terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Texto

Estamos no começo do século 21, mas não parece século algum. De alguma forma, quase ninguém pensa sobre o que está fazendo, é tudo muito rápido o tempo todo. Essa semana lançou um novo Iphone e novas dez trending topics no twitter, não dá pra acompanhar tudo. Mais do que antes, acredito, temos hoje noção da nossa ignorância. As crianças, aos dez anos de idade, já sabem mexer mais no celular do que nós, adultos, que, aos poucos vamos ficando pra trás. Mas o que fizemos, afinal de contas, para melhorar? Será que reavaliamos nossas ideias como deveríamos e conseguimos mudar nossos julgamentos antes de sermos levados pela maré do cotidiano? Estamos cansados sim, lutamos pelas nossas próprias causas. Ganhamos algumas, perdemos todo o resto. Não somos muito bons, não fomos muito marcantes, talvez? Somos aqueles que viveram dois séculos afinal de contas, não deveria existir algo que nos marcasse pra história? Não tivemos nenhuma Guerra Mundial, mas também não tivemos nenhum grande profeta. Acostumamo-nos a pensar menos, a fazer menos, a aceitar mais. Será que todos os outros antes de nós foram assim? O que deveríamos estar fazendo de diferente? Fomos ensinados e ensinamos de volta o que não se podia fazer, mas o que não se pode mais fazer hoje em dia? Como agir se de repente o mundo diz “esquerda” quando ha cinco minutos atrás dizia “siga reto”? Imagino eu que não seja nossa culpa, também, que os mares estejam poluídos com o nosso lixo, que o ar esteja poluído com os nossos carros, que os nossos pulmões estejam poluídos com o nosso Marlboro vermelho. Fomos colocados no mundo cedo demais, eu diria – caso a própria frase também pudesse ter algum sentido de lamentação por si própria. A verdade é que tivemos a chance, poderíamos ter mudado. Olhando bem, poderíamos ter feito muita coisa e “amado ao próximo.” Terminamos relacionamentos, não é mesmo? Inclusive eu posso ter terminado com alguém que um dia estiver-me lendo, então aproveito a ocasião pra perguntar: por que deixamos de nos falar? Fomos crianças também como eles, mas por que nunca termos tido a coragem de encarar o outro e dizer “Ei, como vai você? Éramos bem loucos, não é mesmo?”. Acho que a culpa também não é nossa por isso, fomos ensinados a esquecer porque era mais fácil. Acho que essa é a palavra, é por ela que estamos todos aqui vendo as crianças cometerem os mesmos erros que nós cometemos com a televisão à cores. Não temos coragem de olha-los nos olhos e dize-los “Eu errei e isso dói, eu não quero que você seja eu. Por favor me ouça.” porque isso seria admitir o problema e talvez precisar concerta-lo. Mas como encarar um problema que você tem ignorado pelos últimos vinte anos e esperar que ele seja mais fácil de resolver do que na época em que você desistiu dele? Eu não sei, mas preciso de uma resposta.
Talvez escrever ajude nisso. É o que o meu psicólogo me diz, mas ele tem grandes chances de ser um adulto estúpido igual ao resto de nós. Espero que, na faculdade de humanas, eles pelo menos tenham fritado mais seus cérebros com LSD e anfetaminas pra descobrirem algumas das coisas que nós não tivemos coragem de tentar. Talvez aí o mundo tenha jeito. Meu psicólogo fala que toda geração tem o mesmo problema e brinca que isso é um dos porquês de existirem psicólogos. Eu rio com ele, mas não acho graça. Afinal de contas, eu estou pagando pra resolver um problema que eu não queria precisar encarar, mas encaro. Aí ele me receita “remédios pra alma”, como meditação e leituras leves.

Eu acho que o pessoal de humanas fritou mesmo seus cérebros.