sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Criatura.

Entro em um quarto escuro com minha própria alma.
O monstro olha pra mim de tal forma que chego a me identificar.
Talvez esse seja o verdadeiro eu afinal.
Minha carne ainda não apodreceu, e meus dentes ainda não caíram.
Meu cabelo ainda tem a cor de sempre.
Um monstro é o que me tornei.
Pego o maço do bolso, puxo um cigarro e acendo.
A criatura parece sorrir?
Enquanto respiro a fumaça, a criatura respira também.
É estranho vê-la respirar pela primeira vez desde que entrei no quarto.
Encaro-a.
Parece haver uma expressão de ódio com perturbação.
Ela não entende muito bem o que está acontecendo.
Ela sangra.
Meu próprio monstro sangra.
Não devo ser imortal afinal.
Rio.
Uma lágrima sai dos seus olhos, que começa a sorrir de novo.
É tão estranho assim que tal... coisa, tão cínica, tão vil, sinta algum tipo de emoção?
Ando para o outro lado do quarto e Ele me acompanha com o olhar.
Não fala, pois mal possui boca.
Mal vê senão o necessário.
Unhas quebradas, pele manchada.
De sua garganta, sai um lamento em forma de dor.
Nas suas roupas, um prostíbulo.
No seu caminhar, o passar dos anos.
Na sua voz, a morte.

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