terça-feira, 24 de junho de 2014

Mon coeur qui bat.

Tudo que eu sou hoje é culpa sua. Você se importava no começo, não se lembra? Todos aqueles cafés da manhã caprichosos e cheios de frescura só para me agradar. O que aconteceu conosco? Aos poucos tudo foi mudando e hoje em dia eu só ganho um café fraco. Não sei se fui eu ou você, mas o sexo foi ficando entediante. Sempre com as mesmas posições, cheguei até a pensar nomes para elas. "Cheguei do trabalho tarde demais para pensar no que estou fazendo" ou "As crianças finalmente dormiram". A sua aparência também não ajudou muito, envelhecendo rápido com esse maldito cigarro na boca sempre que ninguém está vendo. Você acha que eu não sentia seu hálito de carvão? Ah, não deve fazer diferença mesmo. Outro dia eu encontrei a Soninha, lembra dela? Eu a comia no nosso quarto, na nossa cama, com mais frequência do que te beijava. Uma vez você quase nos pegou, e eu passei uns cinco minutos rindo da situação. Enlouqueceu de vez, retardado?, você perguntou. Eu não respondi nada, já tinha feito minha parte.
Sabe por que estou contando isso? Porque eu quero que você sinta nojo de mim, como eu sinto nojo de quem eu me tornei. Não, não foi tudo culpa sua (depois conserto o começo). Acho que parte de mim já nasceu direcionada pro fracasso, para a desistência. Foi por isso que eu não parei de correr atrás de você enquanto era atirado junto aos desprezados, todos vítimas de vossa majestade. Eu nunca tive orgulho próprio de verdade, acho até que isso é besteira. Você percebeu isso, né? Percebeu que eu faria tudo que você quisesse, e por isso casou comigo. A sua existência é podre, mais podre do que eu. Eu tinha um futuro, mas você simplesmente suga o presente de quem te cerca, limitando-o à penumbra da sua perversidade. Talvez um dia eu entenda como isso tudo funciona, como seu corpo fino e frágil esconde tanta podridão e fedor, mas prefiro ficar sem entender do que ver isso como normal. Entendimento é aceitação, e eu não vou aceitar porra nenhuma do que você tem pra me oferecer.

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