sexta-feira, 3 de abril de 2015

Ode ao abstracionismo.

Quero que tua lembrança se borre na minha mente como a minha bondade borrou na tua. Quero não te almejar a cada passo e não te desejar a cada segundo, que teu perfume não me pertença e que tua presença não me faça pertencer. Desejo te amar como amei a chuva que passou. Quero que passes como a chuva, amor, que o vento te leve e não traga mais. Quero teu suor, tua pele, tua voz e teu desejo, mas quero-os longe. Minto: eu os quero perto, mas mais eu quero não querer. Quero-te chorar de uma só vez, não desejar-te na embriaguez e te entregar às forças do desprezo. Quero não te falar, não te ouvir e não te admitir, pois tua existência é fatal pra mim - como a desesperança é fatal pro crente, como o silêncio é fatal pro político e pro filósofo. Tua volúpia é minha queda, teu corpo é meu pecado. Mas teu presente, amor, é meu passado.


(a)

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