sexta-feira, 29 de junho de 2012

Não Retorno.

Tudo vira cinzas, e a verdade se desfaz. A saudade da certeza aparece, e o que tinha de bom se acaba. O lábio deseja a alma, e a alma deseja o corpo. Corre pelas veias a vontade de voltar, mas o medo de fazer sofrer devora a paixão. Sequer consegue se aquietar perante a sua imagem, e percebe que é ela quem o faz sorrir. Fecha a boca antes de emitir som, pois é tarde demais; a espera já sufocou a chance de não acabar, e a amizade brota daquilo que não está mais lá.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Doutor.

Eu espero que você entenda que eu sei exatamente o que está passando na minha cabeça, e está tudo em ordem.
Não é um tumor, é algo mais vivo, e conversa comigo.
Fala sobre como as coisas dariam certo se fossem de outro jeito, e aponta os erros da vida.
Não é uma voz, doutor. É uma linha de pensamento...
Eu não estou maluco. Você sabe disso, não sabe?
Eu não sou igual ao resto, mas isso não me faz de mim um doente mental.
Foi o que pareceu que você disse...
Quem?
Ah, claro!
Se a amo? É óbvio!
A conheço há pouco tempo, mas eu percebi que ela é a única que me faz feliz.
É, eu sei que ela não existe.
Claro, mas o que posso fazer? Ela é doce, e bonita, e é a única que me dá atenção nesse fim de mundo!
O que?
É claro que gosto das nossas conversas, você é o único que me mantém são.
Sim, eu sei que o senhor também não existe, doutor.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sonhador de Rua.

Era uma noite escura, o frio aquecia a solidão e tumultuava os pensamentos. O chão mantinha a dignidade daqueles que se contentavam em pisa-lo somente. Pegou o fiapo de esperança e usou para conseguir dormir, cobriu-se com a fome. Sonhou com o pouco de alegria que, em sono, tinha no coração; era pedaço exposto da ferida antiga, agora suja de terra e satisfação. Acordou chorando, limpou o rosto e logo se fez calar. Não queria desperdiçar a tristeza que guardava, pois era a única coisa que ainda tinha dentro de si toda manhã.

Deus de Si.

Sente um coração surtando, saltando, implorando perdão e lutando contra si mesmo. Sua respiração se torna ofegante enquanto ele percebe que não pode controlar tudo. Logo Ele! Deus de si mesmo e de tudo ao seu redor...
Sente o álcool queimar sua alma, mas nada acaba. Corre a lâmina no próximo corpo, mas não se aquieta. Fecha os olhos e respira, olha para o mundo e percebe sua insignificância. Mede a calma e estica o tempo que aguentaria sem as curvas dela. Comete o pecado de lembrar, e se pune duas vezes.
Sai do necrotério e vai pro bar, foi um dia duro... Nem tudo pode ser medido em vivo e morto. Tem coisas que ficam no meio termo, coisas como ele.  Bebe um gole do fogo e sente seu coração parando. Sorri sem humor, e tudo volta ao lugar de sempre.

Nostalgia.

E quando você acha que nunca vai acabar, ela se vai. A dor se põe do mesmo jeito que nasceu: sem hora e sem aviso. As cores voltam ao seu lugar e o vazio volta a ser preenchido por tudo aquilo que se escondeu perante o sofrimento. Mas até a ausência de um nada deixa um não-preenchido dentro de você. A ausência da dor que te ligava ao passado, aquilo que mantinha deu coração batendo para todo ontem que havia existido, e então, sem mais nem menos, outro triste surge. Surge a nostalgia, que consome o amanhã esperando que de suas cinzas ressurja o ontem.

Estar.

Sinto uma inquietação quase o tempo inteiro, sinto um aperto no peito quando não estou fazendo algo que me distraia. Não consigo mais pensar direito, não consigo mais sentir do mesmo jeito que sentia. Estou cheio de tantos problemas, estou cheio da vida. Sinto esse desejo de sumir, um mal estar só de... respirar. Um mal estar só por estar vivo mais um dia nesse lugar.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Poema Fétido.

Não importa quantos gritos você dê,
Quantas ameaças você faça.
Não importa quantos problemas você tem,
Quantas contas você paga.
Não ligo pra todas as suas palavras
Quando tenta me fazer pena,
Você sempre será pra mim
O mais inútil dos humanos,
Se é que posso classificá-lo como um.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Erro.

Era a hora errada e a pessoa errada, o dia errado e os sapatos errados.
As flores erradas e o cartão errado.
A boca tremia, errando cada palavra; conjugação errada e verbo errado.
Errei seus olhos e errei o coração, errei o jeito e o sujeito.
Caminhei de volta pelo caminho errado e errei o que fazer de novo porque voltei.
Voltei pro lugar errado de onde tinha saído, corri errado e tropecei.
Me sujei de lama e chorei por todas as coisas certas terem dado errado.
Peguei o ônibus errado e fui parar na cidade certa.
Andei pela calçada certa e esbarrei com a pessoa certa.
Consegui falar certo o que queria dizer, e acertei o nome que me fez sorrir.
Era a hora certa e nada podia mudar o que eu sentia.
Era o sentimento certo e durou o tempo certo pra eu perceber que não existe certo ou errado;
É tudo uma questão de momento.
Foi aí que eu parei de errar.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Realidade, Sua.

Queria ter acordado pro mundo, fechado os olhos, sonhado contigo.
O silêncio já não me abraça mais.
As lágrimas ficam mais pesadas a cada passo, e ouço o grito da solidão.
Na minha mão sobrou um espaço, onde ficava a sua.
Não sei mais diferenciar o medo da irritação.
O resto chegou ao fim.

Solidão.

Não quero um sabor amargo, sangue coagulado e corpo danificado. Não quero a morte feita e esperada, o azedo da traição e o mal-estar da palavra triste. Não quero a educação de merda, nem quero a manutenção do que é ruim. Não quero a falsa esperança de que tudo se transforma, nem a mais bem feita mentira. Eu quero a solidão: simples, insegura, sofrida e sincera.

A Dança.

E então ele encontra o que procurava.
Olha pra um lado, olha pro outro, ninguém por perto.
Pega de volta sua força de vontade e sai.
Respira, sente, sorri.
Se vê livre de si mesmo, que agora descansa em paz.
Fecha os olhos, para de reclamar da música e dança.
Vive.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ele

Ele supõe o bom, acorda de manhã triste por não saber, come a monotonia e se deixa não sofrer. Pega o ônibus para a solidão e volta três dias depois. Ele ri das canções infantis, joga pedra no mar sujo e tira foto fazendo careta. Manda o sujeito da padaria pra merda e sempre leva uma coisinha ou outra sem pagar. Finge que não inventa tudo que acha que é, e não admite que sorri por ajudar. É egoísta pelo silencio, e deixa que pensem o que for. Requer atenção de muitos, mas de uma só já tava bom. Sofre por não amar quem devia, e acha que ninguém merece o que ele dá em troca de carinho. Fecha o coração e diz que acha chato, mas é curioso e quer saber. Quer servir de apoio, mas não só isso: quer apoiar. Quer rimar e ser sincero, quer falar que não é ele de quem diz, e quer tirar um pouco de si pra ser lembrado. Quer fotografar a paisagem e compartilhar com alguém. Quer ouvir os pássaros cantarem e acordar pra vida que tem em vez de ficar escrevendo o que mal entende e se entristecer por quem mal conhece. Quem mal sabe de onde ele vem.

Leve...

Hoje eu arranquei mais uma vez a esperança que nascia no meu jardim.
Eu cortei as pontas dos sonhos, que estavam ficando rebeldes.
Lavei todo o passado, que já estava muito sujo de tantas mágoas.
Acabei borrando meu presente, e agora eu não sei mais de que cor ele está.
Antes fosse só mais um sonho...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Faz.

Abre o teu sorriso, que me mata de amor. Bebe esse frio, e me mata de calor. Esquenta-me em vez de me queimar. Vou estar bem longe de qualquer que for teu lar. Esquece o que for te fazer mal, e não perdoa o que já te fez chorar. Martiriza o presente que te deixa desejar, e abandona o futuro que não conseguir te abandonar.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Chão.

Deitei no chão e chorei.
Ri por ter chorado, e comecei a chorar novamente.
Lembrei de ti e falei sozinho, enlouqueci.
Conversei com Napoleão e dormi.
Acordei e não consegui adormecer de novo.
Levantei.
Caí da escada e voltei a cair.
Senti ciúme e tentei morrer.
Falhei.
Comi chocolate e me fiz rir.
Bebi a calma que me fez arder.
Tropecei nos passos que resolvi fazer.
Deitei no chão e consegui tentar.
Tentei, e enfim eu parei de chorar.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Teu.

As cinzas se põem em um pedaço do teu espelho. O chão é coberto pela tristeza queimada que compõe o quarto, e suas lágrimas caem negras na palma da mão vermelha. Seu sorriso tenta se manter escondido no subconsciente enquanto a escuridão devora tudo que restou de bom na sua cabeça, mas a sombra o encontra. Devora a calma com seus olhos, finge a morte. Esbarra olhares com a tua foto, e volta ao trabalho de permanecer parado. Limpa o rosto, fecha a cara. Lava a alma e tranca a porta. Nada entra e nada sai, mas tudo que permanece se desfaz em tempo perdido e poeira. Vasculha o cômodo e junta os pedaços. Se deixa precisar, por uma última vez, da boca que o fez querer, mas o impediu de falar. Aquela que se fez sua, e o culpou por a desejar.

Humano.

Folheio as páginas de um livro tentando encontrar respostas para perguntas que ainda nem fiz. Vasculho os destroços do que sobrou das minhas lembranças para saber onde tudo começou, mas só encontro uma imagem distorcida de quem eles queriam que eu fosse. Meus desenhos dizem muito de mim, e pouco. Não entendo o que as letras querem dizer, e esse vazio de dentro parecia amigável antes de me transformar. Minha pele está perdendo a cor aos poucos, e as palmas de minhas mãos estão descascando. Talvez ser mais "humano" seja só uma fase. Eu consigo sentir meu coração bater e o enjôo que tenho por sorrir. Fico inquieto, andando de um lado para o outro em meu quarto tentando pensar no que é isso, mas sua imagem me vem a cabeça a cada dois minutos. Eu desvio o pensamento para os cantos em que você ainda não alcançou, mas você chega mais rápido cada vez que tento te afastar. De que adianta? Vou acabar como um desses homens pobres e loucos que sempre vejo pelas ruas: Arrumado, comprometido, atrasado e ocupado demais pra pensar nisso.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Parado.

Parei pra pensar em todo o tempo que passamos passeando por aí, pisando de um lado pro outro e sacando dinheiro em bancos. Pagando contas de coisas e não precisando de nada delas, para no final das contas ficarmos devendo o que não temos, para alguém que não conhecemos e nem ligamos de conhecer. Fugimos do sono e ficamos sonolentos o resto do dia, e à noite pensamos em ideias brilhantes que de manhã perdem o brilho que tem... São como estrelas no céu estrelado sem sol. O Sol: só um brilho menor está perto demais de tudo que nos convém. Sentada sozinha, a vida se joga, perdendo a calma. Perdendo a vida que tem nela mesma ao ler o que pensa ser mais um futuro; traçado, correto, contado, esperado, fugindo da responsabilidade de ser completamente irresponsável.

sábado, 9 de junho de 2012

Acidente.

Fitei meus olhos em sua essência, e vi o que não devia. Fechei as portas e caminhei pelo corredor da vida. Fingi acontecer, e mentiram ao acreditar. Sorri da boca pra fora, e o destino me embebedou. O pânico assoprou em meu ouvido e me mudou por dentro. Adivinhei o resultado e acidentei-me, fechando a porta da felicidade. Fugi da realidade, e a realidade se esqueceu de mim. Dormi e acordei, mas nada voltou ao lugar.

Desperdiçado.

A insanidade me deixa, e o normal se faz do impressionante. Caminho pela minha cabeça em círculos e me alimento da alma que ainda me restou. Tudo está acabando e o enjôo toma conta do meu estômago. Vomito a hipocrisia enquanto a ironia ri da minha cara. Marco a pele com o passado, e não me deixo abandonar a esperança de que tudo cai, tudo morre. Reescrevo a história e moldo a felicidade como posso. Trabalho em um estranho conforto de vida, e os objetivos se esfaqueiam, caindo um a um dentro da minha consciência. Imaculado o coração, nasce um câncer, que se espalha até apodrecer todo o resto da poesia.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Naufrágio.

Velejo nas mais inóspitas terras para encontrar o pensamento que me trouxe até você. Procuro a noite para avistar seus olhos, e sua imagem vem até mim na neblina. O navio é velho, um daqueles que já passaram por muita coisa e nunca afundaram. A tripulação, mais experiente ainda, e diante da miragem não se deixa abalar. Continuo navegando em direção ao desconhecido, esperando que o enorme buraco negro a minha frente me engula. Mas antes de perceber, sou jogado para uma outra linha de pensamento, e mergulho em seu sorriso. Tão bonito, esse, que marinheiros tão eficazes ficaram estupefatos. E o navio, velho e ancorado na dor, finalmente aceita o mar como seu único e verdadeiro amigo, e o amor como o causador de seu naufrágio.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sufocar.

Trocar o vício de cigarros pelo vício de pirulitos.
Trocar o vício de pirulitos pelo vício da solidão.
Tomar café à tarde.
Escrever textos em dias de chuva e deitar na cama.
Dormir ao som da inquietude.
Desenhar ao suspiro do silêncio.
Comemorar mais um objetivo destruído, matar a calma.
Correr e permanecer no mesmo lugar.
Sair da normalidade para entrar na monotonia.
Cair em tentação.
Cantar a canção da inutilidade,
Apagar as ideias tolas.
Sorrir ao perceber que ainda sente,
Chorar ao perceber que de nada adianta.
Continuar fugindo da realidade,
Resgatar o que nunca foi essencial.
Tirar teu coração do ócio,
Morrer com a verdade letal.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Saudade.

Quis viver pra ver no que que dá, quis pular e não voltar mais pro chão. Quis nadar em chocolate, me rebelar contra a realidade e comer pipoca doce todo dia. Quis olhar as estrelas e perceber que tenho muito a explorar, mas o sono me abraçou até o céu parar de piscar. Quis roubar pensamentos soltos e fazer uma máquina capaz de entender tudo que se passa, e me dar uma resposta para tudo que ainda virá. Quis perguntas idiotas e quis justificativas enigmáticas. Eu pedi o mistério, mas o óbvio se convidou pra festa. Comi arroz, feijão e cresci. Hoje quero querer o que já quis, e afugentar a rotina, que me tira dessa vontade de passado.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Casca.

Em versos mudos, escrevo minhas últimas palavras.
Corto a corda que me impede de cair no abismo, e suspiro o medo de algo novo.
Meus pés já não sentem mais o chão, e o vento frio acaricia minhas lágrimas.
Minha mente não se encontra mais lá, pois eu sonhei. Eu dormi acordado, e acordei dormindo.
Minhas asas se abrem e o céu me convida para entrar.
Me livro dessa casca e me enterro na eternidade.

O Último.

Não importa o quanto você peça, nada vai mudar.
Ando sem ter direção, só ando para frente, em uma calçada cheia de gente que tropeça em mim e não liga. Meu cigarro vem acompanhado da vontade de continuar, e chegar no meu destino antes que ele acabe parece vital. Passo por pessoas da minha idade, mas não sinto que nenhuma delas pertence a mim, e que eu não pertenço a nenhuma delas. Eu sou um velho de quase setenta anos; infantil, impaciente, inseguro e extremamente irritado com coisas sem importância. Quero parar a cada cinco minutos para descansar, mas se fizer isso o cigarro acaba. É o último.
Atravesso a rua, falta só meio quarteirão.
Continuo andando e perco o caminho. O cigarro chega ao fim.
Pego um maço no meu bolso, acendo outro e começo a andar.
Espero o sinal fechar e atravesso a rua, andando pela calçada sem direção.
Continuo a fumar e me perco nos meus pensamentos.
Espero que não acabe antes de chegar ao meu destino.
É o último cigarro.