domingo, 10 de julho de 2016

A todo e qualquer propósito.

Se pararmos pra pensar, tudo em volta de nós está caindo aos pedaços. Não sei quantos de nós pensaram isso e foram apagados pela constante onda de presente, não importa o quão fútil e desnecessário a ideia atual realmente é - pois é tudo uma questão de aparências. Se não atrai, não vende. Por isso novos pensamentos morrem, não possuindo apoio financeiro ou social de primeira instância. No panorama político, por exemplo, o governo apresenta-se pouco produtivo na qualidade de ideias, com prioridade na manutenção do velho e constante retardo na implantação do novo, mas não vejo que isso acontece de forma proposital. Talvez essa improdutividade seja somente uma manifestação do óbvio: aquilo que um ser humano possui não pode ser critério de importância dada a ele diante de uma escala social. Afinal, a vida de um homem não pode depender da liberdade desse homem de se expressar diante de um contexto onde a liberdade de expressão é comprada. Fazem-se ouvidos aqueles que tem meios de faze-lo, extinguindo a verdadeira sabedoria como bem comum. A mentira é propagada em tons de verdade e a relatividade é resumida a um conjunto de instruções. Existir então significa tomar um de dois rumos: seguir como verdade aquilo que é apresentado ou optar por montar-se e desmontar-se de diferentes formas sem o manual de instruções. Mas o problema não acaba aí. Vamos supor então que eu escolha não me adequar. Ainda assim, na complexidade de qualquer ato, encontro razões para duvidar de mim. Afinal, se a liberdade humana não existe de verdade, quem sou eu para tomar escolhas que me farão progredir? Socialmente, eu sou apenas uma pequena engrenagem na evolução humana, provavelmente insignificante ou "inabsorvível" por essa enorme onda de pensamentos que me camuflará de um modo geral  a internet. Filosoficamente, minha existência não faz o menor sentido. Ao contrário do que diria Sócrates em "Penso, logo existo", que, erroneamente, justificou a existência com o pensar sem justificar o pensar com outra coisa que não a própria ação, eu não acredito na lógica da minha existência. Se estou aqui pelo fato de estar, então não estou por motivo algum. Se existe algum propósito, mas ainda não me foi revelado, qualquer tentativa de alcança-lo será um tiro no escuro. A sociedade gosta de pensar que existe algum tipo de "força" guiando-a pelos caminhos certos, mas isso é um tanto improvável, visto que a evolução nas últimas décadas levou à destruição de boa parte da Natureza que nos cerca, à intolerância religiosa e, eventualmente, guerras abastecidas por ganância e vingança. Talvez essa "força" não seja tão correta do nosso próprio ponto de vista como sociedade, talvez não exista força alguma. Mas aí volta a questão do propósito. Se posso ser qualquer coisa, por que eu me encaixaria em um padrão e, mais do que isso, por que eu quereria faze-lo, se tal padrão foi aleatoriamente criado por um conjunto de processos destrutivos e prejudiciais à própria raça humana? Daí então, como se só essa auto-enganação não se estendesse o suficiente com o constante estreitamento da liberdade de expressão humana, exige-se que, socialmente, haja um conjunto de comportamentos aceitáveis e idolatráveis para a sociedade que é, hoje, a do consumismo. A individualidade não somente morre no caminho a ser seguido, como também no modo com que o caminho previamente definido é trilhado. O sistema humano é tão controlador que não deixa espaço para o livre pensamento, mantendo quaisquer medidas de educação sob controle para que não excedam sua esfera de conhecimento. Basicamente, tudo que defendemos é ou tem grande possibilidade de ser hipócrita, toda escolha é uma prisão dentro de outra prisão e a evolução é monitorada. Alguém move-se dois passos pro lado considerado errado e uma gama social pára de ver esse alguém como ser humano. Em outros casos, caso a ideia se sustente socialmente, outro grupo passa a defende-la, o que gera uma polarização de uma certa filosofia primitiva, com conflitos fomentados pela prepotência de cada grupo ao afirmar possuir uma verdade absoluta. Então o que fazer da minha vida? Ignorar a única questão que me dá qualquer pista do meu propósito no mundo  ou da falta dele  e engolir tranquilamente tudo de podre que o futuro me reserva? Se a vida me dá limões, eu posso fazer uma limonada, mas o que eu faço quando o mundo me mostra a fome, a angústia, a miséria, a destruição e a ganância tomando conta de tudo que me cerca? Interiormente, queremos acreditar que existe sempre uma solução fácil para todos os problemas que possamos enfrentar  e isso se reflete no cinema Hollywoodiano: invasões alienígenas, asteróides, deuses e outras forças sobrenaturais, mas será que o mundo é assim? Se não lidamos com as questões mais básicas de convívio (como tolerância, reciprocidade, coletividade) quem nós somos perante os problemas que existem fora dele? Mas isso nem deve ser levado em conta quando percebe-se que a probabilidade é de falharmos como sociedade antes que qualquer outro desastre possa acontecer. Destinados ao fracasso por nem sequer termos pensado em tentar, tirando o resto de liberdade de nós mesmos ao permitir que o controle total da individualidade seja dado a governantes com seus próprios interesses mesquinhos. Eu não me permitirei. Estou cansado dessa falta de essência no cotidiano e gritarei silenciosamente minha revolta para com o indiferente. Discreta, mas irredutível, deixo que minha insignificância seja notada.

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