domingo, 10 de julho de 2016

O Humano e o Monstro.

Às vezes me vejo como um menino bobo que projeta seus medos em realidade, pulando pra voltar pra cama de noite e cobrindo-se com medo de monstros fictícios. Como se a possibilidade de algum ser sobrenatural habitar meu quarto fosse menos complicada de encarar do que a aceitação dos meus lapsos de raciocínio presentes no calar da noite. Em suma, minha mente prefere projetar pra fora de mim a inconsistência de certezas que reside na minha atualidade, gerando a ilusão de que o único problema é a possível existência do monstro. Mas não para aí. E se eu decidir projetar meus medos em uma pessoa? Obviamente, essa pessoa mostraria traços de individualidade que, seguindo meu impulso natural de redirecionamento daquilo que me envenena, eu abominaria e tentaria, de todas as formas, criar-me em um ideal diametralmente oposto, como se, no monstro, eu encontrasse a grandiosidade de valores - tanto bons quanto maus - e quisesse duplica-la da minha própria forma, pra contra-atacar a aberração que eu mesmo inconscientemente criei, para então eu poder superar o problema. Seguindo essa linha de raciocínio, percebe-se que, ao passar o medo inicial do monstro, há para ser compreendida uma imensa vontade de se tornar grande como ele - caso, é claro, que o indivíduo possua esperança de vence-lo. Na questão da cama seria mostrar-se maduro e fingir que tem certeza de que o monstro não existe (mesmo diante da ausência de plateia, a consciência já possui um orgulho previamente desenvolvido, suficiente para faze-la manter-se como audiência para a sua própria atuação). No auto-crítico, por outro lado, o processo vem auxiliado de um ódio pelo objeto - ou pessoa - no que - ou em quem - o monstro é projetado. Nesses casos, como nos outros, acaba por haver um desvio de foco tão grande do problema original que a finalidade do monstro se perde, dando forma a um novo inimigo: um obstáculo, uma antipatia ou uma vontade secreta consomem o receptáculo em fúria, desconfigurando o objeto que, outrora neutro, passa a exibir um aspecto asqueroso e repulsivo para o dono da projeção.

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