quinta-feira, 17 de maio de 2012

Sofá.

O dia estava com cheiro de cama vazia, roupa amarrotada e chocolate quente.
A chuva não parava de cair do lado de fora e do lado de dentro o silêncio tomava conta do lugar.
A depressão, ausente, descansava em algum outro cômodo não visitado da casa antiga.
Sua pele estava mais cinza do que de costume e sua barba estava por fazer.
Nenhuma lágrima foi derramada em vão.
Permaneceu no sofá
e de lá saiu.
Andou pro lado de fora, mas no sofá permaneceu.
Pegou o carro e foi dar uma volta, não tinha muito o que fazer.
Chegou a um restaurante e sentou-se. Pediu a comida mais cara de lá.
Não estava preocupado com o preço, nada mais lhe interessava, ele só queria saber do sabor.
O prato chegou e o gosto era esplêndido. Terminou de saborear a janta e voltou para casa.
Cansado, se deitou na cama e pegou o telefone.
De repente, se lembrou do que estava tentando ignorar a tarde inteira e colocou o telefone de lado.
Ela não iria atender.
Levantou da cama, que agora parecia grande demais para uma pessoa só.
Procurou algo na televisão que não o lembrasse do presente, mas o próprio presente fazia isso sozinho.
Desligou a TV, pegou um cigarro. Foi para o lado de fora e observou a chuva.
Ela odiaria vê-lo fumando.
Esperou o cigarro acabar e voltou para dentro.
Procurou as chaves do carro, estava se contendo para não murchar.
Encontrou-as e saiu de casa. Dirigiu até uma estrada de barro e acelerou só depois de ter certeza de que não havia ninguém por perto.
Virou a primeira curva, virou a segunda. Na terceira continuou reto e caiu.
Caiu e continuou caindo.
Fechou os olhos e o tempo parou.
Os momentos mais marcantes de sua vida se passaram diante de seus olhos, até que ela chegou.
Com as lágrimas caindo, sorriu.
Viu seu rosto por uma última vez e caiu.
Mas no sofá permaneceu.

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