quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pássaro.

Abre as asas e volta a dormir.
Prisão cruel que não o deixa ir.
Culpa do homem que o aprisionou?
Culpa dele, que não quis fugir?
Reclama por ser cuidado, reclama de reclamar.
Reclama por não morrer de fome, por ter onde ficar.
Canta, canta. Canta por querer voar.
Então voe, pássaro infeliz.
Voe e me deixe viver em paz.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Pobre Maria.

Era uma vez Maria, uma invejosa.
Se falava mal é porque queria ter, mas não podia.
Se falava bem é porque não ligava.
Um dia Maria parou para ouvir o que estava dizendo.
Ficou tão horrorizada que não dormiu.
No dia seguinte perguntaram à Maria o que ela achava de um vestido, mas Maria não respondeu.
Ela não aguentava mais ouvir a própria voz, então se calou pra sempre.
Ninguém nunca mais ouviu Maria falar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Vir, Ver, Viver.

Falta de chá, de chão,
De paixão.
Vida doida, doída.
Vida dormida.
Vir, ver, viver,
Dormir.

domingo, 25 de novembro de 2012

Segredos.

Tu és a escuridão, e eu sou a Lua.
És a doença, e eu sou a cura.
Tu és, por maior que sejas, menor que tudo.
E maior que nada.
Tu és o frio, e eu sou o fogo.
Tu és a vida, e eu sou o caos.
Tu me completas, e eu te destruo.
Até o fim, querida.
Pois teu fim sou eu.

Câncer.

Sofro pela morte da música que movia meu corpo para um novo dia.
Sofro pelo toque da sua pele, que não me toca mais.
Sofro pelo desejo, que me deprime por não desejar.
Sofro por ela, que me viu em outros mais do que em mim mesmo.
E sofro por mim mesmo, que viu nela mais do que ela foi.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Silêncio.

Sentado no quarto, em agonia, fujo de mim mesmo pelas frestas na minha mente; infinitas rachaduras, denunciando seu estado deplorável.
Atravesso teu perfume e encontro o nada.
Estou em um espaço branco, olho pra trás e não vejo coisa alguma além da fresta que me trouxe até aqui. Fugi de meu único refúgio, fugi da minha única prisão.
Fecho os olhos e me imagino, abro-os e lá estou eu.
Sou o Deus de meu próprio mundo agora.
Fecho os olhos mais uma vez, e dessa vez imagino tudo ao meu redor.
Faço prédios, ruas, bairros e cidades, e aos poucos a Terra se molda à minha imagem e semelhança.
Abro os olhos e estou no meu quarto, de novo.
Ainda falta alguma coisa...
Fecho os olhos, e me imagino segurando uma faca.
Abro-os e me apunhalo no coração.
Acabou.
Está tudo em seu devido lugar agora.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Geladeira.

A solidão me devora a alma, e me quebra a respiração.
Valorizo demais a dor que o vazio me causa...
Deve ser fome.
Abro a geladeira, mas ela não tem o que preciso.
Eu preciso de amor.
Preciso de uma piada.
Como se coloca um elefante dentro da geladeira?
Desisto de procurar e fecho a porta.
Termino um pacote de biscoito e vou dormir.
Como será que se coloca amor dentro da geladeira?

Caverna.

O Sol ofuscante me cega, e entro em uma caverna para me proteger.
Está tudo escuro.
A caverna é habitada por algumas outras pequenas criaturas que deduzo serem venenosas.
Por um tempo, faço fogo para enxergar, mas aos poucos meus olhos se acostumam com o breu.
Aprendo a me alimentar dos animais peçonhentos, meu corpo se acostuma com o veneno.
Aos poucos minha pele vai ficando mais grossa, e meus olhos vão ficando maiores. Capto sons que antes não conseguia, e caço cada dia melhor.
Esqueço da luz.
Esqueço do mundo lá fora.
Um certo dia uma de minhas caças foge para a luz.
Tento sair da caverna e alcança-la, mas não consigo de primeira.
Acho estranho.
Tento de novo.
Não sei se saberia viver no mundo lá fora.
De repente uma pergunta me vêm à cabeça:
Deveria eu passar meu tempo tentando voltar a ser quem era antes ou voltar para a escuridão e me acostumar com o monstro que sou agora?

domingo, 18 de novembro de 2012

Sentido.

Teus olhos me fitam como o vento fita o mar, me jogam e me puxam como a correnteza, e destróem meus castelos de areia.
Minha vida não faz mais sentido.
Tua boca me rasga, teu coração me bate e me aprisiona.
"És o farfalhar de asas do corvo..."
Calo-te perante meu silêncio, roubo tuas palavras.
O que deixei pra trás era muito mais do que só passado.
Quem é o culpado?
Eu.
Como assim?
Somente eu.
Ah...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Devaneios.

A madrugada me devora e eu me perco em meus devaneios; relembrando a juventude que nunca vivi, e chorando dores que ainda não sofri, me perco na ideia de vida, que insiste em fazer de mim uma ideia.
Queria eu poder te ver; pegar um trem, metrô, carro ou avião. Fumar teus cigarros, discutir o amanhã, matar o amanhã em protesto.
Fazer tudo às escuras, em um beco qualquer, aquecido pela solidão.

domingo, 11 de novembro de 2012

Já Fomos Melhores.

Vivemos de fraldas,
De carrinhos de bebê....
Vivemos de chupeta,
Vivemos de triciclos,
De brigadeiro....
Depois vivemos de algodão doce,
De parquinho,
De bicicleta,
Salsichão,
Vivemos dos pais,
Dos jogos de tabuleiro,
Das caças a tesouros,
De faz-de-conta.
Vivemos de imaginação,
E depois....
Nós deixamos de viver.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

De Mim, Pra Mim, Por Mim.

Confesso ser um romântico incorrigível,
Pois vivo perdidamente apaixonado
Por essa pessoa muito especial.
Só me interesso por alguém
Ao ver que esse alguém
Tem essa obsessão
Em comum
Comigo:
Eu.

Espelho, Espelho Meu...

Oh! Menina dos olhos negros,
Por que duvidas de meu coração?
Condenas minha embriaguez,
Mas não percebes a contradição

Pois é o amor que tanto admiras
Que me embebeda e me enlouquece,
Me acusas de idolatrar mentiras
Mas do bem que te fiz, esqueces

Já aleguei tua insanidade,
De louca, chamei pra não veres
A mancha negra da maldade
Que existe em todos os seres

Pois meu sentimento não veio
Para olhos humanos - sem cor
Tu és só mais um ser alheio;
Platéia para o meu amor

Eu disse, e digo de novo:
Te amo, e amo, Narciso!
Que venham as palmas do povo
Por ser só de mim que preciso!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Exílio.

A solidão me devora, e o vazio me expõe. Meu eu-lírico vira pó diante da ilusão, que faz simbiose à ocasião. Desejo o infinito, e ganho a mortalidade. Consumo o esquisito, e expiro normalidade. Vivo a escuridão diante da luz que emito.
Exito, e palpito em mim mesmo, mas o exílio me amanhece, e me deixa perecer.
Mas não me faz esquecer das sombras que imito, e se deixa padecerem os acertos aos que me limito.

Nem sei.

Eu não sei
Se falta interesse
Ou segurança,
Se é amor
Ou se é lembrança,
Se é verdade
Ou esperança,
Mas se soubesse
Como é
Não ouvir sua voz
Atenderia minhas ligações
Nas primeiras vinte vezes.

Amor.

O coração salta sobre o corpo que tenta salvar.
Descansa sob a pele que o aprisiona, e insiste mais um pouco antes de parar de vez.
A causa, como a autópsia revelaria, foi o amor.
Às vezes é interessante perceber o número de mortes causado por tal palavra.