sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Perdão?

Estou com insônia, de novo.
Acho que dormir não é o meu forte.
Talvez eu esteja ficando louco.
Não consigo dormir, fico sonhando com coisas que jamais vão acontecer, sonhando acordado, esquecendo, sonhando de novo, parando pra pensar por segundos que preciso dormir e voltando a pensar.
Eu não aguento mais quem sou eu, e não ligo a mínima para o que acho de mim mesmo, muito menos para o que os outros acham.
Mas tudo ficará bem visto que tenho que acordar em menos de duas horas e não preguei os olhos nem a boca nessas últimas duas horas que se passaram.
Será que eu morri?
Não posso ter morrido, posso? Será que sou insano o suficiente para não me dar conta de minha própria morte?
E se morri, por que não lembro?
A morte é algo que deveria ser lembrado, pelo menos por pessoas normais.
E agora?
Um tiro? uma overdose?
Tenho que admitir que não sou criativo nem para mortes, seja lá qual tenha sido a minha.
Esqueço de quem sou, esqueço de quem fui, se é que fui alguma coisa.
Alguma coisa que valha a pena lembrar.
Marcas.
Orgulho, vingança, ódio, rancor, raiva, depressão, olhos, impressão, lágrimas, fim, dor, vazio.

Me desculpe por tudo.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Vício

Eu tenho a sensação de estar ficando  viciado.
Tenho essa sensação constantemente.
De estar ingerindo uma droga cujo efeito colateral é me causar lapsos de memória e me fazer esquecer que eu a uso, e acabo lembrando em momentos de desespero antes de esquecer de novo.
Acho que estou viciado, mas não faço idéia no que poderia ser.
Eu penso estar louco, e essa droga já acabou com todo o meu sistema imunológico. Eu estou apodrecendo de dentro pra fora e não consigo fazer nada pra mudar isso, porque seja lá o que eu esteja tomando, é tão bom que eu me recuso a parar.
Eu não sei mais o que estou fazendo, eu não sei mais quem sou eu.
Eu estou me tornando um doente, e não ligo a mínima.
De que adianta parar, se  não vou lembrar que parei ou com o que parei?
Eu me vicio nessa droga todos os dias, e isso está me deixando louco.
O que me leva a duas últimas questões.
Será que precisei esquecer o suficiente de quem sou para conseguir conviver comigo mesmo?
E será que, caso eu continue usando-a, conseguirei esquecer o suficiente de mim mesmo para esquecer quem sou eu?
Onde está essa maldita droga?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dois Olhos Mortos

Talvez na escuridão se consiga enxergar um brilho. O brilho nos meus olhos mortos, mas não destes, e sim da esperança. Talvez ela resista mesmo depois da morte, do corpo, da alma. Enfim sós, eu e minha anti-culpa. Chamo-a assim porque é exatamente o que é. É a sensação de fazer algo errado, de maneira não muito honesta ou até corrupta. A emoção que corre nas veias ao ter a sensação de que você pode ser descoberto fazendo algo que nem sua própria mente aprova. A adrenalina. Talvez seja nela que encontrei esse objetivo fútil de início, mas que se tornou aos poucos uma obsessão. Talvez seja ela que me mantém acordado agora, para enxergar o brilho. O brilho em dois olhos que viveram para encontrar a morte, e morreram para encontrar a vida. A vida desses meus dois olhos mortos; a morte.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Perdas

Te perco no profundo da alma
Minha, rasa, como essa poça
Que de arrependimento, se forma
Ao redor de quem não sou

E esse não-ser-eu que a cobre
A reveste em olhar de luto
A criança que ali descansa, quieta
Fechada pelo silêncio que lhe toma a palavra

Me pego sozinho na companhia de...
E da morte presente em toda vida
Ou todo sinal dela que na palma
De uma só mão, seguro.

Frustração, uma palavra somente
Nula, feia, desconfigurada, nua
Desfigurada, cumpre na peça
Seu papel na chamada Vida

O original se auto-copia, ruim
Perde-o nos rostos que se acabarem
Nunca irão, a cidade inquieta, sempre
Acordada, mas descansa no caos

E o que realmente importou, aquele
Olha em desprezo tudo que foi
E manda para o responsável por isso
Tudo que é, de volta intacto

Como se a pouca compaixão
Que guardou, nunca tivesse tocado
Por desperdiçar com quem?
Não mereceram, Confie.

E o único dos tantos que já a tiveram
Se arrastando, volta nos pés
Quebrado, olhando o chão que lhe fita
A mágoa, o último de seus troféus.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Eu.

Você sabe quem eu sou?
Você sabe o que fiz, por onde andei?
Sabe o que não fiz?
Então aprenda.
Estou farto de criaturas patéticas, vermes que não sabem de absolutamente nada e não tem nada a acrescentar ao mundo. Estou farto de imbecis tentando se passar por cultos, vadias tentando se passar por santas, dinheiro tentando se passar por felicidade.
Estou farto desse mundo.
Você, verme. Eu não quero a sua presença e não ligo para suas respostas feitas. Eu não a matarei, não por me preocupar em me rebaixar por tão pouco nem nada desse gênero.
Eu não a matarei, e não será pela sua insignificância ou por pena.
Eu não a matarei porque não posso, ou o faria.
Te puxar os cabelos e mostrar o que é a maldade, crueldade. Quase te matar e te deixar trancada. Te amarrar e oferecer um copo d'água, fazer um humilde gesto e fingir que estou arrependido, uma confissão falsa, talvez duas.
São todas peças, minha humilde inquilina. Peças de um jogo que só faz sentido pra mim e para os outros como eu.
Ver sua esperança brotar novamente e se quebrar ao perceber que eu a finalizarei do mesmo jeito.
Ver o brilho dos seus olhos desaparecendo diante da escuridão da minha alma.
Ver a luz do seu espírito se apagando diante da minha faca enfiada entre as suas costelas.
Perfurar seu coração. Existe maneira mais poética de morrer?
Talvez exista.
Mas é tarde demais para pensar nisso, mesmo se conseguisse me ouvir, mesmo se conseguisse dizer uma palavra.
Fico pensando.. Você nunca amou e nunca foi amada, existe algo mais deprimente do que isso?
Meu Deus! Eu não sei como você convive consigo mesma.
Eu não consigo, como você faz?
Não é só colocar um sorriso na cara e sair andando, você sabe.
Não adianta fingir felicidade, não adianta pensar que tem amigos, não adianta fingir que está tudo bem.
Mas do mesmo jeito, deve ser uma experiência incrível pra você, que achava que podia tudo, descobrir que não é bem assim.
Não se pode evitar a morte, certo? Não essa morte.
Como disse, não vou te matar.
Você continuará viva, dentro de mim e de alguns menos afortunados que te conheceram.
Essa morte é meramente simbólica.
Até porque, se formos falar de morte, sabemos que esta já aconteceu há muito tempo, não sabemos?
Eu sei, eu sei.
Você tentou, e tentou de verdade.
Mas é seu sangue que está nas minhas mãos agora, e não o contrário.
São os seus olhos, o eco da sua voz deixando sua boca aos poucos, seus lábios.
Beijo-os uma última vez.
É a sua boca, seu corpo frágil deitado sobre o chão frio.
Minha faca, seu sangue.
Sou eu, meu amor. Não precisa acordar agora.
Feche os olhos e tudo ficará bem.
Eu prometo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Cigarros

Eu não consigo me concentrar em alguma coisa por mais de uma hora.
Eu acho que estou morto.
Preciso de um cigarro.
Preciso sentir meus pulmões se enchendo de fumaça mais uma vez, meus alvéolos se desmanchando aos poucos, perdendo a forma, assim como eu.
Perdendo a postura, o modo. O cheiro da desgraça impregnado em minhas roupas, o fracasso batendo forte no meu peito, fazendo a desistência circular em minhas veias. Um andar cansado, quase como um galopar.
Roupas quase inteiras, alma rasgada. Nada. Tudo se parece com o mesmo ritmo de música de fundo de bar em uma noite não muito cheia. Não tão deprimente se fosse ouvida em outra ocasião, mas também não tão animadora a ponto do quase-defunto desistir de beber.
Tentar escrever algo, não conseguir. Estar distraído demais com o mundo para querer perceber o que está havendo de verdade. Me esforçando demais para fingir que não percebo para poder prestar atenção no mundo.

Perdi o trem da esperança; a vontade me deixou, e estou esperando uma esmola de boa vontade vinda de quem restou. A criatividade finge que não criou, a verdade finge que não aconteceu, a alma finge que não morreu e o corpo finge que não adoeceu.

Só um cigarro, senhor. Qualquer um serve.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Fim

Tão sozinho...
Em seus olhos, perco minhas últimas memórias. Deixo-as no passado junto com seu nome, que se ecoa em minha boca esperando ouvir o som da sua voz, e a esperança quebrada pelo silêncio.
Sentir que cada abraço seu pode ser o último, que a noite pode devorar sua vida e a escuridão pode revelar a solidão completa e infinita. Sentir que um dia posso nem lembrar ao menos o que foi a sua mão na minha, seu choro ao descobrir que nem tudo estaria sempre bem, seu desespero ao descobrir que eu ficaria sozinho, exatamente como estou agora. Encontrar seu ombro enquanto lê um livro, conversar sobre algo desimportante o suficiente para não interromper sua leitura, reclamar sobre isso. Estar ao seu lado, mesmo que brigando com você. A saudade que sentirei mesmo da raiva que sinto quando não me deixa fazer o que eu quero. O seu olhar cansado de tentar fazer de tudo para me deixar feliz, e o meu jeito insaciável de procurar a felicidade em momentos, deixando os momentos fúteis com você escaparem, os únicos que me deixariam realmente completo mais tarde. Estar longe esperando que você esteja bem, ouvindo seu choro disparar as minhas lágrimas. Quebrar em silêncio por não ter coragem de enfrentar o que eu penso ser o sentimento mais profundo que já senti em toda a minha vida. Medo de chegar perto demais e me queimar, de perder a cabeça e enlouquecer. Perceber que outros estão mais próximos de você do que eu, e tentar ignorar para não me machucar. Ter esse vazio me corroendo, me arranhando por dentro, me fazendo cuspir os mais profundos lamentos de silêncio, sujos de sangue. Cortar meu peito e deixar escapar o que ali restara, intacto apesar dos infortúnios: a luz da esperança, que vai desaparecendo no final do túnel.

domingo, 30 de outubro de 2011

Morte

Acho que a morte não seria tão ruim assim.

Sabe, sempre me perguntei como seria a Morte, e nunca vi realmente um problema nisso.
Aos 8, perguntei para meus pais sobre, mas percebi que mesmo eles não poderiam me responder isso. Nem eles, nem ninguém.
Hoje, porém, já é outra história.
Eu penso saber qual é a cara da Morte.
Não a encarei de muito perto, mas a vi passar de longe algumas vezes na minha vida.
Ela se parece com o frio.
Não o frio comum, da água que te refresca em um dia quente, ou o frio dos polos que te obrigam a usar o fogo para se esquentar.
Um frio diferente, um frio da alma.
Como se estivesse em um quarto de gelo, em um canto, e a sua única companhia fosse a solidão.
E então ela vem.
Ela vem e te tira todo o calor de dentro de você, deixando o frio do local preencher o vazio deixado.
Talvez essa seja a Morte.
Mas, como disse, nunca me assustou realmente. Talvez o problema seja a certeza de que ela virá; a certeza de que ela é inevitável.
A certeza de que ela está bem perto, esperando o momento certo para tomar de você o que nunca o pertenceu.
A certeza pode ser a melhor amiga do medo.
Seu hálito gélido de mil almas assoprando no seu ouvido, o toque de desesperança no seu peito, e logo depois... o fim.
E depois de pensar sobre ela por tanto tempo, cheguei a uma conclusão que pode me ajudar a evitar isso.

Percebi que o único modo de evitar que ela te alcance, é alcançando ela primeiro.

sábado, 29 de outubro de 2011

Ato III

Nota do autor:
Antes de começar as recomendações, gostaria de fazer alguns agradecimentos.
A Deus, que mesmo não existindo realmente, me fez entender o quão a vida pode ser miserável.

Aos escritores ruins, que me fizeram acreditar que mesmo que você tenha uma história muito boa você pode estragá-la do jeito que você conta, assim me fazendo considerar a possibilidade de que eu poderia fazer o oposto: ter uma história não muito boa, mas escrever de um jeito que a deixe melhor.

A minha mãe, meu pai e minha irmã, além de minhas ex-namoradas, que juntos me incentivaram tanto a perder completamente a cabeça.
Deu certo.
Obrigado a todos vocês.

Continuando...
Deixe um pouco de sua sanidade antes de ler esse texto.
Se mesmo assim esse texto não fizer o menor sentido, é porque esse é o objetivo do texto.
Em relação a sua sanidade, se isso fizer sentido é porque você a deixou completamente, ou nunca a teve pra começo de conversa.
Essa é uma continuação do Ato II, que é uma continuação do Ato I. Recomendo que não os leia.

Recomendo que não siga minhas recomendações.
Como avisarei a mais adiante, essa será a última parte dos 3 textos.
Obrigado.


Ato III

Viajando.
Olho pela janela do carro, vejo faixas passando.
Deito a cabeça no vidro, macio aos olhos dos desesperados pelo descanso, não mais do que um simples vidro pros demais.
Durmo.
Chego, acordo, deito, Durmo. Acordo, como, ando e durmo. Me mato. Acordo, bebo, ando e durmo.
Acordo sonolento, lençóis sujos de alguns líquidos de diferentes cores, origem e cheiro duvidosos, mas todos aparentemente contendo um percentual elevado de álcool.
Parece que aconteceu uma festa aqui.
Uma festa de um homem só.

Abro a geladeira, pego um copo d'água, fecho.
Eu tenho um pássaro.
Não é um pássaro qualquer, é um papagaio, e eu poderia ensinar ele a falar algumas coisas, mas eu não tenho paciência para esse tipo de coisa.
Sabe, ensinar pássaros é muito chato.
Ele uma vez voou pela janela e foi parar na casa do vizinho, tive que pegá-lo lá porque o infeliz não queria sair da maldita janela, logo antes de me dar uma mordida que me arrancou a pele. Pensei em dar aquele pássaro pra alguém depois disso, mas desisti da idéia pelo fato de ser a única companhia que tenho além do álcool, nesses dias não tão frios e nem tão aconchegantes assim.
Infelizmente eu desisti.
Infelizmente porque o maldito pássaro piou, e piou alto.
Caiu o escorregadio copo, despedaçando-se nos inocentes azulejos, que não entenderam porque eu havia feito isso com eles.
Acabaram-se os não tão amplos adjetivos para essa canção de um incoerente sem ritmo.
Pisei em um dos cacos de vidro, acidentalmente, enquanto tentava pegar um outro copo para continuar minha jornada lenta para a vida. Sangrou.

Fui no banheiro, com o pé sangrando, peguei um band-aid e coloquei no corte.
Mancando, voltei pro quarto em pequenas reclamações fúteis.
"Sempre o evitável inevitável da vida."

Acordei.
Um novo dia, mas meu pé continua cortado.
Quando será que esses novos dias vão parar de chegar? Será que terei que fazer uma reclamação formal para o próprio tempo?
Não, hoje não.
Hoje tenho um compromisso sério.
Hoje irei falar com a minha sanidade.
Olá?
Olá.
Sanidade?
Ela não se encontra, deseja deixar algum recado?

Converso algumas horas com a minha insanidade, que parece ser a única ocupando o recinto.
Durmo.

Adan adum oãn e odut adum ,assap opmet o es e?
Oãssecxe a oãn e arger a rof açargsed asse es e?


Acordo.

Tudo chega em 3.

Vou fazer a barba quando percebo que pouca barba tenho, senão nenhuma.
Pego uma navalha, aprecio-a no olhar.
Minha velha amiga, nunca lhe dei a devida atenção.
Começo a cortar o cabelo com a navalha, deixo-o quase curto e com um penteado bagunçado. Termino o trabalho.
Termino de me despedir da minha navalha.
Termino o resto.


Tudo acaba em 3.
Com uma só mão, corto meu pescoço de orelha a orelha e me deito sobre o chão.

Me deito sob o final, me deito sob a felicidade.
Me deito sobre os pensamentos, me deito sob ela, beijando minha nuca.
A morte, finalmente esperada e certa.
A morte, finalmente requerida, assinada, aprovada, enviada e realizada.
A tão sonhada morte dos sonhos de poucas palavras.
As tão sonhadas poucas palavras da morte, o despertar dos sonhos sem fim.
O tão sonhado fim.

 
Fim do Ato III.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ato II

Nota do autor:
Esse texto não fará o menor sentido de forma alguma.
Essa é uma continuidade do texto "Ato I", que também não faz o menor sentido.
Como uma continuidade do texto "Ato I", esse texto necessita do primeiro para conseguir o efeito de não-entendimento desejado.
Ou não.
Obrigado.

Ato II

Corrupção.
A vida, a vingança, o vago, o véu que veste as vilanias dos vândalos viajantes.
As cartas que corrompem um coração completamente condenado.
A inútil ideia, que insiste em inundar os insolentes com imbecilidades.
Famintos por forças para ficarem firmes, os filhos dos filhos da fadiga. Fugindo do quê?
Fugindo do fim.


Fim de tudo, acordo.

Estou na minha cama.
Talvez tudo tenha sido um sonho, talvez não.
Olho pra janela.
É, não foi um sonho.
O mundo é exatamente do jeito que é, e não há nada que eu possa fazer para mudar isso.
Fecho os olhos, ouço uma batida na minha cabeça.
Sempre a maldita batida.
Continuo de olhos fechados para ver o que acontece.
Ouço um click.
Tenho uma idéia.
Vou comer.
Presto atenção na geladeira. Ela está bem do jeito que eu me lembrava, exceto por alguns ovos faltando.
Talvez tenha comido enquanto dormia.
Talvez tenha dormido enquanto comia.
Olho para a janela mais uma vez e desvio o olhar.
Por que, com tantos mundos em uma janela, ou com tantas janelas em um mundo só, tudo que vem à minha mente é o seu rosto?
O rosto de quem não, e sim do quê.
O rosto da vida.
Vida?
Pego meu travesseiro, sento no sofá, me deito e acabo dormindo no chão.

Mate, mate, morte aos míseros moribundos.
Não negue a náusea.
Sempre sarcástica e sutil.
Pare para pensar, de perto só parece pior.

É pior, é o mundo.
É a janela do mundo vista por um monstro.

Fim do ato II.

Ato I

Nota do Autor:
Esse texto não fará o menor sentido se você ainda não leu os outros textos desse blog.
Isso não significa que fará sentido caso você já os tenha lido, mas certamente não terá a sensação de que está perdendo alguma coisa.
Obrigado.

Ato I

Sentado.
Procurando inspiração há dias, não consigo encontrar.
Estou cansado de procurar em geladeiras, crises existenciais, fotos, quartos desarrumados ou até no chão.
O fato é: eu não sei de qual fato estamos falando.
Pego o controle da TV, dou uma passada nos canais e paro em uma série que me disseram ser engraçada.
Talvez eu devesse procurar a graça dessa série.
Talvez não.
Desligo a TV, ando pela casa, chego na cozinha.
Abro o armário.
"Hm... Sem bolinhos"
Continuo procurando pela minha busca incessante.
Não encontro-a.
Pego um papel, coloco em cima do móvel de madeira pintada de branco e começo a escrever. Termino de escrever e viro o papel. Termina a linha, começo a escrever no móvel branco. Não consigo parar, não consigo.
É como se algo de dentro de mim me impulsionasse a escrever qualquer coisa que seja, mesmo que ninguém esteja ligando, mesmo que seja desagradável de ler; Mesmo que tenha que escrever no móvel branco.
Paro.
A ponta quebrou.
Me deito no chão, de novo.
Olho pro teto procurando a inspiração, de novo.
Fecho os olhos.
Ouço uma batida.
Abro os olhos, assustado.
Fecho-os novamente e consigo ouvir a mesma batida.
Abro os olhos e me levanto para fazer um café, quando me lembro que não sei fazer café. E quando me lembro de que não sei fazer café, automaticamente vem outro pensamento na minha cabeça.
Eu não sei fazer café porque eu não gosto de café.
Desisto, sento na cadeira do computador.
Brinco com a alça do meus óculos, repousado sobre o não tão macio chão, pego e jogo-os contra a parede.
Talvez meus óculos tenham quebrado.
Esse texto não está fazendo o menor sentido.
Sento, respiro.
Quebro a linha de não-pensamento que começa a se formar com uma barra de espaço.
Bocejo.
- Quem sou eu?
Termino o ato I.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

E se...

E se todos os dias, ao abrir os olhos pela manhã, você desejar voltar a dormir de novo?
E se todos os pesadelos do mundo não forem suficientes para te fazer querer viver a realidade?
E se a realidade for exatamente tudo aquilo que você sempre achou que fosse, só que um pouco pior?
E se a vida não for tudo aquilo que te falaram? E se ela for?
E se tudo que você aprendeu for "dispensável"?
E se o amor não preenche mais o vazio que o tempo deixou ao passar por você?
E se a solidão puder ser ouvida de longe? E se a depressão estiver clamando pelo seu nome?
E se a escuridão for sua melhor amiga? E se tudo que existir for raiva?
E se o mundo for exatamente desse jeito que é?
E se ninguém estiver nem aí para o que está acontecendo?

Nesse caso, valeria a pena continuar?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Chuva

Me perco na chuva que cai, em cada gota que se desfaz ao bater no chão, ao bater em cada degrau dessa escada, em cada ombro solitário. Esqueço a cada dia que se passa, a cada copo que bebo, a cada gota de álcool que derramo nas minhas mãos cansadas, a cada caminhada lenta e torduosa de volta para casa. Perco a dignidade a cada dia que me levanto e me vejo em lugares desconhecidos, com gente que eu nunca vi, quando meu corpo me conta histórias que não me lembro de ter vivido, e minha alma sente falta do que nunca aconteceu.

Metalinguagem

Dessa vez não vou escrever um texto melodramático, infundado, insípido, amargurado, imaginário ou ilusório de uma mente frustrada. Não escreverei sobre aflição, piedade, mágoa nem mesmo apatia ou insensibilidade. Não será um texto que faz pessoas pararem para pensar sobre a vida ao lerem em casa ou na rua, porque na minha opinião as pessoas estão subvertidas demais cuidando do seu próprio mundo para terem tempo de pensar sobre o que um observador implícito em sua própria mente pensa sobre qualquer coisa. Na minha opinião, o ser humano está ocupado demais sendo um completo ignóbil, pândego de suas alucinações sobre um futuro próspero e uma morte indolor e recompensada para pensar realmente o que ele veio fazer aqui. Sendo assim, dessa vez não escreverei merda de texto nenhum.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ideia

Só preciso de uma arma, uma bala, um cigarro, um pirulito, um celular, uma lista telefônica, uma muda de roupa, um sapato, duas moedas, mais alguns trocados para o ônibus, um copo de vodka pura, papel, caneta, um quarto de hotel, uma chave, e um motivo bom o suficiente pra me fazer desistir dessa ideia antes que seja tarde demais.

sábado, 1 de outubro de 2011

Vazio

Perco mais uma parte de mim no abismo. Tenho que me recriar com o tempo, pois tudo que sou é engolido por essa imensidão de absolutamente nada que cresce cada vez mais. Eu não sou uma pessoa só, mas não chego a ser várias pessoas diferentes. Eu sou só mais um ser, uma transformação sem fim, mas a contrário do resto, eu não evoluo. Eu só me reconstruo, tentando me basear na pessoa de antes, ficando cada vez pior. Eu afasto qualquer um que chega perto de descobrir quem eu realmente sou, porque quem eu realmente sou não é algo que deve ser descoberto por qualquer um. Eu não sou humano. Eu não sou um monstro. Eu não sou nada.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O que?

O que você tem feito? E por onde tem andado?
Por que não te vejo? E tudo aquilo que nunca tivemos?
Achei que eu fosse especial pra você, achei que você fosse só mais uma pra mim.
Estava errado, não estava?
Estava tudo errado, e nós só estávamos ali juntos por um motivo idiota.
Tudo foi idiotice.
Tudo é sempre idiotice.

Auto-crítica

 - Eu não gosto de você. Você é medroso, infiel, escroto, babaca, gosta de destruir a vida das pessoas e se diverte quando percebe que consegue. Na verdade o que você mais queria era que todos te dissessem quando você destruisse um pouco mais o dia deles, mas os que não estão ocupados demais pra perceber que foi sua culpa são orgulhosos demais para te dizer isso. Ninguém te ama, ninguém nunca vai te amar, e você faz de tudo para que isso não aconteça. Você é vingativo e diz que esquece, mas à noite dorme pensando em tudo aquilo que te fizeram, planejando devolver tudo dez vezes mais forte. Talvez algumas pessoas mereçam isso, mas nenhuma nunca te fez um mal tão grande a ponto de arrancar sozinha uma única lágrima sincera de você como você faz diariamente com os fracos. Você é desprezível. Não tem auto-estima nenhuma e está sempre com uma pessoa diferente porque tem medo de estar sozinho e de confrontar a si mesmo. Tem medo de si mesmo e medo do que você é. Você não suporta críticas, e não suporta a ideia de não ser melhor do que aqueles que você tanto despreza. Você é de longe a criatura mais insuportável que tive o desprazer de conhecer.
 - Acabou?
 - Sim.
 - Tudo bem então.

O Pingo.

Procuro guardar esse que me restou. Não é uma poça, ou um copo, é só um pingo sozinho. Eu não necessito de mais nada. Esse pingo aqui existe por meio do que restou, o que sobrou. Não há mais nada a ser aproveitado e esse pingo nunca deixará de ser um pingo. Não há como ele crescer e se desenvolver porque ele já fez isso. O pingo não é o começo de uma grande tempestade, e sim o que sobrou dos restos de um grande rio. Ele é só uma lembrança - porque um pingo apenas não pode fazer nada. O seu único objetivo agora é me deixar aqui, vivo, com a esperança de que ele não se vá como todo o resto. Com a esperança de encontrar uma única pessoa em que eu possa confiar que não destrua completamente tudo o que restou de mim, de dentro pra fora.  O problema é, se encontrar mesmo essa pessoa, como poderei ter certeza, se a esperança de que isso é realmente possível está toda guardada em um único pingo?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

(Apaga)

Não sei o que está acontecendo.
(Apaga)
Tenho me sentido ausente.
Eu percebi que sempre começo qualquer texto assim. Eu começo desse jeito e explico o que está acontecendo, mas dessa vez vai ser diferente.
Dessa vez eu não vou explicar porra nenhuma.
(Apaga)
Estou no meu quarto. A bancada bagunçada da qual eu me lembro muito bem de terem passado por ela todas as coisas que existem nessa casa. Meu gorro, meu cinto, meu pente, minhas lágrimas, a chave.
Pego a chave, abro a gaveta trancada.
Memórias. É. Algumas a serem lidas, outras a serem esquecidas, mas esse não é o ponto.
O ponto é: eu sou uma criatura tão simplória que guardo minhas memórias dentro de uma gaveta. O quão patético é isso?
Algumas moedas, talvez do troco de algum presente. Anéis. Procuro entre os anéis e o encontro. Dou uma boa olhada na parte de dentro dele, onde posso ver seu nome escrito, e onde procuro ouvir o sussurro da nostalgia. Não consigo.
É, são só lembranças.
(Apaga)
Fecho os olhos, me viro para dentro de mim e me pergunto se existe alguma coisa ali dentro.
Vejo a escuridão, e ouço uma risada.
Tento encontrar o dono dela, mas os ecos vêm de todos os lados.
Eu sinto a tristeza. Talvez ela esteja escondida, mas eu acho mais provável que esteja sendo mantida escrava da risada. Abro os olhos, estou bem.
Não sei o que está acontecendo comigo, mas acho que tenho passado por algumas mudanças.
Eu não sou capaz de amar, eu nunca fui, mas agora eu tenho certeza. Mas constantemente acredito estar gostando de alguém, e isso é o que me deixa fraco. Fecho os olhos.
Ele me repudia.
Abro os olhos.
(Apaga)
Estou tendo uma certa dificuldade para escrever textos hoje.
(Apaga)
Estou no meu quarto, tomando café. Não gosto de café.
Estou tomando para me manter acordado, não me incomodo de tomar algo que eu não gosto. Não vai fazer porra de diferença nenhuma.
Os únicos sons que posso ouvir são os das teclas batendo e o barulho da cortina balançando pelo vento leve. Acho que as cortinas gostam quando o vento as toca.
(Apaga)
Hoje é um dia comum. Posso sentir o calor, e posso sentir o frio. Posso sentir sono, fome, mas não o sinto. Não posso sentir aquilo que me faz humano, aquilo que chora, ri. Não posso encontrá-lo em lugar nenhum.
Giro a cadeira e me deparo comigo mesmo sentado na cama.
Talvez este não seja só mais um dia comum.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Perdão.

Era uma tarde nublada, sabia que logo ia começar a chover. A chuva é boa, ela leva as coisas embora.
Chuva é tudo que preciso para um momento como esse.
Olhava pela janela observando os carros, as pessoas, era tudo tão desorganizado, mas, no entanto, tão padronizado.
Levou um tempo para você chegar.
O telefone tocou. Atendi, sem pressa.
 - É a Srta. Laura.
 - Pode mandar subir.
Você tocou a campainha. Abri a porta, com meu melhor sorriso.
 - Acho que temos algumas coisas a resolver. - Disse, já sentado no sofá.
 - Eu sei. - O som de sua voz ecoou por entre minhas memórias, quebrando em mim a linha entre passado e presente, fazendo meu coração bater de novo.
 - Já se passaram 5 meses, Laura. Eu não te esqueci, eu não vou te esquecer.
 - Mas eu menti, e menti muito.
 - Eu sei, e eu não ligo. Nós dois mentimos.
Você se levantou. Respondi fazendo o mesmo.
 - Não é mais uma brincadeira de criança, você sabe. O tempo passa. - Me distraia o doce som de seus argumentos inúteis, que não fariam a menor diferença para o final dessa história.
 - Mas nós continuamos iguais, Laura, sempre iguais. - Respondi.
Você tentou me responder antes de desviar o olhar e calou-se por um segundo. Pude sentir que dentro de ti ainda existia o mesmo sentimento por mim. Dei dois passos na sua direção.
 - Eu te amo, Laura.
Talvez você tenha tentado responder, mas meus lábios foram mais rápidos que os seus.
A beijei com a intensidade que estava guardando dentro de mim por todo esse tempo, toda a paixão que há muito havia sido esquecida, e você me respondeu, com a mesma doçura e pureza de sempre.
Comecei a senti-la, tocá-la, desejá-la, os beijos foram ficando mais intensos e não conseguia mais me controlar. Comecei a beijar-lhe a nuca e passar minha mão em seu corpo, enquanto retirava da minha calça com a outra mão o que estava causando o volume extra. Virei você de costas, encostei seu corpo no meu e sussurrei no seu ouvido com a mesma paixão de quando nos conhecemos:
- Eu menti.
E, em um movimento rápido da faca, cortei sua garganta e vi seu sangue jorrar por todo o quarto de hotel.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

1, 2, 3

1, 2, 3 bilhões
Já contou seu dinheiro hoje?
Tome cuidado ao passar na rua
Eles podem querer o salário de volta

1, 2, 3 cabeças
Quantas pessoas valem seu segredo?
É só mais uma bala, só mais uma vida
Não fique assim, a culpa não foi sua

1, 2, 3 vezes
Não existe limite para a corrupção
Não seja filmado e não terá problemas
E embora todos já saibam
A verdade nunca dirão
Relaxe

Morte Ao Público

Verdades já contestadas
Morrem quietas, sufocadas
Cobertas por imensuráveis
Calúnias sem nenhum louvor

Em seu tempo de destruição sem pena
De toda a vida que surgiu amena
Em um mundo de morte contínua
O homem ainda se dá ao valor

Por mais que tente, não vale o esforço
E o planeta agora é só um esboço
Do que era antes da humanidade
De todo caos e insanidade

Pois nesse mundo tudo o que tenta
Morre tentando, e não mais se aguenta
Em seu caminhar o homem se lamenta
Ao perceber que não devia existir

Honestamente, eu não sei mais ser honesto
Por todo o tempo que vivi, se é que vivi
Não mais que sofri, e o sofrimento que vi
Por si viveu, e não mais se foi.

Eu quero...

Eu quero implodir e explodir, quero me virar do avesso, andar no abismo, me desmontar. Me remontar, me transformar, me deformar, quero morrer e nascer de novo. Quero o inferno, quero o vazio, quero criar raízes, crescer, quero ser derrubado, quero cair, cair pra sempre. Quero viajar, sonhar, acabar, quero dormir para nunca mais acordar. Eu quero tudo.

Ovos

Folheio o livro que desisti de ler há um tempo.
Procuro entre as páginas alguma da empolgação que se perdeu na época em que o lia.
Não encontro.
Me deito no chão e olho pro teto.
"Faz muito tempo que não olho pro teto" Reflito.
Não sei onde foi parar aquilo, aquilo que me fazia ler.
Era aquilo que me fazia rir de verdade também; sair, respirar. A vida era mais bonita.
Não era, mas pelo menos sua parte trágica estava escondida embaixo de algum tapete.
Ou entre as páginas desse livro.
Me levanto, cansado. Vou até a geladeira, abro a porta e fecho, duas vezes.
Percebo que o que quero não está na geladeira. Eu quero respostas, e isso não é o tipo de coisa que se coloca em uma geladeira.
Ou será que é?
Abro a porta da geladeira mais uma vez, procurando respostas.
Encontro ovos.
[...]
Enquanto como meus ovos mexidos, leio uma notícia de jornal.
"As 10 Profissões Mais Estressantes"
Talvez eles não considerem viver como uma opção, muito menos amar.
"Talvez fosse mais fácil se eu amasse a vida."
Balanço a cabeça, procurando me desviar desse pensamento idiota. "Não tem como amar a vida."
A vida não é algo para ser amado, ela não foi feita pra isso.
Acho que amar a vida seria o mesmo que amar esses ovos mexidos.
Sabe, eles podem ser até bons, mas não posso amá-los, eles são somente... ovos.
Não são tão relevantes assim para que façam alguma diferença significativa para alguém.
E, como a vida, eles também vão acabar.
A diferença é que esses vão acabar em questão de segundos, enquanto a minha vida talvez dure mais alguns anos.
Talvez não, mas penso nisso depois.
Agora só quero terminar meus ovos e procurar um bom livro pra ler.

Café

Não quero responder às suas chamadas, não quero acordar de manhã e ver que é um novo dia, não quero mais viver, mas não quero realmente morrer no final. Não acho que eu poderia fazer qualquer coisa para me sentir melhor, e é por isso que não faço absolutamente nada. Eu sou tão miserável quanto o meu futuro. Eu odeio a ideia de ser tão sozinho, e eu odeio a ideia de ter alguém comigo. Eu odeio as ideias que não se tornam realidade, e eu odeio as que o fazem, pois essas nunca acontecem como deveriam acontecer. Toda noite eu acordo e o vejo, o reflexo da pessoa que mais odeio.
- Outro café, por favor. Tenho que me manter quente por dentro e alimentar esse vazio com minha depressão.

Tudo.

Eu desejo do fundo do meu coração que um dia acabe.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Desfigurado

Arranho meu rosto, arranco minha pele, minhas unhas incansáveis não param de trabalhar até destruir completamente minha face, para tentar esquecer o que se esconde por trás dessa máscara, que faz de mim esse ser sem piedade para com qualquer outro ser humano e para comigo mesmo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Inevitável Existência

Estou passando por uma crise existencial.
Não que eu ache que isso o preocupa, leitor, muito pelo contrário. Eu acho que minhas crises existenciais são essenciais para escrever o que eu escrevo. Sem elas você, que está sentado na frente do seu computador com absolutamente nenhuma obrigação tão importante assim, não estaria lendo esse texto.
Pois bem, se está tão desocupado, quero que faça uma coisa para mim, sim?
Eu quero que vá para a sua cozinha e pegue um copo d'água.
Foi?

Não, não foi. E sabe por que não?
Porque você não tem motivo aparente para isso.
Mas se parar para pensar, você também não tem motivo aparente para estar lendo esse texto agora.
E também, se parar pra pensar, vai descobrir que não tem motivo para fazer a maioria das coisas que faz, as pessoas com quem fala, os seus hábitos diários. Eles só lhe são ensinados, e você os repete, como sempre fez.
E quando você para pra pensar em todas as coisas inúteis que acabam fazendo da vida o que ela é em vez de algo muito melhor, você não consegue mais olhar o mundo da mesma forma.
E esse é o motivo da minha crise existencial.
Não estou deprimido, de verdade. Eu não penso em suicídio mais do que o de costume, talvez esteja pensando até menos do que antes. Acho que minha vida finalmente está tomando o rumo inevitável que todas as vidas tomam, e é exatamente isso que está me deixando desse jeito: o inevitável.
Mas não, deprimido eu não estou.
Para falar a verdade esse é um dos momentos mais importantes da minha crise existencial.
Essa é a hora em que eu me viro para a vida e olho no fundo de seus olhos antes de dizer:
"Eu não ligo para você."
E saio andando na direção oposta.

Laranjas

Laranjas podem ser mesmo laranjas, assim como o fim pode ser mesmo o fim. Mas isso não significa que laranjas sejam só laranjas, e que o fim seja só o fim.

Nada.

Nada.
É isso, eu espero que você esteja feliz.
Ando sobre as paredes da realidade e, desdenhando de toda e qualquer certeza, escrevo meu próprio mundo em uma folha de papel.
Eu gosto da morbidez
Eu gosto da morte, eu gosto do fim
Eu estou no fim, e sempre estive
Mesmo no inicio, o fim sempre esteve comigo.
Perdi tudo que possuia, mas depois de me dar conta de que nada era tudo que sempre tive, percebo que o que perdi foi na verdade o que nunca lutei para conseguir.

O Último Adeus

Esse vazio...
Está se aprofundando, preciso fazer algo sobre isso
Escrever não parece estar ajudando
Ele ultrapassou minhas costelas, está quase alcançando o coração
Eu posso sentir
Ele pode alcançar o que quiser, mas em vez disso, fica perto
Ali perto, esperando, talvez seja só eu ou
Minha agonia, é isso que ele quer
É isso que o mundo quer
Corações vazios, é o que ele cria:
Mentes inquietas, inquietantes por seus perfumes
De pensamentos, essa euforia
De corações palpitantes tentando encontrar uns aos outros
Para poder dizer mais uma vez "eu sabia desde o inicio"
E continuar nessa caminhada sem volta
Na estrada da solidão eterna
Na companhia invisível de alguém
Que pode ir embora a qualquer momento
Que dá várias vezes o seu último adeus.

São eles

Olhos verdes, os seus
Que me fitam sem nenhuma vergonha de me admirar
Pelos meus defeitos, olhos cegos, porém perfeitos
Pois não enxergam o pior de mim, que seria o mais óbvio
E sim meu lado bom, o que muitos não acreditam que exista
E outros que já deixou de existir
São esses defeitos que desaparecem neles
Os que me fitam, esses seus olhos verdes

Foto

Decidi arrumar o meu quarto
Me deparei com sua foto
Ignorei
Me deparei com uma carta sua
Ignorei
Tirei do chão a caixa de um dos filmes que costumávamos ver aos sábados
E comer pipoca
Ignorei
Reparei no copo rachado em cima da minha bancada
Você rachou meu copo
Ignorei
Você me rachou
Peguei a sua camisa do chão
Peguei a minha camisa do chão
Levei o lixo para fora
Joguei no lixo todo o seu lixo
Olhei para algumas das suas coisas velhas e quebradas na lixeira
Eram as nossas coisas velhas e quebradas
Joguei no lixo todo o meu lixo
Deitei na cama e tentei dormir
Levantei
Tirei a minha camisa do armário, aquela que você costumava usar
Joguei no chão
Joguei no chão o frasco de perfume que você me deu
Joguei o resto das minhas camisas no chão
Rasguei sua foto
Rasguei sua carta
Chutei o pé da cama de propósito
Gritei de dor, de propósito
Tirei todos os seus livros da minha estante, joguei no chão
Quebrei o copo
Pisei no caco de vidro
Ignorei
Tirei todos os lençóis do lugar
Joguei-os em cima das minhas camisas
Quebrei a bancada
Escorreguei no frasco de perfume caído

Caí
Quebrei o braço
Chorei
Deitei
Dormi.
Junto pedaços de coisas e pessoas diferentes formando algo único, porém nada original. Engano de longe como algo diferente e inovador, quando na verdade estou mais próximo de me tornar uma aberração.

O Nada

Sinto o nada.
Não sinto o vazio, não sinto o cheio, não sinto frio e não sinto o calor.
Estou indiferente, mas também não sinto a indiferença.
Sinto esse monte enorme de absolutamente nada crescendo dentro de mim,
Prestes a se tornar algo maior do que eu sou capaz de entender.
Me tornarei uma parte disso, e quando isso acontecer...
O nada irá me sentir.

Verde

Minha alma está fora do alcance do seu olhar, que desvenda cada mentira, cada falsidade e cada ironia. Esses são os olhos que fitam os meus em uma expressão de predador descobrindo cada face do meu ser, cada indivíduo dentro de mim. Esses olhos, os mais verdadeiros possíveis, não poderiam ser outros senão aqueles cuja alma por trás dos mesmos é incompleta e defeituosa, mas se encaixa perfeitamente com aquela alma dos olhos escuros e vazios. Aquela que habita o ser com mais dificuldade de falar do que de escrever, mais dificuldade de impedir do que de se juntar à causa, mais dificuldade de se afastar do que permanecer ali para sempre.
Em seus olhos.
Perco minha alma no espaço entre as tábuas do chão, onde lá ela encontra seu lugar, junto à sujeira e a tudo que já foi há muito tempo esquecido.
Encontro um pouco mais de mim antes de me deixar cair no chão junto com papéis e objetos sem importância que carregava para algum lugar cuja relevância já não é tão considerável.