domingo, 21 de maio de 2017

sem título e sem gosto

Sinto-me feliz em um universo de delinquentes. Talvez minha crise seja exatamente por não ser miseravelmente revoltado ou inconsolavelmente deprimido, eu gosto daqui. Nesse lugar, eu sou livre para ser quem eu desejo ser. Sou perfeitamente apto à racionalidade e ao equilíbrio, mas escolho o rumo das minhas ações baseado no meu humor diário. É engraçado perceber que, num universo onde não existe opção correta, eu deixo que a vontade guie o meu ser. Nada me governa. Caminho sobre as rachaduras, rio do caos e fumo um cigarro. Sempre eu e o meu cigarro. Mulheres vão, vem, e eu aqui com meu cigarro. A toxicidade como conheço é o que faz vibrar o eco cotidiano, é o que devora a condição: faço o que não quero para ver-me livre diante do querer. Quando não desejo, deixo-me levar e olho pro céu entorpecido. Acho que o mais adequado seria dizer que eu vivo um sonho, que guio aos poucos e com dificuldade pra não perder o controle. Numa bela manhã de domingo, meus noventa anos terão se passado e eu finalmente acordarei na minha cama de verdade, pra minha vida de verdade. Tudo terá se passado em uma fração de segundo e eu estarei pronto para viver meu dia, terminar minhas tarefas e dormir para sonhar de novo. Mas talvez não. Talvez minha existência não passe de um conjunto de aleatoriedades trágicas, mas o resultado final é o mesmo: vivo pra morrer com a sensação de ter vivido.

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