sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Necro-Papo.

Termino de brincar com o senhor Arlindo e passo para o próximo corpo.
- "Causas Naturais", diz aqui. Veremos isso agora...
O nome da infeliz era Amanda Ferrari. Amanda... Eu nunca gostei muito desse nome, mas essa daí parecia ser boazinha. Tinha 15 anos, 3 meses e 16 dias.
- Você até que era bem gostosa, Amanda.
Olho para o corpo e começo meu trabalho. Sem dificuldade, começo a cortar o peitoral. Por mais que eu tente, não consigo ignorar seus seios, fartos demais para uma adolescente, e seus mamilos pequenos. Sua pele é branca como a neve, pálida como a morte. Minha mão desce para as suas coxas e me sinto desviado de meu objetivo inicial.
Volto meu cuidado à lâmina e paro de imaginar coisas.
Meu olhar ainda escorrega uma, duas, três vezes enquanto meu bisturi penetra em sua pele, mas o líquido vermelho que sai de dentro dela finalmente me faz voltar à realidade e terminar o meu trabalho.
Ao abrir o peitoral e ver o coração da moça, me lembro do tempo em que eu chorava. Chorava por não ter sentimento correspondido... Com o tempo, parei de amar... ou de sofrer por amor. Honestamente, nunca soube a diferença. Fui um menino romântico, acho eu.
- Isso não vai fazer falta.
Arranco seu coração e guardo para experimentos futuros.
Nunca gostei muito de vivos. Até nessa mesma época, me apaixonava ao ver uma menina dormindo... Acho que foi por isso que acabei parando em um necrotério. Sou apaixonado pela morte e por todos os seus agentes. Da doença à podridão da carne, tudo ali me fascina.
- Sabe por que gosto dos mortos, Srta. Ferrari?
Ela não responde.
Me abaixo um pouco e fico na altura de seus ouvidos.
Ela continua sem responder.
- Não vai nem tentar?
Por um instante, ela parece prestar atenção. Por um instante, o olhar fixo para o teto parece mover-se milímetros, e sua cabeça parece querer virar um pouco mais para ouvir o que tenho a dizer. Por um instante, a vida parece percorrer o coração da virgem.
Então sussurro:
- Pois os mortos não falam.
E esse instante acaba.

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