terça-feira, 8 de março de 2016

best-seller

Eu vou guardar um pouco da amargura na gaveta de baixo do meu subconsciente e misturar auto-depreciação com sarcasmo pra forjar um falso amor próprio e exibir a todos os meus familiares. Enquanto isso, meu humor ácido vai corroer tudo aquilo que sobrou de útil nessa sopa de conhecimentos superficiais e transformar minhas experiências pessoais em uma teoria sobre a verdade absoluta do universo em que habito. A nicotina vai me ajudar a fazer o serviço enquanto as substâncias psicoativas presentes no meu cérebro quebram os paradigmas sociais necessários para continuar sendo respeitado por pessoas com quem eu não me importo, mas não tem problema. Depois que a própria consciência for desconstruída e vista como uma ideia mal formulada pela minha própria consciência, objetos diários vão começar a parecer bem mais coesos do que seres humanos diários e algumas questões se resolverão por conta própria. Como resultado, a cafeteira tentará impor ideias de produtividade e a cama se tornará a maior escritora de romances juvenis do século, alimentada por promessas sem profundidade ou significado - sussurradas meses antes a mulheres cujo nome eu não me recordo ou não me importo. As paredes discutirão abertamente sobre a definição de vida e a mesa de cabeceira desenvolverá uma atração pelas molas do colchão em que eu durmo. Aos poucos, tudo será refeito de uma maneira completamente nova e sem significado, quebrando e refazendo a lógica até não sobrar nada que possa ser dito como "lógico". Meus medos se tornarão minhas verdades e novamente meus medos, minhas certezas desaparecerão em poeira cósmica e a sensação de vazio será substituída por um real espaço em branco no meu cotidiano. Estarei finalmente completo e delirante, tornando-me deus-de-nada ou, por associação, deus de mim. Coincidentemente, "nada" é a quantidade de planos muito certos nessa vida, então o plano B é, obviamente, encaixar o cano da arma na parte superior da minha arcada dentária, puxar o gatilho (literal ou figurativamente) e desenhar um mapa da minha mente conturbada na parede lateral da cama em que eu me encontro. Isso deve dar a ela inspiração o suficiente pra escrever um best-seller da minha vida.

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