sábado, 27 de agosto de 2016

Nós dois e nossos espinhos.

Se talvez meus pensamentos soltos
não me lembrassem nossa ineficácia,
minha existência seria mais plausível.
Desperto-me verme, desprezível, cria
e ainda assim acordo, dia após dia - dois
- pra descobrir-me perdido em nós - três:
    nós dois e nossos espinhos
- às vésperas do meu novo ano, queria eu
ao menos ter-te amado até o fim do dia
em nossos gozos mundanos, na sinestesia
de pintar sorrisos tolos ao longo dos anos
por essa cidade cinza, fria e sem gosto.
Não quero aguentar
esse final de agosto
no desgosto
do sentir.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Chega.

Francamente, não quero mais escrever sobre amor. Eu cansei dele. Cansei de passar noites em claro vendo filmes e fazendo sexo, cansei de brigas insignificantes por motivos que não existem. Cansei de ter que decidir entre duas ou mais mulheres que vivem sempre no meu pé, querendo que eu seja eu mesmo de um jeito que, honestamente, não corresponde à minha real natureza. Eu quero que tudo se foda. Eu quero que se foda o seu namorado corno, a sua mãe neurótica e doente. Quero que se foda o seu pai gordo desequilibrado, que tenta controlar seus relacionamentos por questões sexuais mal resolvidas espelhadas em você. Quero ver a merda do meu filme sem ser interrompido por alguém chupando meu pau, quero fazer comida sem transar na cozinha, quero fumar meu cigarro sem me sentir culpado porque vou morrer mais cedo e deixar você sozinha cuidando dos nossos futuros e imaginários filhos. Quero pagar as minhas próprias contas, abastecer a minha geladeira e quero não precisar te dedar como se eu devesse alguma coisa pra alguém. Eu to pouco me fodendo pra sua satisfação pessoal, eu to pouco me fodendo pro seu presente de dia dos namorados, eu to pouco me fodendo pro seu perfume novo ou pro brinco que você quer. Foda-se. O que é estar feliz pra você? Viver tendo que medir cada palavra pra que a ideia que eu tenho da sua perfeição não se desfaça pelo reles vislumbre de uma realidade chula? Ou apenas esperar que eu faça o mesmo? Foda-se, eu repito. Fodam-se seus conceitos de amor e plenitude, fodam-se seus poemas mal escritos e seu sorriso vago. Fodam-se as suas lágrimas, que se não forem pra aumentar minha vontade de socar sua cara, eu não sei pra que servem.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Não muita coisa.

Eu escrevo de volta?
Não muita coisa
pra não parecer
meloso
nem simples demais
pra não parecer comum.
Eu choro, mas digo?
Ignoro suas ligações
pra parecer
despretensioso
mas ligo de volta
sem respirar pesado
pra esconder o
desespero.
O que é isso?
Desinteresse.
Mas logo agora
que eu perdi o
desinteresse?
Perdi o jogo e a moça.
Pra onde ela foi?
Está com outro, mas
não estão se beijando,
apenas conversando.
Ela olha pra mim e sorri.
Ela me ama, mas não
me quer agora.
Ela me quer, mas
só se eu não disser
que a desejo de volta.
Quando foi, amor,
que ficamos tão
complicados?

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

panne d'inspiration

minha palavra não vem
se não for tua,
mas quero-te nua
como quero-te bem

então desarma
meus poemas, Dor
e desata os nós
do meu a pe ti te

traz-me limite.
traz-me fraqueza,
fadiga, remorso, torpor
mas não amor, ma petit...

tudo menos amor.