segunda-feira, 16 de setembro de 2013

- P.

Ele colocou a primeira roupa e saiu de casa. Encontrar aquela mulher, gorda e ignóbil, era uma tarefa semanal entediante, mas necessária. Gostava de pensar nisso como cortar as unhas ou ir à igreja.
Seu incansável monólogo já estava atrapalhando os pensamentos de Paulo, que estavam na calcinha da garçonete, quando a comida chegou. Aproveitou o som do alimento sendo triturado na sua boca para ignorar o que estava sendo dito por aquela infeliz consequência de seu jantar, sentada à sua frente como um saco de estrume.
A menina pagou o jantar, de novo. Mesmo se tivesse dinheiro, Paulo não pagaria tanto por comer tão pouco nem em um milhão de anos. Era pra isso que ela servia afinal, não era? Paulo não tinha mais dinheiro. Ele havia torrado tudo com ressacas anteriores e, já que as bebidas também eram por conta dela, não gastava nenhum dinheiro para conseguir comê-la.
Sua vida não era mais do que comer e dormir. Não era o que ele havia imaginado, era melhor. A única parte que o divertia mais do que ver alguém se importando com ele era ver a cara de decepção que essas pessoas faziam quando percebiam que ele as abominava. Não era uma vida perfeita, mas chegava perto disso.
Paulo era feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário