quarta-feira, 3 de junho de 2015

Retratos do delírio (I)

Imagine estar teto-pretando na casa de uma tia louca com 947 gatos: esse era eu naquele momento. Meus braços se moviam como cobras imaginárias do inconsciente coletivo de tudo que a cobra representa, meus olhos eram quadrados e tudo era azul. Deitei-me de bruços pelo que pensei estar em pé, esforcei-me para lembrar de alguma música conhecida e comecei: "essa moça tá difereeente, ja não me coonheeece MAIS" enquanto a tal tia louca continuava a conversar com os gatos. Senti que precisava fazer alguma coisa, então domei meus braços enquanto continuava a canção.
"Mas o tempo vai, mas o tempo vem..."
Consegui alcançar meu bolso e pegar, com o auxílio de unhas muito mal cortadas, mais uma das pílulas mágicas. Eu não queria fazer isso, mas era preciso. Senti-a tocar minha língua e descer minha garganta. Esperei enquanto cantava:
"Se do lado esquerdo do peito, no fuuundo ela ainda me quer bem..."
Em um sopro, senti-me bem de novo. O mundo era totalmente normal e chato, mas agora em câmera lenta. Eu sabia que eu não conseguiria fazer com que qualquer um me entendesse, então fiquei quieto enquanto a velha louca se aproximava:
"Pega esse aqui, meu filho, leva ele pra casa."
Eu só sorri por horas e esperei até que ela fosse embora. Em uma ocasião, eu estava contando essa história pra um amigo e ele duvidou que eu tivesse sorrido por tanto tempo, então precisei explicar que, para a velha e para todos os seus 947 gatos, passaram-se só alguns segundos.
Saí de lá enquanto a murcha gritava algo para mim, segurando um dos gatos como quem segura um pênis em uma orgia gay. Fiquei enjoado com a cena e perdi a fome. fui pro bar tomar uma cerveja e fumar um cigarro, mas não mais se fuma em bar então eu fiquei só com a cerveja. Malditos moralistas pútridos, com absurdos conceituais e lógicos de tamanha estupidez que perdem em argumento e sentido pra uma criança bem treinada. Vocês todos, na minha opinião, não passam de crianças mal treinadas esperando a vida inteira pelos próprios lugares ao Sol. Eu digo: "Que fiquem no sol, mas deixem-me fumar na sombra!"

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