom corte de cabelo.
5 - Um segundo divórcio.
6 - Tomar um banho de chuva que me lave a alma.
7 - Morrer como um homem bom.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Acorde.

Teus braços me envolvem, e o céu me dá asas para sair do chão. Te transformo em uma música que não consigo dançar, e te tiro da minha lista de reprodução. Jogo fora os balões que me seguram no ar e rasgo nuvens pelos teus olhos. Me quebro em mil pássaros e o acorde certo me faz acordar. Ando e me transformo, mudo de estado e cresço. Choro a chuva que te faz amar e me perco de vista ao anoitecer.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Aos Fãs.

A maior parte das pessoas que vêm parar aqui se encontrou em minhas palavras, ou procura encontrar uma resposta para tudo de ruim que existe na vida delas, e sinto muito em ter que informar a essa parcela que não encontrarão nada além de textos que dão vida aos problemas dos quais vocês estão tentando escapar.
A esses leitores, podem parar de ler por aqui.
Se você chegou a essa parte do texto, é porque faz parte do grupo que está aqui pelo interesse na minha escrita ou por simples curiosidade. Lamento muito por não sentirem a dor que sinto ao arrancar estas palavras de minha carne, pois é uma sensação esplêndida.
E por último, àqueles que, tanto quanto eu, aspiram, respiram e transpiram a escrita, desejo o mais sarcástico "Boa Sorte", com toda a falsidade que posso colocar em oito letras.

-T.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Terapia.

Eu estou bem.
Não estou muito bem, mas bem o suficiente para levantar da cama.
Talvez não esteja muito simpático, mas esse é o meu jeito.
Ultimamente ando mais amargo do que meu café, com todas essas reclamações silenciosas sobre a vida e sobre a ausência de café.
Não, eu não estou bem.
Há dois anos parasito a casa de parentes por falta de opção, fumo meio maço por dia e quase não vejo a luz do sol.
O problema é que sou um escritor, como deve ter reparado.
Não tenho a vida que muitos anseiam, porque na verdade eu não anseio por muita coisa. Durmo pensando em acordar, e acordo pensando em dormir, e passo a maior parte dos dias assim.
Infelizmente, tanto para mim quanto para meus leitores, o tema que "escolhi" - ainda que prefira dizer que ele me escolheu - não é um dos mais agradáveis.
Vida.
Um dos menos polêmicos e mais monótonos temas que toda a humanidade já enfrentou, mas que engloba, de forma compreensível, todas as maravilhosas aventuras do cotidiano.
Talvez eu tenha desaprendido a viver, mas é mais provável que eu tenha aprendido de uma vez por todas.
Digo àqueles que se encontram no áspero caminho do aprendizado que o fim não é nada além do fim. Todas as coisas se tornam simples, e o cotidiano se torna tão relaxante quanto uma boa noite de sono. As dores se tornam menores uma vez que já as compreende, e aos poucos tudo é considerado fútil - inclusive você - pois já terá sentido toda a complexidade do emocional humano.
Foda-se, eu já me esqueci por que resolvi começar a escrever este texto.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sempre Eu.

Sou teus medos, sou teu perdão. Sou tua cólica, tua solidão, sou o eco que vem de todos os lugares, e de lugar algum. Sou a incoerência do resultado, sou a irrelevância da questão. Sou o nada, e ao mesmo tempo tudo. Sou o próton, sou o elétron. Eu sou um átomo, e sou um universo. Sou um homem, uma mulher, um feto. Sou o catarro cuspido no chão, e a cor que escolheram para a parede. Sou a luz da Lua, eu sou a Lua. Eu sou você, e ao mesmo tempo aquele que você procura. Eu sou só um velho deprimido com a idade, ou um jovem feliz de ignorância. Sou um mero escritor, como todo o resto. E mais do que tudo, sou eu mesmo, de um jeito que nenhum outro eu jamais foi.

terça-feira, 12 de março de 2013

Bocejo.

Não sei mais o que faço aqui.
Por meses, escrevi o que não senti, e derramei lágrimas secas... Não sou feliz, nem certo, nem adequado. Eu tenho a mesma sombra que tinha quando comecei a escrever, mas esqueci que tinha. Hoje, já crescido, percebo o quão idiota fui, por esquecer de quem sou eu.
Quem eu sou?
Volto a minha atenção para o café, que não parece estar de muito bom humor hoje.
Talvez eu tenha perdido mesmo a cabeça.

Ponto Final.

Talvez hoje, ciente de meus atos e de meus não-atos, esteja pronto para a morte.
Mas o que é morte, afinal?
O apodrecimento da carne por seres decompositores, e fim de qualquer possível manifestação da alma sobre o corpo... De acordo com o dicionário, "Interrupção definitiva da vida".
Minha razão já não movimenta meus braços, e minha consciência já não move minhas pernas. Estou preso a palavras que não são minhas, e a uma vida que homem nenhum jamais teve. Suporto todos os dias ásperos com a mesma tranquilidade que encaro o fim, e passo noites ensolaradas esperando-o.
Mas o que eu encaro não é mais o fim.
Até vocês, leitores, poderiam dizer que isso faz parte da rotina, ou que se trata de um problema psicológico... Mas por que não dizer a verdade? Por que não admitir que nada queima como queimava, que nada dói como doía? Por que não admitem?
No fim, já estamos todos mortos.
E sabe qual é a pior parte?
Nunca chegamos a viver.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Carlos.

Carlos é um bom menino.
Levanta de manhã cedo e ajuda Seu João da padaria.
Com os trocados que ganha de Seu João, Carlos vai até o morro mais próximo e compra vinte reais em maconha.
Carlos prepara a maconha e vende por sessenta reais na praça.
Com o dinheiro que ganha na praça, Carlos compra tequila pra vender na porta de boate.
Carlos lucra, em um dia, quase cem reais, que usa para ajudar a sua mãe nas contas.
"Carlos é um bom menino."

quarta-feira, 6 de março de 2013

Bom Dia.

Faço tudo o que faço pelo simples prazer de não estar fazendo algo pior.
Trato todo o descaso com a mesma consideração que trato o amor.
Rasgo-me sempre em desgaste pelo corroer que o ócio me dá, e volto a fazer o que quero até a vontade me cansar.
Durmo sempre que mato toda a felicidade de estar acordado.
E acordo sempre que lembro que sou um prisioneiro do amanhecer.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Mais Só.

Teu lábio escurece a tarde, e o calor dos dois corpos morre. Minha mente vai além das cores que podes ver, e peco por querer. Tu não és minha, nunca foi, e nunca será. Subo em teus braços para alcançar meu próprio eu, mas tropeço em desespero. Teu travesseiro me sufoca, e caio no lenço negro e infinito da verdade. Acordo, e tua voz me arranha o ouvido. Tua pele tira pedaços da minha, e teus lábios me secam por dentro. Tu és a mesma, mas eu mudei. Meu eu é mais só do que é teu.
Eu sinto muito.

- T.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Esse Bem Que Mal Me Tem...

Se mal estou, que mal faz?
O que estou, que mal estou, mas estou tão mal?
E se estou bem, bem como mal, o que estou, afinal?
Que paradoxo forma o bem-estar, no lamentar do não-lamentar?
E o meu bem, que mal faz meu mal parar?
Meu mal fazer ora de bem, ora de mal, mal me faz mal, quanto mais bem.
E no bem-mal eu vou vivendo...

Que Mal Faz?

Estou mal com ela.
Pior sem ela.
Bem com ela, até acabar.
Mal sem ela, até ela voltar.
Mal com ela, por saber que tem um fim.
Bem com ela, por não saber viver sem mim.
Mas sem ela, eu não vivo sem.
E comigo, ela não vive bem.
Queria eu que existisse alguém,
Com um sorriso como o que ela tem,
Pra me encantar, como ela já cansou,
Roubar-me a calma como ela roubou.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Consciência.

Vasta, sábia e vívida, o tumor do coração; o medo que assola alguns dos mais temidos e destemidos homens. O que atormenta os inocentes por dar a certeza de culpa. Culpa esta que só quem tem é quem não a percebe. Está nos ventos que uivam na alma do natal passado, a dor que dá pensar que está pensando no impensável.
Eu digo o que devo fazer ou não. Eu faço meu destino, minhas sinas e meus pecados. Consciência? É só alucinação de tolos, um peso que atrapalha o caminho fora das linhas tortas da lei.
Eu faço minhas próprias regras.
Eu faço meu próprio Eu.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Molhados.

Teu olhar sossegou meus lábios, e o silêncio se fez sereno. Tirei tuas vestes, estas já não me serviam mais. Beijei-te o pescoço e senti teu suspiro em meu ouvido. Me despi também, minhas roupas já não tinham utilidade. O ato não poderia ter outro nome: Amor. Puro, sincero e violento, exatamente como o sentimento. Talvez esse fosse o motivo por ter vivido o que vivi, sofrido o que sofri. O passado já não aparecia, e as mágoas se fecharam em um som vindo da tua boca. Molhados, nós sabíamos que não seria outro lugar, ou outro alguém. Éramos só nós dois, além da vida e da morte.
E então, sem mais nem menos, me tornei eternamente teu.

Cotidiano.

Teus olhos me consomem o sono, e tuas lágrimas limpam o sorriso da minha cara. Tuas palavras, embora curtas e raras, quebram meu peito em agonia conforme a música vai acabando. Tua respiração me tira o fôlego, e tua voz me tira o som. "Para", e meu mundo cai. Essa é a hora certa para fazer tudo errado dessa vez. Esse é o momento de sair pela tua porta, subir até a cobertura do prédio, e ser reconhecido pelo resto por ser um tolo. Na minha opinião, sou só mais um apaixonado, dentre os tantos que pulam prédios todos os dias para matar a infelicidade do meu amanhecer.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Necro-Papo.

Termino de brincar com o senhor Arlindo e passo para o próximo corpo.
- "Causas Naturais", diz aqui. Veremos isso agora...
O nome da infeliz era Amanda Ferrari. Amanda... Eu nunca gostei muito desse nome, mas essa daí parecia ser boazinha. Tinha 15 anos, 3 meses e 16 dias.
- Você até que era bem gostosa, Amanda.
Olho para o corpo e começo meu trabalho. Sem dificuldade, começo a cortar o peitoral. Por mais que eu tente, não consigo ignorar seus seios, fartos demais para uma adolescente, e seus mamilos pequenos. Sua pele é branca como a neve, pálida como a morte. Minha mão desce para as suas coxas e me sinto desviado de meu objetivo inicial.
Volto meu cuidado à lâmina e paro de imaginar coisas.
Meu olhar ainda escorrega uma, duas, três vezes enquanto meu bisturi penetra em sua pele, mas o líquido vermelho que sai de dentro dela finalmente me faz voltar à realidade e terminar o meu trabalho.
Ao abrir o peitoral e ver o coração da moça, me lembro do tempo em que eu chorava. Chorava por não ter sentimento correspondido... Com o tempo, parei de amar... ou de sofrer por amor. Honestamente, nunca soube a diferença. Fui um menino romântico, acho eu.
- Isso não vai fazer falta.
Arranco seu coração e guardo para experimentos futuros.
Nunca gostei muito de vivos. Até nessa mesma época, me apaixonava ao ver uma menina dormindo... Acho que foi por isso que acabei parando em um necrotério. Sou apaixonado pela morte e por todos os seus agentes. Da doença à podridão da carne, tudo ali me fascina.
- Sabe por que gosto dos mortos, Srta. Ferrari?
Ela não responde.
Me abaixo um pouco e fico na altura de seus ouvidos.
Ela continua sem responder.
- Não vai nem tentar?
Por um instante, ela parece prestar atenção. Por um instante, o olhar fixo para o teto parece mover-se milímetros, e sua cabeça parece querer virar um pouco mais para ouvir o que tenho a dizer. Por um instante, a vida parece percorrer o coração da virgem.
Então sussurro:
- Pois os mortos não falam.
E esse instante acaba.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Volta.

Sonhei com a escuridão e voltei a escrever. Cresci com a solidão, e deixei de tentar esquecer. Durmo em um quarto na companhia da morte lenta, de um copo de vinho e da boa vontade do tempo. Jogo xadrez sozinho e ganho, pago pra ver e me desfaço. Não há mais solução para homens engravatados como eu, então não adianta sorrir. Só adianta chorar, se não for pedir demais de mim mesmo.

- Xeque Mate.

Ordem e Progresso.

Os ricos comem lixo e os porcos comem ouro. Os carros gritam e batem, e os que passam param para ver o sangue. Cuspe nas ruas, cuspe na cara de quem cospe. Como sei que estou sendo enganado se não me ensinaram o que significa saber? Maleta na mão e fumaça no pulmão, o mundo gira e pisam nas ruas cuspidas, enquanto os ratos comem outros ratos. Suas cuecas comem seu dinheiro, mas o povo morre sem comer. Vê o assalto e pede ao céu que não seja você. Não tem resposta, o céu morreu com a fumaça. Arranho a garganta e me preparo para a execução. Relaxo, sento e rio com o que passa na televisão. Será que não sobrou nada para se temer afinal?

Conselhos Cuspidos de Uma Boca Sem Voz.

Separe as meias brancas das meias coloridas na hora de lavar.
Lembre-se de varrer atrás das cômodas velhas.
Tome cuidado ao mexer com objetos pontiagudos e com lembranças.
Lembre-se de desligar o gás se não quiser morrer, e de deixar ligado se quiser.
Não viva pensando que sabe o que é viver, e nem viva tentando descobrir.
Tenha cuidado ao passar por becos escuros, e tenha cuidado ao dormir.
Tenha cuidado ao sonhar, pois pode se perder e não voltar mais.
Não tenha medo de levantar da cama de manhã, pois nada pode ser pior do que continuar lá.
Não ouse perdoar o imperdoável e, acima de tudo, evite banheiros públicos.

Boa noite.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Completo.

Sinto que parte da minha essência padeceu ao teu olhar. Meu corpo se desfez em vários com o teu cantar, e a vida finalmente fez sentido... Então estou te deixando, pois encontrei o que a raça humana procura, e não tenho por que viver. Não tenho por que morrer, mas morrerei, pois não há outro jeito, senão esse, de acabar com esse lamento, que é ver a vida ser boa e gentil. Se não tenho sofrimento, quem sou eu, senão ninguém? Quão finito é meu conhecimento, se já sei tudo que quis aprender? A morte, por outro lado, tem outra história, ainda mais curiosa. Se eu voltar, será em despedida. Se eu ficar lá, será porque me apaixonei pelo nada que me espera. De qualquer jeito, não temam o fim como eu temi; temam a falta dele, pois essa falta é pior do que a vida em si.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Um Bom Dia.

Tua presença invade meu espaço, mas as lâminas a cortam sem dificuldade alguma. A faca penetra no teu corpo e em tua alma, como se a eles pertencessem. Lá fora, a chuva bate no telhado, e purifica os pecadores, e torna esse dia perfeito. Aqui dentro, a única música no ar é a tua voz, e nunca fiquei tão feliz em ouvi-la. Tua respiração ofegante me faz acordar a consciência, que vê o ato, olha pro lado e volta a dormir. Não há nada que me faça parar. Não há nada que me deixe triste ou pesado. Não há nada que te salve. E quando tudo acabar, em um dia ou dois, não haverá nada mais para ser descoberto. Teus olhos brilharão pela última vez hoje, e isso que faz esse dia ainda mais especial.

Durma bem.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Testamento.

Tudo que a fez minha continua ali, mas ela não. O porta-retratos, as palavras e o perfume dela continuam aí, e não serei eu a tira-los. Espero que o tempo os apodreça, ou que me leve pra longe de tudo, pois no que ela tocou eu não toco mais. Talvez por respeito, mas muito mais por medo... Honestamente, não sei o que vai acontecer comigo se tiver algo assim em mãos.
Infelizmente, ela me tocou, e esse é o motivo dessa carta. Essa parte de mim eu não quero mais, então eu deixo, junto a esse texto, a minha alma, e espero que aquele que a encontrar faça bom uso dela, seja lá quem for.

-T.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Brinquedo Velho.

Estou aqui
Esgotado e destruído
Quebrado e substituído
Consertado e esquecido
Pronto para tomar
As devidas providências
Com quem me colocou aqui.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Reflexões Pessoais de Um Velho Bêbado e Suicida.

A escuridão me persegue nos confins da alma, e o amor morre sufocado. Se existiu, foi no segundo em que me vi morrer sem ti. Foi nos momentos em que te deixei, e nas horas que não me quiseste mais... Tu eras minha luz nos momentos mais sombrios, e meu vinho em momentos mais sóbrios... E cá estou eu, bebendo uma cerveja com a solidão... Talvez o breu do espírito não seja de todo mal!
Ainda que for, é a única coisa que tenho, então vou tratar de rezar e calar a minha boca.

P.

Inquieto.

A ansiedade me corrói, e caio derrotado diante do teu protesto mais cruel: o silêncio. Coloco as palavras em tua boca, mas elas não saem. Um sim teria sido mais digno de ouvir, menos sofrido de sentir, mas teu "talvez" calado me leva às alturas e faz enlouquecer. Me dá o frio na barriga de logo antes de morrer, enquanto a cabeça tenta encaixar os fatos. Me vejo pulando em um imenso buraco negro, e de repente...
Então deixarei o texto sem fim, assim como tua ausência me deixou.

Eu?

Quem eu sou?
Eu queria ser alguém, só que eu não sou ninguém. Eu não sou nem eu, nem outra pessoa. Nem o herói, nem o covarde. Sou os dois, mas como dois? Se sou o ser e o não ser, sou tanto tudo quanto um nulo. Só estou esperando para ser algo pequeno, já que são essas coisas que importam de verdade.