segunda-feira, 2 de junho de 2014

Excelentíssimo Pablo,

A lembrança entorpece a mente, não? Rum, por cura que seja, também envenena. Mas que bela noite de dama tão tonta! Tonta como eu, seus lábios não escolheram agir. Que horror, isso é errado!, Ela disse. Por pior que eu estivesse, foi inadequada a conduta, digna de vagabundo, moleque. Porém, que parte de mim teve escolha? O cárdio bombeava paixão junto ao maldito rum - sabes que, juntos, podem ser letais. Ao menos fui eu, e não outros! - É o que repito - Não farias o mesmo? Sou vítima do pecado como vítima do desejo - dela e por ela - que combato todos os dias com uma dose de literatura. Por isso, vim decorrer a ti. Afinal, escritores são médicos da paixão, então a cura deve estar na palavra. Mas e se nenhuma palavra serve, doutor? Que alternativa tenho senão padecer à presença - e talvez à ausência - de olhares e carícias? O que será de mim, se o que me entristece é a falta de um motivo bom o suficiente pra me entristecer? Será que vou morrer logo, ou já morri há tempos? Escrevo a ti, pois não posso escrever a ela, e nem escrevê-la para fora de mim. Estou ficando louco, senão mortal e pobre de alma. Me ajude, doutor, pois estou renascendo!

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