sábado, 29 de outubro de 2011

Ato III

Nota do autor:
Antes de começar as recomendações, gostaria de fazer alguns agradecimentos.
A Deus, que mesmo não existindo realmente, me fez entender o quão a vida pode ser miserável.

Aos escritores ruins, que me fizeram acreditar que mesmo que você tenha uma história muito boa você pode estragá-la do jeito que você conta, assim me fazendo considerar a possibilidade de que eu poderia fazer o oposto: ter uma história não muito boa, mas escrever de um jeito que a deixe melhor.

A minha mãe, meu pai e minha irmã, além de minhas ex-namoradas, que juntos me incentivaram tanto a perder completamente a cabeça.
Deu certo.
Obrigado a todos vocês.

Continuando...
Deixe um pouco de sua sanidade antes de ler esse texto.
Se mesmo assim esse texto não fizer o menor sentido, é porque esse é o objetivo do texto.
Em relação a sua sanidade, se isso fizer sentido é porque você a deixou completamente, ou nunca a teve pra começo de conversa.
Essa é uma continuação do Ato II, que é uma continuação do Ato I. Recomendo que não os leia.

Recomendo que não siga minhas recomendações.
Como avisarei a mais adiante, essa será a última parte dos 3 textos.
Obrigado.


Ato III

Viajando.
Olho pela janela do carro, vejo faixas passando.
Deito a cabeça no vidro, macio aos olhos dos desesperados pelo descanso, não mais do que um simples vidro pros demais.
Durmo.
Chego, acordo, deito, Durmo. Acordo, como, ando e durmo. Me mato. Acordo, bebo, ando e durmo.
Acordo sonolento, lençóis sujos de alguns líquidos de diferentes cores, origem e cheiro duvidosos, mas todos aparentemente contendo um percentual elevado de álcool.
Parece que aconteceu uma festa aqui.
Uma festa de um homem só.

Abro a geladeira, pego um copo d'água, fecho.
Eu tenho um pássaro.
Não é um pássaro qualquer, é um papagaio, e eu poderia ensinar ele a falar algumas coisas, mas eu não tenho paciência para esse tipo de coisa.
Sabe, ensinar pássaros é muito chato.
Ele uma vez voou pela janela e foi parar na casa do vizinho, tive que pegá-lo lá porque o infeliz não queria sair da maldita janela, logo antes de me dar uma mordida que me arrancou a pele. Pensei em dar aquele pássaro pra alguém depois disso, mas desisti da idéia pelo fato de ser a única companhia que tenho além do álcool, nesses dias não tão frios e nem tão aconchegantes assim.
Infelizmente eu desisti.
Infelizmente porque o maldito pássaro piou, e piou alto.
Caiu o escorregadio copo, despedaçando-se nos inocentes azulejos, que não entenderam porque eu havia feito isso com eles.
Acabaram-se os não tão amplos adjetivos para essa canção de um incoerente sem ritmo.
Pisei em um dos cacos de vidro, acidentalmente, enquanto tentava pegar um outro copo para continuar minha jornada lenta para a vida. Sangrou.

Fui no banheiro, com o pé sangrando, peguei um band-aid e coloquei no corte.
Mancando, voltei pro quarto em pequenas reclamações fúteis.
"Sempre o evitável inevitável da vida."

Acordei.
Um novo dia, mas meu pé continua cortado.
Quando será que esses novos dias vão parar de chegar? Será que terei que fazer uma reclamação formal para o próprio tempo?
Não, hoje não.
Hoje tenho um compromisso sério.
Hoje irei falar com a minha sanidade.
Olá?
Olá.
Sanidade?
Ela não se encontra, deseja deixar algum recado?

Converso algumas horas com a minha insanidade, que parece ser a única ocupando o recinto.
Durmo.

Adan adum oãn e odut adum ,assap opmet o es e?
Oãssecxe a oãn e arger a rof açargsed asse es e?


Acordo.

Tudo chega em 3.

Vou fazer a barba quando percebo que pouca barba tenho, senão nenhuma.
Pego uma navalha, aprecio-a no olhar.
Minha velha amiga, nunca lhe dei a devida atenção.
Começo a cortar o cabelo com a navalha, deixo-o quase curto e com um penteado bagunçado. Termino o trabalho.
Termino de me despedir da minha navalha.
Termino o resto.


Tudo acaba em 3.
Com uma só mão, corto meu pescoço de orelha a orelha e me deito sobre o chão.

Me deito sob o final, me deito sob a felicidade.
Me deito sobre os pensamentos, me deito sob ela, beijando minha nuca.
A morte, finalmente esperada e certa.
A morte, finalmente requerida, assinada, aprovada, enviada e realizada.
A tão sonhada morte dos sonhos de poucas palavras.
As tão sonhadas poucas palavras da morte, o despertar dos sonhos sem fim.
O tão sonhado fim.

 
Fim do Ato III.

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