quarta-feira, 16 de setembro de 2015

delírios

tentei escrever, mas o cigarro ficava apagando e as plantas secaram porque eu não as regava, a água ferveu e eu não estava lá porque tentava acender o cigarro enquanto as palavras se vomitavam de dentro de mim e, enquanto eu me abandonava, as comidas da geladeira estragaram e o cachorro morreu de fome, eu morri vazio enquanto as palavras continuavam a sair, mas aí perdeu o sentido - não existe sentir sem ser e não existe domínio na não existência; não existe tocar e vibrar e matar e morrer se essa língua não se cala enquanto o resto do corpo se estraçalha em sílabas, letras, agudos e circunflexos na melodia muda do desespero, no uníssono do silêncio e no estilhaçar dos músculos das mãos, dos braços e da boca e, do mundo das ideias ao físico, eu pulsei e ecoei nas paredes dessa sala de jantar enquanto a água fervia e o resto dormia, enquanto você se esquecia e o universo suspirava.

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