segunda-feira, 28 de maio de 2012

Doce.

Pequei, Padre.
Ela estava sozinha, andando rápido com medo da noite. Eu fui a noite que ela temeu, vagando entre as sombras até o momento.
Ela não percebeu a minha presença a tempo, pobre garota. Andava de vestido pela rua, talvez voltando de uma comemoração. Talvez não tivesse dinheiro para voltar de outro jeito, pois andou mais de três quarteirões de salto sem reclamar ou parar para descansar. Seria melhor se tivesse parado.
Com minha mão direita, calei-a antes que pudesse gritar por socorro. Com a esquerda, segurava a faca que lhe mostraria a verdade sobre quem eu sou. Despi seu olhar, que me olhava com desgosto. Joguei seu corpo no muro e olhei suas bochechas, que ficavam mais rosadas quando começava a chorar. Eu não pude sentir, não pude parar.
Talvez essa fosse uma boa hora para perguntar por que ela se foi, mas eu não quis. A faca indagou sobre o sentido de tudo aquilo antes de chegar ao seu coração. Seus olhos não eram de medo e suas mãos não tremiam. Ela queria que algo acontecesse, então não aconteceu.
Continuei andando pela rua até o quarteirão de sua casa. Me apresentei como alguém velho e tudo mudou. Ela faleceu naquele dia, mas continua andando por aí. Nunca foi a pessoa que pensou que fosse, e eu nunca fui a pessoa que quis ser. Fui forte o suficiente para levantar e ser mais do que uma sombra; eu fui a escuridão em si, e daquele momento em diante a escuridão passou a me temer. Limpei a faca na barra de seu vestido, que já se encontrava sujo. Pobre garota, poderia ter sido alguém.
Corri em direção à praia, pois estava atrasado para a festa. Bebi, comi e gozei, voltei pra casa e dormi.
Sonhei que tinha acabado, mas não acordei decepcionado.
Ainda temos muito o que viver, eu e você.
Doce lâmina, alegre e prestativa.

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