segunda-feira, 25 de junho de 2018

Engarrafamento de pensamento

Eu penso. Sei que penso e sei por que eu estou pensando sobre o que penso. Penso porque estou preso no engarrafamento, entre o ponto A - de onde vim - e o ponto b - até onde eu almejo ir. Meu engarrafamento pensamental, no entanto, não se relaciona em nada com o excesso de veículos que se encontram à minha frente. Meu problema não é, de fato, a mobilidade urbana. Ainda assim, cogito: se eu não estivesse no engarrafamento, não estaria pensando. Se não estivesse pensando, talvez não soubesse quem eu, de fato, sou.
Mas quem eu sou? Me pergunto. Talvez pra muitos, eu seja apenas um homem no engarrafamento, nem bom, nem mau. Talvez a minha existência não faça sentido nessa imensidão de carros e pessoas, já que eu sou só mais um dos que compraram um dos sonhos de consumo dirigíveis. Quando será que foi que nossos sonhos se tornaram tão pequenos e privados?
Eu penso e, se penso, sofro. Pensar não é tarefa prazerosa ou passatempo, o raciocínio é incontrolável e irreversível. Mas eu não sofreria se não tivesse que pensar, e eu não teria que pensar se não houvesse esse maldito engarrafamento. Buzino, mas nada acontece. Grito em silêncio, mas o carro não sai do lugar.
Talvez não seja um bom sistema afinal de contas. Um sistema que me faz engarrafar e acaba, sem querer, por me fazer pensar, não pode estar certo do que faz. Talvez todas aquelas letras de pop-rock que eu ouvi no rádio naqueles inúmeros engarrafamentos estivessem certas sobre as nossas vidas. Não somos livres, não senhor. Não me deixam pensar em paz, não me deixam não pensar. Não me deixam seguir em frente, não me deixam sair do lugar. E o carro ainda não andou...

Nenhum comentário:

Postar um comentário