terça-feira, 30 de junho de 2015

Escrita sobre a escrita.

Escrever nunca foi sobre falar verdades. "A palavra mente", diria um sábio, se tal afirmação não fosse absolutamente verídica. Por ser verídica - uma vericidade paradoxal, mas válida ainda assim - o sábio se cala. O ato da escrita é puramente simbólico, no sentido mais puro da palavra. Nada existe como é contado, não foram as palavras que deram vida ao mundo. A meu ver, o que acontece é exatamente o oposto: o mundo dá vida às palavras. Afinal, a palavra "avião" não teria significado nenhum se Dumont - ou os Wright, fica a seu critério - não tivesse tido a ideia de sair voando por aí. Enquanto escrevia essa última afirmação, percebi que a palavra tem mais ou menos o mesmo objetivo de Dumont: sonhar mais alto. Dizer que a escrita dá asas a quem escreve e a quem lê é um desmerecimento, um castigo à língua, seja ela qual for. As letras dão a possibilidade de ser e de não ser, de estar ou seguir em frente. Ela diferencia os bêbados dos poetas, os bem treinados dos ignorantes. Sem a palavra, nada significaria existência e nada desqualificaria o silêncio. Ainda penso, como disse antes, que ela não tem a capacidade de dizer verdades - por um motivo bem óbvio, eu presumo - mas é só isso que ela não faz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário