segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Lúcido.

Distancio-me da realidade chula e exploro as lacunas do meu subconsciente. Abro os olhos e lá estou eu; feliz caminho pelos pastos verdes vidrantes e sinto o vento vibrar a grama nos meus calcanhares. Não é grama e não é vento. O pouco que sei desse lugar é suficiente pra ser considerado um quase nada recheado de fantasia — estou sonhando. Dobro os joelhos e desliso a mão pelo capim. Posso sentí-lo crescendo e espetando a pele entre um dedo e outro, mas não exatamente. Tudo aqui é tão real quanto uma lembrança e tão palpável quanto a imaginação permite — não o suficiente. Arranco pedaços verdes de sonho e começo a correr em direção a um imenso precipício. O que acontece se eu estiver errado? Que garantia eu tenho de que não estou alucinando de novo?
Nada.
Então eu pulo.

Acordo no sofá cinza da minha casa. Não passa das três da manhã. Meu corpo está descansado, mas meu cérebro ainda sente o entorpecimento da queda. Levanto-me vagarosamente e ando em direção ao meu objetivo de vida — a geladeira. É estranho que o mundo seja bem menos do que desejamos que ele seja e que a luz do meu viver não seja nada mais, nada menos do que a lâmpada dessa geladeira velha e ranzinza. Procuro a manteiga, mas não encontro. Sento-me no chão — ainda com a porta da geladeira aberta — e começo a chorar. Nada é suficiente pra me fazer querer estar aqui. Eu preferia estar sonhando. Desabo em lágrimas e deito o rosto no azulejo frio da cozinha, iluminado pela geladeira vazia com meus olhos cheios de dor. A lâmpada que mostra a geladeira é a mesma que me expõe ali, no calar da noite — a geladeira é a minha vida. Fecho-me perante o mundo para economizar esforço, ando em direção ao banheiro e seco as minhas lágrimas. Penso em acender todas as luzes da casa, mas não preciso disso. Meu lar é a escuridão. Abro a última lâmina do pacote e desenho um enorme T em cada pulso.
Mas não sangro.

Acordo. Tudo está de volta ao normal. O mundo volta a girar e logo logo eu vou voltar a dormir. Ainda assim, tudo que eu vejo é tão real quanto uma lembrança e tão palpável quanto a imaginação permite.

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