quinta-feira, 15 de junho de 2017

Uníssono.

Não escrever é muito mais do que não querer escrever. Eu gostaria de estar criando, mas não possuo capacidade para tal; seja por entorpecimento ou frustração, meu corpo não obedece minha imposição e despedaça como Troia. Sou invadido por um calor que preenche meu corpo em um suspiro, mas não tem pra onde explodir e morre ali. A criatividade apodrece dentro de mim e tudo que eu posso fazer é observar por um aquário. É engraçado, é como se as portas que eu antes dominava ao expressar-me tivessem sido agora tomadas pelo medo do julgamento. Me vejo como homem que virou besouro, como um eletrodoméstico obsoleto que foi deixado, sem maiores motivos, no meio da sala - sem nunca efetivamente ser jogado fora. Minhas paixões da carne conflituam com meus mais profundos e puros desejos, mas me acalmam diante à frustração. Não me curvo à ideia de que o sucesso seja causado por persistência e não pela capacidade, mas não sei de nada e agora já estou velho, essa é a verdade. Aos poucos eu me torno medíocre na carne e na literatura. Na escrita, as várias vozes que aqui falavam calam-se. Quando voltam, chegam devagar e logo vão embora. O pouco do dizer que fica teima a dizer, em uníssono: "eu não sou mais suficiente... me perdoem."
Mas sou incapaz de perdoar.

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