quinta-feira, 30 de julho de 2015

rastros de sêmen não escrevem uma boa história

eu fiz bons textos e
maus textos e
incrivelmente bons
textos, mas eu sei que
nenhum deles
tem a sua cara
e, definitivamente
nenhum deles tem
a sua bunda, então
pra que escrever
tantos bons e
significantes ou
maus e insignificantes
ou bons e insignifi
tantos se, no final
eu continuo tendo
o mesmo resultado?
um dia eu aprendo
a minha lição e paro
de escrever, talvez
não, mas mesmo assim
eu já entendi que
meia dúzia de palavras não
substituem uma boa
bunda.

domingo, 26 de julho de 2015

amarelo

ela é só uma moça bonita de olhos claros
e quadris largos, simpatia incomum
com uma roupa solta, amarela
e esses quadris largos, uma
lan-ge-rrí de seda
decorada com os meus desejos
devorada pela volúpia
dos vagabundos bêbados de esquina
mas eu não sou eles, não
sou de beber nem nada, tenho casa
com mobília e mulher
mas se ela fosse minha
mulher, tudo seria resolvido e absolvido
talvez eu conseguisse um bom divórcio
se formos parar pra pensar
nas circunstâncias, qualquer pessoa
entenderia que eu quero esses olhos claros
e essas roupas largas, soltas, amarelas
como o nascer do sol que está por vir
como os prazos que eu terei que cumprir
pra escrever esse poema bobo
pra ressarcir meu editor escroto
pra fugir do que é parte de mim
(esse amarelo da sua roupa).

sexta-feira, 24 de julho de 2015

angelical

o que um velho como eu
viciado em pornografia e
cigarros, revistas de carro,
quebra-cabeças impossíveis e
menininhas bobas de quinze anos,
ex-veterano de uma guerra que
nem sequer existiu pra começo de conversa
(que teve início e fim
dentro da minha cabeça e talvez
na sua), prepotente e pedante
desinteressado e desinteressante
infeliz, aleijado e murcho
com um dedinho faltando e talvez
alguns centímetros
talvez alguma humildade e moral
poderia querer com um rostinho
tão angelical como esse seu?

Eu quereria. (Explícito)

Olha,
eu não quero mais
pois sei que quero
e não posso querer
(não posso, não)
e não quero querer
(mas até quero)
porque não posso
e não quero poder
(mas pudesse eu querer
e eu queria,
soubesse eu poder
e eu fodia)
pois nem sei pensar
sem passar-te os olhos
sem comer-te em todo
sem sentar-te em mim
(porque te quero)
e imaginar passando
(Por que te quero?)
e fodendo, e gozando
me agoniza e despedaça
quero estar longe dessa desgraça
que é querer-te
sem te poder foder.
Capisce?

beber café e bater as botas

Eu estou num hospital agora e
coisa horrível esse lugar
médico demorado, hospital demorado
vim pra tirar uma radiografia, mas
enfim
percebi o interessante engraçado
cômico desespero humano que é
todos nós morrermos no final
e eu estou aqui nesse hospital
onde várias pessoas morreram
e morrerão ainda hoje
e outras inúmeras nascerão,
para o desespero dos demais
ainda hoje
e ninguém liga, não é mesmo?
todos lá continuam bebendo seus cafés
e jantando com seus filhos à noite
filhos que nasceram no mesmo dia e talvez
na mesma hora e talvez no mesmo lugar
em que várias pessoas bateram as botas.
Essa é a vida, afinal
basicamente igual a esse poema
não tem graça nenhuma e depois
acaba.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Sonata.

quero que me abandones pois
meu desespero me sufoca, tua
carne não me serve mais
minhas lágrimas não estão caindo
e eu não acordo do sonho
desse pesadelo infernal, estou
correndo o risco de ficar aqui
eternamente teu, eternamente
nesse bizarro e inquieto céu
não me pare agora, amor
estou dormindo para sempre, estou
saindo daqui e agora eu me vou
perdoa-me pelos pecados de amor
que meu sacrifício não é em vão
que meu suicídio moral e físico
é apenas a gota d'água para
esse mundo fútil, como eu fui
mas estou me livrando disso tudo
essas amarras já não me prendem
essas inseguranças não me habitam
meu coração é livre agora
minha alma é poesia finalmente, amor
sorria pra mim, não chore
eu estou me despedindo
estou ascendendo

domingo, 19 de julho de 2015

um cão vira-lata castrado

eu me recuso a escrever
outro garrancho escroto, outra
palavra chula, puta, burra, inútil
me chupa que essa é nossa dança
esse vai e vem de merda seca
sorri e me lambe como um
cão vira-lata castrado
faminto, doente, carente e senil
tira o capuz de vagabunda
ou tira ele de perto de mim
vem rastejando como um velho
podre das pernas que vendeu
a cadeira de rodas pra comprar
maconha, crack e cocaína, mas não
esquece, quando terminar
de cuspir no prato que te comeu.

(volte sempre)

terça-feira, 14 de julho de 2015

Devaneios de julho.

I.
Bebo amor porque não tem
sentido
querer morrer e não tomar
veneno
.
II.
Cheiro pó e injeto cristal
ateei fogo num cachorro ontem
eu tinha metas pro futuro, mas
agora
tenho nas veias
.
III.
Morrer é como
viver muito
de uma hora pra outra
sem intervalos comerciais
sem pausas para o cafezinho
sem cochilos entre as
refeições
.
IV.
Às vezes fico pensativo
e com medo do meu futuro
mas aí eu me alivio, fumo um
rio um pouco e descanso a vista
não faz sentido ter
medo de algo que não
existe.
.
V.
Se tem algo o meu jardim
que não apodreça com o tempo
essa coisa é minha esperança
de que talvez exista algo assim
.
e é por isso que eu ainda planto
essas sementes que você me deu.

domingo, 12 de julho de 2015

Porque eu tenho braço.

Diz-se que todo poeta sofre mais do que o resto, mas eu não quero sofrer e se for assim eu nem quero ser poeta. Se for assim eu não quero escrever, muito menos saber ler. Não foi isso que me ensinaram a fazer, mas afinal, quem aprende a sofrer? Pois se todo mundo já nasce chorando e eu já nasci calado, então o doutor já devia saber e falar "esse menino não quer chorar e não quer chover em casa. Não quer ver as flores murchas e o café esfriando, não quer amar e não quer ser amado", mas eu quero ser amado. O médico não pode acertar tudo afinal de contas, então minha mãe choraria e meu pai ficaria calado em um canto da sala. "Não é tão ruim", ele diria, "ele poderia ter nascido aleijado", mas eu sou aleijado. Eu tenho braço e tenho corpo, tenho perna e tenho pinto, "mas então qual é a sua deficiência?" e eu falo pro outro doutor que minha alma quebrou pra ele rir. "Mas como assim quebrou?" ele pergunta, com toda razão em perguntar. Alma não quebra, já nasce ruim ou já nasce boa, então eu digo que tenho alma sofrida, sentida, escrita e descrita em minúsculos pedaços de papel sujos de dor e ódio, respingados com catarro e sangue, medo e frio, mas o doutor não pode me ajudar, então eu desisto. Não vou pra psicanalistas, remédios não resolvem e sorrir de mentira eu já aprendi, afinal, eu não sou só poeta, sou palhaço. Eles riem de mim sentindo, mas como posso culpá-los? Eu também riria se eu soubesse rir ao invés de escrever e escreveria rindo se soubesse rir enquanto escrevo, mas não consigo, então só escrevo. Mas eu não quero escrever e nem falar, então me calo e largo a caneta, mas eles continuam rindo. Por que riem? Se tudo é graça então me mostra o lado bom de não ser eu, que de repente eu me mudo de mim e vos ajudo a rir também. De quem estamos rindo? eu perguntaria. "Daquele poeta ali, aquele menino magrinho e fanho que escolheu amar", mas qual o nome dele aliás? Tomás? Matheus? "O nome dele não importa", eles diriam, e não importaria mesmo.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Eu quereria.

Olha,
eu não quero mais
pois sei que quero
e não posso querer
(não posso, não)
e não quero querer
(mas até quero)
porque não posso
e não quero poder
(mas pudesse eu querer
e eu queria,
soubesse eu poder
e eu podia)
pois nem sei passar
sem passar-te os olhos
sem querer-te em todo
sem tentar-te em mim
(porque te quero)
e imaginar passando
(Por que te quero?)
e podendo, e querendo
me agoniza e despedaça
quero estar longe dessa desgraça
que é querer-te
sem te poder querer.
Capisce?