sábado, 4 de outubro de 2014

Eu temo.

Eu tentei não temer, tentei abdicar esta parte de mim, mas eu sou esta parte. Não mais do que todos, e nem menos do que qualquer um. Sou apenas um ponto comum no gráfico, e eu temo. Meus medos são os mais genéricos - e talvez por isso os mais terríveis! - porque sou exatamente igual a todos aqueles que maltratei. Maltratei, talvez, não por desprezo ou maldade. Eu fui, por tempo suficiente, o carrasco, por medo de ter minha cabeça cortada. Mas aqui estou eu, não estou? Lamentando meus temores para um pedaço de papel. Não sei por quanto tempo resistirei a eles, ou se já sucumbi há anos, mas só hoje que os confesso. Eu temo a ausência daqueles que maltratei e, embora esta já esteja presente, me recuso a encará-la de perto. Temo que volte a emoção daqueles que amei, porque ainda os amo. No fundo do poço - do meu poço, no caso - estão todas as lembranças que lá deixei para que nada mais pudesse me atrapalhar a seguir em frente. Mas eu já cheguei no fundo do poço. Eu temo a morte dela e minha vida a posteriori. Temo não resistir à tendenciosa ideia de despedaçar-me no asfalto sempre que enxergo o mundo de um prédio alto. Temo também ser abandonado por superfluidades, mas temo ainda mais ser deixado por minha causa. Ser injustiçado é um temor de muitos, mas pra mim é um conforto. Por tanto tempo fingi não me importar, por esta ser minha única defesa contra o caos do mundo. Nada pode me proteger do caos. Eu cansei de não mais temer, e me arrisquei. Por me arriscar, temi de novo, e cá estou eu. Temo agora ser a última pessoa do planeta, ou que não tenha sobrado ninguém para me classificar como "pessoa". Este é o texto mais sincero que escrevo e ainda temo não ser sincero o suficiente. Minhas vontades foram moldadas ao redor do medo e agora eu não as sinto mais. Deve ser difícil, para alguém muito corajoso, enfrentar os piores males do mundo. Temo que seja pior pra ele, e temo que vá ser pior pra mim um dia. Eu temo tanta coisa... Será que não há mais ninguém para temer comigo? Será que eu posso dizer que estou aqui ou não posso dizer absolutamente nada? Será que o medo me fez perder a voz? Se sim, de quem será a voz que me fará perder o medo?

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