quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Cigarros

Eu não consigo me concentrar em alguma coisa por mais de uma hora.
Eu acho que estou morto.
Preciso de um cigarro.
Preciso sentir meus pulmões se enchendo de fumaça mais uma vez, meus alvéolos se desmanchando aos poucos, perdendo a forma, assim como eu.
Perdendo a postura, o modo. O cheiro da desgraça impregnado em minhas roupas, o fracasso batendo forte no meu peito, fazendo a desistência circular em minhas veias. Um andar cansado, quase como um galopar.
Roupas quase inteiras, alma rasgada. Nada. Tudo se parece com o mesmo ritmo de música de fundo de bar em uma noite não muito cheia. Não tão deprimente se fosse ouvida em outra ocasião, mas também não tão animadora a ponto do quase-defunto desistir de beber.
Tentar escrever algo, não conseguir. Estar distraído demais com o mundo para querer perceber o que está havendo de verdade. Me esforçando demais para fingir que não percebo para poder prestar atenção no mundo.

Perdi o trem da esperança; a vontade me deixou, e estou esperando uma esmola de boa vontade vinda de quem restou. A criatividade finge que não criou, a verdade finge que não aconteceu, a alma finge que não morreu e o corpo finge que não adoeceu.

Só um cigarro, senhor. Qualquer um serve.

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