segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Mais?

A agulha está no mesmo lugar que a deixei.
Levanto da cama e vou até a cozinha.
Abro a porta da geladeira.
O que vamos comer?
A agulha ainda está ali.
Pego o pedaço de torta que sobrou do aniversário.
Fico feliz de não lembrar de quase nada.
A parte que eu lembro é horrível.
É por isso aquela agulha.
Ainda sobrou um pouco, não sobrou?
A torta acaba e me disponho a lavar a louça.
Será que meu outro eu lavaria a louça?
Tudo dá certo pra ele, mas não pra mim.
Talvez só mais uma vez...
Não.
Se eu fizer isso, não me lembrarei que fiz.
Me olho no espelho, pareço péssimo.
Será que vale a pena ser só eu?
Ainda tem um pouco no meu bolso.
Não me lembro de como é ser outro.
Termino de lavar toda a louça e volto pro quarto.
Mas ele também não se lembra de mim.
Acho que viciei-me em não ser eu.
Será que vale a pena?
Deito na cama e fecho os olhos.
Se não parei até agora, deve valer.
Desisto.
Abro os olhos.
Levanto.
Afinal, a agulha deveria estar ali por alguma razão, né?

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