quarta-feira, 9 de abril de 2014

Gota, farrapo, grão.

Meus lábios, calejados de desejo, tremem perante a ilusão de um perfume teu rondando minhas roupas. Teu rosto se encontra lá, sempre que fecham-me os olhos e forçam-me a descansar nos braços da solidão. Tentei arrancar de mim qualquer gota, farrapo, grão, que fosse de ti, mas não pude. Com o choro, vem a melhora. Com a melhora, vem o esquecimento - e como posso me esquecer do amor? As lágrimas que segurei por ti só não foram maiores do que os mares que bebi sem ti, pobre menina. Pudera eu dar último adeus, para terminar o tormento em veneno assim que tu me desses as costas! Mas nem isso pude, Deus, por quê? Liberdade! Pois já cansei de clamar por misericórdia... Sem direito à melancolia, quem sou eu em Seu livre arbítrio? Ah, Aurora... Minha sanidade foi-me negada, tu resolveste poupá-la de mim! Por que partir sem deixar em mim a dor reconfortante de uma última lembrança? Sem a adorável sintonia dos teus toques perante meu olhar trôpego... Não te culpo, Aurora, por não saber culpá-la de nada. Mas tinha que ser assim? Deixar sem esperança de que o fim é eterno? O que faço de mim agora? Pra que seguir, senão contigo? Pra que morrer, senão por ti?

Um comentário:

  1. Só para constar que, suas escritas são suicídio e salvação para a minha alma perambulante.

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