quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Podridão.

Fedor.
Está tudo podre sem você.
Entro na casa velha, que quase não tem mais porta.
Assim que piso na madeira, ela range de dor. Quase como se ganhasse vida de novo... Faz tanto tempo que alguém pisou nela pela última vez...
Continuo andando, deixando a marca do meu caminhar no chão. Poeira de tanto tempo.
Olho para o quadro na parede... Lembro-me de observá-lo por tanto tempo sentado naquele sofá, bebendo. Bebendo o suficiente para não me lembrar, e te olhando o suficiente para nunca esquecer.
A cadeira de balanço, onde eu ficava sentado, continuava lá... As coisas foram sendo corroídas aos poucos pela brisa que veio do mar, e os cupins, ao longo dos anos, foram os únicos que continuaram compartilhando as memórias daquela casa.
O pano em cima da mesa, manchado de café. Nunca gostei de café, sabe? Sempre achei amargo demais ou enjoativo demais, mas gostava de tomar café com você, segurando na tua mão.
Segurar na sua mão nunca perdeu a graça ou deixou de fazer meu coração bater mais forte.
Todas as piadas, as brincadeiras, as viagens... tudo se perdeu.
E agora encontro essa casa podre que sou eu.
Posso ter sido lar de muitas coisas boas, minha querida, mas tudo isso se foi.
Subo as escadas até o andar de cima. Vejo o quarto do bebê que nunca tivemos, e a cama de casal nunca usada. Tanta coisa desperdiçada...
Tropeço em um papel e quase caio, antes de me apoiar na pilastra de madeira não tão corroída assim.
Pego o papel.
"Não se esqueça que estarei sempre aqui por você."
De meus olhos, deixo escapar uma lágrima.
Pego uma caneta do bolso e escrevo no verso da folha:
"Eu sei que você acreditava nisso, e obrigado por tentar me fazer acreditar."
Guardo a caneta, dobro o papel e guardo no bolso.
Desço a escada, olho para a sala, desisto de ver o resto da casa.
Bato a porta para nunca mais voltar.

É sempre bom lembrar que tudo acaba.

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