terça-feira, 1 de novembro de 2016

Incômodos.

O gosto amargo na minha boca é o epicentro de todas as minhas crises existenciais. A metáfora em si é repleta de outros significados: a acidez do cotidiano sendo tragada, aos poucos, por uma pessoa como eu, jamais fará bem algum. Mas vai além - Eu não sinto amargor quando durmo, quando como ou quando beijo. Não o percebo quando sorrio, quando canto ou quando me apaixono, mas percebo quando escrevo. Daí vem a minha quebra: a dor que eu sinto na palavra é a espora para a continuidade da poesia e, portanto, essência da conservação do meu estado mental. Mas não gosto do amargor. Compreende-lo não me traz nenhum prazer, nem mesmo o da aceitação. Eu não aceito que a minha sanidade necessite uma âncora, não suporto que a minha compreensão de mundo precise ser tão negativa e não o deixarei ser. Mas então eu devo começar uma mudança! e na minha cabeça eu a começo: planejo todas as possíveis dificuldades e destruo de uma vez só a base lógica que forma o individualismo egoísta, egocêntrico e podre. Aplico meus conhecimentos em diversas áreas, espalho ideias pelo mundo e espero. Nada acontece. Ao refazer meus passos, descubro que minhas sementes foram cuidadosamente arrancadas por aqueles que me desprezam e que preservam o mesmo ódio que, neles, eu hoje tento destruir, mas eu não desisto. Tento de novo e falho novamente, tento "mais uma vez" durante tanto tempo que o amargor agora é permanente. Choro tudo em rum e veneno, me acalmo um pouco, encontro uma bela jovem e me apaixono. Frustro-me tentando explicar minhas ideias e perco a cabeça, saio de casa e vou dormir na sarjeta, mas ainda estou na minha cabeça, então desisto de tentar. Maquiavel uma vez disse que não há nada mais difícil ou perigoso do que tomar a frente na introdução de uma mudança. Volto ao meu cigarro, apesar de não fumar. Apego-me a velhos atos prejudiciais pra me assegurar de que a morte chegará antes da loucura, mas o amargor volta a me assombrar os dias. Apago-me no cigarro. Por que logo eu a enxergar o mundo? Com tantos outros grandes homens...

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