segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Lapso.

Eu não sei o que você me fez.
Não sei quem você é ou o que você tem nas mãos.
Eu não sei o que fomos, se fomos alguma coisa.
Será que existe um nós? Estou tão confuso...
Me desculpe, eu não consigo me lembrar do seu rosto.
No bar? Que bar? Na Brasil?
Não, nunca fui lá.
Não, espera. Talvez eu tenha ido.
O que é isso na sua mão? Parece afiado.
Não lembro de ter dito essas coisas.
Por que está chegando tão perto? Eu vou gritar!
Eu me lembro de você agora, por favor não faça isso.
Por favor! Não chegue mais perto!
Eu sei, eu lemb...

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Pode levar.

Os sons que imito são pra você.
As plantas, os rios,
Todos os animais são pra você.
(menos os mosquitos)
E todas as flores,
Todas as cores,
São indiscutivelmente suas.
Os meus segredos são seus,
Minhas verdades óbvias também;
Como não saber lidar com o amor,
E não saber esperar.
Os meus medos são os seus,
(Meu maior medo é por você)
E minha casa não é minha mais,
Além das árvores em volta dela,
Que também são suas.
Minha cama, especialmente,
Além do meu rádio velho
E dos raios do sol pela manhã.
Também é seu o meu coração,
Mas não sejamos clichés,
Pois é seu o resto do corpo.
Os hematomas
E os futuros hematomas.
Minhas lembranças são suas,
Além da coleção de discos do Chico
E das outras coleções.
Minhas risadas, minhas lágrimas,
Elas não me pertencem mais.
Meu futuro é seu,
O resto todo também.
É tudo seu, sem exceção.
Menos você.
(Porque você ainda é minha)

Espírito livre.

Eu sou inadvertidamente mau
Repugnantemente triste
Inquieto
Vil

Toda a minha vida se supôs
incomodamente infértil
Inapta
Oca

Tudo que sei
Se baseia em pontos cegos
Na inexorável moral dos homens

Sou analogamente chato
Invariavelmente cru
Sentimentalmente débil
Intelectualmente inadequado
Insuficientemente piedoso

Paradoxalmente, talvez,
Sou demasiadamente humano.

domingo, 21 de setembro de 2014

.

Parece que cada passo que eu dou pra longe dela vai me desmoronar
É como se eu estivesse perdendo o oxigênio, me afogando em ausência
Como se toda a minha existência desaparecesse diante de mim
Passado, presente, futuro
Sonhos, metas, aspirações
Eu sinto o vazio como se não tivesse conhecido a vida
Me sinto inútil e incômodo
Como uma cadeira quebrada
Como um poema sem fim

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

AVISO

Este texto foi abandonado.
O autor não pôde ser encontrado
E a imaginação se aposentou.
Este corpo foi esquecido, deixado de lado.
Esta alma foi vendida ou trocada.
Este universo não está mais disponível.
Esta casa foi hipotecada.
Cada grão foi recolhido
Cada lembrança foi eliminada
Cada coração, partido.

(berenice)

fábio ama berenice
tanto faz
berenice não ama fábio
tanto faz
berenice ama o padeiro, o pedreiro, o porteiro
tanto faz
fábio não sabe de nada
tanto faz
o padeiro também ama berenice
e falou de berenice pra fábio
tanto faz isso
tanto faz aquilo
fábio foi tirar satisfação
berenice disse que não
que não tem nada disso
tanto faz
tanto faz
tanto faz
fábio não ama mais berenice
tanto faz:
o padeiro
o pedreiro
o porteiro
berenice ama fábio agora
mas o padeiro ainda ama berenice

(tanto faz)

domingo, 7 de setembro de 2014

Amarga.

Acordei
Vi a foto que me restou
Bebi da água amarga que me sobrou
Bebi todo amargo de nós

Sofri
Vi o loucura seca de dois
Deixei a lembrança lúgubre pra depois
Desatei o resto dos nós

Menti
Fingi não sentir o que me regeu
Tentei esquecer o que não bebi
Reduzi a lembrança a pó

Bebi
Acordei a foto que me esqueceu
Sofri os nós que não desatei
Menti o gosto triste da lembrança

Senti

sábado, 6 de setembro de 2014

(...)

Boca seca.
Pupilas dilatadas.
Batimento cardíaco acelerado.
Vontade de cuspir toda verdade de uma vez só.
Vontade de cuspir toda vontade na tua cara.
Quero sair, correr, pular.
Viver.
Transar.
Mãos suando.
Pés batendo.
Andando para todos os lados.
Ardendo.
Dormente para a vida.
Andando sem sair do lugar.
Andando sem querer andar.
Não, não é amor.
É cocaína.

Jogo-te.

Tu és pouco daquilo que te consideras ser. Tua existência na vida dele não é mais que mero coringa para a falta de mim. Eu te desprezo. Tu não és mais que um peão; irritante, ainda assim, insignificante.
Eu poderia deixar passar. Eu poderia deixar pra lá, sei lá. "Ela não importa", ele diz - Ou sou eu que digo? Será que a peça chegou à casa final do meu jogo, e ocupou meu lugar como rainha? Não, não poderia ser. Tu não és tão astuto, verme. A partida não termina até o meu xeque-mate. E que xeque-mate será! A conquista, por mais prazerosa que seja, de nada significaria sem o gosto da tua ruína.
E com isso não te preocupas, pois ainda tenho todas as peças na posição que desejo. No próximo movimento, te coloco fora.
Mas te quero fora? Estaria eu disposto a desistir da tortura, da perversão de te ver tentando ganhar? Seria eu maduro ou irresponsável o suficiente para aposentar meu vício no tabuleiro? Embora tua estadia me irrite, não me irritaria mais se não a tivesse para me distrair?
Por bem ou por mal, tolo, tu ainda vives em mim. Por bem ou por mal, eu ainda vivo nele. O tempo que essa dualidade vive não é mais eloquente do que seu epílogo.
Mas isso eu posso antepor na próxima jogada.
Jogue.
É a tua vez.