sábado, 23 de agosto de 2014

Reflexão sobre moral e ignorância.

Aos poucos, me dou conta de que não existe certo ou errado. Já havia de ter percebido antes pela auto-destruição da moral quando exploramos seu conceito (ver Nietzsche), mas só agora vejo sua utilidade em um mundo de verdades tão frágeis.
Eu não sou como os demais. A diferença, até certo ponto, é atrativa para os humanos. Depois que se passa desse ponto, ela é vista como um empecilho. De tudo que eu tinha a comentar sobre isso, só me sobrou a solidão. Pior do que ela em si, só mesmo seu reconhecimento como algo real. Eles não perceberiam. Eu não os culpo por serem estúpidos. Inclusive, eu os admiro.
Deixe-me introduzir um pequeno prefácio sobre minha história. Durante toda a minha vida, tentei ser um perfeito imbecil, adequar-me às normas que não me significam nada, encontrar-me em um grupo de pessoas que compartilham a mesma singularidade repetitiva que se vê em cada grupo "diferente" de pessoas. Eu não nasci pra isso. Eu nasci para pensar, estudar, entender. Eu nasci para viver além das estrelas, além do bem e do mal. Infelizmente, eu não nasci para esse planeta.
O motivo para esta carta confusa e esnobe é que finalmente me sinto livre para dizer tudo que eu quero. Nem você, nem outros, abastecerão a demanda de sentimento de que necessito para continuar assim. Disseram-me que vocês sentem com o coração, e deve ser por isso que vocês são tão burros. Não existe batalha entre sentir e raciocinar, pois fazem parte do mesmo princípio: viver. É por isso que magoam, chutam, quebram tudo que amam, e idolatram tudo que odeiam. Vocês não sabem amar, só pensam que sabem. São como crianças brincando de cozinhar. Este é o primeiro motivo pelo qual nunca nos entendemos muito bem.
O mais triste, porém, é amar aquilo que não pode ser amado. Desse pecado eu tomo parte, por ter me apaixonado por você. A mais bonita e formosa de todas as criaturas, sua inocente moral me cativou e me arrastou para onde sempre desejei ir: às profundezas da ignorância e da burrice. Você, tão convencida sobre o bem que faz, já havia deixado de se perguntar o que é certo antes mesmo que eu pudesse pôr meus olhos em você. Mas como eu poderia saber? Cansado e desleixado como me tornei, qualquer esperança de melhora se tornava melhora, visto que o estado anterior não possuía essa esperança. Com isso, me deixei levar por uma corrente que me destruiria - para pouco depois se tornar motivo de meu renascimento.
De sábio, me tornei um bobo. De louco desleixado, me tornei um escravo da opinião alheia. De sem-cultura (como os índios de Cabral nada sabiam dos homens brancos, e também foram denominados assim), eu me tornei um intelectual, antenado e formado no saber de conhecimentos fúteis. De tudo que não sabia, pouco sobrou. Daquilo que sabia, menos ainda. Eu cavei minha própria cova mental, e a prova disso é a desorganização destas palavras que lhe dirigem. Acredite, pois se lacrimeja agora (e eu sei que sim), morreria antes de tanto chorar, se fosse o mesmo texto escrito por uma parte de mim completamente diferente.
Tendo deixado claro tudo aquilo que você já sabia, venho aqui a dizer aquilo que você não sabe, querida, e não teria como saber. Sua moral não passa de conceitos deturpados de uma mente doentia. Seu bem destrói aos poucos aqueles que por ele são cativados, mas se tornam burros demais para perceberem isso, mesmo no final. Não, não foi por ter escolhido o certo que lhe agrido verbalmente. É pela sua definição do certo e por priorizar o fútil, é pelo seu condenar baseado na opinião pública. Sua inteligência é meramente superficial, sua beleza é de fato muito comum. Seus valores e sentimentos são exatamente iguais aos daqueles que me refiro como dispensáveis, e sua capacidade de raciocinar sobre isso vai somente até o ponto que lhe favorece. Eu lhe odeio para retribuir o ódio que causara de mim mesmo, mas lhe adoro, à medida que suas boas intenções revelaram a triste verdade do mundo: Os homens só amam quando lhes convém amar.

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