terça-feira, 3 de abril de 2012

Falta.

E sem você tudo aqui é solidão. A luz do sol queima em vez de aquecer, e o álcool parece ser a única solução. De seu sorriso, não me lembro mais. De sua rouca garganta, saiu a voz que me deu a certeza de que não havia nada mais a ser dito, porém muito...

A fala a faltava, a morte a fitava como se a chamasse para dançar. Chamou. O fechar dos olhos tristes aconteceu antes do esperado.
Seu corpo, pálido, não demonstrava alteração. Sabia que era a última vez, então não havia surpresa. Todo o final já tinha sido contado a ela antes que fosse terminada a história. "Não há chance", ele disse. Alma desabou do corpo. Suas pernas andaram enquanto a essência permaneceu ali parada, chorando, deitada no chão em forma de súplica. Súplica para que fosse um sonho, para que houvesse forma alguma de voltar ao início, para que houvesse alguém ouvindo seus lamentos, gritados sem som. Cuspia em vão palavras ao nada, fingia que não havia acontecido. Bebeu, fumou. Esperava que acabasse, não se importava. O sentido o havia perdido, e a felicidade se despediu antes que notassem sua presença.
O luto cobriu as ruas, as pessoas não repararam. "Luzes demais para perceberem os detalhes". Ele sabia. Ele beijou a face da melancolia. Abraçou seus próprios medos, e seus medos se tornou. Viveu o que podia na hora errada. Desistiu do que valia a pena, caiu. Caiu por medo de cair. Segurou a rosa que foi repousada sobre o nada que restou. De seus olhos, uma única lágrima caiu. Escorreu pelo rosto, foi parar na terra, e daquele lugar não nasceu mais vida.
Apagou-a antes do fim. Fugiu de seu próprio ser, e se separou. Dois de um se formaram: Um deles, amargurado, concluiu-se com as pílulas. O que sobrou foi o resto: Tudo que o primeiro não queria carregar para sua pós-morte. Ele cresceu, e fugiu da memória. Se tornou a criança adulta que nunca desejou não ser. Chorava, mas aquietava-se ao sentir alguém por perto. Não se abriu, com medo de que, quando revelado, viesse o pior de si mesmo. Não havia pior. Não havia si mesmo. O que sobrou foi o esqueleto, deixado no passado. Sentiu falta de sua alma, sentiu falta do calor. Apertou-se o peito, mas nada podia ser feito. Na memória do que se tornou, os passos foram apagados. Tentou voltar, não conseguiu. Insistiu, e chegou ao início. Nada mais havia, e então o rascunho se pôs a esperar. Esperar pelo fim, que escolheu deixa-lo por último.

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