domingo, 30 de outubro de 2011

Morte

Acho que a morte não seria tão ruim assim.

Sabe, sempre me perguntei como seria a Morte, e nunca vi realmente um problema nisso.
Aos 8, perguntei para meus pais sobre, mas percebi que mesmo eles não poderiam me responder isso. Nem eles, nem ninguém.
Hoje, porém, já é outra história.
Eu penso saber qual é a cara da Morte.
Não a encarei de muito perto, mas a vi passar de longe algumas vezes na minha vida.
Ela se parece com o frio.
Não o frio comum, da água que te refresca em um dia quente, ou o frio dos polos que te obrigam a usar o fogo para se esquentar.
Um frio diferente, um frio da alma.
Como se estivesse em um quarto de gelo, em um canto, e a sua única companhia fosse a solidão.
E então ela vem.
Ela vem e te tira todo o calor de dentro de você, deixando o frio do local preencher o vazio deixado.
Talvez essa seja a Morte.
Mas, como disse, nunca me assustou realmente. Talvez o problema seja a certeza de que ela virá; a certeza de que ela é inevitável.
A certeza de que ela está bem perto, esperando o momento certo para tomar de você o que nunca o pertenceu.
A certeza pode ser a melhor amiga do medo.
Seu hálito gélido de mil almas assoprando no seu ouvido, o toque de desesperança no seu peito, e logo depois... o fim.
E depois de pensar sobre ela por tanto tempo, cheguei a uma conclusão que pode me ajudar a evitar isso.

Percebi que o único modo de evitar que ela te alcance, é alcançando ela primeiro.

sábado, 29 de outubro de 2011

Ato III

Nota do autor:
Antes de começar as recomendações, gostaria de fazer alguns agradecimentos.
A Deus, que mesmo não existindo realmente, me fez entender o quão a vida pode ser miserável.

Aos escritores ruins, que me fizeram acreditar que mesmo que você tenha uma história muito boa você pode estragá-la do jeito que você conta, assim me fazendo considerar a possibilidade de que eu poderia fazer o oposto: ter uma história não muito boa, mas escrever de um jeito que a deixe melhor.

A minha mãe, meu pai e minha irmã, além de minhas ex-namoradas, que juntos me incentivaram tanto a perder completamente a cabeça.
Deu certo.
Obrigado a todos vocês.

Continuando...
Deixe um pouco de sua sanidade antes de ler esse texto.
Se mesmo assim esse texto não fizer o menor sentido, é porque esse é o objetivo do texto.
Em relação a sua sanidade, se isso fizer sentido é porque você a deixou completamente, ou nunca a teve pra começo de conversa.
Essa é uma continuação do Ato II, que é uma continuação do Ato I. Recomendo que não os leia.

Recomendo que não siga minhas recomendações.
Como avisarei a mais adiante, essa será a última parte dos 3 textos.
Obrigado.


Ato III

Viajando.
Olho pela janela do carro, vejo faixas passando.
Deito a cabeça no vidro, macio aos olhos dos desesperados pelo descanso, não mais do que um simples vidro pros demais.
Durmo.
Chego, acordo, deito, Durmo. Acordo, como, ando e durmo. Me mato. Acordo, bebo, ando e durmo.
Acordo sonolento, lençóis sujos de alguns líquidos de diferentes cores, origem e cheiro duvidosos, mas todos aparentemente contendo um percentual elevado de álcool.
Parece que aconteceu uma festa aqui.
Uma festa de um homem só.

Abro a geladeira, pego um copo d'água, fecho.
Eu tenho um pássaro.
Não é um pássaro qualquer, é um papagaio, e eu poderia ensinar ele a falar algumas coisas, mas eu não tenho paciência para esse tipo de coisa.
Sabe, ensinar pássaros é muito chato.
Ele uma vez voou pela janela e foi parar na casa do vizinho, tive que pegá-lo lá porque o infeliz não queria sair da maldita janela, logo antes de me dar uma mordida que me arrancou a pele. Pensei em dar aquele pássaro pra alguém depois disso, mas desisti da idéia pelo fato de ser a única companhia que tenho além do álcool, nesses dias não tão frios e nem tão aconchegantes assim.
Infelizmente eu desisti.
Infelizmente porque o maldito pássaro piou, e piou alto.
Caiu o escorregadio copo, despedaçando-se nos inocentes azulejos, que não entenderam porque eu havia feito isso com eles.
Acabaram-se os não tão amplos adjetivos para essa canção de um incoerente sem ritmo.
Pisei em um dos cacos de vidro, acidentalmente, enquanto tentava pegar um outro copo para continuar minha jornada lenta para a vida. Sangrou.

Fui no banheiro, com o pé sangrando, peguei um band-aid e coloquei no corte.
Mancando, voltei pro quarto em pequenas reclamações fúteis.
"Sempre o evitável inevitável da vida."

Acordei.
Um novo dia, mas meu pé continua cortado.
Quando será que esses novos dias vão parar de chegar? Será que terei que fazer uma reclamação formal para o próprio tempo?
Não, hoje não.
Hoje tenho um compromisso sério.
Hoje irei falar com a minha sanidade.
Olá?
Olá.
Sanidade?
Ela não se encontra, deseja deixar algum recado?

Converso algumas horas com a minha insanidade, que parece ser a única ocupando o recinto.
Durmo.

Adan adum oãn e odut adum ,assap opmet o es e?
Oãssecxe a oãn e arger a rof açargsed asse es e?


Acordo.

Tudo chega em 3.

Vou fazer a barba quando percebo que pouca barba tenho, senão nenhuma.
Pego uma navalha, aprecio-a no olhar.
Minha velha amiga, nunca lhe dei a devida atenção.
Começo a cortar o cabelo com a navalha, deixo-o quase curto e com um penteado bagunçado. Termino o trabalho.
Termino de me despedir da minha navalha.
Termino o resto.


Tudo acaba em 3.
Com uma só mão, corto meu pescoço de orelha a orelha e me deito sobre o chão.

Me deito sob o final, me deito sob a felicidade.
Me deito sobre os pensamentos, me deito sob ela, beijando minha nuca.
A morte, finalmente esperada e certa.
A morte, finalmente requerida, assinada, aprovada, enviada e realizada.
A tão sonhada morte dos sonhos de poucas palavras.
As tão sonhadas poucas palavras da morte, o despertar dos sonhos sem fim.
O tão sonhado fim.

 
Fim do Ato III.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ato II

Nota do autor:
Esse texto não fará o menor sentido de forma alguma.
Essa é uma continuidade do texto "Ato I", que também não faz o menor sentido.
Como uma continuidade do texto "Ato I", esse texto necessita do primeiro para conseguir o efeito de não-entendimento desejado.
Ou não.
Obrigado.

Ato II

Corrupção.
A vida, a vingança, o vago, o véu que veste as vilanias dos vândalos viajantes.
As cartas que corrompem um coração completamente condenado.
A inútil ideia, que insiste em inundar os insolentes com imbecilidades.
Famintos por forças para ficarem firmes, os filhos dos filhos da fadiga. Fugindo do quê?
Fugindo do fim.


Fim de tudo, acordo.

Estou na minha cama.
Talvez tudo tenha sido um sonho, talvez não.
Olho pra janela.
É, não foi um sonho.
O mundo é exatamente do jeito que é, e não há nada que eu possa fazer para mudar isso.
Fecho os olhos, ouço uma batida na minha cabeça.
Sempre a maldita batida.
Continuo de olhos fechados para ver o que acontece.
Ouço um click.
Tenho uma idéia.
Vou comer.
Presto atenção na geladeira. Ela está bem do jeito que eu me lembrava, exceto por alguns ovos faltando.
Talvez tenha comido enquanto dormia.
Talvez tenha dormido enquanto comia.
Olho para a janela mais uma vez e desvio o olhar.
Por que, com tantos mundos em uma janela, ou com tantas janelas em um mundo só, tudo que vem à minha mente é o seu rosto?
O rosto de quem não, e sim do quê.
O rosto da vida.
Vida?
Pego meu travesseiro, sento no sofá, me deito e acabo dormindo no chão.

Mate, mate, morte aos míseros moribundos.
Não negue a náusea.
Sempre sarcástica e sutil.
Pare para pensar, de perto só parece pior.

É pior, é o mundo.
É a janela do mundo vista por um monstro.

Fim do ato II.

Ato I

Nota do Autor:
Esse texto não fará o menor sentido se você ainda não leu os outros textos desse blog.
Isso não significa que fará sentido caso você já os tenha lido, mas certamente não terá a sensação de que está perdendo alguma coisa.
Obrigado.

Ato I

Sentado.
Procurando inspiração há dias, não consigo encontrar.
Estou cansado de procurar em geladeiras, crises existenciais, fotos, quartos desarrumados ou até no chão.
O fato é: eu não sei de qual fato estamos falando.
Pego o controle da TV, dou uma passada nos canais e paro em uma série que me disseram ser engraçada.
Talvez eu devesse procurar a graça dessa série.
Talvez não.
Desligo a TV, ando pela casa, chego na cozinha.
Abro o armário.
"Hm... Sem bolinhos"
Continuo procurando pela minha busca incessante.
Não encontro-a.
Pego um papel, coloco em cima do móvel de madeira pintada de branco e começo a escrever. Termino de escrever e viro o papel. Termina a linha, começo a escrever no móvel branco. Não consigo parar, não consigo.
É como se algo de dentro de mim me impulsionasse a escrever qualquer coisa que seja, mesmo que ninguém esteja ligando, mesmo que seja desagradável de ler; Mesmo que tenha que escrever no móvel branco.
Paro.
A ponta quebrou.
Me deito no chão, de novo.
Olho pro teto procurando a inspiração, de novo.
Fecho os olhos.
Ouço uma batida.
Abro os olhos, assustado.
Fecho-os novamente e consigo ouvir a mesma batida.
Abro os olhos e me levanto para fazer um café, quando me lembro que não sei fazer café. E quando me lembro de que não sei fazer café, automaticamente vem outro pensamento na minha cabeça.
Eu não sei fazer café porque eu não gosto de café.
Desisto, sento na cadeira do computador.
Brinco com a alça do meus óculos, repousado sobre o não tão macio chão, pego e jogo-os contra a parede.
Talvez meus óculos tenham quebrado.
Esse texto não está fazendo o menor sentido.
Sento, respiro.
Quebro a linha de não-pensamento que começa a se formar com uma barra de espaço.
Bocejo.
- Quem sou eu?
Termino o ato I.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

E se...

E se todos os dias, ao abrir os olhos pela manhã, você desejar voltar a dormir de novo?
E se todos os pesadelos do mundo não forem suficientes para te fazer querer viver a realidade?
E se a realidade for exatamente tudo aquilo que você sempre achou que fosse, só que um pouco pior?
E se a vida não for tudo aquilo que te falaram? E se ela for?
E se tudo que você aprendeu for "dispensável"?
E se o amor não preenche mais o vazio que o tempo deixou ao passar por você?
E se a solidão puder ser ouvida de longe? E se a depressão estiver clamando pelo seu nome?
E se a escuridão for sua melhor amiga? E se tudo que existir for raiva?
E se o mundo for exatamente desse jeito que é?
E se ninguém estiver nem aí para o que está acontecendo?

Nesse caso, valeria a pena continuar?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Chuva

Me perco na chuva que cai, em cada gota que se desfaz ao bater no chão, ao bater em cada degrau dessa escada, em cada ombro solitário. Esqueço a cada dia que se passa, a cada copo que bebo, a cada gota de álcool que derramo nas minhas mãos cansadas, a cada caminhada lenta e torduosa de volta para casa. Perco a dignidade a cada dia que me levanto e me vejo em lugares desconhecidos, com gente que eu nunca vi, quando meu corpo me conta histórias que não me lembro de ter vivido, e minha alma sente falta do que nunca aconteceu.

Metalinguagem

Dessa vez não vou escrever um texto melodramático, infundado, insípido, amargurado, imaginário ou ilusório de uma mente frustrada. Não escreverei sobre aflição, piedade, mágoa nem mesmo apatia ou insensibilidade. Não será um texto que faz pessoas pararem para pensar sobre a vida ao lerem em casa ou na rua, porque na minha opinião as pessoas estão subvertidas demais cuidando do seu próprio mundo para terem tempo de pensar sobre o que um observador implícito em sua própria mente pensa sobre qualquer coisa. Na minha opinião, o ser humano está ocupado demais sendo um completo ignóbil, pândego de suas alucinações sobre um futuro próspero e uma morte indolor e recompensada para pensar realmente o que ele veio fazer aqui. Sendo assim, dessa vez não escreverei merda de texto nenhum.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ideia

Só preciso de uma arma, uma bala, um cigarro, um pirulito, um celular, uma lista telefônica, uma muda de roupa, um sapato, duas moedas, mais alguns trocados para o ônibus, um copo de vodka pura, papel, caneta, um quarto de hotel, uma chave, e um motivo bom o suficiente pra me fazer desistir dessa ideia antes que seja tarde demais.

sábado, 1 de outubro de 2011

Vazio

Perco mais uma parte de mim no abismo. Tenho que me recriar com o tempo, pois tudo que sou é engolido por essa imensidão de absolutamente nada que cresce cada vez mais. Eu não sou uma pessoa só, mas não chego a ser várias pessoas diferentes. Eu sou só mais um ser, uma transformação sem fim, mas a contrário do resto, eu não evoluo. Eu só me reconstruo, tentando me basear na pessoa de antes, ficando cada vez pior. Eu afasto qualquer um que chega perto de descobrir quem eu realmente sou, porque quem eu realmente sou não é algo que deve ser descoberto por qualquer um. Eu não sou humano. Eu não sou um monstro. Eu não sou nada.